sexta-feira, 24 de maio de 2024

Solenidade Da Santíssima Trindade,26/05/2024

SANTÍSSIMA TRINDADE “B”

Primeira Leitura: Dt 4,32-34.39-40

Moisés falou ao povo dizendo: 32 "Interroga os tempos antigos que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, e investiga de um extremo ao outro dos céus, se houve jamais um acontecimento tão grande, ou se ouviu algo semelhante. 33 Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha permanecido vivo? 34 Ou terá jamais algum Deus vindo  escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez no Egito, diante de teus próprios olhos? 39 Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele. 40 Guarda suas leis e seus mandamentos que hoje te prescrevo, para que sejas feliz, tu e teus filhos depois de ti, e vivas longos dias sobre a terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre".

Segunda Leitura: Rm 8,14-17

Irmãos: 14 Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá, ó Pai! 16 O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. 17 E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele.

Evangelho: Mt 28,16-20

Naquele tempo, 16 Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18 Então Jesus aproximou-se e falou: "Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19 Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho  e do Espírito Santo, 20 e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo".

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Hoje a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espirito Santo. Todas as religiões acreditam em Deus. Nós cristãos acreditam no Deus Uno e Trino, isto é, no Deus-Família, no Deus-Comunhão, no Deus de Amor. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são da mesma substância (consubstancial) e de uma inseparável igualdade. A unidade reside na essência; a pluralidade, nas Pessoas. Essa verdade se confirma no mandato de Jesus Ressuscitado aos discípulos sobre o batismo: “Batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Nesta fórmula trinitária no batismo nada se diz “nos nomes” (plural) e sim “em nome” (singular). Trata-se da unidade na essência. Porém, empregam-se três nomes para nos ensinar que há três Pessoas.

O texto do evangelho deste dia é lido em função da festa da Santíssima Trindade, pois nele se encontra a presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É uma fórmula trinitária no Batismo: “...ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho  e do Espírito Santo...”. Batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, rezar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa que entrar na esfera de possessão e de proteção de Deus. Quem é batizado e quem faz o sinal da Cruz em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo deve ter fé sólida de que ele entra na esfera da possessão e da proteção divina. Nisto percebemos que o Sinal da Cruz tem um profundo significado. É preciso fazê-lo com fé e seriedade. Pelo Batismo participamos na vida de Deus; entramos em relação pessoal com o Deus uno e trino. A graça batismal nos incorpora a Cristo, nos enche com seu Espirito e nos faz filhos e filhas de Deus. Em uma meditação sobre a Trindade, santo Tomás de Aquino afirma que pela graça não somente o Filho, mas também o Pai e o Espírito Santo vem morar na mente e no coração. O Pai vem nos fortalecendo com seu poder; o Filho nos iluminando com sua sabedoria; o Espirito Santo com sua bondade enche de amor nossos orações. 

O Novo Testamento aceita sem discussão a revelação do monoteísmo que Deus é único (Mc 12,29; Jo 17,3; Gl 3,20; Ef 4,6; 1Tm 2,5). E nós acreditamos em um só Deus. Que Deus é um e único, não há dúvidas.          

Mas não basta crer em um e único Deus. Devemos perguntar de que jeito vive Deus, para podermos questionar a nós mesmos, sobre de que jeito também nós vivemos e convivemos como cristãos. Deus vive do jeito trinitário. Cremos que Deus é único, mas não é solidão ou solitário, é comunhão. Crer na Santíssima Trindade significa que a verdade está do lado da comunhão e não da exclusão. Crer na Santíssima Trindade significa crer que Deus é um mistério de comunhão e de amor. Isto implica que tudo se relaciona com tudo. É uma inclusão no relacionamento e na convivência. E por ser central para a nossa vida, a Santíssima Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia e em todas as nossas orações. Fomos batizados e a futura geração da Igreja será batizada em nome da Santíssima Trindade. Os nossos pecados são perdoados no sacramento da reconciliação em nome da Santíssima Trindade. E ao começarmos e terminarmos a missa/celebração litúrgica e muitas orações nossas diariamente, inclusive as orações presidenciais da missa, nós invocamos a presença da Santíssima Trindade. E a primeira oração que aprendemos quando éramos criancinhas e que passamos também para outra geração é o sinal da cruz, invocando a presença da Santíssima Trindade. Nossa vida diária é realmente cercada pela Santíssima Trindade. A nossa vida é uma liturgia: ao iniciarmos a vida, fomos batizados em nome da Santíssima Trindade e ao terminarmos a nossa caminhada terrena, mais uma vez, a presença da Santíssima Trindade é invocada: a nossa vida se entrega de volta para a comunhão eterna com a Santíssima Trindade.          

A presença da Santíssima Trindade em todos os momentos de nossa vida nos leva a uma vida serena, pois, na verdade, há alguém que nos envolve, nos abraça e nos cerca por todos os lados e nos ama de verdade. Ninguém nos conhece melhor como Ele nos conhece, pois Ele nos conhece e penetra lá no fundo de nosso coração. Não só isso, também Ele conhece todos os segredos, todos os mistérios e todos os caminhos. N’Ele encontramos respostas para todas as nossas interrogações. Ele é realmente um útero infinito e a última ternura onde todos nós podemos nos refugiar. Com Ele ninguém se sente só, pois Ele é eternamente aberto para nós. 

Mas o que significa acreditar na Santíssima Trindade. Ou quais são consequências da fé na Santíssima Trindade. Acreditar na Santíssima Trindade significa viver uma vida num estilo trinitário. Para podermos viver em Deus, precisamos aprender a viver como Deus. Todos os cristãos são chamados a viver uma vida trinitária. Mas o que significa viver uma vida no estilo trinitário? 

1. Viver a Solidariedade e Na Solidariedade          

Na Santíssima Trindade há uma interdependência. A teologia trinitária afirma: “Cada uma das Pessoas divinas necessita das outras para ser Ela própria” (Silanes, La Santíssima Trindade, Salamanca). A solidariedade é uma atitude trinitária, pois na solidariedade há uma interdependência. A palavra “Solidariedade” vem do latim “solidus”. “Solidus” designava uma moeda de ouro sólida, consolidada, não variável. Daí derivam os termos soldo, soldado, soldar, consolidar, solidez e, a partir do século XIX, solidário e solidariedade. A palavra latina “Solidus” significa, então, maciço, consistente porque seus elementos estão bem unidos. Solidariedade, por isso, significa relação pela qual as partes de um todo são interdependentes consistentemente.           

Por isso, solidariedade não é uma assistência. A solidariedade é participação na vida dos outros. A chave da solidariedade é participação. A participação é o que distingue a simples ajuda humanitária, assistencial que vem de fora. Através da assistência damos uma parte de nossos bens; na solidariedade compartimos nossas próprias vidas, inclusive nossos bens. Através da assistência trabalhamos pelos pobres e necessitados; pela solidariedade trabalhamos com os pobres e necessitados pelo bem comum de ambos. A assistência tende a criar dependência; a solidariedade liberta. A solidariedade é uma participação amorosa e humilde da vida dos demais compartindo com eles nossa vida. Para isso, tenho que estar consciente de que eu faço parte inseparável da humanidade. A dor de um é a minha dor. A alegria do outro é a minha alegria também. Um dos exemplos da solidariedade é o bom Samaritano (Lc 10,30-37) que fala do amor fraterno. Quando se trata do amor fraterno não se discute quem é meu próximo. O amor fraterno não tem fronteiras. Basta alguém estar numa necessidade, uma pessoa que tem amor no coração não vai perguntar quem é esta pessoa necessitada? Simplesmente ele vai dizer: “Ele é meu irmão. Preciso ajudá-lo”. Alguém me é próximo pelo apelo que me faz. A aplicação do amor é universal, pois o amor é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo 4,8.16; veja também a encíclica Sollicitudo rei socialis de João Paulo II nos: 38-39 sobre o exercício da solidariedade). 

2. Viver a Liberdade e Na Liberdade          

Sabemos muito bem de que a história humana está cheia de guerras, de violências, de luta pelo poder etc.... Em tudo isto, os mais fortes oprimem e exploram os mais fracos. Consequentemente, quem tem mais “liberdade” é o dominador. Mas ele é livre à custa dos mais fracos. E o dominado vive sem a liberdade.          

Na relação trinitária não há dominador nem dominado, pois os componentes vivem na plena comunhão. Por isso, a verdadeira liberdade é a liberdade vivida como comunhão a exemplo da Santíssima Trindade. A liberdade vivida como dominação destrói a comunidade. A liberdade vivida como comunhão é a unificação de coisas separadas e tem capacidade de curar as feridas causadas pela lógica liberdade- dominação. Onde há relação de dominador e de dominado, não há vida trinitária embora se diga como uma relação cristã, pois a existência do dominador e dominado numa convivência é uma negação da fé na Santíssima Trindade. 

3. Viver Uma Vida Participativa e Igualitária          

Na Santíssima Trindade há participação plena ou perfeita. Ou não há trinitarização sem participação. Nenhuma das pessoas da Santíssima Trindade atua sozinha. Na Trindade não há nada que seja maior ou menor porque as três Pessoas são co-eternas e iguais entre si. Na vida trinitária todas as três Pessoas partilham uma recíproca participação total. As três Pessoas participam, cada uma de acordo com seu modo próprio. Todas as ações de Deus são ações do Pai, do Filho e do Espírito Santo.          

Por isso, viver a vida a exemplo da vida participativa da Santíssima Trindade significa levar em conta o outro em todas as circunstâncias, colocar-se do seu lado. Consequentemente, não haverá uma vida trinitária quando a desigualdade continuar a dominar uma comunidade ou sem verdadeira participação nos deveres e nos direitos. Não há uma vida trinitária quando uma sociedade ou uma comunidade se baseia na competição entre os sujeitos com oportunidades desiguais. Não há uma vida trinitária quando não se dá atenção aos mais desfavorecidos ou menos protegidos. 

4. Viver o Diálogo Amoroso e No Diálogo Amoroso         

O fundamento último do diálogo para um verdadeiro cristão, do ponto de vista teológico e prático, é e deve ser trinitário. A Santíssima Trindade é o eterno diálogo no amor; ou vivem em amoroso diálogo. Quando os cristão deixarem-se modelar pela Santíssima Trindade, eles serão capazes de estabelecer um diálogo construtivo porque o diálogo basear-se-á sempre no amor. E no diálogo o escutar é mais importante do que o falar. Para aprendermos a calar para escutar, precisamos ser modelados pela vida trinitária.          

A partir destes pensamentos e outros pensamentos que ainda não se encontram nesta reflexão podemos concluir que precisamos aprender ainda mais e mais do mistério da Santíssima Trindade. Há tanta e tanta riqueza espiritual na Santíssima Trindade na qual e da qual precisamos tirar e aprender para viver uma vida mais cristã. Posso dizer que para viver uma vida cristã solidamente, precisamos viver uma vida trinitária. Todos estes pensamentos levam cada um de nós a se perguntar: “Será que a minha vida realmente é vivida no estilo trinitário como prova de que acredito na Santíssima Trindade?”

Pe. Vitus Gustama,SVD

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