sexta-feira, 28 de agosto de 2020

SÁBADO FOI FEITO PARA O HOMEM

                                                                    05/09/2020

VIVER CONFORME O ESPIRITO DE DEUS É VIVER EM FUNÇÃO DO BEM DO HOMEM

Sábado da XXII Semana Comum

                                                                                                PARÓQUIA DIVINO ESPÍRITO SANTO: Evangelho de hoje, sábado, 09/09/2017

Primeira Leitura: 1Cor 4,6b-15

6b Irmãos, apliquei essa doutrina a mim e a Apolo, por causa de vós, para que o nosso exemplo vos ensine a não vos inchar de orgulho, tomando o partido de um contra outro, e a “não ir além daquilo que está escrito”. 7 Com efeito, quem é que te faz melhor que os outros? Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido? 8 Vós já estais saciados! Já vos enriquecestes! Sem nós, já começastes a reinar! Oxalá estivésseis mesmo reinando, para nós também reinarmos convosco! 9 Na verdade, parece-me que Deus nos apresentou, a nós apóstolos, em último lugar, como pessoas condenadas à morte. Tornamo-nos um espetáculo para o mundo, para os anjos e os homens. 10 Nós somos os tolos por causa de Cristo, vós, porém, os sábios nas coisas de Cristo. Nós somos os fracos; vós, os fortes. Vós sois tratados com toda a estima e atenção, e nós, com todo o desprezo. 11 Até a presente hora, padecemos fome, sede e nudez; somos esbofeteados e vivemos errantes; 12 fadigamo-nos, trabalhando com as nossas mãos; somos injuriados, e abençoamos; somos perseguidos, e suportamos; 13 somos caluniados, e exortamos. Tornamo-nos como que o lixo do mundo, a escória do universo, até o presente. 14 Escrevo-vos tudo isto, não com a intenção de vos envergonhar, mas para vos admoestar como meus filhos queridos. 15 De fato, mesmo que tivésseis dez mil educadores na vida em Cristo, não tendes muitos pais. Pois fui eu que, pelo anúncio do Evangelho, vos gerei em Jesus Cristo.

Evangelho: Lc 6,1-5

1 Num sábado, Jesus estava passando através de plantações de trigo. Seus discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. 2 Então alguns fariseus disseram: 'Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?' 3 Jesus respondeu-lhes: 'Acaso vós não lestes o que Davi e seus companheiros fizeram, quando estavam sentindo fome? 4 Davi entrou na casa de Deus, pegou dos pães oferecidos a Deus e os comeu, e ainda por cima os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães.' 5 E Jesus acrescentou: 'O Filho do Homem é senhor também do sábado.'

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Enraizados Em Cristo Na Nossa Missão De Evangelização

“Nós somos os tolos por causa de Cristo, vós, porém, os sábios nas coisas de Cristo. Nós somos os fracos; vós, os fortes. Vós sois tratados com toda a estima e atenção, e nós, com todo o desprezo. ... somos perseguidos, e suportamos; 13 somos caluniados, e exortamos”, escreveu são Paulo aos Coríntios que lemos na Primeira Leitura de hoje.

Em 2Cor 4,7 São Paulo escreveu: “Trazemos este tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus e não de nós”. Praticamente são Paulo repetirá neste capítulo aquilo que lemos hoje na Primeira Leitura (1Cor 4,6-15). O “tesouro” ao qual esta passagem alude é o conhecimento, a experiencia de Jesus Ressuscitado. Este é o incomparável dom que são Paulo leva em “vasos de argila”, expressão que pode fazer referência à debilidade pessoal do próprio São Paulo (Cf. 2Cor 12,7-10) ou talvez ao próprio corpo do homem feito de barro segundo a tradição de Gn 2,7. A pregação da fé se faz a partir da própria limitação do ser do homem. Dentro desse contexto é que podemos entender a mensagem do texto da Primeira Leitura de hoje.

Para São Paulo a debilidade da qual crê ter não é sintoma de fracasso e sim lugar da manifestação de Deus, pois “Quando me sinto fraco, então é que sou forte. ... Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo” (2Cor 12,10). Se na debilidade de Jesus se manifestou a glória do Pai, na pobreza e limitação do crente a verdade da mensagem sem dúvida aparecerá.

A partir dessa limitação é que são Paulo continua a falar da difícil relação dos Coríntios com ministros e pastores, e talvez também com eles próprios em sua compreensão de seu papel na comunidade, como lemos no texto da Primeira Leitura.

Na missão de evangelização, São Paulo (e Apolo) se coloca como modelo, porque eles não se buscam a si mesmos, mas serviram humildemente à comunidade, com suas limitações e capacidades. Para os Coríntios que se vangloriam, São Paulo emprega uma série de antíteses, cheias de ironia, muitas vezes, sobre seu lugar na comunidade: os coríntios são ricos, têm tudo, enquanto os apóstolos são os últimos, condenados à morte; eles são muito sensatos, e ele um louco; eles são fortes e são Paul fraco; eles são famosos, e ele é desprezado, aquele que passa fome e até tem sede e falta roupa, e sem casa fixa.

São Paulo trabalha duro mas mesmo assim os Coríntios o insultam e caluniam e o tratam como o lixo do mundo. Mas são Paulo os tratam com amor: “Escrevo-vos tudo isto, não com a intenção de vos envergonhar, mas para vos admoestar como meus filhos queridos”. São Paulo considera os membros da comunidade de Corinto como “filhos queridos”, pois “De fato, mesmo que tivésseis dez mil educadores na vida em Cristo, não tendes muitos pais. Pois fui eu que, pelo anúncio do Evangelho, vos gerei em Jesus Cristo”, escreveu são Paulo.

Em bom espelho no qual devem espelhar-se todos os que receberam algum tipo de responsabilidade na comunidade. O princípio para todos, e de modo particular para os responsáveis pela comunidade (líderes), deve ser a humildade, a exemplo de são Paulo. Santo Agostinho dizia: “O primeiro passo na busca da verdade é a humildade. O segundo passo é a humildade. O terceiro passo é a humildade. E o último passo é a verdade”. No texto da Primeira Leitura do dia anterior são Paulo nos diz que somos servidores e não donos. Hoje ele chama atenção  daqueles que acreditam ser alguma coisa ou dono da verdade: "Quem é que te faz melhor que os outros? Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido?”.

Será que nós nos buscamos a nós mesmos ou o poder em nosso serviço aos demais? Será que reagimos com a humildade de são Paulo diante das críticas e dos comentários maldosos pelos quais sofremos bastante em nosso trabalho? Aquele que está cheio de si é que perturba a convivência harmoniosa. O humilde reage com mais serenidade, como são Paulo.

Em sintonia com o texto da Primeira Leitura, o Salmo Responsorial (Sl 144) nos orienta para o juízo de Deus e nos convida a pôr em Deus a confiança, não em nossos méritos nem no nosso prestígio que possamos ter: “É justo o Senhor em seus caminhos, é santo em toda obra que ele faz. Ele está perto da pessoa que o invoca, de todo aquele que o invoca lealmente”.

O Amor Fraterno É o Cumprimento Da Vontade De Deus

O Filho do Homem é senhor também do sábado

A controvérsia entre Jesus e os fariseus continua. No evangelho anterior era sobre o jejum. Hoje é sobre o Sábado. Guardar o sábado para um judeu era algo importantíssimo; estava entre os principais mandamentos. Transgredir o sábado podia levar o acusado à condenação de acordo com a gravidade do ato. A punição prevista chegava à pena de morte (cf. Ex 31,12-17; 35,1-3).

E tirar espigas (com foice) era uma das trinta e nove formas de violar o sábado, segundo as interpretações exageradas que algumas escolas dos fariseus faziam da lei na época. Por isso, se escandalizam quando percebem que os discípulos de Jesus arrancam as espigas para matar a fome no dia de sábado. Na verdade Dt 23,25 determina: “Quando entrares na seara de trigo do teu próximo, poderás colher espigas com a mão, mas não usarás a foice”. Era permitido, então, colher espigas com a mão. Só não era permitido passar a foice.

Os fariseus ficam presos com suas próprias idéias e usam os textos da Sagrada Escritura em função de suas idéias. Ler e meditar a Palavra de Deus é para descobrir a vontade de Deus. Precisamos rezar, a exemplo de Samuel, quando lemos e meditamos a Palavra de Deus: “Fale, Senhor; vosso servo escuta!” (1Sm 3,10). A Bíblia é inspirada por Deus e por isso, precisamos pedir ao Espírito Santo que nos inspire na hora de ler e de meditá-la. Em outras palavras, quando lermos e meditarmos a Palavra de Deus temos que ter uma mente aberta e um coração necessitado da graça de Deus.

Jesus veio ao mundo para salvar a humanidade por amor (cf. Jo 3,16). Por isso, Jesus aplica um princípio fundamental para todas as leis, em função dos homens: “O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. O homem está sempre no centro da doutrina de Jesus. Sua preocupação é fazer o bem para o homem, mesmo no dia de Sábado, mesmo transgredindo a lei religiosa. A lei do Sábado foi dada precisamente a favor da liberdade, do bem e da alegria do homem (Dt 5,12-15).

Para Jesus, o espírito da lei deve estar sempre ao serviço de Deus para glorificá-Lo, e ao serviço do ser humano para dignificá-lo. A glória de Deus é a vida e a felicidade de seus filhos, os seres humanos. Para Jesus, as leis, ainda que pareçam ser sagradas, não podem estar por cima da vida, das necessidades vitais, da felicidade, da plena realização dos seres humanos. Por isso Jesus tem coragem de afirmar: “O Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. A lei civil é uma afirmação dupla: a existência dos maus e a dos bons. Para que os bons sejam protegidos é necessário ter lei. Se todos fossem bom, se todos tivessem capacidade de amar, a existência da lei não teria sentido. “Ama e faze o que quiseres. Por esse caminho não existe outro”, dizia Santo Agostinho.

A lei é boa e necessária. A lei é, na verdade, o caminho para levar à prática o amor. Somente o mandamento do amor rompe fronteiras, divisões, prejuízos e escravidões (Jo 13,34-35; 15,12). Por isso mesmo a lei não pode ser absolutizada. O Sábado, (para nós o domingo), está pensado para o bem do homem. É um dia em que nos encontramos com Deus, com a comunidade, com os irmãos, com a natureza e com nós mesmos. O descanso é um gesto profético que nos faz bem a todos para fugir ou escapar da escravidão do trabalho ou da carreira consumista. O dia do Senhor é também dia do homem, com a Eucaristia como momento privilegiado.

O sagrado do sábado”, comenta o rabino Nilton Bonder, “não é o descanso em si, mas o ritmo mágico do trabalho ao descanso e ao trabalho novamente. É essa entrada e saída que é sagrada. (...) Sem as pausas há apenas ilusão; sem os silêncios há apenas ilusão da música; sem a luz-transparência há apenas ilusão da cor” (Código Penal Celeste).

“Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?”, perguntaram alguns fariseus a Jesus. O homem sempre tem uma tendência fastidiosa em dar uma importância aos meios, esquecendo-se muitas vezes do fim. Na minha fé, nos costumes religiosos, nos ritos há de ver primeiro sua finalidade, seu objetivo profundo, e os modos de expressão podem mudar. O legalismo religioso pode matar o espírito cristão. Toda comunidade em que os interesses particulares, as desigualdades, o monopólio têm espaço, deixa de ser campo para o triunfo do Espírito Santo. Jesus nos pede que acima de tudo deve ficar a misericórdia, o amor: “A caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,10b). Nascemos do Amor criador e devemos levar essa marca divina para toda a nossa vida. Somos filhos de Deus em Jesus Cristo e não estranhos, e, portanto, devemos atuar e viver como tais. Somos membros do Corpo de Cristo unidos pela fé, amor e esperança. Somos chamados a viver em comunhão da fé, amor, esperança, vida e solidariedade. Temos que nos salvar juntos. Todos nós temos que chegar juntos à casa do Pai (cf. Jo 14,1-6). Mas diante da responsabilidade não podemos pretender que os outros realizem a parte que a cada um corresponde. Cada um é insubstituível na sua responsabilidade.

Jesus nos convida, então, a fazer da Palavra de Deus um instrumento de libertação. Sua Palavra é a constituição para os cristãos, o novo povo de pessoas livres.

Precisamos nos perguntar: “Não somos, às vezes, demasiados legalistas? Não julgamos nossos irmãos quando cremos que eles não cumprem as leis ou as regras, sejam as leis humanas, as leis da Igreja ou as leis consideradas como divinas? Se para Jesus o homem está sempre no centro de seu ensinamento, será que colocamos o ser humano como centro de nossas atividades?”. A denúncia da escravidão ao sábado nos convida a nos libertarmos da religião da observância formal e segui-la pelos caminhos do amor libertador. Quando as coisas materiais ou rituais mandam, e não a lei do amor, o homem se faz escravo.

“O Filho do Homem é senhor também do sábado”. Deus entrou na história do homem fazendo-se palavra de homem. Com sua encarnação, a vida dos homens se torna o único lugar onde Deus fala. Praticamente, Jesus é acausado como “ateu”, pois não respeita o Sábado. Através de sua encarnação, Deus não levanta uma barreira entre o mundo da terra e o mundo de Deus. Deus santifica a condição mundana do homem.

Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?”, perguntaram os fariseus. O homem tem uma tendência de dar uma importância desmedida aos “meios”, esquecendo-se, muitas vezes, do “fim”. O homem, frequentemente, dedica seu tempo para discutir coisas secundárias, e não sobra tempo para tratar dos essências da vida. Disto aprendemos que em nossa fé, em nossos costumes religiosos, nos ritos, temos que ver primeiro sua finalidade, seu objetivo profundo e pensar que os meios de expressão podem mudar.

P. Vitus Gustama,svd

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