terça-feira, 30 de maio de 2023

01/06/2023-Quintaf Da VIII Semana Comum

SENHOR, QUE EU POSSA ENXERGAR SUA GRANDEZA E O SENTIDO DA MINHA PRESENÇA NESTE MUNDO

QUINTA-FEIRA DA VIII SEMANA COMUM

Primeira Leitura: Eclo 42,15-26

15 Vou recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua vontade realizou-se o seu julgamento. 16 O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória. 17 Os santos do Senhor não são capazes de descrever todas as suas maravilhas. O Senhor todo-poderoso as confirmou, para que tudo continuasse firme para sua glória. 18 Ele sonda o abismo e o coração, e penetra em todas as suas astúcias. 19 Pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos; Ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas. 20 Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida. 21 Pôs em ordem as maravilhas da sua sabedoria, pois só Ele existe antes dos séculos e para sempre. 22 Nada lhe foi acrescentado, nada tirado, e Ele não precisa de conselheiro algum. 23 Como são desejáveis todas as suas obras brilhando como centelha que se pode contemplar! 24 Tudo isso vive e permanece sempre, e em todas as circunstâncias tudo lhe obedece. 25 Todas as coisas existem aos pares, uma em face da outra, e Ele nada fez de incompleto: 26 uma coisa completa a bondade da outra, quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória?

Evangelho: Mc 10,46-52

Naquele tempo, 46 Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. 48 Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49 Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51Então Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” 52Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.

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Sou Uma Criatura Amada De Deus

Vou recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua vontade realizou-se o seu julgamento. O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória”. Com estas palavras começa a Primeira Leitura de hoje tirada do Livro de Eclesiástico.

Jesus Bin Sirac, o autor do Eclesiástico, entoa um hino à criação, obra de Deus e reflexo de Sua sabedoria infinita. O universo criado é uma das portas para conhecer Deus. A existência das criaturas nos leva ao Criador das criaturas. Para nós este Criador se chama Deus. o poder de Deus se manifesta também através da existência das criaturas ou do universo inteiro. No texto da Primeira Leitura lemos este hino resumido. Este texto é como um eco aos primeiros capítulos do livro de Gênesis. Deus fez tudo e o fez muito bem: o sol e as estrelas e todas as coisas: “Ele nada fez de incompleto: uma coisa completa a bondade da outra, quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória?”. 

Além da beleza do universo em geral, há outro aspecto que desperta a admiração do sábio autor do livro: tudo o que se refere ao homem: “Ele sonda o abismo e o coração, e penetra em todas as suas astúcias. Pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos; Ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas. Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida”. Deus é o verdadeiro Sábio. A sabedoria humana é apenas um pequeno reflexo da sabedoria infinita de Deus.

De Jesus Bin Sirac aprendemos que jamais deveríamos perder a capacidade de admiração diante das obras de Deus em nosso cosmos: desde as grandes dimensões de sistemas no universo (nosso sistema é solar), as grandes dimensões de estrelas ou de planetas, até os caprichos entranháveis de uma planta, de uma flor, de um pássaro etc., desde a força dos elementos que não dominamos como um bravo vulcão e furacão e até o mecanismo admirável de nosso corpo humano. Tudo está muito perfeito, pois Ele fez todas as coisas com sabedoria e amor. O cântico das criaturas que nos ensinou são Francisco de Assis poderia nos ajudar a ordenar nosso sentimento diante de Deus e sua obra criadora: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas....”. 

Recordar e contemplar o universo com todas as coisas que nele existem pode nos dar serenidade e lucidez em nossa vida. Segundo o texto de hoje Deus sonda até as profundezas do meu coração. Isto significa que Deus está presente e está conosco, pois somos suas obras. Tudo isto deve nos converter em pessoas amantes da natureza e da ecologia e em pessoas com mais esperança e mais fé e mais alegria, pois nos sentimos conhecidos e guiados por Deus e envoltos em seu amor. “O prodígio do meu corpo, o segredo das minhas células, o relâmpago que há nos meus nervos, o palácio do meu coração...  E a animação da minha alma, a centelha do meu entendimento, o frêmito do meu sentimento, o pilar da minha fé. O milagre que está dentro de mim, bem como a Tua assinatura a ele aposta. Conheço a minha pequenez e a minha grandeza, a minha dignidade e a minha insignificância. Grande é o Teu nome, ó Senhor, por toda a terra(Carlos G. Valles: Busco Tua Face, Senhor: Salmos Para Contemplar, Ed. Loyola 1992 p.20). 

O Evangelho de hoje nos ajuda a assumirmos uma atitude de coração que nos ajudará a renovar o amor definhado. Precisamos de Cristo para amar a Cristo e todas as criaturas; precisamos de Cristo para servir a Cristo no irmão (Cf. Mt 25,40.45). Precisamos de Cristo para louvar a Cristo, pois “Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito. Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,3-4). E a Ele devemos dirigir nosso apelo, nosso grito com insistência como aconteceu com o Bartimeu cego: "Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!".

Com Jesus Tudo Se Enxerga Para Poder Segui-Lo Seguramente 

O texto do Evangelho de hoje fala de Bartimeu cego que foi curado por Jesus e logo em seguida, ele segue a Jesus, ou seja, virou o discípulo de Jesus. 

O cego da nossa história está sentado à beira do caminho, provavelmente a pedir esmola. O estar sentado significa acomodação, instalação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e está conformado com a sua triste situação, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela. O pedir esmola (o texto refere explicitamente a sua condição de mendigo – vers. 46), indica a situação de escravidão e de dependência em que o homem se encontra. 

Encontramos no cego Bartimeu um ótimo exemplo de resoluta perseverança diante das dificuldades. Lemos o relato que quando Bartimeu começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”, houve pouco encorajamento daqueles que estavam perto dele. Em vez de encorajar Bartimeu para ir ao encontro de Jesus, as pessoas ao redor dele o repreendiam para que ele ficasse calado. No entanto, Bartimeu não se calou. Se os outros desconheciam a miséria da cegueira, Bartimeu a conhecia perfeitamente. Se outros pensavam que não valia a pena fazer tamanho esforço a fim de obter alívio, Bartimeu, de qualquer maneira, sabia que valia. Em nada Bartimeu se incomodou com as reprovações dos insensíveis circunstantes. Bartimeu não ligou com o ridículo, pois ele quer alcançat seu objetivo: voltar a e enxergar. Clamando ou gritando desta forma, Bartimeu obteve o que seu coração desejava e recebeu de volta a visão. “Acaso Aquele que podia devolver a luz ignorava o que queria o cego? Com efeito, para isto, Ele exige que se peça; para isto exige que o coração se erga em oração” (São Beda. In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea Vol.2: Evangelho de São Marcos, Ecclesiae, Campinas, SP ,2019 p.198). Somente quem se reconhece pobre e cego, e pede com insistência a misericórdia de Deus, experimenta a libertação. 

Quando alguém encontra Jesus e resolve deixar a vida antiga para aderir ao Reino que Jesus veio propor, encontra sempre resistências (que vêm, por vezes, dos familiares, dos amigos, dos colegas). Estes que repreendem e mandam calar o cego representam, portanto, todos aqueles que colocam obstáculos a quem quer deixar a sua situação de miséria e de escravidão para aderir à proposta libertadora que Cristo faz. No entanto, a oposição não só não desarma o cego, como o leva a gritar ainda mais forte: “Filho de David, tem piedade de mim”. A incompreensão ou a oposição dos homens nunca fazem desistir aquele que sabe que Jesus está passando e que encontrou n’Ele uma proposta de vida e de liberdade. 

Jesus parou e mandou chamar o cego. A cena recorda-nos os relatos do chamamento dos discípulos (cf. Mc 1,16-20; 2,14; 3,13). Os mediadores que transmitem ao cego as palavras de Jesus dizem-lhe: “Coragem, levanta-te que Ele te chama” (vers. 49). Ou seja: deixa a tua situação de miséria, de escravidão e de dependência, porque Jesus te chama. O chamamento é sempre, nestes casos, tornar-se discípulo. 

Em resposta, o cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus (v. 50). A capa podia estar colocada debaixo do cego, como almofada, ou nos seus joelhos, para recolher as moedas que lhe atiravam; em qualquer caso, a capa é tudo o que um mendigo possui, a única coisa de que ele pode separar-se (outros deixaram o barco, as redes ou a banca onde recolhiam impostos). O abandonar capa significa, portanto, o deixar tudo o que se possui para ir ao encontro de Jesus. É um corte radical com o passado, com a vida velha, com a anterior situação, com tudo aquilo em que se apostou anteriormente, a fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus. Em outras palavras, soltar o manto, dar um salto e aproximar-se de Jesus expressam de maneira significativa a ruptura do homem com seu passado, um passado de poder, pois o manto significa o poder humano. Por outro lado, o cego é imagem do verdadeiro discípulo que se despoja do manto que até então o fazia cego para poder seguir Jesus, o Salvador do mundo.

Jesus perguntou ao cego: “Que queres que te faça?”. É a mesma pergunta que, pouco antes, Jesus fizera a João e Tiago (cf. Mc 10,36). A identidade da pergunta acentua, contudo, a diferença da resposta… Os dois irmãos queriam sentar-se ao lado de Jesus e ver concretizados os seus sonhos de grandeza e de poder. O cego Bartimeu, ao contrário, cansado de estar sentado numa vida de escravidão e de cegueira, de esterilidade, quer encontrar a luz para seguir Jesus (vers. 51).

“Mestre, que eu veja!”. Ver significa crer, isto é, ser salvos: este é o sentido de todos os milagres do Evangelho, que querem nos levar a ver, no Crucificado, aquilo que verá o centurião e a fazer a sua própria profissão de fé que salva (cf. Mc 15,39). Ver e acolher o dom de Deus no Filho do Homem crucificado é o grande dom ao qual a luz do Evangelho quer nos conduzir para sermos seguidores do Senhor da vida.

 

Jesus responde a Bartimeu: “Vai, a tua fé te salvou” (v. 52). A fé não é a simples adesão a determinadas verdades abstratas, que o crente aceita acriticamente; mas, no contexto neo-testamentário, a fé é a adesão a Jesus e à sua proposta de salvação. 

Por isso, Marcos termina a sua história dizendo que o cego recuperou a vista e seguiu Jesus – isto é, fez-se discípulo de Jesus. Ao aderir a Jesus e à sua proposta de salvação, ao aceitar seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida (Jesus prepara-se para entrar em Jerusalém, onde vai fazer dom da sua vida em favor dos homens), Bartimeu encontrou a salvação: deixou a vida da escuridão, da escravidão, da dependência em que estava e nasceu para essa vida verdadeira e eterna que, através de Jesus, Deus oferece aos homens. 

O cego Bartimeu que se encontrava a mendigar, sentado à beira do caminho, à saída de Jericó, representava, inicialmente, os pecadores que viviam longe de Deus e à margem da salvação. Depois de encontrar Jesus, Bartimeu transforma-se e torna-se o protótipo do verdadeiro discípulo… Destinatário privilegiado da proposta de salvação que Jesus traz, ele proclama sem hesitações a sua fé, invoca a ajuda e a misericórdia de Jesus, acolhe sem hesitações o chamamento que lhe é feito, liberta-se da vida velha e, com alegria, decisão e entusiasmo, aceita, sem condições, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. É com Bartimeu que os discípulos de Jesus são convidados a identificar-se. 

O milagre da cura do cego adquire um valor simbólico. É um homem que reconhece em Jesus o Messias e o Mestre. A Palavra de Jesus devolve ao cego a vista como símbolo da Fe. O evangelista Marcos nota que esse homem, depois que ficou curado, “seguia a Jesus pelo caminho”. Somente com fé esse homem pode ficar perto de Jesus e caminhar com Ele até Jerusalém, término do caminho. Isto quer dizer que somente com fé se pode participar do mistério de Jesus Cristo. Por outra parte, o caminho para Jerusalém é o cumprimento do grande retorno dos desterrados (cf. Jr 31,7-9).

Muitas das vezes viramos cegos e nos encontramos sem forças à beira da caminhada desta vida. Mas podemos ouvir e sentir, como Bartimeu, Jesus passar. Este é o princípio de nossa cura e libertação. Ao Senhor podemos pedir: “Mestre, que possa enxergar o sentido da vida e o sentido da minha presença neste mundo!”. Este grito da fé que brota de nosso coração encontra o impulso de amor do coração de Jesus, e Sua Palavra se converte em Palavra da salvação. Palavra de poder que faz brotar a luz. Porque, pela graça desta Palavra que nos levanta para poder seguir a Jesus pelo caminho da salvação apesar das cruzes no caminho. Todas as paginas do Evangelho nos fazem saber que este caminho dos cegos e dos coxos é o caminho que leva a Jerusalém: é a subida com o Filho de Deus; é a passagem pela cruz e a vida consagrada por ser entregue totalmente nas mãos do Pai. E para nós este caminho toma uma direção mis precisa: a vivencia dos valores diante das oposições mundanas, o amor poderoso diante do ódio e a mentira, honestidade e justiça diante da corrupção e injustiça social e assim por diante.

P. Vitus Gustama,SVD

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