01/03/2019
MATRIMÔNIO
NA SUA BELEZA E PROFUNDIDADE
Sexta-Feira
da VII Semana Comum
5 Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos;
uma língua afável multiplica as saudações. 6 Sejam numerosos os que te
saúdam, mas teus conselheiros, um entre mil. 7 Se queres adquirir um amigo,
adquire-o na provação; e não te apresses em confiar nele. 8 Porque há amigo
de ocasião, que não persevera no dia da aflição. 9 Há amigo que passa
para a inimizade, e que revela as desavenças para te envergonhar. 10 Há amigo
que é companheiro de mesa e que não persevera no dia da necessidade. 11 Quando
fores bem-sucedido, ele será como teu igual e, sem cerimônia, dará ordens a
teus criados. 12 Mas, se fores humilhado, ele estará contra ti e se esconderá
da tua presença. 13 Afasta-te dos teus inimigos e toma cuidado com os amigos.
14 Um amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um
tesouro. 15 Ao amigo fiel não há nada que se compare, é um bem
inestimável. 16 Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o
Senhor vão encontrá-lo. 17 Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade:
como ele é, tal será o seu amigo.
Evangelho: Mc 10,1-12
Naquele
tempo, 1 Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do Jordão.
As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as
ensinava. 2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à
prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3
Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4 Os fariseus responderam:
“Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5
Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos
escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus
os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e
os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9
Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os
discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus
respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá
adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido
e casar com outro, cometerá adultério”.
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Ser
Amigo É Ser Pessoa Virtuosa
“Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os
inimigos; uma língua afável multiplica as saudações”.
Ben Sirac trata com predileção do tema da
amizade. Sem dúvida, sua cultura e riqueza ajudaram Bem Sirac a conhecer muitos
amigos, sejam amigos interesseiros (colegas), sejam amigos fieis (verdadeiros
amigos). O anseio por amizade atravessa toda a história da humanidade.
Hoje na Primeira Leitura lemos um pequeno
tratado sobre a amizade: como se conseguem amigos, quem é o verdadeiro amigo,
como devemos tratar nossos amigos.
Ben Sirac sabe pela experiência (a experiência é a mãe da ciência, diz o
ditado. A experiência é a mãe da sabedoria, diz o Eclesiastico) que a
riqueza atrai os “amigos”. Por isso, ele aprendeu a selecioná-los e afastar os
interesseiros (Eclo 6,5-13; 8,18-19; 37,1-5). Para ele há dois critérios da
verdadeira amizade: o primeiro critério
é a fidelidade na prova: “Se queres adquirir um amigo, adquire-o na
provação; e não te apresses em confiar nele” (Eclo 6,7; cf. 9,10;
22,23-26). Por isso é que Cícero produziu a seguinte frase célebre: “Amicus
certus in re incerta cernitur”, “Conhece-se o verdadeiro amigo na adversidade”.
O amigo é o melhor terapeuta nas experiências de abandono e humilhação. Nossa fraquezas
que expomos a nossos amigos não debilitam nossa vida, mas nos tornam mais vivos
e animados para seguir adiante. Onde há amigos, sentimos em casa.
O segundo critério da verdadeira amizade é,
sobretudo, o amor comum a Deus:
“Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os
que temem o Senhor vão encontrá-lo. Quem teme o Senhor, conduz bem a sua
amizade: como ele é, tal será o seu amigo” (Eclo 6,16-17). Santo Agostinho
dizia: “No céu nosso coração não estará apenas com Deus, mas na comunidade de
todos aqueles que, como nós, procuraram a Deus”. Para Santo Agostinho, a
amizade entre as pessoas se aprofunda quando elas ultrapassam a si mesmas e
aspiram a Deus como verdadeiro objetivo de suas vidas: “Ama verdadeiramente seu
amigo aquele que ama a Deus no amigo, seja porque ele está nele, seja para que
ele esteja nele”.
O próprio Jesus nos revela que não existe
amizade, quando não é capaz de morrer para si mesmo e para a vida em benefício
dos amigos: “Ninguém tem maior amor do
que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o
que vos mando”, disse Jesus a seus discípulos (Jo 15,13-14).
Para os filósofos gregos a amizade era sempre
expressão da virtude. A virtude (disposição para o bem) é a base da amizade. Dois
amigos, por exemplo, são duas pessoas virtuosas. Por isso, o Platão diz que
somente pode ser amigo do outro quem é amigo de si mesmo, isto é, ser pessoa
virtuosa consigo mesma. Um amigo é uma pessoa que me ajuda a viver para o bem. Não
posso ter amigo se eu mesmo não sou virtuoso comigo mesmo. Pessoas más não podem realmente se tornar
amigas de outras pessoas. A amizade pressupõe a existência da bondade na
pessoa. A
verdadeira amizade sempre oferece segurança e por ser companheiro (aquele que
partilha o pão), o medo fica afastado.
Por isso, os psicólogos afirmam que pessoas
sem amigos sofrem muito mais de fatalidade e crise do que as que têm amigos. Não
é por acaso que santo Agostinho dizia: “Sine
amico nihil amicum”, “Sem amigo nada
é amigável”.
Matrimônio
Que Deus Quer
“Desde o começo da
criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua
mãe e os dois serão uma só carne. Assim,
já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não
separe!”
O texto do evangelho deste dia nos apresenta
a discussão sobre o matrimônio entre Jesus e os fariseus. O foco da discussão é
o divórcio. A doutrina do evangelista Marcos é bem clara: o casamento não é
somente um contrato entre o homem (marido) e a mulher (esposa), mas ele engaja
a vontade de Deus. A vontade dos esposos (em contrair o matrimônio) não é
suficiente para explicar o casamento e sua unidade, mas a vontade de Deus é
parte integrante: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher.
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne.
Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem
não separe!”. Consequentemente, o
divorcio não é apenas uma injustiça em relação ao cônjuge humano abandonado,
mas também uma injustiça em relação ao próprio Deus que quer sempre a comunhão.
“É permitido ao homem divorciar-se de sua
mulher?”.
É a pergunta de alguns fariseus a Jesus com o intuito de apanhá-lo. Jesus seria
acusado de traidor às exigências da Lei, se respondesse “não”, e poderia estar
em contradição com sua pregação e com suas obras de caridade caso respondesse
“sim”. O resultado seria o mesmo: desacreditar Jesus.
Jesus percebeu a maldade dos fariseus, mas
não reagiu de maneira violenta. Jesus não discutiu. Ao contrário, Jesus se
argumentou ao retroceder até as origens: “Foi por causa da dureza do vosso
coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da
criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua
mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”
“Foi por causa da dureza do vosso coração
que Moisés vos escreveu este mandamento”. Como conseqüência de um coração
duro e insensível é a desobediência contínua às diretivas divinas. Um coração
duro e insensível provoca a desordem nas relações humanas.
“O que Deus uniu, o homem não separe!”.
Ater-se somente à lei e às regras é esquecer o impulso da vida. Jesus quer que
o ser humano se aproxime da ambição de Deus: o amor é mais exigente do que
qualquer lei.
“Desde o começo da criação, Deus os fez homem
e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só
carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne”. Para conhecer a
grande intuição de Deus é preciso retroceder aos começos, às origens, ao
princípio, quando, por ternura, Deus tirou da terra o homem e a mulher e soprou
neles Seu hálito para que eles correspondessem ao Seu amor. Para Deus, amar foi
em primeiro lugar falar nossa linguagem. Para Deus amar é manter a única
palavra que nós podemos entender. Todos entendem a linguagem de amor. Amor é a
única palavra que Deus quer manter para o homem e a mulher e quer, ao mesmo
tempo, que o homem e a mulher permaneçam no amor. Quando há amor, tudo tem
jeito. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de
nossa vida é voltar a descobrir que necessitamos falar a linguagem do Outro: de
Deus. E a linguagem que Deus usa é amor.
Para Deus amar também significa fazer-se
vulnerável. Ele não permaneceu no céu de Sua indiferença. Deus “se fez carne e
habitou entre nós” (Jo 1,14). Regressar às nossas origens para voltar a
descobrirmos a regra ou o princípio de nossa vida é fazer-nos vulneráveis. Quem
ama, aceita desejar, esperar, pedir e sofrer.
Para Deus, amar foi também crer e esperar.
Deus nos deixou livres e não se arrependeu pela liberdade que nos foi dada.
Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida
é voltar a aprendermos a viver na esperança. O amor é fecundo, suscita e
ressuscita, perdoa e reconcilia. O amor espera com o outro na esperança, pois
Deus nos espera no amor e por amor.
“Não separe o homem o que Deus uniu”,
diz Jesus. Romper um vínculo selado por Deus é ir contra Deus. Deus chama à
comunhão. Toda ruptura de comunhão significa estar contra o Deus-Comunhão. Os
discípulos, os cristãos devem buscar sempre uma vida que reflete esta comunhão
com Cristo e com o Pai, e por este mistério de comunhão é inconcebível falar de
desunião, de divórcios, de divisão entre os cristãos. Todos os cristãos devem
ser testemunhas de comunhão e não de ruptura.
O matrimônio é sacramento por ser imagem mais
perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um
homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom,
participação e amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro
lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas
formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus (cf. 1Jo
4,19). Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a
sua imagem.
As pessoas se casam para formar uma família
onde cada membro é preparado para entrar na sociedade maior. A família é o
ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo
outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra
na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos
não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A
linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se
aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida.
Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida senão
através da família. No inicio da vida cada um recebe da família, a vida e as
verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente.
Que em cada Eucaristia ou em cada celebração
litúrgica seja fortalecido o amor dos casais presentes, o amor que eles
consagraram um para o outro no dia de seu casamento. O casamento indissolúvel é
um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer:
Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16).
P. Vitus Gustama,svd
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