domingo, 24 de setembro de 2023

27/09/2023-Quartaf Da XXV Semana Comum

SER ENVIADOS DO SENHOR PARA LIBERTAR OS OUTROS

Quarta-Feira da XXV Semana

Primeira Leitura: Esd 9,5-9

5 Na hora da oblação da tarde, eu, Esdras, levantei-me da minha prostração. E, com as vestes e o manto rasgados, caí de joelhos, estendi as mãos para o Senhor, meu Deus. 6 E disse: “Meu Deus, estou coberto de vergonha e confusão ao levantar a minha face para ti, porque nossas iniquidades multiplicaram-se acima de nossas cabeças, e nossas faltas se acumularam até o céu. 7 Desde os tempos de nossos pais até este dia, uma grande culpa pesa sobre nós: por causa de nossas iniquidades, nós, nossos reis e nossos sacerdotes, fomos entregues às mãos dos reis estrangeiros, à espada, ao cativeiro, à pilhagem e à vergonha, como acontece ainda hoje. 8 Mas agora, por um breve instante, o Senhor nosso Deus concedeu-nos a graça de preservar dentre nós um resto, e de permitir que nos fixemos em seu lugar santo. Assim o nosso Deus deu brilho aos nossos olhos e concedeu-nos um pouco de vida no meio de nossa servidão. 9 Pois éramos escravos, mas em nossa servidão o nosso Deus não nos abandonou. Antes, conseguiu para nós o favor dos reis da Pérsia, deu-nos bastante vida para podermos reconstruir o templo de nosso Deus e restaurar suas ruínas, e concedeu-nos um abrigo seguro em Judá e em Jerusalém.

Evangelho: Lc 9,1-6

Naquele tempo, 1 Jesus convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças, 2 e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos. 3 E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado nem sacola nem pão nem dinheiro nem mesmo duas túnicas. 4 Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo. 5 Todos aqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, como protesto contra eles”. 6 Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e fazendo curas em todos os lugares.

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A Confissão Do Meu Pecado É o Reconhecimento Da Inocência e Da Justiça Divinas

Meu Deus, estou coberto de vergonha e confusão ao levantar a minha face para ti, porque nossas iniquidades multiplicaram-se acima de nossas cabeças, e nossas faltas se acumularam até o céu”, é uma parte da oração de Esdras depois da reconstrução do Templo.

Em todo pecado há sempre dois aspectos: a conversão indevida a uma criatura e a aversão diante de Deus. O pecado é uma afirmação absoluta de nós mesmos. Isso se chama orgulho/arrogância. É a autonomia absoluta, isto é, ser lei para nós mesmos. É uma aversão ao outro: agressividade, hostilidade, fechamento.  Todo pecado é uma idolatria. Adora-se às coisas de Deus no lugar do Deus das coisas. O pecado faz com que os homens se comportem como insensatos ou imprudentes e escravos do próprio pecado. Quem é escravo é porque não tem mais a liberdade.

Esdras, um dos sacerdotes artífices da volta da Babilônia para Jerusalém, se expressa diante de Deus com a oração de reconhecimento de culpa cometida pelos israelitas e a contaminação que sofreram dos costumes pagãos (estrangeiros). Mas dentro da confissão da culpa, Esdras agradece a Deus, que não abandona seu povo: "Éramos escravos, mas em nossa servidão o nosso Deus não nos abandonou”. E Esdras pede a Deus a ajuda na tarefa de reconstrução moral da sociedade.

A oração de Esdras é uma confissão ou uma súplica penitencial. Este tipo de oração será desenvolvido especialmente depois do exílio (Cf. Ne 9,5b-37; Dn 3,26-45; Br 1,15-3,8). Nesta oração há uma aspecto bilateral: entre Deus, como parte ofendida, e o povo ou indivíduo, como parte ofensora. Ao reconhecer sua culpa ou seu pecado, o povo confirma a inocência e a justiça divinas. Apesar do pecado do povo, Deus continua sendo misericordioso.

A situação de decadência moral e ética acontece por causa do abandono dos valores humanos e cristãos: “Realmente não se pode negar que, em muitos cristãos, a vida espiritual atravessa um momento de incerteza que se repercute não só na vida moral, mas também na oração e na própria retidão teologal da fé”, escreveu o Papa João Paulo II (Carta apostólica, Tertio Millennio Adveniente n.36). É necessário que façamos sempre o exame de consciência para que o mal não avance nem faça sua raiz no nosso coração.

À medida que nossa espécie evolui espiritualmente, devemos olhar melhor e com mais cautela para nossa cumplicidade com o mal (de um grau menor a um grau maior). Precisamos aumentar nossa percepção daquelas forças sombrias que devemos combater. Essas forças não estão mortas, apenas adormecidas dentro de nós. Estejamos vigilantes antes que elas estraguem nossa vida e nossa convivência! O mal não tem rosto porque ele pode tomar o ser de qualquer um de nós. Ninguém está isento da possibilidade do mal. O mal é tudo que serve à morte; tudo que sufoca a vida, estreita-a, e corta-a em pedaços. Por isso, a realidade do mal exige vigilância.

Mas estejamos conscientes de que na origem está a graça. Antes do pecado original estava a graça de Deus. No início, Deus criou tudo de bom. Por isso, podemos e devemos acreditar na misericórdia de Deus apesar de nossos pecados.

Ser Cristão é Ser Missionário Do Senhor

O texto do evangelho deste dia fala da missão dos Doze Apóstolos de Jesus e, portanto, a missão de toda a Igreja, de todos os cristãos. Para esta missão Jesus não apenas chama os Doze, mas ele os convoca: “Jesus convocou os Doze...”. No seu sentido lexical “convocar” significa chamar para determinada reunião ou ato coletivo, ou mandar comparecer. Para um ato coletivo, ninguém pode ficar fora. Na coletividade está a força somada para alcançar com facilidade determinado objetivo ou meta comum.

Depois de uma longa temporada de formação e de instrução, Jesus convoca seus discípulos e os envia. A missão consiste na tarefa de libertar as pessoas de suas prisões para serem livres a fim de que possam desfrutar, novamente, sua dignidade de filhos e filhas de Deus.  

Jesus “deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças...”. O “poder”/”autoridade” (Dýnamis) que Jesus dá aos seus discípulos (Lc 24,49) é a força do Espírito de Deus que, para Ele, é própria, com a qual vence o mal e cura os doentes. Com este poder/autoridade nenhum mal, nenhuma espécie de demônio, est´apto a vencer os discípulos que possuem a fé verdadeira.

Jesus “deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças...”. “Demônio” é algo que representa coisa maléfica. Doença representa tudo que leva alguém a não desfrutar bem a vida. Os Doze são enviados para superar tudo isso com o poder e a autoridade de Jesus. Eles continuarão a ter esse poder e essa autoridade na medida em que eles exercerem essa missão libertadora. Aqui o poder e a autoridade são sinônimos de serviço para libertar as pessoas e para dominar as forças maléficas e destruidoras da dignidade humana. Somente a partir dessa missão colocada em prática é que os Doze poderão despertar nas pessoas a consciência do próprio valor e honra, da autoridade e da nobreza. “O mérito do trabalho não está em sua dificuldade, mas no grau de caridade, de amor, de união com o Cristo, contido na alma daquele que age” (Simone Patris).

A missão confiada aos Doze também consiste em proclamar ou anunciar a Boa Nova: Jesus “enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos”. Anunciar não se restringe em proclamar e sim em curar os fracos, fortalecer os caídos e socorrer os necessitados. Trata-se de uma ação concreta sobre pessoas concretas que se encontram em determinada necessidade vital.

A missão pode se resumir em dois pontos precisos: um é uma palavra, uma proclamação, um anúncio; outro é um ato propriamente dito, uma cura/libertação. O missionário não pode ficar contente apenas com “palavras”, mas são necessários “atos” concretos que mostram aos homens que estes contribuem para libertá-los do poder do mal: expulsar os demônios, curar os doentes. Mas o missionário não pode ficar contente com somente “atos”, é preciso que suas palavras explicitem o que faz: dizer que o Reino de Deus está atuando entre o povo. Toda a vida do cristão deve ser evangelizadora. Por isso, é bom cada cristão responder as seguintes perguntas: Estou consciente de que sou discípulo-missionário? Tenho lutado contra o mal que existe dentro de mim e ao meu redor? Tenho anunciado Jesus Cristo Salvador com minhas obras e com minhas palavras? “O trabalho deve ser concebido e vivido como vocação e missão, como tributo à civilização” (João XXIII).

Reflitamos sobre as palavras do Papa Francisco: “Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não freqüentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor (Homilia Na Missa Com Os Bispos – Catedral Metropolitana, Rio de Janeiro- Brasil, Sábado, 27 de julho de 2013).

Para exercer esta missão cada enviado, cada cristão deve ser revestido de a “pobreza evangélica”: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado nem sacola nem pão nem dinheiro nem mesmo duas túnicas”.

As supostas seguranças para o dia-a-dia pesam para quem deve estar em movimento (missão). O apego aos bens materiais tira a fé na providencia divina que criou tudo para todos generosamente. Se o Deus em quem acredito tem poder de criar tudo, porque não posso acreditar na Sua providência? Vivem na fé e com fé não é tão fácil como falar da fé. A fé autentica exige para cada cristão a estar livre interiormente, sem demasiada bagagem. O cristão não busca a si mesmo e sim deve dar exemplo de desapego e deve confiar na força intrínseca da Palavra de Deus. O cristão deve estar despojado, ter um coração livre e desarmado. Somente aquele que se esvazia de si tem espaço para a graça de Deus. E quando uma pessoa estiver cheia da graça de Deus, como a mãe de Jesus, ele será uma bênção para os demais.

Não leveis nada para o caminho: nem cajado nem sacola nem pão nem dinheiro nem mesmo duas túnicas. Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo”. A Igreja primitiva cuidava muito de manter esse ideal de pobreza real. A pobreza era para ela um sinal do Reino (Lc 6,20;14,25-33; 16,19-31; 18,18-30).

Toda vez que nos encontrarmos com essa exigência evangélica devemos nos interrogar, pois somos muito propensos a esquecê-la e a nos instalar no conforto e no bem-estar com o risco tremendo de nos contentar com esses bens materiais e nos falte a disponibilidade. Vale a pena fazer uma reflexão sobre as seguintes palavras do Papa Francisco na sua entrevista com Gerson Camarotti da Globo News durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013 no Rio de Janeiro, Brasil: “Penso que temos que dar testemunho de uma certa simplicidade, eu diria, inclusive, de pobreza. Nosso povo exige a pobreza de nossos sacerdotes. ... O povo sente seu coração magoado quando nós, as pessoas consagradas, estamos apegadas ao dinheiro. Isso é ruim. E realmente não é um bom exemplo que um sacerdote tenha um carro último tipo, de marca(Papa Francisco, Mensagens e Homilias- JMJ Rio 2013 , pp. 130-131. Ed. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

A Igreja que somos nós todos, devemos servir de ponte entre Deus e a humanidade, deve servir de testemunha da simplicidade e do amor de Deus aos homens. A fé, que é a resposta humana ao convite de Deus deve ser refletida na terra em que vivemos e em que trabalhamos. Toda a atividade da Igreja ou de cada cristão deve ser dirigida para este fim: ser espelho do amor de Deus.

A imagem da Igreja, que somos nós todos, deve ser a imagem de uma realidade acolhedora e não excludente, deve ser a imagem de um “recinto” em que todos cabem porque todos são recebidos com amor. Neste sentido, toda a vida do cristão há de ser evangelizadora. Onde há amor, há espaço. Onde não há amor, há apenas um sufoco e agressividade e mútuo ataque.

Na Eucaristia celebramos o amor daquele que, conhecendo nossa fragilidade, faz suas nossas dores, carregou sobre si nossas misérias e nos curou com suas chagas (cf. Mt 8,17; Is 53,4). Ele se apresentou não como um Deus terrível que dá medo e sim com simplicidade de quem nos ama entranhavelmente e se aproxima de nós para se manifestar a nós como a Boa Notícia que o Pai misericordioso pronuncia a nosso favor.

Que Deus nos conceda a graça de viver confiados no amor de Deus, mas ao mesmo tempo, de viver fieis a todo aquilo que nos foi encomendado, especialmente proclamar seu Evangelho não somente com palavras, principalmente com obras, de tal forma que sejamos construtores de seu Reino neste mundo.

P. Vitus Gustama,svd

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