27/02/2019
PRATICAR O BEM E A
BONDADE É UMA FORMA DE VIVER NA SABEDORIA DE DEUS
Quarta-feira da VII
Semana Comum
Primeira Leitura: Eclo 4,12-22
12 A sabedoria comunica
a vida a seus filhos e acolhe os que a procuram. 13 Os que a amam, amam a vida;
os que a procuram desde manhã cedo serão repletos de alegria pelo Senhor. 14 Quem
a ela se apega herdará a glória; para onde for, Deus o abençoará. 15 Os que a
veneram prestam culto ao Santo; pois Deus ama os que a amam. 16 Quem a escutar
julgará as nações; quem a ela se dedicar viverá em segurança. 17 Se alguém
confiar nela, vai recebê-la em herança; e na sua posse continuarão seus
descendentes. 18 No começo, ela o acompanha por caminhos contrários, 19 trazendo-lhe
temor e tremor; começa a prová-lo com a sua disciplina, até que ele a tenha em
seus pensamentos e nela deponha sua confiança. 20 Então voltará a ele em linha
reta, o confirmará e lhe dará alegria, 21 lhe revelará os seus segredos e lhe
dará o tesouro da ciência e da compreensão da justiça. 22 Se, porém, se
desviar, ela o abandonará e o entregará às mãos de seu inimigo.
Evangelho: Mc
9,38-40
Naquele
tempo, 38 João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios
em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. 39 Jesus
disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar
mal de mim. 40 Quem não é contra nós é a nosso favor”.
--------------------------
Viver Com Sabedoria, Pois a Sabedoria É a Mestre
Para o Homem
Em Eclo 1,1-10 o
autor do Eclesiástico fala da origem da sabedoria: que a sabedoria foi criada
antes de todas as coisas.
No texto de hoje a
sabedoria é apresentada como mestra do homem. Como mestra, a sabedoria tem seu
papel de doutrinar, de bendizer e de cuidar do homem.
A sabedoria
aparece, então, personificada: é como uma mãe que instrui seus filhos, uma
mestra que busca o bem de seus discípulos, que lhes sai ao encontro, que lhes
guia dissimuladamente e lhes revela seus segredos. A sabedoria atua como
mediador entre Deus e os crentes.
O autor do
Eclesiásticos enumera a série de vantagens para os que amam a sabedoria e a
conseguem: terão vida, gozarão do favor e da glória e da bênção de Deus,
aprenderão a julgar retamente, serão acompanhados pela sabedoria diariamente, a
sabedoria lhes irá instruindo e educando.
Mas o autor vai
além, pois ele não somente personafica a sabedoria com uma mulher ou uma
mestre. Isso sabemos através da resposta do homem.
A resposta do
homem diante da sabedoria se expressa através do uso de vários verbos que
E a resposta do homem se expressa através do uso de vários verbos que
lemos no texto da Primeira Leitura de hoje: buscar, escutar, amar, servir,
prestar culto, julgar as nações, viver seguro; quem confia na sabedoria vai
herdar a sabedoria e herdarára a glória. E lemos no texto da Primeira Leitura
de hoje: buscar, escutar, amar, servir, prestar culto, julgar as nações, viver
seguro; quem confia na sabedoria vai herdar a sabedoria e herdarára a glória.
Especialmente, o
verbo “servir” e “buscar”, muitas vezes, tem como objeto o próprio Deus (cf. Dt
4,29; 10,8; 17,12; 21,5; Is 61,6; Jr 33,21; Sf 1,6; 2,3; Os 3,5; 5,6 e assim
por diante). Existencialmente, quem deve ser buscado e servido é Deus.
Consequentemente,
o verbo “escutar” que se usa no texto se transforma em sinônimo de atitude de
obediência, de disponibilidade absoluta do homem à ação de Deus.
Logo, no texto da
Primeira Leitura de hoje, a sabedoria está se identificando com o Senhor
(Deus). Dentro deste contexto, procurar a sabedoria significa procurar Deus.
“A sabedoria comunica a vida”.
Quem pode comunicar a vida é somente Deus exclusivamente.
Ao ouvri esta
descrição sobre a sabedoria, não podemos deixar de pensar que para nós cristãos,
a sabedoria de Deus nos está bem próximo e continuamente presente em Jesus Cristo,
o Mestre, a Palavra vivente de Deus, que nos convida a segui-Lo, que nos
acompanha em nosso caminho (cf. Mt 28,20), que nos ajuda a discernirmos a a
vermos as coisas e os acontecimentos a partir dos olhos de Deus.
Se o autor do
Eclesiástico intentava despertar entusiasmo pela sabedoria no Antigo Testamento
e queria que amassem, buscassem, seguissem e possuíssem a sabedoria, quanto
mais nós que reconhecemos em Jesus a Palavra definitiva e vivente de Deus para
todos os tempos que nos disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo
14,6).
Como Jesus Cristo, Nós Seus Seguidores Temos Que
Viver Fazendo o Bem e a Bondade
------------------------------
Faça todo o bem que puder.
Por todos os meios que puder
De todas as maneiras que puder
Em todos os lugares que puder
Em todas as ocasiões que puder
Por todas as pessoas que puder
Por tanto tempo que puder
A
bondade é o único investimento que nunca falha.
------------------------
Jesus continua ensinando seus discípulos.
Desta vez Ele lhes ensina que não têm que ser pessoas zelosas nem cair na
tentação do ponopólio de nada. Os discípulos pecam muitas vezes na impaciência
e no zelo. Queriam arrancar logo o joio do campo. Desejam que caia a chuva de
fogo do céu sobre o povo que não quer acolhê-los. Com muita paciência e com um
coração generoso Jesus vais instruindo seus discípulos.
“Mestre, vimos um
homem que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque
não nos seguia”, são palavras de João, um dos discípulos de
Jesus, no texto do evangelho de hoje.
É um tema muito atual e sempre atual. Este
tema nos convida a olharmos para além dos confins da comunidade cristã, da
Igreja e perceberemos que há muita gente que faz o bem independentemente de
pertencer ou não a uma crença, a uma Igreja ou a uma religião. Fazer o bem não
é exclusividade dos que pertencem a uma religião. Quem sabe, os que não
pertencem a uma Igreja ou a uma religião fazem muito mais o bem do que os que
se dizem crentes. Precisamos tomar parte dos que praticam o bem, pois eles são
reflexos do Bem Maior que é o próprio Deus (cf. Mt 25,40.45). Quando está em
jogo o bem, o primeiro dever daqueles que têm “poder” na comunidade ou dos que
simplesmente pertencem à comunidade é não impedir o bem, mas ser parceiro do
bem ou dos que o praticam. Ninguém pode ficar alheio do bem ou aleijado do bem,
muito menos ser inimigo do bem. Não podemos odiar quem pratica o bem nem os que
não o praticam. É preciso sermos parceiros do bem, da verdade, da
solidariedade, da bondade, da compaixão, da caridade e dos demais valores
semelhantes. Temos que ser educados ou instruídos no bem e temos que desistir
da inveja diante de quem pratica o bem.
A reação de João, que é um dos discípulos de
Jesus, é uma reação de domínio, uma vontade de poder, uma preocupação de
conservar um monopólio. Anteriormente, os discípulos foram enviados por Jesus a
pregar e a expulsar demônios (Mc 6,7-13).
João quer guardar para si só, monopolizar para o grupo dos Doze o poder
de Cristo. É uma das tentações “dos bons”: monopolizar Deus, monopolizar seus
dons e seus bens, sentir ciúmes porque os outros fazem algo melhor. João quer
ver a atuação do Espírito de Deus enquadrado em um grupo definido para evitar a
perda de prestigio, de poder e de influência.
Jesus rejeita esta tendência de monopólio ou
a de exclusivismo: “Não o impeçais, pois
não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo depois possa falar mal de
mim. Porque quem não é contra nós é por nós”, responde Jesus a
João. Para Jesus o bem não tem fronteiras, nem religiosas nem sagradas nem
denominacionais nem ideológicas.
Quem não atua como inimigo da comunidade na
qual vive Jesus já é, em certo sentido, parte da comunidade. Se alguém, que não
é cristão, faz o bem invocando o nome de Jesus, isto significa que Jesus já
está atuando nele e que um dia o unirá também visivelmente à sua comunidade
(cf. Mt 25,34-40). Jesus não é monopólio da comunidade e sim construtor da
comunidade mediante o Espírito e para fazer isto tem que atuar também fora
dela. Temos que descobrir a presença de Jesus também fora da Igreja através do
bem que as pessoas praticam.
“Ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim”, disse Jesus.
Homem nenhum tem o direito de encurtar a mão de Deus e de projetar como
instrumento exclusivo dele. Não somos os únicos bons. Não somos donos do
Espírito de Deus. Quem é de Deus reconhece o que é divino no outro. Todos os
homens de boa vontade, os que querem salvar a humanidade, embora não pisem
nossos templos ou igrejas, são de Deus porque eles fazem aquilo que tem a marca
divina: a bondade e o amor. Todos aqueles que amam seu próximo e lutam por um
mundo melhor e mais fraterno e pelos direitos dos homens, especialmente pelos
menos favorecidos fazem parte da família de Deus embora não pertençam a nenhuma
Igreja e religião. Quem é de Deus é identificado não pela sua pertença
religiosa, mas pelo modo de viver, pelas suas opções diárias. Mas quem pertence
a uma Igreja ou a uma religião tem obrigação maior de fazer o bem. Se não fizer
o bem, estará contra a própria Igreja ou a própria religião.
Quem de nós não teve alguma vez o sectarismo
de grupo ou monopólio de grupo? Muitas vezes usamos a capa da solidariedade, da
defesa pelo bem comum, mas escondemos nossos próprios interesses? Quem de nós
não teve alguma resistência diante de uma capacidade dos outros, só porque não
gostou deles? Não exageramos algumas vezes nossa tendência de monopolizar a
verdade, o poder ou a razão?
A partir do ensinamento de Jesus no evangelho
de hoje , nós
devemos saber aceitar a parte ou a total razão dos outros, reconhecer seus
valores, admitir que os outros possam e podem atuar de acordo com o Espírito de
Deus. O Espírito de Deus não é propriedade de nenhum grupo, de nenhuma
estrutura. Ele sopra para onde e por quem quer. Precisamos ter discernimento
para ler as marcas onde o Espírito de Deus passa. Hoje em dia convivemos como
vizinhos próximos de outras religiões e crenças. O Espírito ecumênico de Jesus
deve nos levar a aceitarmos e reconhecermos com gozo a presença de Deus que
atua em todos os povos. “Quem não é contra nós é a nosso
favor”. O bem praticado nos faz mais humanos, mais irmãos, mais próximos,
mais solidários e consequentemente, mais divinos, pois praticar o bem nos
identifica com o Bem Maior que é o próprio Deus. “O
defeito moral não se define pelo mal que se isenta, mas pelo bem que se
abandona” (Santo Agostinho: De civ. Dei. 2,8). "Todo
homem é culpado por todo bem que ele não fez” dizia o filósofo Voltaire.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário