16/07/2019
NOSSA
SENHORA DO CARMO
16 de Julho
Primeira Leitura: Zc 2,14-17
14“Rejubila, alegra-te,
cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o Senhor.
15Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu povo.
Habitarei no meio de ti, e saberás que o Senhor dos exércitos me enviou a ti.
16O Senhor entrará em posse de Judá, como sua porção na terra santa, e
escolherá de novo Jerusalém. 17Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba
de levantar-se de sua santa habitação”.
Evangelho: Mt 12, 46-50
Naquele
tempo, 46 enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos
ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus:
“Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus
perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”
49 E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus
irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus,
esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
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“Exaltada por
graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos
e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de
Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a
Santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de ‘Mãe
de Deus’, e sob a sua protecção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e
necessidades” e “E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste
numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a
grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar
as suas virtudes”, disse o Concílio
Vaticano II através da Constituição Dogmática Lumen Gentium n.66 e 67.
Não é por acaso que, nas suas celebrações, a
Igreja católica leva em consideração as datas referentes à Nossa Senhora. A
partir do século IV até os dias de hoje, foram construídas igrejas dedicadas à
Santíssima Virgem, basílicas, santuários e ermidas espalhadas por toda a terra,
como locais de especial encontro com Maria, a Senhora do Doce Nome. No
calendário litúrgico, tanto universal como particular de países ou regiões, há
muitas celebrações de festas marianas, tais como a Maternidade, a Anunciação, a
Assunção, a Natividade de Maria, a Imaculada Conceição, Nossa Senhora de
Fátima, Lourdes, Carmo, Nossa Senhora da Conceição Aparecida e a solenidade de
Santa María de Guadalupe, e assim por diante. Há muitos hinos em honra de
Maria, como o “Stabat Mater”, “Ave Maris Stella”, “Alma Redemptoris Mater”, e
assim por diante.
A oração mais difundida e recomendada pelos
Sumos Pontífices é o Santo Rosário. Sua origem e estrutura remontam às 150
Ave-Marias que os fiéis diziam em imitação dos 150 salmos que os monges e
clérigos recitaram no Ofício Divino. Mais tarde Santo Domingo de Guzmán, por
revelação especial - no século XIII -, deu-lhe um notável impulso e difusão.
Desde então, a Igreja não parou de recomendá-lo a todos os seus filhos.
E neste dia (16 de julho) celebramos a festa
de Nossa Senhora do Carmo (Carmelo). “Nossa Senhora do Carmo” é um dos títulos
do século XIII dado à Nossa Senhora.
A festa de Nossa Senhora do Carmo (Carmelo)
nos traslada espontaneamente para a terra da Bíblia, para o monte Carmelo (cf.
Is 35,2; Ct 7,6; Am 1,2). O Carmelo sempre foi um monte sagrado. No século IX
antes de Cristo, o profeta Elias converteu esse lugar no refúgio da fidelidade
ao Deus único (monoteísmo) e no lugar dos encontros entre o Senhor e seu povo (cf.
1Rs 18,39). O monte Carmelo contém numerosas grutas arqueológicas. Atualmente chama-se
Gebel Karmel ou Gebel Mar Elyas. Durante as Cruzadas, os ermitãos cristãos se
recolheram nas grutas daquele monte emblemático, até que no século XIII
formaram uma família religiosa à qual o patriarca Alberto de Jerusalém deu uma
regra em 1209, confirmada pelo Papa Honório III (1216-1227) em 30 de janeiro de
1226. O mesmo Papa também confirmou o reconhecimento de outras ordens: os
dominicanos (22 de dezembro de 1216) e os franciscanos (29 de dezembro de
1223).
O Monte Carmelo está situado na planície de
Galileia, perto de Nazaré, onde viveu Maria, a Mãe do Senhor que conservava
tudo em seu coração (cf. Lc 2,51). Por isso, a Ordem do Carmelo se põe desde
suas origens sob a proteção da Mãe dos contemplativos. Para a espiritualidade
cristã Carmelo é a imagem de contemplação e da união com Deus (A subida do
monte Carmelo de são João da Cruz). É natural que no século XVI, os dois
doutores da Igreja e reformadores da Ordem, Santa Teresa de Jesus e São João da
Cruz converteram o Monte Carmelo no sinal do caminho para Deus.
Desde aqueles ermitãos que se estabeleceram
no monte Carmelo, os carmelitas se distinguiram por sua profunda devoção à
Santíssima Virgem Maria.
Quando Palestina foi invadida pelos
sarracenos (árabes), os Carmelitas tiveram que abandonar o Monte Carmelo.
Enquanto cantavam o cântico Salve apareceu lhes a Virgem Maria e lhes prometeu
que seria sua Estrela do Mar, pela analogia da beleza do Monte Carmelo que se
alça como uma estrela junto ao mar Mediterrâneo. A ordem se difundiu pela
Europa, e a Estrela do Mar lhe acompanhou e a Ordem foi se propagando pelo
mundo e eram chamados de “Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo”. Em sua
profissão religiosa se consagravam a Deus e a Maria, e tomavam o habito em sua
honra, como lembrança (aviso) de que suas vidas pertencem a ela, e por ela a
Cristo.
Simon Stock, nomeado superior da Ordem dos
Carmelitas (1245), compreendeu que sem a intervenção da Virgem Maria, a Ordem
teria vida curta. Recorreu a Maria a qual chamou de “Flor do Carmelo” e
“Estrela do Mar” e pus a Ordem sob seu amparo, suplicando-lhe sua proteção para
toda a comunidade. Na resposta à sua oração, no dia 16 de julho de 1251
apareceu-lhe a Virgem Maria (em Cambridge na Inglaterra) e deu-lhe o
escapulário para a Ordem com a seguinte promessa: “Este deve ser um sinal e
privilégio para ti e para todos os Carmelitas: quem morre com o escapulário não
sofrerá o fogo eterno”.
Nós nos comunicamos por símbolos, bandeiras,
emblemas, escudos e uniformes que nos identificam. As comunidades religiosas
levam seu habito ou outro sinal ou símbolo como sinal de sua consagração a
Deus. Os leigos que desejam associar-se aos religiosos no caminho da santidade
podem usar escapulários, miniatura de habito, com rosário e a medalha
milagrosa. São Afonso Ligório disse: “Os
homens se orgulham quando os outros usam sua uniforme, e a Virgem está
satisfeita quando seus servidores usam seu escapulário como prova de que se
dedicaram a seu serviço, e são membros da família da Mãe de Deus”. O
escapulário foi instituído pela Igreja como sacramental e sinal que nos ajuda a
viver santamente e a aumentar nossa devoção e que propicia a renúncia ao
pecado.
Por isso, é preciso que estejamos conscientes
de que o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, como qualquer outro, não é um
objeto para uma proteção mágica (um amuleto); nem uma garantia automática de
salvação; nem uma dispensa para não ouvir as exigências da vida cristã. O
escapulário é um sinal “forte” aprovado pela Igreja desde séculos que
representa nosso compromisso de seguir a Jesus como Maria: abertos a Deus e a
sua vontade, guiados pela fé, pela esperança e pelo amor, ser próximos dos
necessitados, orando constantemente e descobrindo Deus presente em todas as
circunstâncias, ser um sinal que alimenta a esperança do encontro com Deus na
vida eterna.
Quem usa o escapulário deve estar consciente
de sua consagração a Deus e à Virgem Maria e ser consciente em seus
pensamentos, palavras e obras. Maria, a Mãe do Senhor foi a primeira discípula
de Jesus Cristo, pois ela viveu segundo a Palavra de Deus: “Eis me aqui a Serva
do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38). Para são João da
Cruz a Virgem Maria foi sempre dócil aos impulsos do Espírito Santo, pois
“jamais teve impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por ela;
mas sempre agiu sob a moção do Espírito Santo” (III Subida 2,10). E para Santa
Teresa de Jesus Maria “estava sempre firme na fé” (VI Moradas 7,14), cheia de
“tão grande fé e sabedoria” que sempre aceitou em sua vida os caminhos de Deus,
escutando humildemente a Palavra (cf. Conceitos do Amor de Deus 6,7).
O evangelho lido neste dia é escolhido em
função da festa de Nossa Senhora do Carmo. Na passagem do evangelho Jesus
pergunta e afirma: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos. Todo aquele que
faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma comunidade de Deus, e
por isso, de uma comunidade de salvação. A pergunta não significa um desprezo
de Jesus aos seus parentes ou familiares. Ninguém amou Sua mãe melhor do que o
próprio Jesus. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho, Jesus, do que a própria
Maria. E nenhum ser humano que colaborou tanto na economia da salvação do que
Maria, Mãe do Senhor que se expressa através de seu Fita, “Faça-se em mim!”.
Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade de sua família. A família
humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus: José que criou Jesus era
chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os mandamentos de Deus (cf. Mt
1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo do Senhor de “cheia de
graça” (cf. Lc 1,28) e “Bendita entre as mulheres” e a “Mãe do meu Senhor” por
Isabel (Lc 1,42-43).
Por isso, a família humana de Jesus serve de
exemplo para todas as famílias humanas sobre a face da terra. Que é possível
formar uma família de Deus nesta terra. A única maneira de salvar a família
humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo com os
mandamentos de Deus, família que coloca Deus como o centro de sua vida e a
família que se funda sobre a rocha da Palavra de Deus (cf. Mt 7,24-25).
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai,
que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, disse Jesus.
Os frutos da participação no Reino anunciado por Jesus são: a fraternidade, a
maternidade, a comunhão de todos na mesma fé, na mesma esperança e no mesmo
amor. Nossa Senhora soube educar bem seu filho a ponto de Jesus menino crescer
na estatura, na sabedoria e na graça diante de Deus e diante dos homens (cf. Lc
2,52). Por isso, a Mãe do Senhor é uma grande educadora na qual todas as
famílias devem se espelhar.
Maria concebeu Jesus antes com a fé do que em
seu seio virginal. Maria acreditou e logo foi mãe. Todos nós, cristãos, temos
algo de filhos gerados no amor e algo de mães e irmãos gerados na fé que nos
faz filhos no Filho de Deus, Jesus Cristo. Vivamos como Maria: creiamos em
Cristo, vivamos com Ele e n’Ele, e assim contribuiremos a gerar filhos para
Deus.
A Virgem Maria, Nossa Senhora do Carmo, nos
ensina a vivermos abertos diante de Deus e de Sua vontade, manifestada nos
acontecimentos da vida; a escutarmos a voz ou a Palavra de Deus na Bíblia e na
vida, para meditá-la, pondo depois em prática as exigências desta voz; a
orarmos fielmente sentindo Deus presente em todos os acontecimentos; a vivermos
próximos de nossos irmãos e a sermos solidários com eles em suas necessidades.
A Mãe do Senhor e nossa mãe (cf. Jo 19,26-27) jamais pode nos abandonar, pois
somos seus filhos no seu Filho Jesus Cristo. Nenhuma mãe normal é capaz de
abandonar seu filho. “Ó Virgem Maria, tomai
nossa defesa e mostrai que sois nossa Mãe!” (Simão Stock).
Senhora gloriosa, bem mais que o sol brilhais.
O Deus que vos criou ao seio amamentais.
O que Eva destruiu, no Filho recriais;
Do céu abris a porta e os tristes abrigais.
Da luz brilhante porta, sois pórtico do Rei.
Da Virgem veio a vida. Remidos, bendizei!
Ao Pai e ao Espírito, poder, louvor, vitória,
E ao Filho, que gerastes e vos vestiu de glória (Hino de Laudes).
P. Vitus Gustama, SVD
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