segunda-feira, 10 de agosto de 2020


                                                    15/08/2020


OLHAR AMOROSO E MISERICORDIOSO DO PAI DO CÉU NOS LEVA À CONVERSÃO PERMANENTE

Sábado da XIX Semana Comum

                                                                                                                            Evangelho de hoje (Mt 19,13-15) - Egídio Serpa | Egídio Serpa ...  

                                                                                                               Deixai as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é ...                                                        

Primeira Leitura: Ez 18,1-10.13b.30-32

1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 2 “Que provérbio é esse que andais repetindo em Israel: ‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos ficaram embotados?’ 3 Juro por minha vida — oráculo do Senhor Deus —, já não haverá quem repita esse provérbio em Israel. 4 Todas as vidas me pertencem. Tanto a vida do pai como a vida do filho são minhas. Aquele que pecar é que deve morrer. 5 Se um homem é justo e pratica o direito e a justiça, 6 não participa de refeições rituais sobre os montes, não levanta os olhos para os ídolos da casa de Israel, não desonra a mulher do próximo, nem se aproxima da mulher menstruada; 7 se não oprime ninguém, devolve o penhor devido, não pratica roubos, dá alimento ao faminto e cobre de vestes o que está nu; 8 se não empresta com usura, nem cobra juros, afasta sua mão da injustiça, e julga imparcialmente entre homem e mulher; 9 se vive conforme as minhas leis e guarda os meus preceitos, praticando-os fielmente, tal homem é justo e, com certeza, viverá — oráculo do Senhor Deus. 10 Mas, se tiver um filho violento e assassino, que pratica uma dessas ações, 13b tal filho de modo algum viverá. Porque fez todas essas coisas abomináveis, com certeza, morrerá; ele é responsável pela sua própria morte. 30 Pois bem, vou julgar cada um de vós, ó casa de Israel, segundo a sua conduta — oráculo do Senhor Deus. Arrependei-vos, convertei-vos de todas as vossas transgressões, a fim de não terdes ocasião de cair em pecado. 31 Afastai-vos de todos os pecados que praticais. Criai para vós um coração novo e um espírito novo. Por que haveis de morrer, ó casa de Israel? 32 Pois eu não sinto prazer na morte de ninguém — oráculo do Senhor Deus. Convertei-vos e vivereis!”


Evangelho: Mt 19, 13-15

Naquele tempo, 13 levaram crianças a Jesus, para que impusesse as mãos sobre elas e fizesse uma oração. Os discípulos, porém, as repreendiam. 14 Então Jesus disse: “Deixai as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. 15 E depois de impor as mãos sobre elas, Jesus partiu dali.

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Cada Um É Responsável Pelos Próprios Atos Diante de Deus


Que provérbio é esse que andais repetindo em Israel: ‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos ficaram embotados?’ Juro por minha vida já não haverá quem repita esse provérbio em Israel. Todas as vidas me pertencem é o oráculo do Senhor (Primeira Leitura).

 

Um dos capítulos do livro de Ezequiel que está cheio de interesse teológico é, sem dúvida, este capítulo que lemos na Primeira Leitura hoje. Trata da responsabilidade pessoal e individual, mas poderíamos dizer que é orientada sempre para a conversão dos maus caminhos (vv. 23 e 30). A exagerada insistência na influencia do pecado coletivo se converte em escusa para não mudar ou para não se converter.


O provérbio acima usado pelos israelitas (na época) indica que são os pais que pecaram e seus filhos que sofrem as consequências; os pais não sofrem o castigo, mas os filhos, sem ter culpa, sofrem os efeitos. A partir desse pensamento surge a pergunta: de que vale, então converter-se? Qual é a resposta do profeta Ezequiel?

 

A resposta de Ezequiel é dupla. Em primeiro lugar, ele sublinha a transcendência de Deus. Deus é soberano sobre tudo e todos. A decisão de Deus não depende do pensamento humano, pois a vida do homem pertence a Deus. O profeta Isaias usa outra expressão para falar da soberania de Deus: “Meus pensamentos  não são vossos pensamentos, e vossos caminhos não são meus caminhos” (Is 55,8). Em segundo lugar, segundo Ezequiel, cada ato praticado individualmente está sob a responsabilidade individual. O pecado está dentro de cada pessoa, de cada indivíduo. Ele não é responsável pela culpa dos seus antepassados. O responsável é sempre o indivíduo. Deus não quer saber dos pecados cometidos em si mesmo. O que importa para Deus é a atitude pessoal atual, a conversão presente que sempre é possível. Se um indivíduo se arrepender e se converter, não importa o grau e o número dos pecados cometidos, Deus perdoa, pois Ele é misericordioso. A partir da conversão, Deus nos vê como somos e não como éramos. Mais tarde, na cura de um cego de nascença Jesus dirá aos discípulos: “Nem ele  nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus” (Jo 9,3). O profeta quer nos recordar que cada um é responsável de seus atos e que não nos refugiemos num falso sentido de culpa coletiva.

 

A autodefesa mais fácil é culpar os outros. Instintivamente, muita das vezes, buscamos escusas ou desculpas nos outros para nossas falhas e tendemos culpar os outros pelas nossas fraquezas para diminuir ou eliminar nossa responsabilidade pessoal. Às vezes nos refugiamos na culpa que tem a sociedade, a Igreja, as instituições, o mundo em que vivemos. Mesmo que os demais sejam bons, mas se eu decidir fazer o mal, não me servirá nada a bondade dos outros, da minha família ou da minha comunidade.

 

Deus Cuida De Nós Como Uma Mãe Cuida De Um Bebê


Algumas mães apresentam a Jesus seus pequenos filhos/crianças para serem abençoados (as) por ele. Os discípulos não gostam e as repelem porque as crianças menos de doze anos eram tidas como seres sem valor algum. Em outras palavras podiam atrapalhar os adultos. Os escribas também não davam atenção para as crianças como também para as mulheres, pois são propriedades de seus “donos” (pais e maridos respectivamente). Por isso, as crianças representam todos os pobres, excluídos e insignificantes ou sem valor para o olhar da sociedade.


Jesus se posiciona contra para esta visão distorcida. Por isso, ele afirma: “Deixai as crianças e não as proibais de virem a mim, porque delas é o Reino dos Céus”.  Se a sociedade fica sem o olhar de estima para elas, Deus os tem um olhar amoroso. Jesus exige aos discípulos para que as crianças possam chegar até Jesus: Deixai elas virem a mim. Jesus também aproveita nessa exigência a oportunidade para dar uma lição importante para os discípulos: “Delas é o Reino dos céus”. Isso quer nos dizer, literalmente, que o apelo e as promessas de Deus também são para elas. Ninguém está excluído das promessas (bênçãos) de Deus. Deus quer salvar todos.


“Delas é o Reino dos céus”. Essa frase nos mostra que Deus tem para as crianças ou para os pequeninos uma elevada conta. Além disso, por serem puras, as crianças são o reflexo do Reino dos céus, segundo Jesus. As crianças são tabernáculo vivo no qual o pecado e a maldade não entram.

 

Os pobres, isto é, os mais carentes, os necessitados são objeto de particular predileção por parte do Senhor (cf. Lc 4,16-21). As crianças, os pequeninos são mais pobres dos pobres: são pobres de idade, de formação, de força (indefesos). A Igreja (todos os batizados) como Mãe deve exercer sua maternidade acolhendo, abrigando e velando sobre todos, especialmente sobre os mais necessitados.


Deixai as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. As palavras de Jesus soam como uma reclamação ligeira. Para os adultos as “coisas de crianças” representam um segundo plano. Quando avançamos na idade e com a experiência da vida, os adultos começam a ver as “coisas de crianças” como comportamentos superados esquecendo-nos de algo importante numa criança: a pureza, a simplicidade, a sinceridade de sentimentos que são justamente as virtudes que Jesus valoriza mais. Se nós somos complicados, ambíguos e pouco coerentes, tudo isso não será uma consequência de não sabermos conservar as virtudes de nossa infância?

 

Seremos mais felizes e mais serenos, se pusermos em Deus nossa confiança e segurança como uma criança nos seus pais. Se tivermos fé firme em Deus e deixarmos Deus tomar conta de nossa vida (com nossa colaboração), e se mantivermos a pureza, a simplicidade e a sinceridade, nós encontraremos novamente a serenidade de nossa infância e viveremos como mais alegria e leveza.

     

“Deixai as crianças e não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. O Reino anunciado por Jesus se funda na igualdade das pessoas. É um reino de comunhão e fraternidade. Portanto, não pode admitir a exclusão de quem quer que seja. Jesus diz que está reservado um lugar especial no Reino de Deus para as crianças. O Reino de Deus pertence a quem se pareça com as crianças. Não é que o ideal do discípulo seja ser ingênuo e infantil, e sim, ser capaz de confiar plenamente em Deus, não busca segurança por si mesmo, não ter o coração corrompido pela maldade. As crianças são, com efeito, protótipo de pessoas que têm fé e confiança em Deus muito mais que a inocência ou a pureza. Santo Ambrósio perguntou: Por que se diz que as crianças são aptas para o Reino dos céus? Talvez porque geralmente não têm malícia, não sabem enganar nem se atrevem a enganar-se; desconhecem a luxúria, não desejam as riquezas e ignoram a ambição”. Se hoje em dia as criança têm o espírito de ganância é porque estão sendo contaminadas por seus pais ou pelos adultos. Se assim for, é hora para reeducar as crianças na graça e na sabedoria como foi educado Jesus por Sua mãe Maria (cf. Lc 2,52)

        

Para sermos como crianças, é necessário que nos disponhamos a mudar profundamente (conversão), e que assimilemos o ensinamento divino. Para isso, temos de cultivar em primeiro lugar uma firme vontade de nos comportarmos como filhos e filhas de Deus, dóceis à vontade de Deus com humildade e simplicidade de espírito.

        

Na vida cristã, a maturidade se dá precisamente quando nos fazemos crianças diante de Deus, filhos pequenos que confiam e se abandonam nele como uma criança que se abandona nos braços de seu pai. Então encararemos os acontecimentos do mundo como são, no seu verdadeiro valor. Esta piedade filial fortalece a esperança e a certeza de chegar à meta, e nos dá paz e alegria nesta vida. Perante as dificuldades da vida, não nos sentiremos nunca sozinhos. Esta certeza será para nós como a água para o viajante no deserto. Sem ela, não poderíamos prosseguir a viagem.

 

O texto do evangelho de hoje convida cada um de nós a “vir a Jesus”, isto é a crer nele para que possamos possuir o Reino, entrar nele e recebê-lo como uma criança: com sua pequenez.

 

“Deixem que as crianças venham a mim” não é somente um convite a fazer-se como crianças e sim uma declaração e uma verdadeira promessa feita a todos os que são como as crianças que fazem parte do Reino de Deus.


        

Que tenhamos um coração de uma criança diante de Deus, nosso Pai: uma confiança total e sem limite. Somente a partir da própria debilidade assumida é que é possível reconhecer o senhorio de Deus sobre a história humana e sobre nossa vida. Os autossuficientes e aqueles que consideram que podem tudo estão impossibilitados de reconhecer a realidade da graça de Deus. A qualidade essencial que nas crianças se destaca é a humildade, a impotência diante da vida, a necessidade que tem de seus pais. Tudo isto deve ser também nossa atitude diante de Deus. Sejamos como crianças em espírito simples e humilde. É preciso crescer mantendo a humildade. Se você não crescer, ficará infantilizado, sem alcançar a beleza e a riqueza da fase adulta. Se crescer, voltará a ser como criança, recuperando a beleza e a riqueza da infância.... O segredo do crescimento de cada um está em seu interior, assim como o embrião de uma semente. Mesmo quando o seu corpo começar a declinar, seu espirito pode continuar crescendo e amadurecendo(René Juan Trossero, psicólogo argentino).



O Senhor Jesus nos reúne ao redor da Mesa eucarística como irmãos seus (cf. Mt 12,48-50) para que juntos celebremos o Banquete do Reino dos céus que se iniciou entre nós estando ainda nós neste mundo. Para Jesus, nosso Senhor, não há espaço nenhum para qualquer diferença social. Ele ama a todos igualmente e ninguém pode se sentir um discriminado, um excluído, um desprezado por causa de sua pobreza, de seu pecado, de sua etnia, de sua cultura ou de sua nação. O Senhor experimentou nossas dores e fez suas nossas feridas (cf. Mt 8,17). Ele recorreu o caminho de entrega no amor até as últimas consequências.


Se quisermos dar-lhe um novo rosto à humanidade devemos seguir seus passos, carregando nossa própria cruz de cada dia até sermos glorificados junto com Ele. Na Eucaristia somos permanentemente convidados a ser nossas as palavras de nova e eterna aliança: “Isto é meu Corpo que se entregue por vós; isto é meu Sangue que é derramado para o perdão dos pecados”. Em outras palavras, ser vida para os outros.

P.Vitus Gustama,svd





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