segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

07/02/2019
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SOMOS MENSAGEIROS DO AMOR DE DEUS PARA A HUMANIDADE
Quinta-Feira da IV Semana Comum


Primeira Leitura: Hb 12,18-19.21-24
Irmãos, 18 vós não vos aproximastes de uma realidade palpável: “fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, 19 som da trombeta e voz poderosa”, que os ouvintes suplicaram não continuasse. 21 Eles ficaram tão espantados com esse espetáculo, que Moisés disse: “Estou apavorado e com medo”. 22 Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; 23 da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; 24 de Jesus, mediador da nova aliança, e da aspersão do sangue mais eloquente que o de Abel.


Evangelho: Mc 6,7-13
Naquele tempo, 7Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” 12Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.
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Nosso Deus É Um Pai Amoroso e Somos Acompanhados Pelos Anjos e Santos


Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; de Jesus, mediador da nova aliança, e da aspersão do sangue mais eloquente que o de Abel” (Hb 12,22-24).


A carta aos Hebreus continua a comparar as instituições do Antigo Testamento, que seus leitores parecem ansiar, com as do Novo Testamento, que em Cristo Jesus encontraram pleno sentido e superam em muito as instituições antigas e, portanto, deveriam estimular a uma fé mais firme e constante.


Aqui a comparação se refere ao evento da primeira Aliança, que foi espetacular, com fogo e trovoadas e trombetas no temido Monte Sinai, uma Aliança ditada pelo medo, pelo povo e até pelo próprio Moisés.


Ao Hebreus, tentados para voltar atrás, o autor da Carta lhes mostra a superioridade da nova Fé cristã. O Sinai era o próprio símbolo do terror sagrado: os fenômenos espantosos reforçaram uma certa ideia de Deus, que é a ideia da maioria das religiões naturais: um Deus terrível, um Deus que infunde medo.


Agora, a novo e definitivoa Aliança em Cristo Jesus é descrita com muito mais amável: o Monte Sião, mais perto, com anjos e uma multidão de fieis que já alcançaram a salvação e desfrutaram no céu; e Deus, justo Juiz, e Jesus como Mediador, que nos purificou com seu Sangue. Somos envolvidos em uma atmosfera de confiança, com a atitude dos filhos que se encontram em casa de seu Pai, acompanhados dos bem-aventurados, a Virgem Maria e os santos e anjos e o Mediador, Jesus Cristo, e diante de todos, Deus que é Juiz, mas também é Pai. Na oração penitencial, “o Confesso” invocamos certamente a Deus e à comunidade que nos rodeia (“vós, irmãos”) e também à Virgem Maria, aos anjos e santos para que intercedam por nós diante de Deus. Não estamos sós em nosso caminho de fé: também os irmãos da comunidade cristã e a Virgem Maria e os anjos e santos estão interessados em nossa conversão a Deus. É uma bela oração.


A nova e definitiva Aliança, em que vivemos, nos deveria encher de alegria por pertencer a uma comunidade que é congregada pelo Espirito de Deus em torno de Cristo. Agora o lugar da Aliança não é um monte e sim é a própria Pessoa do Senhor Ressuscitado, Jesus Cristo.


Tudo isso nos faz olharmos para a nova Aliança com confiança, não com medo. O Deus revelado por Jesus é Abbá, Paizinho (cf. Mt 6,9), o que sugere uma intimidade profunda dos filhos com Ele. Como Pai, o Deus de Jesus Cristo não nos causa o medo e sim a confiança e a entrega total na sua divina providência, pois Ele nos ama incondicionalmente (cf. Jo 3,16).


Mas o amor de Deus que se manifestou em Jesus Cristo e a Aliança que ele selou por todos nós não são, certamente, um convite para a superficialidade e para a negligência e sim nos comprometem radicalmente. Não há nada mais exigente do que o amor fraterno.


Todos Nós Cristãos Somos Missionários Do Amor De Deus


O evangelho nos fala do envio dos discípulos para a missão. Eles têm acompanhado Jesus durante um período relativamente longo. Eles têm escutado os ensinamentos de Jesus em parábolas e suas explicações complementares. Têm presenciado seus milagres. Agora eles devem empreender a segunda fase do programa, pregando a conversão e dando a conhecer a oferta divina de salvação.


 “Jesus chamou os doze e começou a enviá-los...”


Esta é a primeira vez que os Doze vão se encontrar sós, sem Jesus, longe dele. É o tempo da Igreja. É o tempo da prática.


Durante os cinco primeiros capítulos de seu relato, o evangelista Marcos nos apresentou Jesus com seus discípulos, com muita insistência, diante da multidão e dos adversários. No momento de sua vocação (Mc 3,13-14), o evangelista Marcos havia dito: “Jesus constituiu Doze para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar...”.  É igual ao movimento do coração: diástole, sístole... O sangue vem ao coração e do coração é enviado ao organismo. Dessa maneira é que o organismo pode se manter. É o mesmo movimento do apostolado: viver com Cristo, ir ao mundo para levar o Cristo; intimidade com Deus, presença no mundo com o espírito de Deus. Quem não vive, primeiro, com Cristo, não pode ser um bom missionário, não pode ser um cristão crível no mundo. Um cristão tem que animar tudo com espírito de Cristo.


O texto procura mostrar como deve agir o seguidor de Jesus e o que vai acontecer com ele se sair pelo mundo para pregar o Evangelho. Tudo isto se resume numa idéia: o seguidor deve agir como o Mestre Jesus agiu. O que aconteceu com o Mestre vai acontecer também com o discípulo, pois o discípulo não é maior do que o próprio Mestre (Mt 10,24).


No Evangelho de hoje Jesus anuncia alguns pontos fundamentais para o discípulo/seguidor realizar a missão:


Em primeiro lugar, o texto diz que Jesus envia os discípulos dois a dois. “Dois a dois” indica que a missão é um serviço comunitário e os cristãos devem ajudar-se mutuamente em suas atividades; não é um trabalho de promoção pessoal; é um trabalho de conjunto ou coletivo. “Ir dois a dois” implica também a afirmação da igualdade e exclui a subordinação de um ao outro (cf. Dt 19,15). Quem vive o Evangelho do Senhor deve estar em sintonia com os irmãos da sua comunidade.


Jesus começou a enviá-los dois a dois...” Independentemente das razoes bíblicas esta expressão é muito moderna e avançada. Na Igreja de Jesus não se trabalha e sim em equipe. É a vontade explicita de Cristo. A atitude de quem trabalha na Igreja, na comunidade eclesial deve ser interrogada a partir daqui. O individualismo tem formas muito sutis: não gostamos que os nossos irmãos controlem nossos próprios comportamentos apostólicos e outros comportamentos; cada um quer ser uma estrela solitária a ponto de apagar o brilho do outro; nada se discuta, cada um vai fazer as coisas do jeito que quer. O pior é que o Cristo fica de lado ou de costas para a pessoa em questão estar em destaque.


Em segundo lugar, Jesus deu aos doze o poder messiânico de Cristo contra as forças do mal, ou seja, a autoridade para libertar as pessoas de tudo aquilo que aliena, oprime e despersonaliza as pessoas. O evangelista Marcos resume o poder dos enviados em três palavras: o carisma da “palavraque proclama a necessidade de mudança de vida; o carisma de expulsar demônios, isto é, o poder contra o mal; e o carisma de “curar os enfermos”, isto é, melhorar a vida humana na sua qualidade.


Eles são enviados com autoridade sobre os espíritos imundos, para dominá-los e não para dominar os outros irmãos.  O cristão tem o poder de tirar esse mal, pois o Senhor Jesus lho deu. A primeira tarefa de cada cristão consiste em tirar o mal que está no meio das comunidades, no meio da própria família, de dentro do próprio coração. Quem é livre pode libertar os outros. O enviado de Jesus, cada cristão deve instaurar um mundo mais justo e fraterno; deve melhorar a vida humana.


Em terceiro lugar, Jesus exige dos doze um modo de vida baseada num desprendimento absoluto dos bens materiais (vv.8-9). Jesus pede que os discípulos vivam um estilo de austeridade e a pobreza evangélica de modo que não se ponham ênfase nos meios humanos: econômicos ou técnicos e sim na força de Deus que ele lhes transmite. Deus não se serve de anjos nem de revelações diretas. É a Igreja, ou seja, os cristãos que continuam e visibilizam a obra salvadora de Cristo e o modo de vida do cristão deve ser reflexo do de Cristo. A linguagem que o mundo de hoje facilmente entende: austeridade e o desinteresse na hora de fazer o bem: o cristão deve fazer o bem pelo bem e não por algum interesse por trás. É claro que necessitamos os meios que fazem parte da evangelização, porém jamais podemos nos deixar de nos apoiar na graça de Deus e na nossa sem buscar seguranças e prestígios humanos.


Trata-se de uma pobreza voluntária, porque somente assim eles poderiam ser considerados como fidedignos. Jesus enfatiza mais o ser dos discípulos do que o seu ter. Jesus não despreza os bens deste mundo, não apresenta a miséria como um ideal de vida, mas alerta para o perigo de nos deixarmos condicionar pela posse de bens materiais. A porta da morte é tão estreita que somente passa aquilo que é a bagagem de amor na condivisão dos bens materiais com os irmãos e irmãs que não têm nada para sua vida.


O desapego a tudo não implica somente a renúncia a uma carga pesada de bens materiais, mas também o abandono de preconceitos, de tradições, de idéias retrógradas, às quais muitas vezes estamos amarrados de uma forma emocional e irracional. Referimo-nos ao pesado ônus representado por certos usos, por certos costumes, por certas tradições religiosas embutidas em determinado ambiente histórico e cultural, que muitos, confundem ou equiparam com os valores do Evangelho. Não podemos acumularbastões”, “dinheiro”, “sandálias” e “túnicas”.


Em quarto lugar, Jesus envia os doze para pregar a mudança de vida (conversão) para si e para os outros (v.12). Para Jesus, a conversão é condição sine qua non para construir uma sociedade nova ou Reino de Deus (Mc 1,15). A conversão sempre envolve movimento de uma dimensão para outra. E isso envolve a pessoa toda, não apenas seu senso moral, sua capacidade intelectual ou sua vida espiritual. Corpo, mente e alma juntos são afetados pelo ato da conversão, e as conseqüências são sentidas em todos os aspectos da vida da pessoa, inclusive nos campos social e político.


Em quinto lugar, a outra instrução de Jesus prevê uma atitude de bom senso e formação de comunidade: “Quando vocês entrarem numa casa, fiquem até partirem” (v.10).


É interessante observar que não se fala para os discípulos irem às sinagogas, instituição judaica, o que seria contrario à finalidade do envio. Menciona-se somente “o lugar” e “a casa/ famíliaque podem encontra-se em qualquer país. Hão de aceitar a hospitalidade que a eles é oferecida, sem mudar de casa, para não desprezar a boa vontade do povo nem afrontar a hospitalidade oferecida. Os discípulos devem aceitar o que a eles são oferecidos sem mostrar reações ao uso do lugar.


Quando vocês entrarem numa casa, fiquem até partirem” (v.10). Isto não indica a plena estabilidade para os discípulos, mas um local onde, com a sua partida, a comunidade possa continuar a se reunir e dar prosseguimento à Boa Nova do reino. Os cristãos devem ensinar os outros a assumirem o compromisso, a andarem com as próprias pernas.


Para os Doze, o novo Israel, esta instrução implica uma mudança radical de mentalidade: entrar em casa de pagãos, desprezados pelos judeus, e depender deles para a sobrevivência. Jesus pretende que os discípulos esqueçam sua identidade judaica para colocar-se no plano da humanidade. É preciso viver a humanidade para se tornar humano para os outros.


À luz do Evangelho de hoje procuremos nos perguntar: será que somos meros espectadores e admiradores de Jesus ou somos seus seguidores? O que pode estar tornando menos convidativo e pouco crível a nossa mensagem? Qual é o testemunho que devemos dar para que os outros acreditem na nossa mensagem? É impossível ser um verdadeiro cristão sem estar com Cristo antes.
P. Vitus Gustama,svd

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