28/02/2019
SER
AUTÊNTICO CRISTÃO É SER CONVERTIDO PERMANENTEMENTE
Quinta-Feira
da VII Semana Comum
1 Não confies nas tuas riquezas e não digas: “Basta-me viver!” 2 Não
deixes que tua força te leve a seguir as paixões do coração. 3 Não digas:
“Quem terá poder sobre mim?” ou: “Quem me fará prestar contas das minhas
ações?”, pois o Senhor, com certeza, te castigará. 4 Não digas: “Pequei, e que
de mal me aconteceu?”, pois o Altíssimo é paciente. 5 Não percas o temor por
causa do perdão, cometendo pecado sobre pecado. 6 Não digas: “A misericórdia
do Senhor é grande, ele me perdoará a multidão dos meus pecados!”, 7 pois
dele procedem misericórdia e cólera, e sua ira se abate sobre os pecadores.
8 Não demores em voltar para o Senhor, e não adies de um dia para outro,
9 pois a sua cólera vem de repente e, no dia do castigo, serás aniquilado.
10 Não te apoies em riquezas injustas, pois elas de nada te valerão no dia
da desgraça.
Evangelho: Mc 9, 41-50
Naquele
tempo, 41 disse Jesus aos seus discípulos: “Quem vos der a beber um copo
de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42 E
se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem, melhor seria que fosse
jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43 Se tua mão
te leva a pecar, corta-a! 44 É melhor entrar na Vida sem uma das mãos,
do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45
Se teu pé te leva a pecar, corta-o! 46 É melhor entrar na Vida sem um
dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47 Se teu olho te
leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do
que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 ‘onde o verme deles não
morre, e o fogo não se apaga’. 49 Pois todos hão de ser salgados pelo
fogo. 50 Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe
restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com
os outros.
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Todos Somos Chamados à Conversão
Permanente e Diariamente
O sábio do Eclesiástico
dá a todos nos hoje, aos ricos e aos não ricos, aos pecadores endurecidos e aos
pecadores arrependidos, alguns avisos sérios que necessitamos levar a sério. Porque
uns se sentem demasiado seguros porque se confiam nas suas próprias riquezas
materiais. Outros se sentem “poderosos” porque se protegem falsamente na
bondade e na paciência de Deus. Deus tem muita paciência, mas Ele também é
justo.
Nós cristãos
podemos ter a tentação da excessiva confiança que nos leva à indolência. O fato
de estarmos na Igreja e de frequentarmos as celebrações litúrgicas, não nos
garantem que sejamos salvos, se tudo isso não é acompanhado pela conversão permanente.
Ninguém é convertido definitivamente. A conversão é um trabalho silencioso de
cada dia. A fé não aposenta ninguém. Confiados demasiadamente em Deus, podemos
deixar para amanhã nossa decisão firme de seguir seus caminhos, que talvez seja
tarde demais. “Não demores em voltar para
o Senhor, e não adies de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente e,
no dia do castigo, serás aniquilado”. Jamais podemos abusar da misericórdia
divina deixando sempre para mais tarde nossa conversão.
“Não confies nas tuas riquezas e não digas:
‘Basta-me viver!’ Não deixes que tua força te leve a seguir as paixões do
coração. Não digas: ‘Quem terá poder
sobre mim?’ ou: ‘Quem me fará prestar contas das minhas ações?’, pois o Senhor,
com certeza, te castigará”.
O sábio aqui
estigmatiza a arrogância e a autossuficiência do homem que, seguro de si, se
acredita invulnerável. A riqueza freqüentemente acentua essa pretensão. O
otimismo de Ben Sirac não o cega: ele sabe que o homem é frágil.
Tampouco Jesus
tardará em chamar de "tolo" ou “insensato” a esse homem que se
acreditava seguro, porque suas colheitas haviam sido excepcionais e ele estava
pensando em ampliar seus celeiros (cf. Lc 12,13-21).
“Não digas: ‘Pequei, e que de mal me aconteceu?’,
pois o Altíssimo é paciente”.
A pior arrogância é,
certamente, a arrogância do pecador desvergonhado que se endurece em sua ridícula
pretensão. Para o autor do Eclesiástico, se Deus não intervem constantemente
para castigar o pecado é porque Deus concede um prazo e espera pacientemente a
conversão do pecador. Seria perigoso interpretar esta demora como uma fraqueza
de Deus e aproveitar-se dessa discrição divina para pecar mais.
Por isso, o autor
acrescenta: “Não demores em voltar para o
Senhor, e não adies de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente e,
no dia do castigo, serás aniquilado”.
O fracasso faz
parte de toda vida humana. O pecado faz parte de vida humana. Mais condenável
do que o pecado é endurecer-se no pecado, recusar reconhecer o pecado e remitir
diariamente a confissão desse mal. Com feito, o presunçoso que não quer
reconhecer seu fracasso o transforma em mal definitivo, fazendo quase impossível
a conversão. Ao contrário, o pecador que reconhece sua pobreza e confessa sua
falta abre com isso a possibilidade de uma nova partida pelo caminho reto.
Em consequência disso,
o autor do livro disse: “Não digas: ‘A
misericórdia do Senhor é grande, ele me perdoará a multidão dos meus pecados!’”.
Porque no Senhor há misericórdia, mas também cólera. Para o autor, a compaixão e
a misericórdia de Deus são uma chamada à conversão. Da mesma forma, a justiça e
a condenação da parte do Senhor são uma chamada à conversão.
“Não demores em voltar para o Senhor, e não
adies de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente e, no dia
do castigo, serás aniquilado”.
Evidentemente, há
que contar aqui com o “antropomorfismo”, que presta a Deus sentimentos humanos,
como é o caso da “ira”. Sabemos que não dispomos de outra linguagem para
expressar a vontade e os sentimentos de Deus.
São Paulo também
fala da “ira” de Deus que “A ira de Deus
se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens,
que pela injustiça aprisionam a verdade” (Rm 1,18). E o próprio João
Batista utiliza essa linguagem cheia de veemência para despertar, no possível,
aos Saduceos e Fariseus de seu tempo: “Raça de víboras, quem vos ensinou a
fugir da ira que está para vir?” (Mt 3,7-10). Notemos de novo que essa ira
somente é dirigida ao endurecimento que abusa da paciência de da misericórdia de
Deus.
Dignidade de Ser Discípulo de Jesus
Em Mc 9,38-41 encontramos algumas sentenças
ligadas ao tema sobre “Em nome de Jesus” ou “por causa do nome de Jesus”. Este tema foi preparado já em Mc 9,37 quando
Jesus disse: “Quem acolher em meu nome uma
dessas crianças, é a mim que estará acolhendo”. Para Jesus se uma
criança é acolhida “em meu nome” ou se alguém cura “em meu nome” é porque “é
meu nome”. Se uma ação é feita “em meu nome” ou “por causa do meu nome”, então
não pode ser proibida. Ao contrário, ele recebe sua recompensa.
“Quem vos der a beber um copo de água,
porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. “Em meu
nome” (“porque sois de Cristo”), isto é, porque movidas pelo anúncio dos
discípulos as pessoas começam a amar Cristo e sentem simpatia por Ele e sentem
que nasce nelas a fé que lhes faz pressentirem a recompensa da salvação. “Em
meu nome” porque ao dar qualquer coisa, como um copo de água, aos discípulos,
querem agradar Cristo, identificando-os com Cristo. Ao realizar um gesto de
acolhimento/acolhida para os discípulos, as pessoas querem acolher o próprio
Cristo. “Porque sois de Cristo” expressa a convicção profunda dos primeiros
cristãos. Os primeiros cristãos sabiam que já não podiam viver para si mesmos
porque seu verdadeiro viver era Cristo (veja Fl 1,21: “Para mim o
viver é Cristo...”). Quantas vezes São Paulo recorda esta verdade: “Vós
sois de Cristo...” (1Cor 3,23; Rm 8,9; 2 Cor 10,7; etc.). No entanto, Jesus não
somente quer nos dizer que somos seus, mas também como devemos tratar os irmãos
na fé. Jesus Cristo não esquecerá nem sequer o menor gesto de caridade como dar
um copo de água. Mas “ser de Cristo” não significa necessariamente ser do grupo
que segue Cristo de perto, mas também significa estar em sintonia com Cristo na
prática de levar a Boa Nova aos demais homens, especialmente aos excluídos e
marginalizados.
“Um copo de água”. ... quase nada. É símbolo do menor serviço que
pode ser prestado para alguém: tão somente um copo de água em razão de
pertencer a Cristo. Jesus sublinha a dignidade extraordinária do “discípulo”: pertencer
a Cristo. O menor dos crentes, o mais humilde discípulo de Jesus representa
Jesus Cristo. Jesus se identifica com o menor dos cristãos na medida em que o
próprio cristão se identifica com Cristo.
“Não ficará sem receber a sua recompensa”,
promete Jesus. É uma verdade surpreendente que Jesus repetirá e desenvolverá ao
longo do discurso sobre o Juízo final (Mt 25,31-45). “Em verdade eu vos
declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. E todas as vezes que deixastes de
fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer” dirá
o Senhor nesse discurso (Mt 25,40.45). Jesus leva a sério até os pequenos
gestos que fazemos para o bem do outro. Nada é pequeno para Jesus. O menor
gesto de acolhida ou da caridade não ficará escondido aos olhos de Deus. “Não
ficará sem receber a sua recompensa”. “Recompensa” não é algo que
alcançamos por nossos próprios esforços, mas é sempre o dom de um Deus
generoso. Deus dá seu dom independentemente de nossos esforços. Deus está livre
diante dos esforços humanos. O que fazemos é o mínimo que podemos e devemos
fazer: “Somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc
17,10).
Ficamos pensando e perguntando: quantos
gestos pequenos do dia a dia que deixamos de fazer para os outros! Quantas
recompensas divinas que deixamos de receber por não termos prestado esses
pequenos gestos fraternos! Um copo da água fresca oferecida ao irmão sedento
não será esquecido por Deus.
Um Aviso Para Não Escandalizar
Depois do conselho positivo- “dar um copo de
água” – Jesus nos dá um conselho de forma negativa: “E se alguém
escandalizar um desses pequeninos que crêem, melhor seria que fosse jogado no
mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.
Na verdade é a mesma conduta: a atenção aos
demais. Descobrimos aqui um novo aspecto de Jesus: sua capacidade de veemência.
Ele usa palavras duríssimas para quem escandaliza os outros, isto é, aquele que
leva os outros a pecar: “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra
de moinho amarrada ao pescoço”.
“Se alguém escandalizar...”. Escandalizar
significa obstaculizar alguém na fé, impedir alguém de continuar a crer em
Jesus. Quem atua assim, faz-se dano imenso para si mesmo: “Melhor seria que
fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. Jesus
enfatiza, assim, sobre o grande dano para quem escandaliza os outros. Ao
escandalizar os outros, a pessoa se mata a si mesma no sentido de privar-se da
salvação.
Para Jesus pior que morrer é causar danos aos
pequeninos, aos que não têm ambição de honra, aos que adotam uma atitude de
serviço que é a condição para ser seguidor de Jesus Cristo (Mc 9,35). Aqui
Jesus considera como escândalo quem pretende ser maior, ou quem pretende se
colocar acima dos outros, que pretende ser servido em vez de servir.
Um Autêntico Cristão Evita O Mal E Saber
Podar o Desnecessário Para Ser Salvo
“Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É
melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o
inferno, para o fogo que nunca se apaga” (leia os vv. 43-47).
Há que fazer opções, por dolorosas que sejam,
pois são opções entre o êxito e o fracasso da existência: toda atividade
(simbolizada pela mão), toda conduta (simbolizada pelo pé) ou toda aspiração
(simbolizada pelo olho), que busca prestigio e superioridade, está viciada e
por isso, há que suprimi-la, pois põe em perigo a fidelidade à mensagem
salvadora de Cristo e bloqueia o desenvolvimento pessoal.
A palavra do Senhor nos exige para
renunciarmos radicalmente às insinuações do pecado e para cortarmos com
rapidez, mesmo que seja muito doloroso (cortar mão e pé, arrancar olho), tudo
que possa pôr em perigo a nossa salvação e a salvação dos demais (escândalo).
As imagens que Jesus usa são fortes: há que
arrancar ou extirpar tudo que num homem, especialmente num cristão que se
oponha à mensagem de Cristo e cause dano aos que querem ser fieis a Cristo.
Somente esse tipo de decisão é que leva à vida, a opção contrária, à morte. “A
vida” (Mc 9,43. 45) está em paralelo com “o Reino de Deus” (Mc 9,47). Por isso,
trata-se de assegurar a plenitude de vida tanto no mundo presente como no
futuro.
Portanto que saibamos levar em consideração
nossos pequenos gestos de cada dia prestados aos outros não somente por motivos
humanos e sim por ver no próximo o próprio Cristo. E que tenhamos sumo cuidado
em não escandalizar, ou seja, em levar alguém a pecar, principalmente levar os
inocentes e débeis a pecar, pois o próprio Cristo ficará também escandalizado.
Para nos manter como autênticos cristãos nós necessitamos renunciar ao próprio
egoísmo, à ambição de poder e à vontade desenfreada de domínio (superioridade).
É preciso que haja o esquecimento de si para poder repartir com os outros tudo
que temos e somos para que a fraternidade e a paz possam reinar a convivência.
E que saibamos romper com toda a ocasião de pecado.
P. Vitus Gustama,svd
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