AMOR:
BASE E ALMA DE TODA ATIVIDADE EVANGELIZADORA NA IGREJA
III DOMINGO DA PÁSCOA ANO “C”
Primeira Leitura: At 5,27b-32.40b-41
Naqueles dias, os guardas levaram os apóstolos
e os apresentaram ao Sinédrio. 27b O sumo sacerdote começou a interrogá-los,
dizendo: 28 “Nós tínhamos proibido expressamente que vós ensinásseis em nome de
Jesus. Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E
ainda nos quereis tornar responsáveis pela morte desse homem!” 29 Então Pedro e
os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos
homens. 30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes,
pregando-o numa cruz. 31 Deus, por seu poder, o exaltou, tornando-o Guia
Supremo e Salvador, para dar ao povo de Israel a conversão e o perdão dos seus
pecados. 32 E disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus
concedeu àqueles que lhe obedecem”. 40b Então mandaram açoitar os apóstolos e
proibiram que eles falassem em nome de Jesus, e depois os soltaram. 41 Os
apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados
dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus.
Segunda Leitura: Ap 5,11-14
Eu, João, vi 11 e ouvi a voz de numerosos
anjos, que estavam em volta do trono, e dos Seres vivos e dos Anciãos. Eram
milhares de milhares, milhões de milhões, 12 e proclamavam em alta voz: “O
Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força,
a honra, a glória, e o louvor”. 13 Ouvi também todas as criaturas que estão no
céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles existe, e diziam:
“Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor e a honra, a glória e o
poder para sempre”. 14 Os quatro Seres vivos respondiam: “Amém”, e os Anciãos
se prostraram em adoração daquele que vive para sempre.
Evangelho: Jo 21,1-19
Naquele tempo, 1 Jesus apareceu de novo aos
discípulos, à beira do mar de Tiberíades. A aparição foi assim: 2 Estavam
juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os
filhos de Zebedeu e outros dois discípulos de Jesus. 3 Simão Pedro disse a
eles: “Eu vou pescar”. Eles disseram: “Também vamos contigo”. Saíram e entraram
na barca, mas não pescaram nada naquela noite. 4 Já tinha amanhecido, e Jesus
estava de pé na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus. 5 Então
Jesus disse: “Moços, tendes alguma coisa para comer?” Responderam: “Não”. 6
Jesus disse-lhes: “Lançai a rede à direita da barca, e achareis”. Lançaram pois
a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes. 7
Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro,
ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu sua roupa, pois estava nu, e atirou-se
ao mar. 8 Os outros discípulos vieram com a barca, arrastando a rede com os
peixes. Na verdade, não estavam longe da terra, mas somente a cerca de cem
metros. 9 Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e
pão.10 Jesus disse-lhes: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes”. 11 Então
Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a rede para a terra. Estava cheia de
cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não
se rompeu. 12 Jesus disse-lhes: “Vinde comer”. Nenhum dos discípulos se atrevia
a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. 13 Jesus aproximou-se,
tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe. 14 Esta
foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos.
15 Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu
me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te
amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16 E disse de novo a Pedro:
“Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu
te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. 17 Pela terceira vez,
perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste,
porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes
tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas.18
Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para
onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te
levará para onde não queres ir”. 19 Jesus disse isso, significando com que
morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me”.
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Unanimemente
atestado pela tradição manuscrita, Jo 21 pertence ao Quarto Evangelho, mas foi
acrescentado mais tarde ao evangelho. O evangelho se encerra no capítulo 20 (Jo
20,30-31). Alguns veem nele um ”apêndice” pois ele é um acréscimo ao evangelho.
Os outros o caracterizam como “epílogo”, de alguma maneira correspondente ao
“prólogo” do evangelho. Segundo a maioria dos exegetas, o autor de Jo 21 é
membro da escola joanina. Ele é um bom conhecedor do Quarto Evangelho e talvez
seu primeiro editor (R.E.Brown, R. Schnackenburg, M.Hengel) porque por um lado,
o vocabulário, estilo e temas típicos de Jo plenamente estão conformes ao resto
do evangelho. Ele é acréscimo porque se encontram neste texto, vocabulário,
estilo e temas dificilmente atribuíveis ao autor do evangelho. Quanto a data, diversos estudiosos concordam
que seria posterior à Primeira Carta de João, escrita por volta de 90 d.C.
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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo
O
Cristo ressuscitado diz três vezes a Pedro qual deve ser a sua missão: "Apascenta
as minhas ovelhas" (Evangelho).
Depois de Pentecostes os discípulos começaram a colocar em prática a missão que
haviam recebido, pregando a Boa Nova de Jesus Cristo (Primeira Leitura). Faz parte da missão que
os homens não só conheçam a Cristo, mas também o adorem como Deus e Senhor (Segunda Leitura).
O
texto do evangelho nos enfatiza que os apóstolos não se deixam dominar pela
tentação de tristeza, desânimo e de dispersão, mas permanecem juntos e
trabalham juntos. Em Jo 21,2 é mencionado que sete deles estão
de novo juntos, na Galileia. “Sete”,
como “Doze”, é o número
simbólico da totalidade determinada. Neste caso, o número simboliza a Igreja. O
número cento e cinquenta e três (153)
peixes milagrosamente capturados simboliza o caráter pleno e universal da
missão dos discípulos e da Igreja. O relato acentua, então, três dimensões
essenciais da natureza da Igreja: a vida comunitária, a missão e o serviço.
A
pesca acontece à noite é outro símbolo. A noite é o tempo da ausência de Jesus,
luz do mundo (cf. Jo 8,12). Os exegetas observam que a luz da manhã coincide simbolicamente com a presença de
Jesus. À noite (sem contar com Jesus), a missão foi infrutífera;
eles não conseguiram pescar nenhum peixe. Mas a ausência de Jesus não significa
que ele irá substituí-los na pescaria. O mar representa o mundo em que a missão
é realizada. Jesus permanece em terra firme. A missão ficará nas mãos dos
discípulos. Que sim, entre o mar e a “costa” existe uma corrente de proximidade e
encorajamento, embora os trabalhadores do mar, em pleno trabalho, não
identifiquem a origem desta corrente.
Falam-se do fogo e da comida. Lá,
como o evangelista Marcos comenta lindamente, a comida que Jesus preparou
(Jesus é o Pão da Vida) e a comida que eles trazem (oferta) são misturadas. A
missão no mundo termina na Eucaristia da comunidade. Nela se faz presente o dom
de Jesus aos seus, como o Pão da Vida, e o dom que trazemos uns aos outros
(nossa oferta). Jesus quer que levemos o pão, fruto do nosso esforço, para
uni-lo indissoluvelmente ao dom que Cristo nos dá de Si Mesmo. E na mesa
eucarística, na “margem” do mar da vida, não
será mais possível separar o dom de Jesus e o nosso próprio dom.
Jesus e a comunidade dos discípulos. Existem
os dois pólos de referência na missão e na Eucaristia. Mas vemos que a
narrativa destaca duas pessoas. Simão
Pedro e o discípulo amado têm um papel especial, que os
exegetas pensam não ser acidental, mas intencional. O discípulo predileto está
à frente de Simão Pedro quando se trata de reconhecimento e de confissão de
Jesus. E, no entanto, o nome discípilo amado permanece anônimo. Simón Pedro
toma a iniciativa da ação e também mantém um coloquio pessoal com Jesus depois,
no qual é interrogado e comprometido para uma missão dentro da comunidade.
Os
exegetas pensam que nessa cena culmina a linha que tanto o discípulo amado
quanto Pedro mantiveram ao longo do Evangelho. E que se torna uma lição
simbólica.
A
comunidade de Jesus é composta por aqueles que anonimamente conservam a
sensibilidade de reconhecê-Lo e confessá-Lo no meio do mar do mundo. A Igreja
não se baseia na autoridade, mas na enorme capacidade de fé da comunidade
anônima. Sem a fé da comunidade, o encargo de Pedro não seria possível. Por
isso, sua autoridade é exercida na modestia e no serviço àquela comunidade, que
capta Jesus no mar do mundo. E, no entanto, Pedro recebeu do Senhor uma missão
dentro dessa comunidade que todos devemos reconhecer e agradecer. Muito
possivelmente nos livros de história teremos os nomes dos Papas como o de Pedro
nesta cena evangélica. Os crentes, sem dúvida, continuarão a ser os discípulos
anônimos a quem Jesus amou. O Evangelho já nos anuncia hoje.
Cada
evangelista, a seu modo, mostra, como parte fundamental da mensagem de Jesus, a
missão universal da Igreja. São João no Evangelho de hoje recorre, seguindo seu
próprio estilo, aos símbolos. O mar como imagem do mundo, de todos os homens,
era comum nos tempos de Jesus e do evangelista e por isso, o mar
simboliza o lugar da missão. Há outro símbolo que é exclusivo de
João. É referente ao número de peixes pescados: 153 peixes. Sabe-se que, na cultura
contemporânea de Jesus, o símbolo numérico tinha grande valor e era usado com
frequência. Cento e cinquenta e três indica integridade e completude.
Geralmente é explicado de duas maneiras: 1 + 3 + 5 é igual a
9, que sendo um múltiplo de 3 sublinha a plenitude ao mais alto grau. Outra
forma de explicar o valor total e total desse número é a seguinte: o múltiplo
de 12 é 144; se somarmos 9 a 144 obtemos 153. É uma forma de enfatizar ainda
mais a totalidade. Em suma, a missão da Igreja, no mar do mundo, não é outra
senão a de ser a pescadora (Igreja como pescadora) de todos os homens sem
exceção e conduzi-los ao porto seguro da fé e da eternidade. Esta imagem do
navio e do peixe é seguida por outra: a
do pastor e das ovelhas. Jesus Cristo, Bom Pastor, confia a
Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas". Ezequiel havia
falado de Deus como o Pastor de Israel; agora Jesus usa a mesma imagem para
falar de si mesmo como Pastor da Igreja, e dá a Pedro sua mesma missão de
pastor. Bom Pastor é aquele que cuida, ama, protege, alimenta suas ovelhas e as
defende dos lobos a ponto de dar a vida por elas (Fala-se especificamente do
Bom Pastor no IV Domingo da Páscoa). A missão de Pedro e dos pastores na Igreja
é garantir que todas as ovelhas alcancem a salvação de Deus. As ovelhas são do
Senhor. A Pedro e aos demais pastores da Igreja (sucessores dos Apóstolos) é
pedido e é encarregado para APASCENTAR as ovelhas do Senhor. Tratar mal a uma
das ovelhas significa tratar mal ao Propretário das ovelhas que é o próprio
Senhor.
A
experiência pascal dos discípulos os transforma e os converte à esperança. Sua
primeira reação foi de surpresa,entusiasmo e louvor. A Segunda Leitura de hoje nos coloca nessa
atitude, pois reconhecemos com espanto o senhorio de Jesus dos quatro ventos
(Senhor do Universo). O tempo pascal deve servir aos cristãos para que
recuperem sua capacidade de admiração e de contemplação. Que Jesus, o Senhor,
receba o louvor, a honra, a glória e o poderpelos séculos dos séculos.
Anunciar
o Cristo ressuscitado, como nos narra a Primeira
Leitura, é reconhecer como Senhor Aquele que foi condenado e
eliminado pelo sistema de poder, e que, no entanto, Deus ressuscitou e fez o
"Chefe e Salvador" da história .
O
testemunho é perigoso, porque não se trata de fornecer argumentos científicos,
objetivos, neutros. Só é possível implicar a própria vida. A verdade do
testemunho procede da coerência da vida, que não aceita submeter-se a um
sistema que condena Jesus e seus valores do Reino.
Mas
a experiência pascal não só provoca a dinâmica do louvor surprendido e do
testemunho corajoso da própria vida, mas também significa assumir a mesma
missão salvífica de Jesus na comunidade, na Igreja. O texto pascal mais antigo
que temos no Novo Testamento, recolhido em 1Cor
15, não é apenas uma catequese pascal, mas também uma
legitimação da missão dos principais representantes das comunidades cristãs. O
que é proposto teologicamente ali é lindamente encenado na narração de hoje.
Um Olhar Específico Sobre O Evangelgo Deste Domingo
I. A
Aparição De Jesus E A Pesca Milagrosa
Simão Pedro toma
isoladamente sua decisão para pescar. Mas a iniciativa de Pedro arrasta o
grupo, pois o grupo logo o segue. Pescar é a profissão deles, mas
também o símbolo da sua missão entre os homens. E na Bíblia, a pesca é muitas vezes sinônimo de missão.
Sob a imagem da pesca está representada a missão da comunidade (aqui se
mencionam sete discípulos. O número sete representa totalidade).
Trata-se aqui, portanto, do trabalho apostólico/missionário da Igreja.
Mas este trabalho só
recebe eficácia quando obedecer-se ou aceita-se a Palavra e a presença d´Aquele
que envia (Senhor Jesus). Isto não quer dizer que a iniciativa de Pedro seja
inútil, mas o resultado, que é nulo, os faz perceber que, na Igreja, uma obra,
seja qual for a generosidade da intenção, só dá resultado com a graça da
presença do Espírito do Senhor. Para que o trabalho seja frutífero, Jesus deve
estar presente. Jesus deve ser sempre o agente principal. Jesus deve ocupar o
lugar central. Em nenhum momento nenhum discípulo fica na frente de Jesus, o
discípulo é apenas um seguidor. Seguir quer dizer ficar atrás de uma pessoa que
está na frente. E quem está na frente deve ser sempre Jesus.
O detalhe temporal “naquela noite”
é importante para entender a cena: “...naquela noite nada apanharam” (v.3).
Os discípulos juntos perseveram no trabalho a noite inteira. Quer dizer que
eles trabalham sem parar com a maior vontade. “Naquela noite” é um detalhe
simbólico. Não se trata da noite física mas do resultado de uma atitude. A noite significa,
portanto, a ausência de
Jesus, luz do mundo (cf. Jo 9,4s; 8,12). É a postura de autossuficiência
(a noite)
o que determina a infecundidade, o
fracasso. Faltam os peixes, faltamo os frutos, pois falta a união
com o Senhor. Os discípulos se
esqueceram a advertência de Jesus: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo
15,5). O trabalho sem estar vinculado a Jesus, não rende. Sem Jesus o trabalho
da comunidade não dá frutos. Na atividade dos discípulos falta a presença e a
ação de Jesus. Na ausência de Jesus, não podem realizar o desígnio do Pai.
Jesus é luz do mundo. Sua presença é o dia que possibilita trabalhar com
eficácia. Tudo isto quer nos dizer que para que a missão confiada a nós possa
produzir frutos, não basta estar juntos, não basta a boa vontade, a dedicação
ao trabalho e a colaboração. Tudo isto é insuficiente. O Senhor que nos envia
deve estar sempre presente em todas as nossas atividades: trabalho e decisões
etc., pois sem a sua presença, sem a escuta de suas palavras e sem a obediência
a elas, a missão da Igreja será totalmente estéril.
Jesus se apresenta
quando “Já tinha amanhecido, e estava de pé na margem”. É a alvorada de
um mundo novo. “Mas os discípulos não sabiam que era Jesus”. Eles já criaram a noite. Quando
a cabeça ou o coração se esquerece, tudo se vê escuro, ou nada se enxerga como
são as coisas ou as pessoas. Pela noite que criaram, os discípulos não
conseguiam ver nem enxergar a presença do Senhor. Todos os discípulos
reconcentrados no próprio trabalho, “fechados” em seu esforço vão, não podiam
ver o Senhor.
Jesus interrompe um
trabalho infecundo dos discípulos com a seguinte pergunta: “Moços,
tendes alguma coisa para comer?”. A chamada do Senhor lhes faz conscientes
do fracasso: “Não”, responderam eles. É inútil trabalhar sem o Senhor. Quando deixar-se
de inspirar pelo Espírito do Senhor, a Igreja, a comunidade, põe-se em perigo
de escolher sempre a parte equivocada.
“Lançai a rede à direita da barca, e achareis”.
“Lançaram pois a rede
e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes”.
Para os judeus, o lado
direito é o da bênção de Deus. assim a pesca abundante se converte em
fruto da generosidade divina, não do trabalho meramente dos homens.
1.1. Reconhecimento
Do Ressuscitado
Maria Madalena
reconheceu Jesus pela voz quando Jesus pronunciou seu nome (Jo 20,14). Os
discípulos de Emaús reconheceram Jesus Ressuscitado na fração do pão (Lc
24,16). No relato do Evangelho de hoje, Jesus não se dá a conhecer de imediato.
Embora Jesus esteja tão próximo deles, “mas os discípulos não sabiam que era
Jesus” (v.4; cf. Jo 20,14; Lc 24,15s).
Diante da pesca
abundante, em vez de um grito de espanto (cf. Lc 5,8-10) que poderia ser a
reação dos pescadores aqui, o narrador orienta a atenção para a reação do
Discípulo amado e a do Pedro. João, cujo carisma é descobrir o invisível no visível, através dos
gestos, da voz, da maravilha, reconhece a presença de Jesus: “É o Senhor!” Eis o seu privilégio: reconhecer o Senhor.
Ele enxerga
para além das causas ordinárias que poderiam explicar o fenômeno.
Somente quem tem a experiência do amor de Jesus e está em sintonia permanente
com o Senhor é que sabe ler os sinais da presença de Deus e captar o seu
significado.
Pode-se dizer que as
figuras dos dois discípulos indicam dois primados diversos: o da autoridade e o
do amor; a instituição e a profecia. Não estão em contraste entre si, nem
tampouco em competência. Um tem necessidade do outro. De todos os modos é certo
que o amor vê melhor. O olho da profecia chega primeiro (cf. Jo 20,4). Pedro é
lento para compreender, mas conserva seu temperamento impulsivo e se atira à
agua, decidido alcançar o primeiro o Senhor.
Quando tivermos
consciência de que o Senhor nos ama incondicionalmente e amamos o Senhor,
descobriremos facilmente sua presença na nossa vida e nos acontecimentos
diários; discerniremos os sinais da presença do Senhor nos acontecimentos
aparentemente muito insignificantes. No amor de Deus não há dia que não tenha
algum apelo do Senhor para nós. Se amarmos o Senhor através da vivência de Sua
Palavra, o mesmo amor nos manterá atentos para todos os sinais diariamente,
pois neles há algum recado do Senhor para nós.
Certamente, Jesus dá o
prêmio à constância de quem segue com confiança as suas indicações. Ainda que
num primeiro momento pareçam indicações de um estranho e não sejam
compreendidas, de fato um senso profundo de confiança move instintivamente os
discípulos em direção à voz de Jesus e faz com que eles a escutem. Quando
acolhemos a palavra do Senhor, cumprimos seus mandamentos e seguimos suas
orientações, os frutos da missão são sempre abundantes, mesmo nas
circunstâncias mais adversas. Sem Jesus “nada podemos fazer” (Jo 15,5). Sem a
presença de Jesus, sem a obediência à sua palavra, sem a comunhão e a
intimidade com ele, a nossa missão se torna estéril. A mensagem é dirigida a
todos, individual e comunitariamente, que o Senhor existe e que está próximo.
Por isso, é preciso abrir os olhos e perceber as suas indicações providenciais.
É preciso obedecer à vontade de Deus para que nossa vida não seja um fracasso.
Obedecer à vontade de Deus significa renunciar ao nosso projeto pessoal em
função do projeto maior de Jesus.
Jesus ressuscitado, na
verdade, continua acompanhando nosso trabalho e se manifestando a nós embora
não notemos sua presença. Ele vai ao encontro dos discípulos quando estão trabalhando.
O texto diz que “Ao amanhecer, Jesus estava de pé na praia” (v.4b). Ele está
olhando para os discípulos cansados e frustrados depois de um trabalho sem
sucesso. “Jesus estava de pé na praia” nos mostra que Jesus continua
acompanhando com seu olhar amoroso o trabalho dos discípulos.
1.2. O
Senhor é o Nosso Amanhecer Que Ilumina Nosso Dia a Dia
O texto diz “ao amanhecer Jesus estava de pé na praia”.
A presença de Jesus, que autorevelou como “a luz do mundo” e “a luz da vida”
(Jo 8,12; cf. 9,5;12,35s) é incompatível com a “noite”, momento em que os
discípulos pescaram. Jesus que é a luz traz consigo o fim da noite, pois a luz
expulsa a escuridão, e todas as noites, as nossas noites escuras. Jesus é o
nosso amanhecer. Com ele tudo é iluminado.
Jesus, o Nosso Amanhecer,
vai ao encontro dos discípulos e faz uma pergunta retórica aos discípulos:
“Filhos (moços), tendes algo para comer?” (v.4). Quando Jesus vem ao nosso encontro, a nossa noite escura,
as noites de impotência e as de desolação se transformam no amanhecer. O
caminho se torna, assim, iluminado pela presença da Luz. Agora é o
momento de escutar a voz daquele que é a fonte de todo o sucesso na missão. É
necessário ouvi-la e escutar bem sua pergunta. Mas estar com os “companheiros”
(palavra que etimologicamente significa “os que partilham do mesmo pão”, neste
sentido “o pão da missão”) é condição necessária para ouvir a voz do Senhor,
para fazer a experiência do encontro com ele. A pergunta retórica de Jesus,
formulada em vista de uma resposta negativa, é dirigida a pessoas que não
conseguiram fruto de seu trabalho. Aqui o “mar” simboliza as dificuldades, as
ameaças e os perigos.
Para a pergunta de
Jesus, eles responderam secamente: “Não!”. Jesus sabe que seus discípulos não
pescaram nada e quer renovar a relação com eles. Ele indica-lhes como superar a
crise: “Lançai a rede à direita do barco e achareis!” A ordem é seguida da
execução e tem efeito. Os discípulos entregam-se à palavra do desconhecido e a
rede se enche de peixes: 153 peixes. É o número simbólico que significa a
totalidade e a multidão dos homens de todos os tempos capturados pela pregação
de Pedro e dos outros discípulos. Apesar do seu grande número, a rede não se
rompe. Jesus guarda sua Igreja na unidade mas sob condição de que se mantenha a
sua presença. Sem ele, os homens se dispersam. Sobrevindo ele, todos são
reunidos nele acima de toda a esperança.
1.3. É
Preciso Trabalhar No Espírito De Serviço a Exemplo de Jesus Cristo
Quanto a Pedro não
tinha percebido a causa da pesca abundante mas ao ouvir o que lhe diz o
Discípulo amado, compreende. Aqui, nessa cena, acontece uma mudança na atitude
de Pedro numa linguagem simbólica sumamente densa. Em primeiro lugar, há o
jogo de veste- desnudez; em segundo lugar, o ato de lançar-se
na água. A nudez de Pedro
indica que carece da veste própria do discípulo. Ele trabalha sem espírito
de serviço por amor. A expressão que se usa aqui (“se atou...à cintura), foi
usada na Ceia quando Jesus amarrou-se à cintura um pano que significa o seu
serviço até a morte. Era essa a desnudez de Pedro: não ter aceitado a morte de
Jesus como expressão suprema do amor nem tê-la tomado por norma; não responder
ao impulso do Espírito que o teria levado a se identificar com Jesus. Por isso,
ele se lança na água. Ele é o único que se atira à água, separando-se por ser o
único que deve corrigir sua atitude anterior. Seu gesto é individual e
simboliza sua nova atitude. Lança-se na água aqui significa mergulhar na missão
com as disposições de Jesus: servir até dar a vida por amor. Assim como
atirar-se à água expressa sua aceitação do serviço até a morte, subir/sair da
água é sinal da nova atitude de Pedro, o qual lhe permite arrastar a rede com a
força dobrada.
1.4. Missão-Eucaristia-Missão
“Trazei alguns dos peixes que apanhastes”. Estranho!
Jesus já havia peixe preparado posto sobre o fogo: “Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão”.
No entanto, é necessário levar também para o Senhor os peixes que acabaram de
pescar.
Aí está o
paradoxo! Durante sua vida terrestre Jesus já cumpriu tudo (cf. Jo
19,30), já obteve tudo, já deu o máximo fruto durante sua missão terrena. No entanto,
tem necessidade da missão da Igreja.
A missão cumprida tem
um fim diferente de si mesma: “Vinde
comer!” diz Jesus. Depois de ter feito dom para os irmãos (missão),
trabalho a favor dos homens, se recebe o
alimento oferecido por Cristo. não tem sentido fazer refeição com Cristo, se não
gastamos nossa vida em favor dos irmãos (próximo).
“Jesus aproximou-se, tomou o pão e
distribuiu-o por eles”. Jesus se converte assim no centro do qual
irradia a força, a vida e o amor que deve assimilar a comunidade para sair de
novo à missão.
O pão, o peixe, os
outros símbolos e toda a atmosfera da cena são claramente eucarísticos. É a
refeição após a pescaria. Jesus mesmo preparou o almoço. Isto quer nos dizer
que todo o trabalho efetuado na Igreja tem seu termo na comunhão, na
eucaristia. Esta é o sinal supremo da presença. Esta presença é o fator da
unidade da Igreja e explica toda a atividade que nela se exerce.
A Igreja eucarística, que
reúne os homens em torno da Mesa do Senhor (Eucaristia), é indispensável da
Igreja missionária. Ao celebrar a Eucaristia a Igreja se torna mais missionária
e por isso é sempre enviada de novo para levar adiante sua missão no mundo.
Todo verdadeiro encontro com o Senhor se prolonga na missão. Nela, nada
substitui os momentos de silêncio e comunhão. A Igreja eucarística se traduz na
atividade missionária e a Igreja missionária tem como força a Igreja
eucarística. Mas aqui não se trata de duas Igrejas. É uma só Igreja. Podemos
dizer em outros termos: nossa vida na ação e na contemplação simultaneamente.
Uma não substitui outra, pois a ausência de uma provoca a carência na outra. A
comunidade/Igreja vive de Jesus, do seu amor, mas também da missão, do amor ao
homem, que realiza e expressa o amor a Jesus (Jo 14,21).
II. Tríplice Confissão
de Pedro (Jo
21,15-19)
A sequência do relato
concerne não à missão dos discípulos em seu conjunto, como na aparição em
Jerusalém (Jo 20,21), mas à de Pedro e também se fala do destino do Discípulo
amado. Mas num diálogo o Senhor somente confia a Pedro o encargo de Pastor de
rebanho e lhe anuncia seu martírio.
O diálogo acontece após
a refeição convival. Por três vezes, Jesus pergunta a Pedro: “Tu me amas mais do que estes?”
e por três vezes Pedro responde (na tradução portuguesa): “Eu te amo”. A tríplice pergunta remete à
tríplice negação (cf. Jo 18,17.25.26-27). Para o Senhor é suficiente que a
experiência negativa de Simão não faça perder sua capacidade de amar. O amor
que Pedro, perdoado, deve a Jesus, deverá ser refletido nos demais homens: “Apascenta
as minhas ovelhas!”. “’Apascentar as ovelhas’ é alentar os que creem em Cristo para que não
percam a fé; é prover-lhes subsídios para as necessidades terrenas, se precisarem;
é prestar-lhes exemplos de virtudes além da palavra da pregação; é resistir aos
inimigos da fé e corrigir os súditos desagarrados” (Alcuíno
In Santo Tomás de Aquino: Catena
Aurea sobre o Evangelho de são João). “Apascenta as minhas ovelhas!”. “Se nós chamamos as ovelhas de nossas
e eles as chamam de suas, Cristo perdeu
suas ovelhas” (Santo Agostinho In Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea sobre o Evangelho de são João).
Tentemos
aprofundar um pouco mais sobre quatro palavras/verbos sobre “amor” em grego que se traduzem simplesmente
em uma só palavra em português: amor/amar.
O verbo ERAO (de onde deriva a palavra “eros” e o
adjetivo “erótico”). Erao significa amar mas em sentido sexual. Emprega-se para
significar o afeto passional, a atração mútua do homem e da mulher, no seu
aspecto espontâneo e instintivo; o amor romântico e físico; alude ao
amor-prazer. Mas o eros não é simplesmente a captação no sentido negativo do
termo, mas é a fascinação pelo que é grande e pelo que é belo. Eros é um amor
de desejo, o desejo de alguém que falta, em direção a alguém que possui.
Outro verbo é STERGO. Ele indica o amor familiar, o carinho dos pais
pelos filhos e o dos filhos pelos pais. Stergo alude ao amor do lar, da
família; àquele amor que não se merece porque brota naturalmente dos laços do
parentesco. São Paulo usa este termo na sua carta aos romanos (Rm 12,9-10) para
dizer que os cristãos devem sentir-se membros de uma só família.
O terceiro verbo grego
é FILÉO/PHILEO: exprime o amor de amizade, o afeto
caloroso e terno de dois amigos, um amor de troca, um amor de igual para igual.
Espera-se que o outro nos dê como nós lhe damos (do ut des). É um amor de
amizade que de algum modo pressupõe uma resposta ou uma retribuição.
O quarto verbo é AGAPAÓ (deste verbo deriva a palavra “Ágape”):
é o amor de caridade, de benevolência, de bem querer; o amor capaz de se dar e
de perseverar na dádiva sem nada esperar em troca. É o amor totalmente
desinteressado, completamente abnegado, o amor até ao sacrifício (cf. Jo 13,1).
Segundo este amor, não importa o que uma pessoa faça ou nos possamos fazer; não
importa a forma como nos trate, se nos injuria ou nos ofende. Nós teremos
sempre a possibilidade de “amá-la”, que não consiste em “ter por ela algum
sentimento”, mas em fazer “alguma coisa por ela”, prestar-lhe um serviço,
oferecer-lhe ajuda, mesmo que afetivamente não se sinta. É um amor total. Este
amor consiste não na afeição mas na ação. É um amor efetivo e não afetivo.
Na tríplice pergunta de
Jesus e na tríplice confissão de Pedro encontra-se o jogo de palavra. Nas duas
primeiras perguntas Jesus pergunta a Pedro se ele O ama com o amor –ágape, o
amor total, o amor de entrega e de serviço incondicional, o amor que compromete
a vida até o fim sem esperar recompensa: “Símon,
agapas me?” (vv.15-16). Nas suas respostas Pedro usa o verbo “phileo” (amor de amizade): “philo se” (vv.15-16). Pedro que dias
antes negou Jesus (Jo 18,25-27) e se sabia fraco e imaturo, responde
humildemente com o amor de amizade. Ele não se sente capaz do amor supremo de
ágape. Jesus, então, que nunca exige nada a ninguém superior às suas
possibilidades e que sabe aguardar com paciência o processo de maturação de
cada um, pergunta pela terceira vez (a última), mas agora nos termos em que
Pedro é capaz de responder: com o amor de amizade: “Símon, phileis me...?” (v.17). Pedro, embora triste, sente-se
identificado com a pergunta e responde nos mesmos termos: “philo se” (v.17). E Jesus o aceita. Mas ele prediz-lhe que o seu
amor não ficará por aí, que há de crescer, amadurecer e que alcançará ágape,
pois um dia chegará a dar a vida pelo Mestre.
Pela atitude de Jesus
no diálogo com Pedro, podemos entender claramente que o amor tem de ser
refletido, mas não silenciado; tem de ser proclamado, não apenas pensado; e tem
de sair a descoberto e ficar conhecido por todo o mundo, não ficar estacionado
no segredo do coração. O amor que Jesus exige de nós é a doação de nós mesmos
que é feita de forma refletida e consciente; assumida mesmo sabendo que
comporta cruzes, agonias e cálices amargos de todos os tipos.
Desde o primeiro
diálogo, Jesus confia a Pedro uma missão que concerne o conjunto dos fiéis: “Apascenta minhas ovelhas”. O autor se
inspira no Discurso do Bom Pastor (Jo 10,1-10), do qual ele retoma não apenas a
metáfora, mas também os acentos. As ovelhas confiadas a Pedro não lhe
pertencem, são as de Jesus, que diz cada vez: “minhas ovelhas”. Por isso, Santo
Agostinho comenta: “Se me amas, não
penses que tu és pastor; mas apascenta minhas ovelhas como as minhas, não como
as tuas; busca nelas minha glória, não a tua; meu bem, não o teu; meu proveito,
não o teu”. É sob o signo do amor a Jesus que é dado a Pedro o encargo de
cuidar do conjunto do rebanho.
Os vv. 18-19 falam do
futuro de Pedro. Aqui, de maneira solene, Jesus prediz-lhe o que vai significar
concretamente sua aceitação: dará a vida na cruz como Jesus a deu: “...quando,
porém, fores velhos, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para
onde não querias” (v.18). Historicamente é certo que Pedro foi martirizado em
Roma sob Nero no ano 64 e, muito provavelmente, crucificado. “Estender as mãos”
poderia logo evocar a crucificação, pois na antiguidade tinha o costume de que
os que iam ser crucificados levassem aos ombros o travessão da cruz; o cinturão
seria a corda atada à cintura, com que eram conduzidos.
Os que pretendem ser pastores do povo só têm uma
alternativa: jamais crer serem donos do povo, pois “as ovelhas” continuam sendo
de Jesus e nunca se afastar da prática de vida de Jesus. Por isso, a condição
para realizar devidamente a tarefa pastoral é amar o Senhor. Ela deve ser feita
igualmente com amor pelas “ovelhas” através de respeito por elas, interesse por
suas próprias preocupações e necessidades. De outra forma não revelaremos o
Deus que nos ama e que quer ser amado. O Senhor vai cuidar de qualquer pastor/padre, se o pastor/padre sabe
cuidar com amor o rebanho do Senhor (as ovelhas).
Por isso, a condição
para realizar devidamente a tarefa pastoral é amar o Senhor. Ela deve ser feita
igualmente com amor pelas “ovelhas” através de respeito por elas, interesse por
suas próprias preocupações e necessidades. De outra forma não revelaremos o
Deus que nos ama e que quer ser amado. “Seja um compromisso do amor
apascentar o rebanho do Senhor, assim como foi um sinal de temor negar o pastor”
(Sto. Agostinho).
Devemos estar
conscientes de que para apascentar ou cuidar de suas ovelhas, tão frágeis,
Jesus não escolheu nem super-homem nem anjos e sim pastores que também são
frágeis. Por isso, nosso pastoreio não saciará a necessidade das ovelhas (povo
de Deus) que o Senhor nos confiou, se ele não estiver enraizado no amor pessoal
a Jesus Cristo, no amor com que ele nos ama e no amor com que nós o amamos e
tem que ser continuamente alimentado e movido por um amor humilde e
perseverante, por um amor que serve até a morte. Mas o amor pessoal a Jesus
Cristo não é uma meta que pode ser alcançada pela prática do voluntarismo nem
uma conquista do esforço pessoal. O amor a Jesus Cristo só pode nascer e ser
cultivado como resposta ao amor daquele que “nos amou primeiro”.
As perguntas de Jesus
dirigidas a Pedro, são as mais essenciais e as mais existenciais de todas as
perguntas, pois tocam a essência do cristianismo: amor. Diante de Deus somente
conta o amor vivido ao longo da vida, seja ela longa ou curta. O amor é a única
realidade consistente, a única realidade que permanece para sempre e dá
consistência a tudo o mais.
Por isso, as perguntas
feitas a Pedro são dirigidas a toda a Igreja, a todos os cristãos, e portanto
também a mim. “Quando é lida
esta leitura, cada cristão sofre o interrogatório no coração”,
dizia Santo
Agostinho ao comentar este texto. Não podemos esquecer que aquele
que nos pergunta é o Senhor ressuscitado, aquele que nos amou até a morte.
Nossa resposta deve ser humilde; uma resposta que remete à confiança no Senhor,
que conhece o nosso coração, conhece a verdade do nosso amor. É melhor
respondermos, como Pedro respondeu: “Senhor, tu que sabes tudo, sabes que sou
teu amigo”.
P. Vitus Gustama,SVD