sábado, 23 de fevereiro de 2019

26/02/2019

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COM DEUS, ATRÁS DAS PROVAÇÕES E CRUZ, HÁ VITÓRIA E RESSURREIÇÃO
Terça-Feira da VII Semana Comum


 
Primeira Leitura: Eclo 2,1-13
1 Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação. 2 Mantém o teu coração firme e sê constante, inclina teu ouvido e acolhe as palavras de inteligência, e não te assustes no momento da contrariedade. 3Suporta as demoras de Deus, agarra-te a ele e não o deixes, para que sejas sábio em teus caminhos. 4 Tudo o que te acontecer, aceita-o, e sê constante na dor; e nas contrariedades de tua pobre condição, sê paciente. 5 Pois é no fogo que o ouro e a prata são provados e, no cadinho da humilhação, os homens agradáveis a Deus. 6 Crê em Deus, e ele cuidará de ti; endireita os teus caminhos e espera nele. Conserva o seu temor, e nele envelhecerás. 7 Vós que temeis o Senhor, contai com a sua misericórdia e não vos desvieis, para não cair. 8 Vós, que temeis o Senhor, confiai nele, e a recompensa não vos faltará. 9 Vós, que temeis o Senhor, esperai coisas boas: alegria duradoura e misericórdia. 10 Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações ficarão iluminados. 11 Considerai, filhos, as gerações passadas e vede: Quem confiou no Senhor e ficou desiludido? 12 Quem permaneceu nos seus mandamentos e foi abandonado? Quem o invocou e foi por ele desprezado? 13Pois o Senhor é compassivo e misericordioso, perdoa os pecados no tempo da tribulação, e protege a todos os que o procuram com sinceridade.


Evangelho: Mc 9,30-37
Naquele tempo, 30 Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. 32 Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 33 Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis pelo caminho?” 34 Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior.35 Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” 36 Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 37“Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
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Temor a Deus Até Nos Sofrimentos e Provações


Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação. Mantém o teu coração firme e sê constante, inclina teu ouvido e acolhe as palavras de inteligência, e não te assustes no momento da contrariedade. Suporta as demoras de Deus, agarra-te a ele e não o deixes, para que sejas sábio em teus caminhos”. São algumas frases tiradas do Eclesiástico que lemos na Primeira Leitura de hoje.


Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor”, escreveu Bem Sirac.


O temor de Deus não é um sentimento que atordoa e domina, que provoca rigidez mental ou pequenez de espírito, anulando a vontade. Temer a Deus no sofrimento e na provação não é ver na desgraça um efeito de sua onipotência, como se Deus quisesse o mal e o fizesse com a intenção de nos purificar ou punir. O temor de Deus é sempre uma atitude pela qual sentimos uma presença amorosa de Deus como a presença de uma mãe para o filho que se encontra doente.


O temor de Deus nasce de um olhar claro, fruto de um descoberto de que somente o Senhor é digno do serviço do homem, e que Sua lei é a única que merece ser obedecida. Ele é o único Senhor verdadeiro. Somente d´Ele e mais de ningém, se pode dizer que “é clemente e misericordioso, perdoa o pecado e salva do perigo”.


Filho, se decidires servir ao Senhor, prepara a tua alma para a provação”, acrescentou Bem Sirac.


Quem decide começar a viver no serviço do Senhor não embarca em um caminho fácil. Será imprescindível vigiar e guiar o coração, valentia e serenidade de espirito para perseverar neste caminho. Porque inexoravelmente virá a hora da provação, “da desgraça”.


A desgraça, que pode vir de qualquer parte e em qualquer hora, sacudirá os cimentos da vontade de servir ao Senhor. Servir ao Senhor significa manter-se firme diante de qualquer provação e em meio dela recusar toda confiança nos homens, inclusive em si mesmo e abandonar-se nos braços do Senhor. Portanto, segundo Ben Sirac, não confiar em nada do que se vê e sim somente no Senhor invisível.


Na realidade, o assedio do mundo visível à vontade do homem que decide servir ao Senhor será constante e tenaz, imprevisível e insuspeitado. As provações serão como de fogo, e a humilhação para o homem que confia no Senhor, como o fogo prova o ouro.


Tudo isso quer nos dizer que a sabedoria mesmo que seja dom de Deus e participação em sua sabedoria eterna e insondável, é também aprendizagem e tarefa por nossa parte, e requer valentia, fidelidade, perseverança, aplicação. Se vierem provações, também exige saber suportá-las e tirar proveito delas. E quando estas provações chegam a nós, há que pôr a confiança em Deus e não deixar-se levar pelo pessimismo nem pela negligência. O autor recorre à história que está cheia de pessoas que nos dão exemplo de constância e fidelidade a Deus, porque nas dificuldades confiaram no Senhor: “Quem confiou no Senhor e ficou desiludido? Quem permaneceu nos seus mandamentos e foi abandonado? Quem o invocou e foi por ele desprezado?”.


As provações nos fazem pensar e nos convidam a relativizar tantas coisas e a dar importância às que valem a pena. Se ficarmos desanimados é porque não confiamos suficientemente em Deus. Com a força de Deus, não há dificuldade insuperável. Com sua luz vamos adquirindo a verdadeira sabedoria quen traz também a felicidade.


Atrás Da Cruz e Sofrimento Há Ressurreição e Vitória


Pela segunda vez Jesus revela aos seus discípulos sua próxima Paixão (Mc 8,31-33; 10,31-34). Ao mesmo tempo ele abandona deliberadamente a pregação à multidão (Mc 9,30) incapaz de compreendê-Lo para se dedicar exclusivamente à formação definitiva dos discípulos: “Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos”.


Ensinar é uma das preocupações de Jesus nos evangelhos, especialmente no evangelho de Marcos (Mc 1,22; 4,2; 6,2; 9,31 etc..). Jesus Cristo é a Palavra divina (Jo 1,1). Jesus é a Palavra inesgotável de Deus para se comunicar com os seres humanos. Como a Palavra divina, as palavras de Jesus são sempre promessa e expressão de vida. Através de seu ato e atividade de ensinar Jesus quer que os seus ouvintes cresçam na liberdade e dignidade tendo consciência critica sobre a realidade ao seu redor (cf. Mc 1,22).


Cada cristão é chamado a ser educador-profeta. Os profetas falam em nome de Deus, são Seus porta-vozes que sacudam as consciências, levantem as vidas de mediocridade, de desesperança, do tédio e de insensibilidade. Todo profeta é educador e todo educador cristão é chamado a ser um profeta. A educação é, portanto, uma vocação de serviço. Cada cristão, cada educador cristão é chamado a transformar cada lugar, cada escola em lugares de vida nos quais se aprende a viver e conviver, a desfrutar a vida e a dignidade, a defender a vida, a combater tudo o que ameace a vida.


Em seguida, Marcos nos relatou sobre o anúncio da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao anunciar pela segunda vez aos seus discípulos sua paixão e morte Jesus quer educá-los sobre o que significa seguir a Jesus Cristo. Mas os seus não estão dispostos a atender o que seu Mestre quer dizer ou ensinando. O que lhes preocupa é “quem será o mais importante”. Cada educador, cada mestre precisa ter paciência em ensinar ou educar. É um trabalho de serviço. Um servo está sempre disposto e disponível para atender a seu senhor.


Para acabar com a ambição dos discípulos de quererem ocupar primeiros lugares Jesus dá algumas lições (ensinar) sobre o estilo de vida para quem quiser ser seu discípulo. Jesus marca as linhas fundamentais da espiritualidade que se deve respirar qualquer comunidade cristã. A idéia-mestra é esta: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. Isto é, ser o servidor de todos.


Para acentuar a lição dada aos discípulos Jesus põe uma criança (um menino) no meio deles:Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’”. Jesus utiliza uma estratégia pedagógica: coloca um menino no meio e o abraça. Um menino! Uma criança! Quantas coisas diz a imagem deste menino abraçado por Jesus! É um abraço com que Deus abriga, anima e fortalece o novo começo (menino/ criança). É o abraço que envolve toda a confiança, toda a ternura, toda a proximidade do Senhor para quem quiser ser verdadeiro discípulo, e não prematuro mestre.


A figura bíblica do “menino” ou “criança” é símbolo de marginalização e indefesa. No tempo de Jesus, um menino era símbolo de ignorância, imaturidade e insignificância. Um menino era equiparava com os escravos. No entanto, por seu grau de dependência o menino se converte em preocupação permanente para seus progenitores sem os quais o menino não sobreviveria ou não receberia uma boa educação. Assim, o menor se converte no mais importante porque requer a atenção e o cuidado dos maiores. É uma lição viva de pequenez e de humildade. Ser simples é ser modesto, singelo, puro, desprovido de elementos acessórios, isento de significações secundárias, sem luxo nem ostentação. Ser humilde consiste em manifestar a virtude de conhecer suas próprias limitações. É reconhecer ser pó, mas é pó vivente, pois Deus soprou seu espírito nele que o capacita a viver na espera divina.


Por isso, a grandeza do homem está na humildade. “Quanto mais humildes, maiores” dizia Santo Agostinho. Mas “simular humildade é a maior das soberbas”, acrescentou Santo Agostinho. A paz florescerá em qualquer comunidade cristã se seus membros fazem seu o espírito evangélico de humildade e de simplicidade. O próprio Jesus serve de exemplo, pois sua vida está na sua atitude de entrega para a salvação de todos.


Depois que colocou a criança ou o menino no meio dos discípulos, Jesus pronunciou a seguinte frase: ““Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. Esta sentença nos recorda a parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e o final do discurso missionário (Mt 10,42). Assim a criança aqui assume um sentido novo. Não é mais a criança em sentido próprio e sim o símbolo do necessitado. É o sedento, o faminto, desnudo, o prisioneiro, o marginalizado.


Também podemos ter dificuldades em querer entender a lição que Jesus deu aos discípulos. Tendemos a ocupar os primeiros lugares, a buscar nossos interesses, a desprezar as pessoas que contam pouco na sociedade e das pessoas que não podemos esperar grandes coisas.


Se quisermos colaborar com Jesus Cristo e fazer algo válido na vida, temos que contar em nosso programa de vida com a renúncia e a entrega, com a humildade e a simplicidade. O desejo de poder e a busca dos próprios interesses fazem impossíveis a renúncia, a entrega e impossibilita o cristão a servir aos demais. Um cristão que não serve não serve como cristão. Uma Igreja que não serve, não serve para nada. Servir pela salvação dos demais é o centro do cristianismo. Para sermos felizes temos que fazer os outros felizes. A competitividade faz desaparecer a solidariedade, a compaixão, a igualdade e a colaboração. A competitividade sempre torce para que a vida do outro não dê certo para que ele possa estar em destaque solitariamente para ser adorado pelos demais.


Servir é adorar a Deus em ação. Servir é a oração e a adoração colocadas na prática do amor fraterno. Servir é fazer algo de bom sem esperar nada de troca ou de reconhecimento. Renunciar a ser o servidor, a ser o pequeno significa renunciar Jesus, porque somente quem acolhe sua vocação de serviço como se acolhe um pequeno (criança), acolherá Jesus e o próprio Deus que o enviou. O poder e o serviço se excluem. A ambição de poder é o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas coisas, mas não serve para tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes produzem os maus funcionários. Um coração corrompido é ninho de discórdia. Uma mente obcecada nunca ilumina bem os caminhos.
P. Vitus Gustama,svd

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