segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

20/02/2019
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A FÉ NOS ABRE OS OLHOS PARA AS MARAVILHAS DE DEUS E A ESPERANÇA NO FUTURO
Quarta-Feira Da VI Semana Comum


Primeira Leitura: Gn 8,6-13.20-22
6 Passados quarenta dias, Noé abriu a janela, que tinha feito na arca, e soltou um corvo, 7 que ficou revoando, até que secassem as águas sobre a terra. 8 Soltou, também, uma pomba para ver se as águas tinham baixado sobre a face da terra. 9 Mas a pomba, não achando onde pousar, voltou para junto dele na arca; porque as águas ainda cobriam a superfície de toda a terra. Noé estendeu a mão para fora, apanhou a pomba e recolheu-a na arca. 10 Esperou, então, mais sete dias e soltou de novo a pomba. 11 Pela tardinha, ela voltou, e eis que trazia no bico um ramo de oliveira com as folhas verdes. Assim, Noé compreendeu que as águas tinham cessado de cobrir a terra. 12 Esperou ainda sete dias, e soltou a pomba, que não voltou mais. 13 Foi no ano seiscentos e um da vida de Noé, no primeiro dia do primeiro mês, que as águas se retiraram da terra. Noé abriu o teto da arca, olhou e viu que toda a superfície da terra estava seca. 20 Então Noé construiu um altar ao Senhor e, tomando animais e aves de todas as espécies puras, ofereceu holocaustos sobre o altar. 21 O Senhor aspirou o agradável odor e disse consigo mesmo: “Nunca mais tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, pois as inclinações do seu coração são más desde a juventude. Não tornarei, também, a ferir todos os seres vivos, como fiz. 22 Enquanto a terra durar, plantio e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite, jamais hão de acabar”.


Evangelho: Mc 8,22-26
Naquele tempo, 22Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele.23Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele, e perguntou: “Estás vendo alguma coisa?” 24O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo os homens. Eles parecem árvores que andam”. 25Então Jesus voltou a pôr as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. 26Jesus mandou o homem ir para casa, e lhe disse: “Não entres no povoado!”
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A narração bíblica do dilúvio, que lemos na Primeira Leitura e no relato do dia anterior, é composta pela justaposição de duas tradições diferentes: um relato de origem Yahvista (Javista) do século VIII a.C: de cores vivas, realista até antropomorfismo (= representação de Deus com traços humanos) e cioso de colocar dentro da arca todos os animais puros e impuros. Outro relato é da tradição Sacerdotal do século VI a.C onde intervém o tema da Aliança, o dos animais aos pares e diferentes minúcias cronológicas.


O dilúvio bíblico, sejam quais forem suas origens e amplidão, é fruto de um Deus único, decidindo livremente a questão do castigo dos culpados e da salvação dos justos.


 Por outro lado, enquanto viver na terra, o homem é responsável pelo mundo e não pode admitir que conceito algum venha exclui-lo desta responsabilidade. Dentro deste contexto, o cristão não é responsável somente por si, mas pela humanidade inteira, desde que Jesus assumiu esta responsabilidade na entrega total de sua vida a todos os homens. Jesus é o Salvador da humanidade e não apenas de um grupo específico. Se Cristo amou o mundo (a humanidade) e o reconciliou com Deus, o cristão não pode mais distinguir um princípio cristão de um princípio mundano, sendo o primeiro destinado à felicidade e o segundo à maldição.


Cada Um De Nós Tem Uma Missão De Salvar Os Outros


É digno de notar, em primeiro lugar, no relato do dilúvio o que o indivíduo é capaz de fazer. O individuo eleito por Deus e chamado por seu nomem. O individuo responde à Palavra de Deus e segue seu mandato. Neste individuo, nele e sobre ele, se congrega todo o mundo slvo, se geram os homens e sua vida. Sobrevive ao juízo de Deus e supera a catástrofe. A arca esconde a bênção de Deus e garante a sobrevivência da humanidade. Este indivíduo é Noé.

Por Noé, são salvos seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos. Também são salvos os animais, os puros e impuros, um par de cada espécie. O indivíduo tem uma função salvadora e santificadora para toda a comunidade.


Noé se converte em uma brilhante imagem que consola porque reflete a amabilidade de Deus; a disposição de Deus a conservar o gênero humano e a prosseguir a história universal.


A aparência de Deus como juiz não eclipsou a de salvador e fonte de vida, revelada em primeiro lugar. E Noé é agora o sinal de esperança de que a vida continua e ganha força renovada.


Noé Representa Uma Nova Humanidade


A Arca foi instrumento da salvação de Noé e de sua família. Estes poucos foram o “resto” salvo da catástrofe e com os quais Deus volta a começar a história de suas maravilhas.


A humanidade que sai da Arca é uma humanidade nova. A salvação realizada equivale a uma nova criação, a uma ressurreição. A vida começa de novo. Para os salvos tudo é novo, como recém estreado, como recém saído da mão de Deus. Tudo volta a ser bom. A Arca se converteu no paraíso onde reina a paz, a harmonia, a amizade com Deus.


Os Santos Padres da Igreja viraram na Arca a imagem da Igreja, a Arca é tipo da Igreja, comunidade dos fieis e povo santo de Deus, imagem daquela família que confia em Deus uno e único e lhe segue incondicionalmente. Os primeiros cristãos expressaram tudo isso maravilhosamente nas pinturas das catacumbas.


O Batismo nos torna novas criaturas. Como novo criaturas devemos viver como tal. Desse dilúvio batismal ressurge o homem novo, a nova criatura. A água se converteu em instrumento de castigo para o pecado, destruindo-o, mas foi instrumento de salvação para o homem em virtude dos méritos deste Jesus, o Salvador da humanidade. Jesus Cristo passou por um dilúvio de sangue pelo qual Deus O exaltou e o fez Senhor e Salvador. Com Ele e por Ele fazemos parte de uma aliança- aliança nova e eterna- da qual a aliança com Noé não era mais que uma figura e uma antecipação.


A Humanidade Tem Futuro


O livro de Gênesis nos conta sobretudo o sacrifício de ação de graças que a família de Noé oferece sobre um altar e a promessa de Deus, cheio de compreensão para a debilidade do homem: “Nunca mais tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, pois as inclinações do seu coração são más desde a juventude”.


A Arca de Noé também é um símbolo da misericórdia de Deus, que em justiça condena o pecado e purifica a humanidade, mas sempre aparece disposto a começar de novo, dando confiança a suas criaturas. Como diz o Salmo Responsorial (Sl 115): “É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus santos, seus amigos”: intenta sempre que os homens se convertam e vivam.


A humanidade tem futuro. Também agora, apesar de algumas vezes nos parece que faria falta um novo dilúvio para purificar o mundo de tanta corrupção, injustiça, impunidade e maldade. Mas em Jesus Cristo, muito mais plenamente que em Noé, se reconciliou a humanidade com Deus de uma vez por todas e na Arca da Igreja todos deveriam encontrar um espaço de salvação e de esperança.


Temos que aprender do otimismo de Deus. Para Deus é mais importante salvar do que castigar. Quando castiga, é como medicina e pedagogia para a conversão. Deveríamos saber dar uma e outra vez uma margem de confiança aos demais, a esta humanidade na qual vivemos, a esta Igreja concreta que podemos não gostar por tantos escândalos, a nossa família e comunidade, a cada um dos que vivem conosco, e a nós mesmos.


Depois do pecado de Adão e Eva, Deus promete a salvação. Depois do assassinato de Abel, Deus dá outro filho a Eva e deixa a porta aberta à esperança. Depois do dilúvio, Deus sela um pacto de benção para os homens. Deus continua crendo no homem, em mim, em você, em nós. Por que, então, negamos uma margem de confiança para nossos irmãos?


A Fé Nos Faz Enxergarmos Deus e o Próximo, Como Nosso Irmão


O texto do evangelho de hoje pode ser chamado de “o evangelho interior”, pois o relato pretende mostrar a progressão da fé, a progressão do descobrimento da pessoa de Jesus.


O texto nos relatou que “Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele” (Mc 8,23). Estes gestos de Jesus são os mesmos gestos que, no tempo de São Pedro se faziam sobre os catecúmenos, para conduzi-los da incredulidade à iluminação da fé. Teologicamente há que relacionar este milagre com a cura do “surdo-mudo” (Mc 7,31-37), que se encontra depois da primeira multiplicação dos pães (Mc 6,30-44) e a cura deste cego depois da segunda multiplicação (Mc 8,1-9).


“Jesus cuspiu nos olhos do cego” e este ficou curado da cegueira. A saliva indica que algo da vida de Jesus, de seu alento vital entra no cego. E “Pôs as mãos sobre o cego”. O gesto das mãos indica a bênção do céu desce sobre o cego.


Este processo nos recorda também o itinerário sacramental: com o contato, a imposição de mãos e a unção, Cristo nos quer comunicar sua salvação por meio de sua Igreja. A pedagogia dos gestos simbólicos, unida à palavra iluminadora é a própria dos sacramentos cristãos em sua comunicação da vida divina.


O que nos chama a atenção é que quando Jesus perguntou ao cego se estava vendo algo? E o cego respondeu que não estava vendo bem (ver as pessoas como se fossem árvore). Vem a pergunta para nossa cabeça: por acaso Jesus não foi capaz de fazer milagre?


A cura do cego, gradualmente, é colocada aqui de propósito num contexto em que se fala também da cegueira dos fariseus e dos discípulos. Por isso, trata-se de uma indicação simbólica.


A cura do cego acontece gradativamente. Primeiro o cego vê os outros como se fossem árvores (ele troca gente por árvores) e depois quando recebe o outro toque de Jesus, ele começa enxergar perfeitamente. Marcos, através deste detalhe, vê a lentidão do caminhar dos discípulos para chegar à fé profunda e para chegar à compreensão plena da mensagem de Jesus. Trata-se de uma cegueira espiritual capaz de não entender as palavras de Jesus ou capaz de deturpá-las. Faltava para os discípulos uma visão perfeita sobre quem era Jesus. Para eles Jesus era um messias rei cheio de poder e de glória (cf. Mc 10,35-45). Os discípulos são os que necessitam ser tocados nos olhos por Jesus, porque têm olhos, mas não veem (Mc 8,18). Jesus os toca, isto é, levar gradualmente, pouco a pouco, ao conhecimento profundo de Seu mistério.


A fé é um dom de Deus, mas a fé é também um caminho, um itinerário. Ela, às vezes ou muitas vezes, se encontra entre luzes e sombras, entre a claridade e a escuridão, tem seus avanços como seus recuos; às vezes ela nos dá coragem e em outras vezes, ela nos causa medo. O dom da fé requer nossa colaboração permanentemente, pois a fé não é um tesouro adquirido de uma vez só.


Por causa de nossa debilidade também nós avançamos lentamente para a fé no poder da Palavra de Deus. Muitas vezes ficamos meio cegos por algum tempo. Mas por nos esforçamos no nosso seguimento acabaremos compreendendo o significado da Palavra de Deus e enxergaremos melhor sobre o sentido da vida e de seus acontecimentos. É preciso que nos mantenhamos no caminho do progresso da fé em Jesus, o progresso do descobrimento da pessoa de Jesus diariamente. Somente convivendo com uma pessoa diariamente é que acabaremos conhecendo melhor quem é ela.


Além disso, freqüentemente nos encontramos muito cegos espiritualmente que nos incapacita a vermos o essencial para nossa vida. A falta de uma visão clara do essencial faz com que tenhamos uma visão deturpada de tudo na nossa vida. O contato permanente com Jesus devolve nossa capacidade de percebermos e de vermos com clareza para cada coisa no seu devido lugar. É um grande dom manter o olhar limpo para o bem, para encontrarmos Deus no meio de nossas ocupações de cada dia, para vermos os homens como filhos de Deus, para penetrarmos no que verdadeiramente vale a pena para a edificação do homem, para vermos a beleza de Deus no universo. É preciso termos um olhar limpo para que o coração possa amar e mantê-lo jovem.


Não tenhamos que perder a paciência nem com nós mesmos nem com aqueles que queremos ajudar em seu caminho de fé. Não podemos exigir resultados imediatos. Cristo teve paciência com todos os discípulos e com as demais pessoas. Para um cego ele impôs as mãos duas vezes até que ele começou a enxergar completamente. Deve ficar claro para nossa vida comunitária que Jesus se chega passo a passo fora dos cálculos humanos. As intervenções de Deus são também pedagógicas e pacientes com uma sabedoria que nós não conhecemos e por isso, nem sempre compreendemos. Quando tivermos um pouco de amor no coração, a paciência vai nos ajudar a ter mais forças para superar tudo.


“Tu vês algo?”. É a pergunta de Jesus ao cego. Esta mesma pergunta é dirigida a cada um de nós. Será que podemos responder que estamos vendo bem? Jesus nos pergunta se nós vemos com os olhos da fé, isto é, se em tudo que fazemos/fizermos tem por trás a mão de Deus? O que é que vemos em um ser humano? Que conceito temos sobre um ser humano? Vemos um ser humano como um objeto (árvore) ou como um irmão, pois ele é o filho de Deus? Um verdadeiro conceito sobre um ser humano muda nosso modo de tratar as pessoas. Mas sem a ajuda de Deus, sem o contato permanente com Deus não conseguiremos ver a beleza do dom da vida, das pessoas, do universo. Por falta dessa visão clara tropeçaremos permanentemente nesta vida.
 
P. Vitus Gustama,svd

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