terça-feira, 2 de julho de 2019









06/07/2019


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Sábado da XIII Semana Comum





Primeira Leitura: Gn 27,1-5.15-29


1 Quando Isaac ficou velho, seus olhos enfraqueceram e já não podia ver. Chamou, então, o filho mais velho Esaú, e lhe disse: “Meu Filho!” Este respondeu: “Aqui estou!” 2 Disse-lhe o pai: “Como vês, já estou velho e não sei qual será o dia da minha morte. 3 Toma as tuas armas, as flechas e o arco, e sai para o campo. Se apanhares alguma caça, prepara-me um assado saboroso, 4 como sabes que eu gosto, e traze-o para que o coma, e assim te dar a bênção antes de morrer”. 5 Rebeca escutava o que Isaac dizia a seu filho Esaú. Esaú saiu para o campo à procura de caça para o pai. 15 Rebeca tomou, então, as melhores roupas que o filho mais velho tinha em casa, e vestiu com elas o filho mais novo, Jacó. 16 Cobriu-lhe as mãos e a parte lisa do pescoço com peles de cabrito. 17 Pôs nas mãos do filho Jacó o assado e o pão que havia preparado. 18 Este levou-os ao pai, dizendo: “Meu pai!” “Estou ouvindo”, respondeu Isaac. “Quem és tu, meu filho?” 19 E disse Jacó a seu pai: “Eu sou Esaú, teu filho primogênito; fiz como me ordenaste. Levanta-te, senta-te e come da minha caça, para me abençoares”. 20 Isaac replicou-lhe: “Como conseguiste achar assim depressa, meu filho?” Ele respondeu: “É o Senhor teu Deus que fez com que isso acontecesse”. 21 Isaac disse a Jacó: “Vem cá, meu filho, para que eu te apalpe e veja se és ou não meu filho Esaú”. 22 Jacó achegou-se a seu pai Isaac, que o apalpou e disse: “A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú”. 23 E não o reconheceu, pois suas mãos estavam peludas como as do seu filho Esaú. Então, decidiu abençoá-lo. 24 Perguntou-lhe ainda: “Tu és, de fato, meu filho Esaú?” Ele respondeu: “Sou”. 25 Isaac continuou: “Meu filho, serve-me da tua caça para eu comer e te abençoar”. Jacó serviu-o e ele comeu; trouxe-lhe depois vinho e ele bebeu. 26 Disse-lhe então seu pai Isaac: “Aproxima-te, meu filho, e beija-me”. 27 Jacó aproximou-se e o beijou. Quando Isaac sentiu o cheiro das suas roupas, abençoou-o, dizendo: “Este é o cheiro do meu filho: é como o aroma de um campo fértil que o Senhor abençoou! 28 Que Deus te conceda o orvalho do céu, e a fertilidade da terra, a abundância de trigo e de vinho. 29 Que os povos te sirvam e se prostrem as nações em tua presença. Sê o senhor de teus irmãos, e diante de ti se inclinem os filhos de tua mãe. Maldito seja quem te amaldiçoar, e quem te abençoar, seja bendito!”


 


Evangelho: Mt 9,14-17


Naquele tempo, 14 os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15 Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão. 16 Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo repuxa a roupa e o rasgão fica maior ainda. 17 Também não se põe vinho novo em odres velhos, senão os odres se arrebentam, o vinho se derrama e os odres se perdem. Mas vinho novo se põe em odres novos, e assim os dois se conservam”.


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Os Planos De Deus São Misteriosos Para o Entendimento Humano, Mas Jamais Falham


“Como vês, já estou velho e não sei qual será o dia da minha morte. Toma as tuas armas, as flechas e o arco, e sai para o campo. Se apanhares alguma caça, prepara-me um assado saboroso, como sabes que eu gosto, e traze-o para que o coma, e assim te dar a bênção antes de morrer”.


São palavras de Isaac dirigidas ao primogênito, Esaú. E “Rebeca escutava o que Isaac dizia a seu filho Esaú”. Pela sua preferência por Jacó, Rebeca enganará o marido Isaac para que Jacó possa receber as bênçãos da primogenitura que seria para Esaú, o filho que saiu primeiro do ventre materno antes de Jacó (Cf. Gn 25,19-28).


O texto da Primeira Leitura faz parte do ciclo de Isaac e seus filhos, Esaú e Jacó (Gn 25,19-37,1). O tema central deste ciclo é a luta entre dois irmãos pelo direito da primogenitura. Esaú e Jacó são gêmeos. Esaú é o favorito de Isaac, pai (Gn 25,27.28). Jacó é o favorito de Rebeca (mãe). A preferência dos pais coopera para o distanciamento dos irmãos. A luta dos dois fica inflamada quando o patriarca Isaac percebe que está para morrer (Gn 27,1). E portanto é a hora de passar a bênção da família para seu filho primogênito.


O nascimento dos dois (Esaú e Jacó) serve como a etiologia dessa luta. Esaú nasce inteiramente vermelho, da cor da terra e peludo. Ele venderá sua primogenitura por um prato de lentilha oferecida por Jacó (Gn 25,27-34). E o ser peludo lembra a forma como Jacó superará Esaú em função de possuir a primogenitura. Esaú adora a liberdade da vida do ar livre (Gn 25,7) e não leva nada a sério. Ele dá um valor aos prazeres passageiros. Suas atitudes rudes e a maneira como foge das dificuldades da vida são a causa de sua trágica queda. É uma pessoa “acomodada”, “despreocupada”. De certa forma, é uma pessoa relaxada.


Sobre Jacó não se descreve o aspecto físico, mas o gesto: nasceu agarrado ao calcanhar de seu irmão numa tentativa de ultrapassar seu irmão, mesmo infrutífera. Por isso se chama “Jacó”, do hebraico “cqb” = “calcanhar” e “suplantar”. “Jacó”, “suplantador”, “embusteiro”. Este nome já mostra a conduta futura de Jacó que suplantará seu irmão por meio de armadilhas ou fraude em função de ter o direito da primogenitura através de uma bênção solene do patriarca Isaac, como relatou a Primeira Leitura de hoje. A marca registrada de seu caráter em relação a luta para conseguir o direito da primogenitura é o oportunismo, a luta para tirar vantagem a qualquer preço e desonestamente; é um manipulador. Geralmente, um manipulador estuda as pessoas em busca de vulnerabilidade, de sua debilidade. O manipulador trabalha para adormecer sua vítima, que a vítima só perceberá que está sendo manipulada depois de alguma tempo.


Segundo o texto da Primeira Leitura, Rebeca acha que é sua obrigação providenciar o cumprimento da promessa feita ao nascimento dos gêmeos em que o irmão mais velho (Esaú) vai servir o mais novo (Jacó). Isaac esqueceu totalmente a mensagem (cf. Gn 25,23). Uma terrível fraude foi praticada, e Rebeca corrompeu aquela sua característica positiva, que é parte de seu charme durante a juventude (Cf. Gn 24,57-58). E Jacó, por sua vez, teme ser descoberto, em vez de arrepender-se pelo pecado praticado (Gn 27,11-17). Pela fraude Jacó recebeu a bênção de primogenitura que não pode ser mais abolida (Gn 27,33).


As consequências dessa luta são a inimizade entre os irmãos: “Esaú concebeu ódio por Jacó por causa da bênção que lhe tinha dado seu pai e disse em seu coração: ‘Virão os dias do luto de meu pai, e matarei meu irmão Jacó’”. Mas sua natureza de pessoa “acomodada” não permitiu que sustentasse muito tempo a animosidade. Uma pessoa acomodada é igual a alguém que nasceu escravo e renuncia à sua libertação. A única ideia que de fato terá valor para ele é a que lhe garantir viver em segurança. Assim quando Jacó retornou temeroso de Padã-Arã onde Jacó fugiu, Esaú o recebeu como se nada tivesse acontecido (Gn 32,3-7; 33,1-4).


Além disso, há a separação entre Rebeca e seu querido Jacó (Gn 25,28; 27-45). Rebeca nunca mais virá Jacó e para Jacó, é a troca da segurança do lar por um futuro incerto e desconhecido (Gn 28,1-2.10).


Apesar disso tudo, Jacó era um homem tranquilo. Durante toda sua longa vida era pacífico e nunca recorreu à violência. Pelo contrário, ele temia que Esaú, seu irmão lesado e mais turbulento viesse atacá-lo. Aceitou quando Labão substituiu Raquel por Lia. Seu zelo e habilidade era cuidar dos rebanhos do sogro. Foi bondoso e afetuoso com suas esposas e filhos, nutrindo terno amor por Raquel e pelos dois filhos que ela lhe deu já na velhice: José e Benjamim. Acima de tudo, Jacó herdou de Abraão e Isaac a íntima comunicação com Deus e a promessa de que Canaã pertenceria à sua descendência. As doze tribos israelitas que ocuparam Canaã tinham os nomes de seus filhos. Os hebreus eram mencionados coletivamente como a Casa de Jacó ou os Filhos de Israel. O nome do reino bíblico de Israel foi adotado para o recém-proclamado Estado de Israel, em 1948.


Neste relato e em outros relatos encontramos o mistério de um Deus que não hesitou em usar a torpeza tanto quanto a nobreza, a impureza tanto quanto a pureza, homens a quem o mundo ouviu atentamente e mulheres que o mundo censurou. Este Deus continua a trabalhar com a mesma mistura e continua a nos surpreender. Deus pode nos usar como Seus instrumentos apesar de sermos pecadores. Mas que tenhamos uma disponibilidade para servir esse Deus que nos compreende profundamente nossos defeitos. O relato no texto da Primeira Leitura não será a última vez que Deus se servirá do mal para extrair dele um bem. Deus é o Senhor soberano de suas escolhas. Ele chama a quem quer para levar a cabo sua obra salvífica (veja a reflexão de São Paulo: Rm 9,10-13). Os direitos adquiridos não contam diante da soberana autonomia de Deus. Este será o caso de José, filho de Jacó, eleito preferentemente a seus irmãos e de Davi, o pequeno da família, de Salomão e assim por diante. E nós continuamos com nosso sentimento demasiado inclinado a monopolizar Deus em proveito próprio. E o próprio Deus se escapa dos cálculos puramente humanos. Mas por cima da debilidade humana se impõe sempre o plano de Deus.


É Preciso Colocar Deus Como Centro De Nossa Vida


O texto do Evangelho de hoje fala sobre o jejum. Mas, no contexto do evangelho deste dia, não deveríamos entender a polêmica sobre o jejum dentro do contexto da prática ascética, isto é, privar-se da comida e da bebida com uma finalidade de penitência ou de solidariedade com os necessitados, repartindo o que temos com eles. Jejuar consiste essencialmente em nos privar de alimento, pelo sentido da palavra, mas em geral é referido a qualquer tipo de privação. O jejum começa a reentrar na nossa cultura atual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de religiosidade, com origem no Oriente.


É evidente que o jejum continua tendo sentido para os cristãos. Jejum é um melhor meio para expressar nossa humildade e nossa conversão aos valores essenciais diante de uma sociedade dominada pelo consumismo desenfreado. Até os judeus piedosos jejuavam duas vezes na semana (segunda-feira e quinta-feira), como também os seguidores de João. O próprio Jesus jejuou no deserto (cf. Mt 4,2). A Igreja, como sempre, também recomenda o jejum, particularmente na Quaresma e pelo menos, uma hora antes da comunhão eucarística, como está escrito no Código de Direito Canônico (CIC): “Quem vai receber a santíssima Eucaristia abstenha-se de qualquer comida ou bebida, excetuando-se somente água e remédio no espaço de ao menos uma hora antes da sagrada comunhão” (Cân. 919). Fala-se de ao menos uma hora antes da sagrada comunhão e não uma hora antes da missa.


Nós, cristãos, jejuamos porque ainda não nos deixamos invadir completamente pelo amor de Cristo Jesus. Jejuamos para Lhe dar lugar em nós, para que o Senhor possa ocupar toda a nossa existência a fim de que sejamos reflexos d’Ele neste mundo. Jejuamos para nos unirmos à sua Paixão-Ressurreição.


Mas podemos entender mal as motivações do jejum ou até cair no egoísmo e no orgulho. Por isso, a mesma Igreja, nos alerta para duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de solidariedade. Além disso, nós jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos, e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carentes. O verdadeiro jejum é dividir o que temos para oferecer a quem nada tem para viver. É dar nossas roupas para cobrir quem está sem nada para se vestir, comida para quem não a tem, bebida para quem não tem nada para saciar sua sede e assim por diante (cf. Mt 25,31-46). Sabemos que jamais podemos arrancar totalmente o sofrimento alheio, mas uma parte dele pode ser aliviada com nossa solidariedade e compaixão. Ninguém pode entrar no céu feliz deixando o irmão passando fome e outras necessidades básicas para um ser humano viver dignamente.


O jejum verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com o faminto. Segundo o profeta Isaias (Is 58,6-9), o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver.


Tendo presentes estas dimensões, entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada, sem nos preocuparmos com Cristo presentes nos outros (Mt 25,40.45).


Por isso, o jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador e o encontro com irmão, especialmente com irmão carente do básico para viver e sobreviver como um ser humano.


Mas no contexto do evangelho de hoje o jejum deve ser entendido como sinal da espera messiânica. É uma controvérsia que os discípulos de João provocam, e que essa polêmica se refere à aceitação ou não de Jesus Cristo como o enviado de Deus. Essa polêmica tem como fundo a queixa de Jesus. Os discípulos de João e os fariseus não reconhecem Jesus como o enviado de Deus e, por isso, não mudam de vida. Por esta razão Jesus põe três comparações sobre si próprio: Primeiro, Jesus é o noivo ou esposo e, portanto, todos deveriam estar de festa e na festa e não de luto. Segundo, Jesus é o traje novo que não admite qualquer remendo ou algo de coisa velha posto no novo. Terceiro, Jesus é o vinho novo que não pode ser colocado nos os odres velhos. Os discípulos de João deveriam aprender a lição porque João chama a si mesmo de “o amigo do noivo” (Jo 3,29). O código do mundo em desenvolvimento é a renovação e a transformação. Se não há nada que mude fora de nós é porque nada mudou dentro de nós. "Se procuras algo bom, procura-o em ti mesmo até que o encontres" (Epicteto). Para que possamos alcançar nossos objetivos em tempo recorde, precisamos ser pessoas que renovam sua mente. Renovar significa colocar algo novo na mente. Uma pessoa que alcança o sucesso dos seus sonhos renova continuamente os seus pensamentos e avalia permanentemente suas atividades.


O que Jesus quer ensinar através do texto do Evangelho de hoje é a atitude que os seus seguidores devem ter: a festa e a novidade radical. Estando com Cristo e sabendo que Cristo está com eles, os cristãos não devem viver tristes. O cristianismo é, sobretudo, festa porque se baseia no amor de Deus, na salvação que nos oferece em Cristo Jesus, na vida que não termina com a morte, pois Cristo Jesus venceu a morte através de sua ressurreição. Esse mesmo Cristo Jesus nos comunica sua vida e sua graça na Eucaristia que nos faz vivermos a vida na alegria e na graça apesar de suas dificuldades, pois nosso Deus é o Deus-Conosco.


Por isso, viver em Cristo e viver com Cristo significa viver na novidade radical. Crer em Jesus Cristo e segui-Lo não significa mudar apenas alguns pequenos detalhes, ou por uns remendos novos para um traje velho ou guardar o vinho novo da fé nas estruturas caducas do pecado. Seguir Jesus significa mudar o vestido inteiro, é mudar de mentalidade para enxergar além das aparências, para ampliar o horizonte. É ter um coração novo que prefere a misericórdia ao sacrifício (Mt 9,13) . Seguir Cristo significa que os seus ensinamentos devem afetar toda a nossa vida e não somente umas orações ou práticas piedosas. As práticas religiosas isoladas do compromisso com a vida e com os necessitados não nos levam para Deus.
P. Vitus Gustama,svd

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