quarta-feira, 6 de novembro de 2024

08/11/2024-Sextaf Da XXXI Semana Comum

OS FILHOS DA LUZ QUE SÃO CIDADÃOS CELESTES DEVEM VIVEM PARA EVANGELIZAR

Sexta-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Fl 3,17-4,1

3,17 Sede meus imitadores, irmãos, e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos. 18 Já vos disse muitas vezes, e agora repito, chorando: há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. 19 O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas. 20 Nós, porém, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 21 Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante a seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas. 4,1 Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor.

Evangelho: Lc 16,1-8

Naquele tempo: 1 Jesus disse aos discípulos: 'Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. 2 Ele o chamou e lhe disse: 'Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens'. 3 O administrador então começou a refletir: 'O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. 4 Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração'. 5 Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu patrão?' 6 Ele respondeu: 'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve cinqüenta!' 7 Depois ele perguntou a outro: 'E tu, quanto deves?' Ele respondeu: 'Cem medidas de trigo'. O administrador disse: 'Pega tua conta e escreve oitenta'. 8 E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz.

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Vivamos Como Cidadãos Do Céu Estando Na Terra

Continuamos a acompanhar a leitura da Carta de são Paulo aos Filipenses.

A leitura de hoje começa com a seguinte a firmação de são Paulo: “ há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo.  O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas” (Fl 3,18-19). Os inimigos da cruz de Cristo são os judaizantes, dos quais Paulo falou desde 3,1 desta Carta. Sua ânsia (afã) de pregar a circuncisão neutraliza o "escândalo da cruz" (Gl 5,11); "honram a Deus com o estômago", sua religião é reduzida a um código legal, distinguindo alimentos puros de impuros (esta frase não indica gosto por comer e beber). Eles também colocam sua glória naquela parte do corpo, comumente chamada de “vergonha”. Pobre religião que eles anunciam! Produz lágrimas para Paulo. E seu fim, no julgamento divino, não será a salvação, mas a ruína. Por tudo isso, os filipenses não devem seguir seu exemplo.

Quem evita a Cruz de Jesus Cristo desvia-se do centro da pregação cristã (pregação paulina) e como consequencia, torna-se apóstata.

Em vez disso, são Paulo deu a seguinte conselho para os Filipenses: “Nós, porém, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante a seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,20-21). O cristão deve ter sempre em perspectiva a sua morada autêntica, o céu, nossa “Casa Comum” (Papa Francisco) onde se encontra o nosso Salvador (cf. Jo 14,1-3). Isto não implica um desrespeito ou despreocupação pelas tarefas terrenas de cada dia, mas o cristão nunca pode perder de vista o fato de que é um peregrino na terra, onde "aguarda" (=espera) a vinda escatológica do Senhor.  A comunidade cristã tem sua morada definitiva chamada “Céu”, porém ela não pode desligar-se da responsabilidade terrena. Ela deve transformar o lugar onde se encontra em pedaço do céu. A salvação -já iniciada neste mundo- alcançará sua plena realização com a referida vinda; isto implica a plenitude da ressurreição, fazendo parte dessa criação renovadora, fruto e efeito do poder do Cristo ressuscitado (Col 1, 15-20; Ef 1, 10s; 1 Cor 15, 25s).

A história do homem é estruturada com base no esquema da peregrinação, no sentido de saída de Deus e retorno a Deus em uma relação entre a eternidade e o tempo, entre o céu e o mundo. Sair de si para voltar a Deus não é apenas remontar às origens, mas também e principalmente progredir em novidade e em crescimento, como Abraão no Antigo Testamento (cf. Gn 12), aumentando os dotes iniciais (cf. Mt 25,14-30). O tempo vai passando e a vida vai seguindo o tempo. Isto significa que a vida é realmente uma caminhada, uma peregrinação. Na peregrinação, o tempo não quer saber de nossas decepções, pois ele passa e flui normalmente. Resta a cada um de nós saber aproveitar dignamente o tempo que é nos oferecido. Quem não valoriza o tempo, enterra muitas oportunidades na vida, e pode morrer frustrado, em consequência. Nesta peregrinação, precisamos confiar na profundidade de Deus em nós e viver dessa confiança a exemplo de Abraão (cf. Jo 14,1). Esse é o caminho para continuar andando rumo à nossa realização plena e à total comunhão com Deus na eternidade.

“Somos cidadãos do céu”. A cidadania celestial cristã é todo um modo de ser e viver. "Celestial" neste contexto significa, mais ou menos "divino", não espiritualista ou distante da realidade. Nós somos o que Cristo é e por isso somos chamados de “cristãos”. Portanto, somos “outro Cristo” (alter Christus). É por isso que temos que viver de acordo com o modo de ser de Cristo. Devemos viver a vida cotidiana a partir dessa perspectiva: cidadania celeste. Através da união com Cristo, o cristão já atingiu outro nível: ele está onde Cristo está. A nova cidadania não se realiza através da incorporação em Cristo Ressuscitado (cf. 1Co 15,47-55). Que um dia se torne realidade para nós aquilo que são Paulo escreveu aos Filipenses, que lemos na Primeira Leitura: “Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante a seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21).

É Preciso Confiar Em Deus Para Ter a Sábia Sagacidade

Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho para Jerusalém, escutando atentamente suas ultimas e importantes lições para nossa vida de cristãos (Lc 9,51-19,28).

Por todo o seu evangelho Lucas revela preocupações quanto a atitude correta no uso dos bens materiais deste mundo, como encontramos em todo capítulo 16 deste evangelho. Na verdade podemos encontrar este tema já no capítulo 15 implicitamente sobre o filho pródigo que esbanja a riqueza numa vida desenfreada.

O que se enfatiza no texto do evangelho de hoje é a sagacidade do administrador em procurar soluções para seus problemas. Diante dos problemas existentes ele não fica de braços cruzados, nem desesperado. Ele vai atrás das soluções. O que Jesus elogia é a capacidade do administrador em buscar a melhor saída possível para seus problemas existentes para que seu futuro não seja comprometido, e não elogia a desonestidade do administrador. Jesus não elogia a desonestidade do administrador e sim a sua sagacidade em procurar a solução para o problema existente ou atual.

Ao lado da esperteza do administrador, Jesus censura o comportamento dos “filhos da luz”, os seus seguidores: “Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. Jesus quer nos dizer: “Vocês como filhos de Deus devem aprender a viver muito melhor do que este administrador. Vocês como filhos e filhas de Deus não devem ficar desesperados diante dos seus problemas porque o Pai do céu vão ampará-los e por isso, devem ser “colaboradores” de Deus.

Se este administrador que Jesus considera “filho deste mundo” que não acredita em Deus, não fica desanimado diante da situação crítica, os filhos da luz, aqueles que acreditam em Deus (todos nós), devem ser muito mais do que este. Porque a razão do ser de um filho de Deus é o próprio Deus que na sua misericórdia nos amou primeiro (1Jo 4,19) e nos salvou para si. Por isso, quem crê em Deus não é um otimista, pois ele não precisa do pensamento positivo. Quem crê em Deus também não é pessimista, pois ele não precisa da lógica da dialética negativa. Quem confia em Deus, sabe que Deus aguarda por ele, que Deus espera por ele, que ele está convidado para o futuro de Deus e tem em suas mãos, com isso, o mais maravilhoso convite de sua vida. Desespero é a doença mortal, doença do espírito, doença do eu (Kierkegaard), porque o desesperado não acredita mais em nada e em ninguém nem em Deus. Mas não adianta fugir; não adianta querer sumir diante da situação de ameaça e angústia. Tentar fugir é fugir da vida; fugir da vida é fugir de Deus porque Deus é a VIDA (Jo 14,6). E quem foge é porque não está livre.          

Os cristãos são convidados a não fugir deste mundo, mas a viver no meio do mundo com critérios de generosidade e desprendimento diametralmente opostos aos habituais. Jesus nos chama a reconhecermos a nossa força porque a graça de Deus nos basta (2Cor 12,9). Jesus nos convida a termos coragem (Jo 16,33).  Mas devemos ter coragem com previdência, pois a coragem sem previdência é imprudência. Porém, não basta ter somente previdência sem coragem, pois a previdência sem coragem faz a pessoa ficar escrupulosa. O cristão deve ser uma pessoa de esperança. Na angústia antecipamos o possível perigo, mas na esperança, a possível salvação. A esperança cristã consiste na certeza de conseguir um dia o anseio mais íntimo e verdadeiro de nosso coração apesar de todas as situações e contradições que façam difícil manter esta atitude. É uma esperança que respeita o “tempo de Deus”, mas que nos leva a trabalharmos para adiantá-lo.  A lei do cristão é descobrir o apelo de Deus em cada momento, na confiança inabalável de que tudo tem sentido e tudo é abrigado por um sentido absoluto, acolhido no mistério da plenitude de Deus. O cristão tem motivos para afastar de si qualquer tentação de desespero. Jesus Cristo é o exemplo mais alto e mais indiscutível. Perante a iminência ameaçadora da morte, Jesus, com toda a serenidade, tomou o caminho para Jerusalém (Lc 9,51). Se Jesus Cristo morreu de braços abertos, nós não podemos ficar com os braços cruzados.

Nós devemos nos mostrar criativos na prática da caridade e da misericórdia em relação aos pecadores, na solidariedade com os pobres e excluídos, na disponibilidade para o perdão e a reconciliação, no empenho para criar um mundo mais humano e fraterno onde a dignidade de cada pessoa é respeitada. Para qualquer cristão existe sempre algo a ser feito, alguma iniciativa a ser tomada, visando o crescimento da amizade com Deus. Importa estarmos sempre em ação, pois nós desconhecemos a hora do encontro com Deus. Por isso, devemos usar de esperteza para sermos dignos de salvação. Jesus quer nos dizer que devemos estar atentos ao momento presente, porque hoje, não amanhã nem ontem, temos nas mãos as possibilidades reais de fazer algo para nossa salvação. O hoje é o único que temos. Temos que ter a sagacidade em praticar o bem, a justiça, o respeito pela dignidade dos outros e assim por diante.

Esta parábola quer nos dizer também que não somos “proprietários” das coisas e sim “gerentes” ou “administradores”. Nossa relação com as coisas não é a de propriedade e sim de uso. Tudo o que possuo: meus bens, minhas qualidades, minhas riquezas intelectuais e morais, minhas faculdades afetivas, os aspectos do meu caráter, de tudo isto Deus pedirá conta. Não sou mais do que o gerente de tudo isto que me foi confiado por Deus e tudo continua pertencendo a Deus. Não tenho direito de menosprezar os dons de Deus. Terei que prestar contas das riquezas que não foram desenvolvidas ou não foram multiplicadas para o bem dos necessitados. O Senhor pede que abandonemos nosso olhar egoísta e míope e abramos nossos olhos para trabalhar colaborando para que o Reino de Deus chegue aos que são aleijados dele ou vivem dominados pela maldade.

Nesta Eucaristia o Senhor nos reúne para encher-nos de sua Vida e de seu Espírito. Ele não limita sua entrega para nós. Ele se dá plenamente a todos e a cada um de nós em particular. A presença do Senhor em nós é como uma grande luz que se acende; mas essa luz não pode se acabar sem que ilumine todos ao redor. Quem comunga o Corpo do Senhor se converte em portador de seu amor salvador para os demais. Se não a Eucaristia se tornaria um ato mágico que careceria de sentido. Não podemos denegrir o nome do Senhor em nós através de nosso egoísmo.

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 5 de novembro de 2024

07/11/2024-Quintaf Da XXXI Semana Comum

DEUS NOS AMA COM AMOR MISERICORDIOSO

Quinta-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Filipenses 3,3-8ª

Irmãos, 3 os verdadeiros circuncidados somos nós, que prestamos culto pelo Espírito de Deus, pomos a nossa glória em Cristo Jesus e não pomos confiança na carne. 4 Aliás, também eu poderia pôr minha confiança na carne. Pois, se algum outro pensa que pode confiar na carne, eu mais ainda. 5 Fui circuncidado no oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus. Em relação à Lei, fariseu, 6 pelo zelo, perseguidor da Igreja de Deus; quanto à justiça que vem da Lei, sempre irrepreensível. 7 Mas essas coisas, que eram vantagens para mim, considerei-as como perda, por causa de Cristo. Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor.

Evangelho: Lc 15, 1-10

Naquele tempo, 1 os publicanos e pecadores aproximaram-se de Jesus para o escutar. 2 Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. 3 Então Jesus contou-lhes esta parábola: 4 “Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? 5 Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, 6 e, chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’ 7 Eu vos digo: Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. 8 E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la? 9 Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’ 10 Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte”.

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Conhecer Jesus, O Salvador Do Mundo, É Maior Do Que Qualquer Riqueza Do Mundo

“Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor”.

Continuamos nossa reflexão sobre a Carta de são Paulo aos cristãos de Filipo.

Através do texto de hoje, ficamos sabendo que na comunidade de Filipo também há problemas com os judaizantes que, provenientes do povo de Israel, se aferravam à necessidade de seguir a Lei de Moisés, especialmente em relação à circuncisão, além do Evangelho de Jesus. São Paulo se põe a si mesmo como exemplo de uma pessoa que antes também pensava igual, mas mudou depois que conheceu Jesus: “Em relação à Lei, fariseu, pelo zelo, perseguidor da Igreja de Deus; quanto à justiça que vem da Lei, sempre irrepreensível. Mas essas coisas, que eram vantagens para mim, considerei-as como perda, por causa de Cristo. Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor” (Fl 3,5-8).

Os que aprisionam Paulo e querem sua condenação e morte são judaizantes de antiga observância, que se vangloriam de algumas inegáveis ​​vantagens humanas que certas pessoas privilegiadas têm pelo fato de pertencerem a uma origem privilegiada.

Não tenho a tendência de me apoiar nesse tipo de coisa também? O fato de pertencer a uma "boa família", de ter recebido uma boa educação (com títulos acadêmcios?)... ou, inversamente, o orgulho de fazer parte de "grupos avançados", com aquele profundo desprezo que se sente muitas vezes por todos aqueles que não pensam "como nós" que precisam ser eliminados? ...

Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor”. A conversão de são Paulo foi o passo de uma religião baseada em meios humanos a uma religião baseada no encontro pessoal com Jesus Cristo (Cf. At 9,1-9). O encontro verdadeiro com Aquele que é a fonte de vida traz uma mudança radical em sua vida e escolhas. Antes, como todos os fariseus, são Paulo tratava de viver “irrepreensível”, e por isso, se apoiava em títulos, em “pertença” a grupos ou etnias privilegiadas. Todas as “vantagens humanas” pareceram depois “irrisórias” para são Paulo depois que conheceu Jesus Cristo. Conhecer Jesus Cristo de verdade sempre supõe abandono e renúncia, pois Jesus Cristo é o maior tesouro do céu e da terra (cf. Mt 13,44-46). Quem não não encontra o valor supremo de sua vida, vive na mediocridade e numa vida com um horizonte limitado. Quem não descobre o valor mais alto na vida, encontra dificuldade na renúncia.  A incapacidade de renúncia mostra a pouco fé que se tem em Jesus Cristo. Quem não aprende a se renunciar infatiliza-se.

Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor”. A vida é um progresso. Aprendemos, crescemos e avançamos para nossas metas pouco a pouco. A escolha de pararmos de progredir também cabe a nós. Às vezes, até se faz necessário um breve período de descanso quando estamos percorrendo um caminho difícil. No entanto, é necessário, em seguida, retomar a jornada para começar de novo o processo de evolução. Para avançar, para progredir é preciso ter energia emocional, mental, espiritual, até física acompanhada pela fé no Deus da bondade e da vida.

Os judaizantes davam grande valor à sua circuncisão, sinal de sua pertença ao povo eleito de Deus. Para são Paulo o apego à circuncisão como a qualquer outra realidade religiosa, a não ser a adesão a Cristo e seus ensinamentos já é em si uma exclusão de Cristo, única fonte de confiança. A verdadeira circuncisão coniste em realizar o verdadeiro serviço a Deus no serviço aos irmão, especialmente aos mais necessitados. A verdadeira religião é a religião vivida e agida pelo Espírito (Rm 2m27s; 4,11s; Cl 2,11; Gl 6,12s) em que o amor reina na convivência para se tornar perfeito, do ponto de vista cristão (Cf. Rm 13,10). Somente Deus pode ser ponto de apoio, pois Ele é amor (cf. 1Jo 4,8.16). Aquilo que é humano e influenciado pela circunstância em determinado tempo e lugar pode ser avaliado e reavaliado seu verdadeiro valor. “Muitos homens tornam absoluto o relativo porque lhes foi mostrado um absoluto relativizado, em um Deus banalizado” (René Juan Trossero, escritor e psicólogo argentino).

Para são Paulo, o que está em jogo é o próprio significado do cristianismo. Para ser cristãos não precisa alguém ser judeu. Basta seguir e viver de acordo com os ensinamentos de Cristo. Ser cristão é adotar um modo de viver que são Paulo procura explicar. O que vale é viver sempre na espera e na dependência de Deus. É não ficar preso no passado e sim viver orientado para o futuro que Deus prepara. É romper com o passado para ter um olhar mais nítido a fim de captar e esperar os sinais de Deus, e pronto para começar tudo de novo cada dia. É viver disponível  e aguardar tudo de Deus, pois nada de Deus que nos prejuidique mesmo que seja doloroso. Os que olham para nosso estilo de vida como cristãos, terão que notar que nós cristãos fizemos opção pelos valores de Cristo acima de valores humanos, como a circuncisão que são Paulo fala no texto de hoje.

Por meio do Apóstolo Paulo somos lembrados a não iventar um Evangelho diferente ao que recebemos de Deus, Jesus Cristo, é o Evangelho vivente do Pai. O que de Jesus Cristo falaram alguns de seus apóstolos e discípulos não pode ser mudado por outro evangelho. O Senhor nos quer portadores da verdade e do amor, testemunhas do Evangelho vivente, que é Cristo, enviado pelo Pai como nosso Salvador (Jo 3,16).

Será que conhecemos, de verdade, Jesus Cristo? Quais são provas ou sinais de que conhecemos Jesus Cristo verdadeiramente? Quais são renúncias que fizemos depois que conhecemos Jesus Cristo?

Deus Me Ama Apesar Das Minhas Fraquezas e Do Meu Afastamento D´Ele

Estamos acompanhando Jesus no seu caminho para Jerusalém escutando suas últimas e importantes lições para todos nós, seus seguidores (Lc 9,51-19,28).

O capítulo 15 de são Lucas, onde se encontra o texto de hoje, é chamado “o coração do evangelho”. Ele nos transmite umas parábolas muito característica, as da misericórdia: hoje lemos a da ovelha agarrada e a da moeda perdida. A do filho pródigo, a mais famosa, lemos na Quaresma. Deus é rico em misericórdia. Seu coração está cheio de compreensão e clemência. Apesar de nos afastarmos d´Ele, Deus nos busca até nos encontrar e se alegra mais que o pastor pela ovelha e a mulher pela moeda.

Este Evangelho nos faz sentirmos o gozo, mas, sobretudo, a esperança. Quem não se sentiu alguma vez como a ovelha perdida? Não somente pelo pecado, mas também há tantos conflitos e problemas na vida! Todos nós conhecemos dias mais amargos de nossa vida. Mas nossa vida tem sentido porque Deus cuida de nós, nos ama e se alegra com nossas alegrias e soluciona conosco nossas dificuldades. Deus está sempre ao nosso lado e não ao lado de nosso pecado. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador.

Na passagem do evangelho de hoje Jesus nos revela o amor sem limite de Deus para todos nós, o amor misericordioso. Deus nos ama apesar de nossos pecados. Esse amor misericordioso deve nos fazer voltarmos para Deus. Quando tivermos consciência dessa verdade, viveremos na alegria permanente, e no constante ação de graças, pois saberemos que há Alguém que nos envolve e nos ama de todos os lados: nosso Pai do céu.

Com a passagem do evangelho de hoje, começam aqui as três parábolas chamadas de as parábolas da misericórdia: a parábola da ovelha perdida (Lc 15, 3-7); a da moeda de prata perdida (Lc 15,8-10); e a parábola do pai misericordioso, ou conhecida como a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). Ao contar estas parábolas Lucas procede do menos precioso (ovelha e moeda de prata) ao mais precioso (ser humano). Nestas três parábolas Jesus nos mostra, como uma característica do coração de seu Pai, a predileção com que seu amor se inclina até os mais necessitados, contrastando com a mesquinhez humana que busca sempre os triunfadores.

O que é admirável na parábola da ovelha reencontrada é a medida drástica que o pastor toma para buscar uma ovelha perdida. Ele deixa noventa e nove ovelhas para que a perdida possa ser trazida de volta ao aprisco. A ovelha não se desgarrou (cf. Mt 18,12), mas “se perdeu”, e o pastor toma a iniciativa de encontrá-la. Para nós uma ovelha não é igual a noventa e nove ovelhas. Para o Senhor, uma ovelah é igual a noventa e nove ovelhas. Cada um tem seu valor próprio. Por isso, o Senhor faz questão de ir atrás da ovelha perdida ou que se fez perder. Essa é a condição do pecador antes da conversão, e a resposta de Deus é buscar o perdido. Um cardeal escreveu que Deus não sabe matemática, pois deixa 99 ovelhas para buscar uma ovelha perdida. Isto nos mostra que cada um tem seu próprio valor diante de Deus. Outro aspecto que Lucas sublinha também é o tom de alegria que acompanha essa bem-sucedida conversão. Para Lucas, o resultado da verdadeira conversão é a experiência de estar perdido, depois encontrado, que leva à alegria sem limites.     

A segunda parábola é a da moeda reencontrada, desta vez usando uma mulher como personagem central. É uma parábola paralela do mesmo motivo. A mulher pobre faz tudo para encontrar a moeda perdida. ”Acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la” (Lc 15,8). Os verbos mostram o esforço incansável para recuperar a moeda perdida. Com essa solicitude, com essa impaciência amorosa, com esse carinho Deus se comporta como pai paciente e misericordioso que busca todos os meios para encontrar e salvar os perdidos.         

O tema de perdido e reencontrado culmina na parábola do Pai misericordioso ou na do filho reencontrado (filho pródigo). Na parábola do Pai misericordioso, não se trata mais de um animal, ainda que de estimação, como uma ovelha, nem de um objeto, mesmo precioso como uma moeda de prata, mas de um ser humano amado por Deus, por ser Seu filho ainda que seja um filho transviado. Cada um de nós é precioso nos olhos de Deus e ninguém escapa do olhar misericordioso de Deus. “Veja, Eu tatuei você na palma da Minha mão: suas muralhas estão sempre diante de mim “(Is 49,16). Basta que um de nós esteja perdido para que seja objeto da preocupação de Deus.

Por isso, Lucas 15 é o coração do Evangelho de Lucas. É quase um “evangelho“ dentro do Evangelho. Neste capitulo Jesus fala de sua doutrina sobre a Divina Misericórdia e a alegria de Deus por ter reencontrado o que estava perdido. Estes dois temas, misericórdia e alegria, são características da obra de Lucas. Por isso, sem dúvida nenhuma “a face mais bonita do Amor de Deus é a Misericórdia” (João Paulo II).

Para falar desse tema Jesus começou com esta frase, na parábola sobre a ovelha perdida: “Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?” (Lc 15,4).

A aritmética ou a matemática de Deus é diferente de nossa. Por isso, a matemática de Deus não é nossa. O número e a quantidade nos impressionam sempre. Para nós “um” não é igual a “noventa e nove”, pois o nosso critério é a quantidade. Contamos sempre fora da matemática de Deus. “Quem não conta com Deus, é porque não sabe contar” (Blaise Pascal, filósofo). Para Deus “um” é igual a “noventa e nove”, pois o critério de Deus é baseado sobre o valor de cada um. Cada homem tem um valor inestimável para Deus. É o mistério do respeito que Deus tem para cada um de nós. Cada um de nós é amado por Deus com um amor “pessoal”, “individualizado”. Deus ama cada um na sua individualidade. Sou amado por Deus independentemente da minha situação atual ou do meu passado. Ele me ama por aquilo que sou. E esse amor me potencia para melhorar minha vida e minha convivência.

“O pastor vai em busca da ovelha que se perdeu, até encontrá-la?. É precisamente aquela que se escapou, se perdeu. É para aquela ovelha perdida que o pensamento do pastor é dirigido. É assim nosso Deus! Um Deus que continua pensando nos que O abandonaram, um Deus que ama os que não O amam, um Deus que anda em busca de seus filhos perdidos e desaparecidos de Sua presença. É a ovelha que causa preocupação para Deus. Esta ovelha talvez seja eu, talvez seja você, porque podemos estar ausentes na presença de Deus, podemos comer diante de Deus e não com Deus (cf. Lc 13, 26-27).

E depois de encontrá-la, o pastor a põe nos ombros, cheio de júbilo (Lc 15,5).   É um homem, um pastor feliz, sorridente, exultante e muito contente. É assim que Deus é apresentado para nós. Deus é um Ser que se alegra, e de Sua alegria faz partícipes os demais. A alegria de Deus é encontrar novamente os filhos que estavam perdidos. Um só que se converteu passa a ter uma importância desmesurada diante dos olhos de Deus. Onde há experiência da graça de Deus (grego: “cháris”) sempre há alegria (grego: “chára”). Somente quando experimentamos que Deus é alegre e que nos contagia sua alegria é que poderemos renunciar a tudo sem sentir que nossa vida fique vazia. Nada é possível sem um coração alegre. A alegria é fonte de heroísmo. O esforço sem alegria gera ressentimento, pois não tolera os erros, como se comportam os fariseus criticados por Jesus.

Este evangelho nos faz sentirmos gozo, sobretudo esperança. Quem de nós que, alguma vez, não se sentiu como a ovelha perdida? Não só pelo pecado. Há tantos conflitos e problemas na vida. Todos nós conhecemos dias amargos na vida. Mas nossa vida tem sentido porque Deus cuida de nós, nos ama, se alegra com nossas alegrias e nos consola nas nossas tristezas. Além disso, precisamos estar conscientes de que onde estivermos, para onde formos, em que situação nos encontrarmos, Deus continua nos amando do mesmo jeito, pois para Ele  cada um tem nome (cf. Is 43,1) e nosso nome está tatuado na palma das mãos de Deus (cf. Is 4916). Quando tivermos essa consciência, aconteça o que acontecer, Deus é nosso Pai que nos ama eternamente (cf. Jr 31,3). Como é bom saber que nós somos amados de Deus e por Deus. Essa consciência nos leva a vivermos nossa vida com força total e com carinho. Sabemos que Deus nos ama e cremos no seu amor.

P. Vitus Gustama,svd

06/11/2024-Quartaf Da XXXI Semana Comum

OBEDECER E RENUNCIAR POR AMOR NO SEGUIMENTO DE CRISTO JESUS

Quarta-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Filipenses 2,12-18

12 Meus queridos, como sempre fostes obedientes, não só em minha presença, mas ainda mais agora na minha ausência, trabalhai para a vossa salvação, com temor e tremor. 13 Pois é Deus que realiza em vós tanto o querer como o fazer, conforme o seu desígnio benevolente. 14 Fazei tudo sem reclamar ou murmurar, 15 para que sejais livres de repreensão e ambiguidade, filhos de Deus sem defeito, no meio desta geração depravada e pervertida, na qual brilhais como os astros no universo. 16 Conservai com firmeza a palavra da vida. Assim, no dia de Cristo, terei a glória de não ter corrido em vão, nem trabalhado inutilmente. 17 E ainda que eu seja oferecido em libação, no sacrifício que é o sagrado serviço de vossa fé, fico feliz e alegro-me com todos vós. 18 Vós também, alegrai-vos pelo mesmo motivo e congratulai-vos comigo.

Evangelho: Lc 14, 25-33

Naquele tempo, 25 grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: 26 “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. 28 Com efeito: qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, 29 ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo: 30 ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’ 31 Ou ainda: Qual rei que, ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? 32 Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei ainda está longe, envia mensageiros para negociar as condições de paz. 33 Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!”

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Ser Obediente à Vontade Do Pai a Exemplo De Cristo Para Alcançar a Vida Em Plenitude e Viver Em Harmonia com Todos

Meus queridos, como sempre fostes obedientes, não só em minha presença, mas ainda mais agora na minha ausência, trabalhai para a vossa salvação, com temor e tremor”.

Continuamos nossa leitura e reflexão sobre a Carta de são Paulo aos Filipenses.

No Primeira Leitura que lemos hoje são Paulo começa o texto nos mostrando que Cristo entrou na glória porque consistiu até o fim em sua condição de homem, por obediência ao Pai. Para são Paulo esta também é a única via de salvação para nós.

Dentro do Novo Testamento, “obediência” é uma das palavras bastante usadas pelo são Paulo. Trata-se de uma marca paulina (Rm 6,17; 16,19; 2Cor 7,15; 10,6; 2Ts 3,4; Filemon 21). Nos evangelhos se encontram apenas cinco vezes a mesma palavra (Mc 1,27; 4,41; Mt 8,27; Lc 8,25; 17,6). A palavra obediência tem sua raiz na palavra “escutar”. São Paulo usa a expressão “obediência de fé” (Rm 1,5; 16,26) com a qual ele expressa a abertura à vontade de Deus que a fé exige. São Paulo pede que os Filipenses permanecem abertos e obedientes à vontade de Deus mesmo na sua ausência.  

Ser obediente à Palavra de Deus mostra que realmente depositamos nossa fé e salvação em Deus.  Se fizermos o contrário é porque nossa fé é apenas de boca para fora. A mesta da fé é a nossa salvação. Quando, pela misericórdia de Deus, tivermos a graça de ver Deus face a face, não necessitaremos mais da fé (Cf. Hb 11,1). A meta que queremos alcançar nos dá a capacidade de suportarmos qualquer situação, pois nosso olhar é sempre posto na meta alemejada. Aquele que vive sem meta, desiste com facilidade diante de qualquer dificuldade ou desafio. Nossa fé com a esperança da salvação deve nos levar a tarbalharmos constantemente com muita humildade, não atuando por medo de castigo de Deus e sim realizando nossa vida como uma manifestação de amor a Deus e ao próximo.

Agir em vista da unidade comunitária é obedecer a Deus, pois salvar é unir e reunir as pessoas como uma comunidade de irmaos na qual Deus é o Pai comum de todos. Quando um cristão realiza o bem da sua comunidade, Deus na verdade está agindo nele e por meio dele. O bem atrai o bem. A bondade atrai a bondade. O exemplo sempre arrasta os outros para a mesma causa: o bem e a bondade. Ninguém resiste diante da bondade.

“Trabalhai para a vossa salvação, com temor e tremor”.  A expressão “santo temor” (temor e tremor) é uma expressão basicamente tirada do Antigo Testamento (cf. Gn 9,2; Ex 15,16; Dt 2,25). Quando Paulo a utiliza expressa uma atitude de humildade e de reconhecimento da própria debilidade em ordem a conseguir a salvação. Dentro deste sentido, a expressão “temor e tremor”  se impõe aqui como cuidado para não ofender o próximo, que é a passagem para chegar à salvação, que resulta na perturbação na vida comunitária. É um estado de vigilância para evitar os atritos com os irmãos (Cf. 1Cor 2,3; 2Cor 7,5; Ef 6,5).

Dentro deste contexto, as recomendações de são Paulo no texto de hoje são para nós muito subastanciosas: “Fazei tudo sem reclamar ou murmurar”, “livres de repreensão e ambiguidade, filhos de Deus sem defeito”, já que “no meio desta geração depravada e pervertida”, e nós cristãos devemos “brilhar como os astros no universo” mostrando razão de viver. No fundo, tudo isto é o convite para a santidade. É um esforço humano no processo da salvação. É um amor de entrega e serviço que nem diante da morte se separa.

O texto de hoje termina com uma chave litúrgica que aproxima o culto à vida: a vida de fé dos Filipenses é o “sacrafício litúrgico” (em grego “thysia” e “leitouria”, sacrifício e liturgia). E são Paulo está disposto a derramar seu próprio sangue como libação sobre esse sacrifício e faz isso com alegria: “E ainda que eu seja oferecido em libação, no sacrifício que é o sagrado serviço de vossa fé, fico feliz e alegro-me com todos vós. Vós também, alegrai-vos pelo mesmo motivo e congratulai-vos comigo”.

O que é uma libação? Libação é um ato que consiste na aspersão de um líquido sobre o sacrifício em intenção de uma divindade.Nos sacrifícios antigos era bastante frequente derramar um líquido sobre a vítima do sacrifício, por exemplo, azeite ou vinho ou água. Também derramavam  um líquido sobre o altar ou sobre o chão. A libação que são Paulo aplica para si alude às suas penas e fadigas apostólicas. Porque nunca se dá o nome de libação ao ato de derramar sangue.

Tudo que são Paulo fala para os Filipenses é um bom programa de crescimento em nossa fé e de testemunha diante dos demais. quando um cristão tem riqueza interior de fé, ele dá um testemunho crível sem necessidade de um belo discurso. As palavras apenam movem. Mas o bom testemunho ou um bom exemplo arrasta as pessoas para o bem. O bom exemplo ou um bom testemunho reflete a razão de nossa vida.

Portanto, são Paulo nos convida a não nos deixarmos viver como cristãos pelas simples aparências. Com nosso exemplo ou testemunho queremos mostrar a razão de nosso viver em Deus, que tem a última palavra sobre a humanidade.

Seguir a Jesus Firmemente Apesar De Tudo

Continuamos a acompanhar Jesus no seu Caminho para Jerusalém onde Ele será crucificado, morto e glorificado (Lc 9,51-19,28). Durante este caminho Jesus deu aos seus discípulos Suas últimas lições. As lições apresentadas no texto do evangelho de hoje são sobre as condições para seguir a Jesus. O que nos torna verdadeiro discípulo de Jesus?

O evangelho deste dia nos recorda sobre o seguimento renunciante. Para ser um verdadeiro cristão é preciso aprender a renunciar a muita coisa na vida. A falta de renúncia atrasa e infantiliza a vida. Renunciar não é um ato negativo e sim uma opção por aquilo que é superior na escala de valores. Renunciar é, por isso, um momento de crescimento e de amadurecimento. E cada renúncia supõe o amor. Se cada renúncia não se complementa por, com e no amor, a renúncia pode se converter em anti-entrega. Somente o amor é que transforma qualquer renúncia em doação gratificante. Somente quem é livre é que capaz de libertar os outros.

É preciso sabermos que as condições do seguimento apresentadas por Jesus têm caráter universal, pois são dirigidas às multidões que o acompanham em seu caminho para Jerusalém. Todas elas são centradas no caráter global que tem o seguimento de Jesus.

E Jesus nos adverte que o seguimento em questão não é fácil. Podemos explicar isso através do texto do evangelho de ontem em que muitos não aceitaram o convite para participar do banquete do Reino, pois é exigente e não se trata somente de sentar-se à Sua mesa (cf. Lc 14,15-24). É necessário cumprir as exigência básicas.

Hoje Jesus nos diz que para ser seus discípulos temos que colocar a importância do Reino acima dos sentimentos familiares, pois a nossa salvação está em jogo: Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Assim Jesus começou suas lições sobre o seguimento.

Somos advertidos sobre onde colocamos nosso maior amor, como a primeira condição para ser discípulo do Senhor. O amor sem condições e sem fronteiras não é um suave sentimento muito tranqüilo e fácil. É uma revolução. Jesus pede uma renúncia total para que nossa entrega a Ele seja total. Sabemos que Jesus quer que amemos aos nossos (cf. Jo 13,34-35; 15,12). O amor filial, o amor conjugal, o amor fraterno são “sagrados”. Todavia, o amor de Deus, que nos sustenta, anima e salva, deve ser maior. É preciso elevar o amor familiar para o nível divino, isto é, é precisor amar a família dentro do contexto da salvação.

Trata-se, desta primeira condição, de uma opção radical pela pessoa de Jesus e pela nova escala de valores que Ele propõe. Os valores do Reino devem estar acima de tudo, pois são salvíficos. Quem não fizer opção pela Vida, por excelência, que o próprio Jesus personifica (cf. Jo 11,25; 14,6), terá que contentar-se com uma vida raquítica, isto é uma vida limitada sem desenvolvimento e não conseguirá jamais superar os problemas que estabelecem as relações humanas.

A segunda condição é conseqüência da anterior: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. A exemplo de Jesus, cada discípulo deve estar preparado para afrontar a recusa da sociedade que vive os valores contrários aos do Reino. O discípulos tem aceitar a sensação de fracasso ou experimentar o aparente fracasso. O “aparente fracasso” porque a última palavra sobre o homem será a de Deus e não a do homem. O discípulo deve estar preparado para sentir a sensação sem segurança.

Ao seguir a Jesus ficamos frente a frente com a cruz: a cruz da contrariedade, a cruz da injustiça, a cruz da desonestidade, a cruz da perda de um inocente, a cruz da corrupção e assim por diante. E Jesus continua nos chamando a caminhar atrás dele vivendo uma vida honesta, justa, fraterna no amor. A cruz nos convida a nos deixarmos contagiar pelo amor. Quem carrega a cruz com amor, une-se a Cristo. Quem a carrega sem amor, encontra-se com condenação. Por isso, há cruz com Cristo, mas há cruz sem Cristo. Cada cruz tem sua história e cada história tem sua cruz no seguimento de Jesus Cristo.

Carreguemos nossa cruz de cada dia, sendo fieis à missão que o Senhor nos confiou de anunciar Seu Evangelho. Sejamos um Evangelho encarnado do amor de Deus para os demais. Passemos a vida, como Cristo, fazendo o bem a todos (cf. At 10,38). Somente edificaremos a Igreja sobre a Pedra angular que é Cristo, se renunciarmos a nossos egoísmos, a nossas injustiças, a nossas paixões ordenadas, a nossas inclinações desenfreadas aos bens materiais ou ao poder. Cristo nos quer livres de toda carga de maldade, de toda injustiça e de todo sinal de morte.

Podemos dizer que a moral cristã é uma moral simples que tem seu grande ponto de referência no amor ao próximo: “Não fique devendo a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei. O amor é o cumprimento perfeito da Lei”, diz São Paulo aos romanos (Rm 13,8.10). Todos os preceitos da ética cristã ficam profundamente condicionados pelo preceito do amor ao próximo. Por isso, uma falta contra qualquer dos preceitos se descobre como uma falta contra a lei do amor. Todas as injustiças são conseqüências da falta de amor. Para os justos, os bons, os honestos, os que têm amor no coração não necessitariam de nenhuma lei.

Amar, não tem término. Há que avançar sempre no amor para alcançar o Deus de amor (1Jo 4,8.16). Amor é um grande desafio de cada dia, pois ele é essencial para os seres humanos e sua convivência diária a fim de chegar à sua plenitude, à sua salvação. Por ser essencial, tudo deve partir dele e nele tudo deve terminar. Quando cumprirmos as leis civis, diremos que estamos dentro da lei. Mas o amor é uma “chamada” dirigida a todos para que o ser humano seja mais humano a fim de ser mais divino.

A partir do amor podemos entender o seguimento renunciante de Jesus, que nos recorda a passagem do evangelho lida neste dia. Jesus, para levar até o fim Sua missão salvadora da humanidade, renunciou a tudo, inclusive, a sua vida. Por isso, foi constituído Senhor e Salvador de todos. E nos diz que também nós devemos saber carregar a cruz de cada dia para fazer o bem como Ele e com Ele.

A fé em Cristo abarca toda nossa vida. Por isso, para ser um verdadeiro cristão é preciso aprender a renunciar a muita coisa na vida. Renunciar não é um ato negativo e sim uma opção por aquilo que é superior na escala de valores. Cada renúncia supõe o amor. Se cada renúncia não se complementar por, com e no amor, a renúncia poderá se converter em anti-entrega. Somente o amor é que transforma qualquer renúncia em doação gratificante.

A adesão a Jesus leva cada pessoa ou cada cristão a um comportamento novo diante de todas as coisas e diante de todas as pessoas, inclusive diante das pessoas que tem uma ligação afetiva.

Para ser seus discípulos, Jesus não nos pede que cumpramos as regras, ou que sejamos bons. Tudo isso é necessário. Jesus nos pede que sejamos absolutamente disponíveis. Ser discípulo de Jesus não é somente ser bom, pois todos têm que sê-lo independentemente de ser ou de não ser cristão. Ser discípulo de Jesus é ser diferente, por ser disponível e pronto para renunciar a tudo pelo valor superior, pela salvação. Ser cristão é sério e difícil. Por isso, muitos caminham com Jesus, mas poucos chegam a ser discípulos.

Nesta Eucaristia ou celebração, o Senhor nos manifesta quanto nos ama, dando sua vida por nós todos, e fazendo-nos participes da Vida que Ele recebeu do Deus Pai. Em seu amor por nós, Jesus carregou sobre si nossos pecados para nos redimir. Por isso, ele se converteu para nós no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Entremos em comunhão de vida com Ele e estejamos dispostos a ir atrás de suas pecadas, carregando nossa cruz de cada dia. Carreguemos nossa cruz de cada dia, sendo fieis à missão que o Senhor nos confiou de anunciar seu Evangelho de salvação. Sejamos um evangelho encarnado do amor de Deus para os demais. Vivamos fazendo o bem para todos.

Que Deus nos conceda a graça de viver com lealdade nossa fé em Jesus Cristo para que, sendo luz em meio das trevas do mundo, colaboremos para que todos encontrem o caminho que leva a Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6), Luz das nações e salvação para todos os homens.

P.Vitus Gustama, SVD

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

05/11/2024- Terçaf Da XXXI Semana Comum

PARTICIPAR DA ALEGRIA DE DEUS EM COMUNHÃO COM OS IRMÃOS ATRAVÉS DO DESPOJAMENTO

Terça-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Filipenses 2,5-11

Irmãos, 5 tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus. 6 Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, 7 mas ele esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, 8 humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. 10 Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, 11 e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor” para a glória de Deus Pai.

Evangelho: Lc 14,15-24

Naquele tempo, 15 um homem que estava à mesa disse a Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!” 16 Jesus respondeu: “Um homem deu um grande banquete e convidou muitas pessoas. 17 Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: ‘Vinde, pois tudo está pronto’. 18 Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um campo, e preciso ir vê-lo. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 19 Um outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-las. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 20 Um terceiro disse: ‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’. 21 O empregado voltou e contou tudo ao patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado e disse ao empregado: ‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos’. 22 O empregado disse: ‘Senhor, o que tu mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’. 23 O patrão disse ao empregado: ‘Sai pelas estradas e atalhos, e obriga as pessoas a virem aqui, para que minha casa fique cheia’. 24 Pois eu vos digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete”.

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Jesus Cristo Se Humilhou e Se Fez Pequeno Para Nos Salvar

Continuamos a acompanhar a leitura e a reflexão sobre a Carta de são Paulo aos Filipenses. A passagem de hoje é continuação da passagem do dia anterior.

O texto de hoje é uma passagem conhecida, que parece ser um hino antiquíssimo dos primeiros cristãos que são Paulo incorporaria na sua Carta aos cristãos de Filipo.

O que são Paulo quer destacar no texto de hoje é a união que há entre a exortação moral de são Paulo aos Filipenses para que evitem as dissenções,  e a motivação cristológica dessa exortação. O que Paulo propõe aos cristãos de Filipos é muito mais do que um ideal humano de "boa harmonia", é muito mais do que "ceder para que haja paz"... A busca da unidade pela humildade é muito mais do que uma exortação moral em uso entre os sonhadores de "comunidades unidas".

A principal motivação que são Paulo dá aos Filipenses para que evitem as dissenções  que ameçam a vida de toda a comunidade é “porque Deus nos amou”. Mas como sabemos disso? Porque  Cristo, sendo de condição divina, desceu até nossa condição humana, se humilhou, abandonou o poder e entrou por este caminho do amor humilde, de amor solidário, e se fez obediente até a morte.

Além de ser obediente ao Pai, Jesus Cristo é obediente à realidade humana, ao que exige a realidade de viver como homem. Como Cristo nos resgatou? Pela livre aceitação das insondáveis disposições de Deus; aceitando o caráter duro, inflexível e pesado da vida humana; pela obediência à sua "condição humana" que inclui a mortalidade. Aceita a condição do homem incluindo a morte que se aninha em seu seio e para a qual se dirige dia a dia, vendo nela uma insondável disposição divina vinda do amor do Pai. Desceu das alturas da glória divina onde preexistia... Ao fundo da humilhação e da morte.

Isto quer dizer que Cristo, ao fazer-se homem, não o fez com condições especiais. É que Ele era Deus (Jo 1,1-2.14). Ele se submeteu “obediente até a morte”, a tudo que comporta viver como homem: condicionamentos físicos e materiais (fome, sede, calor, fatiga); condicionamentos econômicos e culturais (os da própria sociedade de seu tempo, cultura limitada, meios pobres, oportunidades concretas mais ou menos reduzidas), e, sobretudo, condicionamentos sociais, que lhe implicam nos interesses (legítimos ou ilegítimos, puros ou bastardos) do povo de seu tempo que O ama e é amado por Ele; os que o aceitam ou o recusam e os que o matam porque não atende aos seus anseios. Fez-se obediente à realidade humana, tao complexa, promovendo tudo o que era verdadeiramente humano e recusando tudo o que era contrário ao homem.

É precisamente isto que são Paulo recomenda aos Filipenses: “Irmãos, tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”. Ele nos transmite um hino cristológico, certamente anterior a ele, que talvez a comunidade conhecesse e cantasse. É um hino que em poucas linhas exprime o mistério pascal de Cristo, a sua morte e ressurreição, a sua humilhação e a sua glorificação por Deus: despojou-se da sua posição... rebaixou-se até à morte... Deus o ressuscitou acima de tudo .. como Senhor do céu e da terra.

São Paulo traz para nós o texto d e hoje para que aprendamos uma lição de humildade e dedicação aos outros. Assim como Jesus não "ostentou sua condição de Deus" e se fez igual a nós, rebaixando-se até a morte na cruz, também nós devemos estar abertos aos outros, sem nos julgarmos superiores a ninguém ou reivindicar grandeza. Pelo contrário, rebaixando-nos como os últimos, "como aquele que serve". O caminho da elevação passa pelo caminho de descida. O Caminho para a divindade passa pelo caminho da humanidade. Jesus era tão humano a ponto de ser tão divino.  A ressurreição passa pelo caminho da cruz.  Deus se torna homem para que o homem se torne divino. Cristo Jesus entra no nosso tempo (kronos) para que nosso tempo se torne o tempo da graça (kairós). Cristo Jesus desce até a nossa humanidade para que possamos subir até a divindade.

Irmãos, tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”. Este é o modo de viver "em Cristo", que, sendo de condição divina, não quis reivindicar sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens. Por isso, não se trata de puros sentimentos. Antes, trata-se de disposições pessoais de querer julgar, apreciar, de escolher as coisas conforme o discernimento de Jesus Cristo. Concretamente, trata-se de esvziamento da Cruz em que Jesus é totalmente obediente à vontade de Deus. Jesus Cristo se esvaziou totalmente (Kenosis) a fim de a vontade de Deus reinar na sua vida e na sua atividade apostólica. É a mesma obediência à realidade humana e ao Pai, ainda que tudo isso possa custar a vida, “até a morte”. Desta maneira, chegaremos ao núcleo desta Carta: a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo.

A vida de Jesus é assumir a situação dos outros e ver como, a partir dentro dessa situação, se pode criar a relação filial com o Pai e relação fraterna com os irmaos. É olhar para o exemplo de Jesus que deixou a condição divina para salvar os homens, fazendo-se um de nós (Jo 1,14). Se quisermos salvar a humanidade, se quisermos praticar o bem no puro sentido, se quisermos amar de verdade (ágape), temos que nos esvaziar de tudo para que o querer divino em salvar a humanidade possa operar através de nós. Não podemos ser verdadeiros evangelizadores sem este esvaziamento (Kénosis).

Por isso, não podemos ler este texto sem sentir uma grande emoção, uma forte sacudida, uma iluminação sobre o mistério de Cristo. Este hino cristológico é uma joia por ser antigo, pela beleza, por ser conciso, por ser inspirador. De fato, diante dos olhos de Deus somos tão valiosos a ponto de Deus fazer-se carne para nos salvar. Por isso, este hino não pretende somente dar uma lição moral, “ter os mesmos sentimentos de Cristo”, e sim, uma exposição profunda e poética do mistério de Cristo em sua Encarnação, sua Paixão e sua Exaltação.

São Paulo coloca este hino de louvro na Carta aos Filipenses em agradecimento por ter experimentado a kénosis (esvaziamento/despojamento). A kénosis, o despojamento total é dar lugar na nossa vida para a riqueza da graça de Deus. O homem que se deixa conquistar pela kénosis de Cristo, deixa de estar alienado, egoísta, prepotente e agarrado a qualquer coisa ou a qualquer poder, mas sente-se livre em Cristo pelo seu Evangelho. O despojamento se torna, então, um encontro libertador consigo mesmo e pronto para ajudar o próximo. Quem é livre pode libertar os outros.

A parábola de Jesus dos convidados que se autoexcluem do banquete, no Evangelho de hoje, representa o mistérioso diálogo entre a graça e a liberdade. Jesus fala de um Reino gratuito, representado por um banquete, mas os convidados se recusam dessa gratuidade, mas preferem asseguram suas posições econômicas. Quem busca a segurança em si próprio, se exclue da graça divina. "Ser salvo" é seguir os passos de Cristo e, confiando em sua graça, adotar sua mesma atitude.

Somos Chamados A Participar Do Banquete Divino Gratuitamente

Estamos com Jesus no Seu caminho para Jerusalém, escutando atentamente seus últimos e importantes ensinamentos para todos nós cristãos em qualquer época e lugar (Lc 9,51-19,28). Trata-se das lições do Caminho.

O texto do evangelho lido neste dia fala do banquete ou da comida comunitária. A comida, o banquete é, em todas as culturas, um dos maiores símbolos de unidade comunitária e familiar e da amizade. Na cultura semita o banquete era o símbolo da máxima comunhão. Participar do banquete significa participar (fazer parte) da comunhão ou da comunidade ou da família em questão.

Jesus aproveita este valor cultural para ressaltar os valores do Reino. Na verdade o Reino de Deus não é uma realidade longe de nossa cotidianidade. O Reino de Deus é precisamente a máxima realização dos ideais humanos de fraternidade, de solidariedade, de comunhão, de igualdade e de justiça. E precisamente no comer comunitário ou na festa comunitária se vivem os sinais que mostram como possível ou realizável o Reino de Deus entre os seres humanos. Para isso, há que ter uma disponibilidade generosa e a aspiração de construir algo maior do que os pequenos negócios e trabalhos particulares ou individuais.

A parábola do banquete é muito rica. Seus elementos recordam outros elementos. A recusa de alguns para o convite do banquete e a aceitação de outros nos recordam, por exemplo, a distinta sorte da semente na parábola do semeador (cf. Lc 8,4-8: algumas sementes caíram à beira do caminho, outras no pedregulho, no meio de espinhos e em terra boa). E o convite que se estende aos pobres, aos cegos, aos coxos faz pensar na busca dos perdidos. Na verdade, para o próprio Deus ninguém é perdido, pois Ele vai atrás de cada um dos homens. Mas o homem precisa correr aos abraços de Deus para sentir novamente a importância de uma comunhão no amor. O amor nos humaniza e nos diviniza, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Vamos destacar alguns pensamentos ou alguns elementos sobre a parábola do convite ao banquete:

1. O Reino de Deus é festivo, precioso e alegre. Ele é semelhante a um banquete, a um tesouro, a uma pérola maravilhosa. Por isso, ele é superior a qualquer valor no mundo. Viver o Evangelho de Jesus é viver na alegria apesar das dificuldades passageiras. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”, escreveu o Papa Francisco (Evangelii Gaudium (EG) n.1). Para viver na alegria do Evangelho, segundo o Papa Francisco, é preciso aprendermos a viver na partilha ou na doação: “Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais” (EG n. 10).

2. A parábola também destaca que a entrada no banquete não é livre, pois não se trata de direito; requer-se um convite. Um patrão chama, um rei convida. E o convite é um ato de graça, e quem convida quer difundir sua alegria, manifestá-la e quer que os outros participem na mesma alegria. É um ato generoso. Cada generosidade é criadora, pois prolonga o ato criador de Deus que criou e cria tudo para nós graciosamente e gratuitamente. Deus nos chama através de vários sinais para que possamos participar da alegria divina que não depende das coisas materiais, embora sejam necessárias, mas da comunhão de vida trinitária onde o amor circula livremente dentro da própria pessoa e entre as pessoas. Não há alegria maior do que amar e ser amado. Não é por acaso que Jesus nos deu apenas um mandamento: o amor (cf. Jo 13,34-35; 15,12). Deus está no ato de amar. Amar expressa a qualidade de vida com Deus e em Deus.

3. O convite é sério e exige empenho. O acento é muito forte sobre este aspecto. É um convite de amor que compromete a vida. É evidente, aqui, o salto de qualidade entre o humano e o divino. Um convite humano pode ser aceito ou recusado. Se for recusado não haverá nenhum prejuízo para quem recusa o convite. Também se for aceito, não há comprometimento existencial. Mas o convite de Deus é diferente. Deus é tão misterioso, maravilhoso que, ao convidar, compromete, e é um compromisso que muda totalmente a vida, transfigura-a e faz a vida nova e renovada. Se o convite de Deus tem como objetivo mudar de vida para a melhor a fim de alcançar a salvação que é uma alegria sem fim, então, aquele que o recusa é considerado como insensato e irracional. É como aquele que quer agarrar um dólar e recusa uma oferta de um milhão de dólares gratuitamente. Só poderia ser um irracional e insensato.

4. O convite é dirigido a todos e não apenas para os privilegiados ou elites ou para os santos ou os certinhos. Aqui encontramos o amor de Deus dirigido aos perdidos da vida, aos coxos, aos excluídos da sociedade, a todos, pois todos são os filhos e filhas do mesmo Pai: “Tomai todos e comei. Tomai todos e bebei!”, assim Jesus nos convida em cada banquete eucarístico. Trata-se do banquete celeste já na terra.  Isto significa que o rei que é Deus quer todos, ama a todos cujo único objetivo é salvar. Então, eu não sou excluído desse amor. Deus me ama e creio no seu amor. O amor de Deus me alcança e me abraça. Por isso, não há uma Igreja de elites, há sim uma Igreja para todos onde há espaço para todos. O convite se faz na primeira hora, nas horas intermediárias e nas ultimas horas. A santidade não depende dos anos na Igreja e sim depende da renovação da chamada em cada instante. Por isso, a Igreja é chamada santa e pecadora.

5. Como cristãos somos todos discípulos-missionários. Na parábola o dono da festa manda os empregados a chamarem todos os convidados para o banquete. Os convidados especiais recusaram o convite. Mas quando o convite foi lançado para os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos, estes prontamente o aceitaram. É preciso sermos simples e humildes para poder captar os sinais do convite de Deus na nossa vida.

Todos nós somos enviados para chamar todos a participarem do banquete da salvação. A missão nasce da fé em Deus. A missão é a conseqüência da fé em Deus. A fé é o bem supremo para nós, porque ela é o fundamento e a raiz da salvação plena e total do homem. “... Urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei, n.4).  O impulso missionário nasce da profundidade da fé, do encontro vivo com deus, da vivência da fé, da alegria da fé, da fatiga da fé, do sofrimento pela fé. A missão é a proclamação da fé. Sendo em si mesma um bem maior, a fé pede, por sua natureza ser difundida. A Igreja enquanto comunidade de fé é missionária. “Propagar a fé é o primeiro dever do cristianismo, é a caridade maior; todas as outras obras de caridade estão unidas e subordinadas a esta suma obra” (Cardeal Carlo Maria Martini). Todo cristão é missionário e por isso, é enviado.

6. Cada um é chamado para o banquete eterno, mas é tentado ao mesmo tempo pela aparência bela das atrações do mundo. O pecado tem aspecto atrativo. Mas quando alguém estiver nos seus abraços, ele o sufoca e o agarra. Para sair dos seus braços supõe a existência de uma força maior e a vontade sem limite para sair desses abraços. Quem tem objetivo para melhorar a vida, sempre arranja um jeito e somar forças para alcançá-lo. Como quem ama loucamente encontra sempre jeito para agradar o outro.

Deus convida cada um de nós diariamente à sua alegria que é redentora. Diante desse convite, você é insensato e irracional ou sensato e racional? Quais são minhas justificativas ou recusas habituais toda vez que fui ou for convidado para fazer parte da equipe que trabalha para o bem comum na minha comunidade? Que contrapõe ao que Deus espera de mim? Qual lugar ocupa Deus na minha vida?

P. Vitus Gustama,svd

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