domingo, 16 de agosto de 2020

19/08/2020

JUSTIÇA DE DEUS DIANTE DA MINHA JUSTIÇA

Quarta-Feira da XX Semana Comum

                                                                                              Ultimi e primi. Il Signore è vicino a chi lo invoca - Il Corriere ...

Primeira Leitura: Ez 34,1-11

1 A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 2 “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel! Profetiza, dizendo-lhes: Assim fala o Senhor Deus aos pastores: Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos! Não são os pastores que devem apascentar as ovelhas? 3 Vós vos alimentais com o seu leite, vestis a sua lã e matais os animais gordos, mas não apascentais as ovelhas. 4 Não fortalecestes a ovelha fraca, não curastes a ovelha doente, nem enfaixastes a ovelha ferida. Não trouxestes de volta a ovelha extraviada, não procurastes a ovelha perdida; ao contrário, dominastes sobre elas com dureza e brutalidade. 5 As ovelhas dispersaram-se por falta de pastor, tornando-se presa de todos os animais selvagens. 6 Minhas ovelhas vaguearam sem rumo por todos os montes e colinas elevadas. Dispersaram-se minhas ovelhas por toda a extensão do país, e ninguém perguntou por elas, nem as procurou. 7 Por isso, ó pastores, escutai a palavra do Senhor: 8 Eu juro por minha vida – oráculo do Senhor Deus – já que minhas ovelhas foram entregues à pilhagem e se tornaram presa de todos os animais selvagens, por falta de pastor; e porque os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas, mas apascentaram-se a si mesmos e não as ovelhas, 9 por isso, ó pastores, escutai a palavra do Senhor! 10 Assim diz o Senhor Deus: Aqui estou para enfrentar os pastores e reclamar deles as minhas ovelhas. Vou tirar-lhes o ofício de pastor, e eles não mais poderão apascentar-se a si mesmos. Vou libertar da boca deles as minhas ovelhas, para não mais lhes servirem de alimento. 11 Assim diz o Senhor Deus: Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas.

Evangelho: Mt 20,1-16

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 1“O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. 3Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! E eu vos pagarei o que for justo’. 5E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa. 6Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados?’ 7Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. O patrão lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’. 8Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros!’ 9Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata. 10Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles recebeu uma moeda de prata. 11Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: 12‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro’. 13Então o patrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? 14Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. 15Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?’ 16aAssim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.

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Ser Pastor Do Rebanho a Exemplo Do Próprio Deus

Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel! Profetiza, dizendo-lhes: Assim fala o Senhor Deus aos pastores: Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos! Não são os pastores que devem apascentar as ovelhas? 3 Vós vos alimentais com o seu leite, vestis a sua lã e matais os animais gordos, mas não apascentais as ovelhas. Não fortalecestes a ovelha fraca, não curastes a ovelha doente, nem enfaixastes a ovelha ferida. Não trouxestes de volta a ovelha extraviada, não procurastes a ovelha perdida; ao contrário, dominastes sobre elas com dureza e brutalidade.....” (Ez 34,2-4).

Ez 34,1-34 de onde o texto da Primeira Leitura foi tirado é um dos grandes discursos em forma de crítica sobre a atuação pastoral dos dirigentes, tanto civis como religiosos. Este mesmo discurso pode se encontrar também em Jeremias 23,1-8. Mas o profeta Ezequiel desenvolve um pouco mais o discurso do profeta Jeremias. e este tipo de discurso, de algum modo, será modelo de discurso de Jesus em Jo 10 sobre o Bom Pastor.

No texto da Primeira Leitura de hoje, Ezequiel lança sua crítica dura contra os dirigentes tanto civis como religiosos que são pastores do povo. Ezequiel descreve com precisao o pecado dos dirigentes: “se apascentam a si mesmos”. Ezequiel aponta diretamente aos reis de Israel que exerceram o poder em proveito próprio no lugar de exercer o poder como um serviço para o bem comum. Em vez de cuidar das ovelhas, curando as ovehas feridas, fortalecendo as débeis, trazendo de volta as perdidas, defendendo-as contra as feras, o que fazem é descuidar delas e maltratá-las, e quando há perigo, eles as abandonam. Em outras palavras, eles são mercenários.

Mas o profeta Ezequiel nos mostra que a queixa de Deus contra os maus pastores (“Aqui estou para enfrentar os pastores e reclamar deles as minhas ovelhas”) se converte em promessa: “Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas”. O próprio Deus terá que remediar a situação.

O que Deus tinha prometido através do profeta Ezequiel se cumpriu em Jesus Cristo. Em Jesus vemos como Deus cumpre sua promessa de alimentar (“Eu sou o Pão da Vida”), de buscar e de defender suas ovelhas que é o povo de Israel e toda a humanidade. Deus enviou Jesus Cristo, seu próprio Filho (Cf. Jo 3,16) como Bom Pastor (Cf. Jo 10: Discurso sobre o Bom Pastor).

Por isso, o salmista se alegra, através do Salmo Responsorial (Sl 22/23): “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha e restaura as minhas forças”.

Quando Jesus, em Jo 10, ao descrever as qualidades do bom pastor, enumera precisamente as atitudes contrárias às que o profeta Ezequiel assinalou nos maus pastores de sua época, os que levaram o povo de Israel à ruina total. Jesus, o Bom Pastor, conhece suas ovelhas, vai adiante deles, as busca e reabilita, as defende, dá a vida por elas. Aqui Jesus é o modelo para todos nós que, de uma maneira ou outra, somos “pastores” ou “lideres” ou encarregados do bem dos demais: os bispos e os sacerdotes, os pais, os educadores, os catequistas, os responsáveis de uma pastoral, de um movimento, de um ministério e de qualquer grupo religioso e também as autoridades civis.

Muitas vezes criticamos, e às vezes com razão, os dirigentes ou governantes corruptos e os chefes oportunistas de seu cargo ou poder. Mas, temos que nos examinar a nós mesmos, porque pode ser que, em nosso nível, também tendamos a abusar de nossos cargos para a própria vantagem seja econômica, seja social.

Aqueles que são encarregados de alguma missão na Igreja devem velar por aqueles que são lhes confiados. Por isso, mais do que uma honra é uma grave responsabilidade de procurar o bem de todos os que são sob sua responsabilidade.

Portanto, vale a pena cada um se perguntar: Sou um servidor dos outros através do cargo que foi confiado a mim? Aproveito-me de forma egoísta, colocando meu interesse pessoal acima do bem comum e mesmo em detrimento do bem dos outros? De que maneira eu faço para exercer minhas responsabilidades? Quando se fala de um rebanho, a prioridade sempre está sempre em relação às ovelhas mais débeis, às feridas, às que sofrem. Como líder ou coordenador, tenho também este tipo de prioridade ou só penso na minha própria vantagem?

Bondade e Generosidade de Deus

 

O evangelho lido neste dia nos convida a colocarmo-nos diante da bondade e da generosidade sem fim de Deus para percebermos e reconhecermos melhor nossa mesquinhez que, muitas vezes, se expressa em forma de inveja, de ciúme, de ódio etc. Conhecer Deus ou estar na presença de Deus é uma necessidade vital, porque só através disto é que podemos compreender melhor nós mesmos, inclusive nossas misérias, ingratidões, invejas, etc. Diante da bondade e da generosidade sem limite de Deus deveríamos ficar envergonhados, porque muitas vezes, damos espaço, facilmente, à vanglória ou à vaidade por termos feito algo de bom pelos nossos semelhantes na comunidade. Estamos neste mundo com o objetivo único: fazer o bem em qualquer hora e para qualquer pessoa em necessidade.         

A parábola do Evangelho de hoje justamente apresenta um Deus que age de forma muito diferente, contrária a qualquer lógica dos homens e qualquer justiça dos homens. Em sua intenção original esta parábola é escrita para responder às críticas dos fariseus porque eles não aceitam que Jesus se misture com os pecadores, com os publicanos e marginalizados.

 

Mas sem perceber, ao marginalizar o outro eu me marginalizo, pois faço parte da própria humanidade. Ao marginalizar o outro, eu estou me agredindo na minha humanidade. Por isso, eu devo sentir a dor do outro e fazer algo para aliviá-la a partir das minhas condições. É mais fácil excluir e condenar o outro. Mas o difícil é encontrar alguma solução e fazer parte dessa solução. Jesus sempre se oferece como solução para qualquer problema da humanidade. E eu sou seguidor de Jesus e por isso, eu me chamo cristão (pessoa de Cristo). Que vantagem ou utilidade eu terei, se eu viver excluir e condenar o outro? Na condenação que eu lanço sobre alguém, na exclusão que eu faço sobre o outro, nos comentários maldosos que pronuncio sobre alguém, tudo isso vai edificar minha vida e vida do outro? Que utilidade tem nisso tudo? Quantos minutos e horas nós jogamos fora sem utilizá-los para o bem da humanidade! Não vivamos inutilmente nem morramos inutilmente! Estamos neste mundo para tirar para fora o bem que temos dentro de nós para partilhá-lo com os demais irmãos a fim de que todos vivam felizes.      

Através da parábola no evangelho de hoje Jesus quer nos mostrar que o Seu Deus é Aquele que dá espaço para todos em seu Reino. A igualdade se sublinha. E Deus não pode ser feliz, se o mais humilde dos homens não é feliz, pois todos são filhos e filhas de Deus, como nenhum pai neste mundo tem prazer de ver seu filho infeliz. Por isso, Deus nunca se cansa de sair ao encontro do homem para salvá-lo nem se cansa em perdoar os pecados dos homens que se arrependeram.

Por isso, o Deus de Jesus Cristo, o Deus de bondade e de generosidade, vive surpreendendo as pessoas. Os que querem apropriar-se da generosidade de Deus acabam perdendo tudo. Em nossa vida cristã somos convidados a deixar sempre lugar para a surpresa da generosidade de Deus, de nossa generosidade e a do semelhante nosso. Ser generoso é ser livre de si, de seu pequeno eu, de suas pequenas covardias, de suas pequenas posses. A generosidade nos eleva em direção aos outros e ao Deus da generosidade que criou tudo gratuitamente em função de felicidade neste mundo.


Minha Justiça e Justiça de Deus


Outro aspecto que a parábola quer destacar é a inveja dos homens, manifestados nos operários das primeiras horas. Eles argumentam contra o dono da vinha que suportaram o peso do trabalho durante o dia inteiro sob o calor do sol, por isso não julgavam justo serem igualados aos trabalhadores da última hora. Para eles o dono da vinha não é justo.

O justo, biblicamente, significa aquele que é fiel aos mandamentos de Deus; aquele que tem fé nos anúncios dos profetas e espera com paciência seu cumprimento, pois Deus é fiel às suas promessas. É justo o homem que olha para Deus e ordena a sua vida segundo os ditames da vontade divina. É justo o homem que cumpre a Lei divina de todo coração e com sincera alegria e leveza. O justo é o homem sábio e bondoso. O justo é, portanto, uma figura ideal do homem agradável a Deus e aos homens de boa vontade. Não podemos praticar a justiça apenas para que sejamos perfeitos, mas para que o nosso irmão, nosso próximo, não seja tratado injustamente. Para podermos praticar a caridade devemos, antes, praticar a justiça. Justiça é o reconhecimento do direito do outro; é dar aquilo que é do outro. Caridade é dar aquilo que é meu. Justiça e caridade devem andar juntas na vida de um cristão ou na vida de qualquer pessoa de boa vontade.

Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti.

Leiamos e releiamos esta afirmação do dono da vinha. Esta afirmação é a lição central da parábola. Se soubermos ler entre linhas, descobriremos aqui o retrato maravilhoso que Jesus nos traz do Pai do céu.

  • Ele é um Deus que ama aos homens prioritariamente, e os ama e quer introduzi-los em Sua própria felicidade.

  • Ele é um Deus que reparte seus benefícios a todos sem excluir ninguém e os chama sem parar para receber os benefícios.

  • Ele é um Deus cuja generosidade e bondade não estão limitadas por nossos méritos, mas que Ele dá com largueza ou generosidade sem calcular méritos.

  • Ele é um Deus que afasta qualquer que pretenda ter direitos e privilégios impedindo os outros de aproveitar-se. Esta parábola nos faz uma revelação absolutamente essencial: a salvação que Deus nos dá é totalmente gratuita e desproporcionada a nossos pobres méritos humanos, pois Deus é misericordioso.

     

O dono da vinha não se considera injusto, pois ele paga o salário combinado. A bondade do dono da vinha é ainda mais acentuada na pergunta final aos murmuradores: “...ou teu olho é mau porque eu sou bom?” (v.15b). A palavra “mau” (poneros, em grego) é termo mateano comum para a inveja provocada por coisas materiais. O vocábulo representa dinheiro e posição que atraem o olho da pessoa. O olho mau indica a falta de amor dos trabalhadores murmuradores da primeira hora que se deixavam levar pela inveja diante do bem que os seus companheiros experimentavam. Eles não souberam participar da alegria do bem experimentado.


Sabemos que o invejoso tem sempre os olhos fixos nos outros, sofrendo amargamente com a satisfação que neles têm, tendo sentimentos de aversão quando percebe que estão bem. Podemos dizer que a inveja é filha de uma soberba. O invejoso não tolera os sucessos dos outros, não admite que os outros possuam qualidades iguais ou superiores às suas. Ele sempre teme ser superado pelos outros. Ele sofre quando percebe que seu rival possui uma cota maior do que a sua.


Será difícil encontrar uma alma tão generosa que não sinta um pequeno mal-estar com a boa sorte alheia. Mas precisamos reconhecer que magnânimo não é o que jamais sente inveja, mas o que imediatamente a supera. A nossa maior satisfação não provém de sermos considerados mais ou melhores do que os outros, mas da consciência de termos realizado todo o bem que nos era ou é possível. Quem deseja só seu bem-estar pessoal é egoísta e as coisas não poderão ir bem com ele. 


Muitas vezes a infelicidade nos atinge porque vivemos comparando com os outros. Sempre estamos na tentação de compararmos Deus conosco, de medirmos sua soberana ação com os nossos méritos ou com as nossas condições desiguais. Antes de ser justo para com as “nossas obras”, Deus é essencialmente justo consigo mesmo. Certamente o amor de Deus é a causa do que eu sou, como o único neste mundo. Por isso, não me posso comparar com o outro, pois cada um é único. Devo, sim, comparar-me com a insondável e sublime vontade de Deus, de me fazer feliz, exatamente como Deus me quer amar e beatificar eternamente. Somente ao comparar-me com o amor de Deus, serei capaz de louvar a Deus que me faz coisas tão maravilhosas na minha vida e traduzir o louvor em amar e aceitar o outro como ele é.         


No Reino de Deus o importante é a misericórdia de Deus, pois, para Deus na há privilégios baseados no prestigio, na quantidade de trabalho ou em qualquer outra vantagem. Deus é quem nos chama gratuitamente e nossa resposta deve ser igualmente gratuita. O importante é que Deus nos chama e que podemos participar na obra de Deus de salvar todos. O evangelho lido e meditado neste dia é uma advertência para todos os cristãos. Os seguidores de Cristo não se podem fixar em direitos de propriedade no Reino de Deus. Os “últimos” podem tornar-se “primeiros” do mesmo modo que os “primeiros podem tornar-se “últimos”. Eles serão passados para trás, se não souberem reconhecer a bondade gratuita de Deus, se não souberem alegrar-se de todo o coração com o pequenino que Deus chama a seu Reino, se não souberem viver o amor em comunidade.


Pensamos que ao desempenhar um ministério ou serviço na comunidade somos proprietários dele. Às vezes, também, excluímos os outros porque consideramos que não estão preparados ou porque cremos que chegaram tarde à comunidade. O evangelho nos pede uma mudança de mentalidade. Todos têm direito a participar na obra do Reino. E este direito não nasce de nossa generosidade e sim é algo que o próprio Deus nos deu. Se Deus chamou muitos para Sua obra, não podemos ser pessoas que fecham a porta. Devemos reconhecer a ação do Espírito Santo e permitir que na comunidade todos participem por igual.

                                      P. Vitus Gustama,SVD

                                            



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