01 de Janeiro
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
DIA MUNDIAL DA PAZ
01 de Janeiro
Textos de Leitura: Nm 6,22-27; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21
“Partir às pressas” simultaneamente significa seriedade, empenho,
solicitude, zelo,
entusiasmo, ardor.
Quem recebeu a revelação
do projeto de Deus,
quem sentiu-se inserido pessoalmente em
tal projeto,
nota em
si o sentido
da urgência da salvação; a urgência que
pode conviver com
a “paciência”, se esta for modelada sobre a paciência
de Deus, que
é uma paciência de longa
visão, e por
isso mesmo
muito diferente
da resignação. Santo
Ambrósio comenta essa pressa com uma expressão
latina quase
intraduzível: “Nescit tarda
molimina Spiritus Sancti gratia” (a graça
do Espírito Santo
não admite demora).
E como se nos
dissesse que algo,
decidido interiormente
no coração com
profundidade, seja feito,
porque caso
contrário, acaba morrendo. Isto vale também para as pequenas coisas:
uma carta que
devemos escrever ou
responder; uma visita
que nos
custa; uma iniciativa
que nos
pesa; um
trabalho que
decidimos fazer e que,
no entanto, continuamos a adiar; um perdão que
devemos oferecer; uma palavra
de amiga que
devemos pronunciar etc. Os adiamentos,
os atrasos, nos
desgastam e nos consomem internamente.
Depois de serem os destinatários privilegiados do seu
Evangelho e de haverem feito a experiência
do encontro pessoal
com Jesus, os pastores
tornam-se seus mensageiros.
Todos os que
os ouviam, por sua
vez, admiram-se das maravilhas
operadas por Deus.
O anúncio dos pastores
produz esses frutos
porque está baseado
na experiência do que
viram e ouviram no encontro pessoal com
Jesus.
Quem faz a experiência do encontro
pessoal com
Jesus não a guarda
para si, mas vai sem demora ao encontro
dos outros para
anunciar o que
viu e ouviu. Quem “ouviu”
verdadeiramente o Evangelho não permanece como
era antes
nem fica parado no lugar
onde estava.
Há, no entanto,
um claro
contraste entre
a alegria dos pastores
e a admiração de todos
os que os ouvem, por
um lado,
e a atitude contemplativa de Maria, por outro. Os verbos usados por
Lucas para descrevê-la(grego:
syntereo e symballo) significam acolher, guardar, conservar e ponderar as palavras
e os acontecimentos visto
e ouvidos. Só
com respeito
a Maria é dito que
a mensagem recebida, os fatos e as palavras,
são cuidadosamente conservados e
meditados, na memória do seu coração, como um tesouro, para compreender
mais clara
e profundamente seu
significado salvífico.
Maria, como
nós, viveu sua
fé numa atitude
permanente de receptividade e de abertura. Ela
passou pela noite
escura da fé
para depois compreender o significado
do mistério de Deus.
Só chegou a conhecer
o verdadeiro significado
da pessoa, da vida
e da missão de Jesus depois da ressurreição
e de pentecostes (At 1,14). Maria é o modelo do ouvinte da Palavra de Deus.
O nosso
texto termina com
esta frase: “Quando se completaram os dias
para circuncisão
do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como
fora chamado pelo
anjo antes
de ser concebido” (v.21). Lucas é o único evangelista
que menciona a circuncisão.
Através desse rito,
o menino judeu
passava a fazer parte
do povo de Deus,
tornando-se destinatário das promessas feitas
a Abraão e à sua descendência
(cf. Gn 17,9-14.23-27; 34,14-16;At 7,8). A circuncisão
era ao mesmo
tempo sinal
da aceitação das exigências
da Aliança e da fidelidade
de Deus ao seu
povo. Ao submeter-se ao rito da lei mosaica, Jesus solidariza-se com
o seu povo.
O nome
“Jesus” foi escolhido pelo próprio
Deus: “E tu
o chamarás com o nome
de Jesus, pois ele
salvará o seu povo
dos seus pecados”
(Mt 1,21), disse o Anjo a José. Também a Maria o Anjo
dizia: “Eis que
conceberás um filho
e o chamarás com o nome
de Jesus” (Lc 1,31; cf. 2,11: “Nasceu hoje
o Salvador”).
Para os judeus,
o nome expressava a identidade
e o destino pessoal/missão que cada um devia realizar ao longo de sua vida. E Jesus realmente
foi, desde o primeiro
instante até
a morte na cruz,
o que seu
nome diz: Salvador.
O nome
“Jesus”, que começou a ser
pronunciado por Maria e por José, será incessantemente
invocado ao longo
dos séculos por
milhões e milhões
de cristãos de todas as raças e línguas,
de todas as idades e em todas as situações.
Diante do Sinédrio
firmemente disse: “... não há, de baixo do céu, outro nome dado aos homens
pelo qual
devamos ser salvos”
(At 4,12). Podemos repeti-lo muitas vezes
durante o dia
segundo nos
encontrarmos tristes ou alegres,
perturbados ou em
paz.
Vamos estender
nossa reflexão
sobre algumas mensagens
da festa da Santa
Maria, Mãe de Deus
e nossa Mãe.
1. Somos Filhos No Filho,
Não Escravos
Estamos ainda
no Tempo de Natal,
e por isso,
ainda celebramos o Nascimento de Cristo. Ele se chama Jesus, Deus
salva. É Ele
que ilumina nossa
existência inteira
e nos oferece a salvação de Deus. Por esta razão, temos motivos
muito mais
plenos para nos alegrar e esperar que Deus bendiga nosso
Novo Ano,
fazendo a paz em
nosso redor.
Nossa atenção
está centrada nele, mas também hoje
recordamos a Sua Mãe,
Santa Maria. Sobre
ela São
Paulo nos diz: “Quando
se completou o tempo previsto,
Deus enviou o seu
Filho, nascido de uma mulher... para que todos nós
recebêssemos a filiação adotiva”
(Gl 4,4-5). O mistério do Natal
não é somente
o mistério de um
filho, mas também é o mistério
de uma multidão de “filhos”:
todos os homens
podem chegar a ser “filhos” neste “Filho
de Deus” (cf. Jo 19,26-27). O Filho de Deus
se fez homem no seio
da Virgem Maria para que nós todos fóssemos filhos
adotivos de Deus.
Por isso
podemos dizer com
confiança que
é o Espírito de Deus
que pode gritar
dentro de nós:
Abba, Papaizinho.
Somos filhos,
não escravos,
assim diz São
Paulo (Gl 4,7). Ser filhos
de Deus é a melhor
perspectiva do ano
que começa.
Aconteça o que acontecer
sou filho/filha de Deus em Jesus Cristo. Meu verdadeiro Pai é Deus, Pai de
todos os pais neste mundo. Ao longo dos seus doze meses do ano que se inicia podemos nos encontrar com dificuldades
de todo tipo; podemos cair
enfermos, sofrer
as mil vicissitudes
da vida. Mas
não estamos sós.
Somos filhos! Pertencemos à família de Deus.
Não podemos nos
deixar dominar pelo pessimismo ou pela angústia ou pelo desespero.
Nasceu nos Jesus, o Deus-que-salva.
Jesus é nossa salvação, nosso sol que nos
ilumina, nossa festa
que não
termina. E ele nos
ensinou quem é Deus
para nós: às vezes o chamamos de Criador,
ou Todo-poderoso,
ou Ser Supremo, ou Deus, ou Senhor, assim por diante. Mas Jesus nos
diz que podemos chamá-Lo Abbá,
Papaizinho. Com o Papaizinho é que vamos começar e caminhar durante este Ano Novo: “Eis que estou com vocês todos os dias até o fim do mundo”
(Mt 28,20). Para cada
um de nós,
tanto se estamos contentes
ou tristes,
vir participar da celebração deste início
do Ano Novo
significa viver e saber que não estamos
sós porque
Jesus, Deus-Conosco, nos acompanha, que está conosco
para nos dar força e para nos ensinar a caminhar pelo
caminho do Evangelho:
caminho de amor
e de paz.
2. Maria,
Mãe De Jesus É Nossa
Mãe
A recordação da Virgem
Maria faz ainda mais
agradável o nosso
Ano Novo, como mais uma
Boa Notícia para
nós. Ela,
uma simples mulher
do povo, foi eleita de Deus para trazer
a este mundo
o Salvador. E hoje,
no primeiro dia
do Ano Novo, nós dedicamos uma das festas
mais solenes
do ano, recordando e celebrando sua Maternidade:
Santa Maria, Mãe
de Deus. Deus
para fazer-se homem
quis ter mãe.
Assim Aquele
que nasceu de Maria é Deus. Por esta razão, Ela é a Mãe deste Deus que é Jesus Cristo.
Maria é Mãe de Deus
não porque
gerou Deus na eternidade,
e sim porque
O gerou mais de dois
mil anos.
Negar que
Maria é Mãe de Deus
é negar a Encarnação
do Filho ou
negar que é Filho de Deus, pois Deus se fez homem sem deixar de ser Deus. A verdade de que Maria é Mãe
de Deus é parte
da fé de todos
os cristãos ortodoxos
(de doutrina reta).
Foi proclamada dogmaticamente no Concílio
de Êfeso no ano 431 e é o primeiro
dogma mariano.
Quando a Virgem
Maria visitou a sua prima
Isabel, esta, movida pelo Espírito
Santo lhe
chamou “Mãe do meu
Senhor”. O Senhor a quem se refere Isabel não
pode ser outro
senão Deus
(cf. Lc 1,39-45). É claro que Deus não precisaria de uma mãe,
mas a quis para
se aproximar de nós
com seu
infinito amor:
“Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu
Filho único,
para que todo o que nele
crê não pereça, mas
tenha vida eterna”
(Jo 3,16).
Por isso,
não nos
estranhamos que junto
a seu entranhável título
de Mãe de Deus,
seja invocada hoje
alegremente por
nós como
Mãe da Igreja,
Mãe de todos
os que crêem em
Jesus Cristo. Assim
começamos o Ano Novo
com uma fé
renovada em Jesus, como
Deus Salvador,
e com uma recordação filial diante
de sua Mãe
e nossa Mãe,
Santa Maria.
Maria era
tão fiel
e tão santa,
vivia tão atenta
a Palavra de Deus,
que antes
de conceber Cristo
em seu
seio, já
o havia concebido em seu coração. A maternidade de Maria ilumina o caminho
da vida cristã. Precisamente
a Virgem Maria, Mãe
de Deus, é o melhor
modelo de como
nós temos que
celebrar a Eucaristia
neste começo do Ano.
Ela, a discípula
de Cristo, guardava as coisas a respeito
do Filho de Deus
nascido dela, as meditava, e assim nos ensinou a atitude de escuta da Palavra
de Deus (Lc 2,19.51b). Também foi ela que melhor exemplo de pessoa que sabe dar graças a Deus através de seu
Magnificat pelo que
Deus tinha
feito em
favor dela (Lc 1,46-55). Foi ela
que esteve ao pé
da Cruz, em
comunhão perfeita
com seu
Filho no momento
da morte (Jo 19,25-27), como
o havia estado com
ele no seu
nascimento (Lc 2,6ss). Ela nos ensina, então, a viver de acordo com
estas três atitudes:
Escuta da Palavra
de Deus e medita-la, Ação
de graças, e Comunhão
com o Corpo
entregue e o Sangue
derramado de Jesus Cristo. Estas três atitudes
devem ser nossas atitudes,
especialmente durante
este Novo Ano para que estejamos cheios
de Deus e conseqüentemente
seremos instrumentos de Sua graça para os demais, a exemplo de Santa
Maria, Mãe de Deus.
3. O Cristão, O Tempo
E A Paz
“Quando
se completou o tempo previsto, Deus enviou
o seu Filho,
nascido de uma mulher sujeito
à lei...” (Gl 4,4). Sabemos que o tempo é
uma realidade que
nos recorda a veloz
caducidade da vida
terrena. O dia
segue à noite, uma semana
a outra e um
ano a outro
em sucessão
indefinida, monótono
e igual. Mas
igual?
A partir do momento
em que
“enviou Deus seu
Filho nascido de uma mulher sujeito à lei” não podemos
mais falar
desta maneira: “igual
e monótono!”, porque
Deus se faz presente
no tempo, se faz tempo
e o tempo chega
a sua plenitude.
Por Deus
fazer-se tempo, o passo
do tempo não
mais nos
entristece, e cada ano
somos mais livres
e mais plenos
por este
Deus que
se faz tempo. “Por
fim livre,
por fim
seguro, por fim eterno” (Bispo Nicolas von Honthein). Cada
dia me
está criando, me está curando, me está amando. E isto
é vida. Somos uma criação
continuada de Deus. Está me criando para que creia, está me
curando para que
cure e está me amando para
que ame. Isto
é ser vivificador. Deus
está me criando para
que viva
e para que
faça viver. Para o cristão o tempo
assinala, então, um
progresso. Por
esta razão, para
o cristão, o tempo
é Kairós, oportunidade, dom de Deus. Este é o mistério do tempo em sua profundidade.
O cristão celebra no tempo a redenção
do Senhor.
O Ano
Novo é um dom de Deus. É
uma oportunidade que
não devemos desprezar.
Por isso,
neste início do Ano
Novo desejamos uns para com os outros aquilo que está
escrito no Livro
de Números: ”O Senhor
te abençoe e te
guarde! O Senhor faça brilhar
sobre ti a sua
face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).
“O Senhor
volte para ti o seu
rosto e te
dê a paz!”. A paz
se encontra entre
os anseios mais
profundos de todos
os corações, mas
parece um ideal
inalcançável. De onde proverá, então? É do rosto
que o Senhor
ilumina sobre cada
um de nós.
Um olhar duro e agressivo
desperta sentimentos de mal-estar, de oposição
e de guerra. O olhar
feliz do pai
e da mãe gera, ao contrário,
paz e bem-estar
no coração dos filhos.
O olhar de Deus
está sempre dirigido sobre nós: o Pai olha
benevolamente a seu Filho
e a toda família
humana, convertida em
família Sua.
Este olhar
desperta a paz em
nosso coração.
De onde nasce a paz
a não ser do bom coração que há em cada homem! No olhar sereno de
tantas imagens de Maria Santíssima com seu Filho temos
como um
“sacramento” deste olhar
de Deus capaz
de restaurar nossos
corações. E no olhar
embelezado de tantas mães para
seu filho
nos braços
temos também um
sinal da bondade
dos homens e da humanidade
de nosso Deus.
“Deus mostre para ti a
sua face e te conceda a paz!”
“Paz”, “Shalom” resume todos os bens
salvífícos. Desejar “Shalom” (Paz) para alguém é desejar-lhe uma paz interior e
exterior, a acolhida, a fraternidade, o estar a favor do bem do outro, a
harmonia com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a natureza. Podemos ter
em conta tudo isto na eucaristia no rito da paz.
Desejar “shalom” para o outro é uma
espécie de oração dirigida a Deus. A oração fortalece nossa vontade, estimula
nossa debilidade e robustece nossa animo para buscar a paz e trabalhar por ela
incansavelmente. Quem reza pela paz ardentemente se faz mais capaz de acolher a
paz em seu coração. Quem reza desta maneira está fazendo a paz em seu interior.
Ninguém pode orar contra os outros. Cada deve orar, sim, contra seu próprio
pecado, sua própria cegueira, seu egoísmo e intolerância, suas reações de ódio
e vingança. A verdadeira oração converte quem reza. A oração, quando for
verdadeira, nos faz mais capazes para o perdão e reconciliação, mais sensíveis
diante de qualquer injustiça, abuso e mentira e mais livres diante de qualquer
manipulação.
Mas como
todo tempo,
terá sempre sua
cara e cruz, seu gozo e dor. Porém o que mais importante definitivamente
é que vivamos o tempo
que Deus
nos deu com
o desejo de realizar
Seu querer, ainda que custe
muito para nós. Por isso, é útil e atual a súplica
do Salmista: “Ensina-nos, Senhor, a contar nossos dias para que venhamos a ter um coração sábio”
(Sl 89(90),12). É pedir a Deus
o saber sentir a alegria nesta festa
que nos
conecta com os inícios
da salvação e suplicar que
o que Deus
começou em nós
obtenha plenitude na vida definitiva
junto a Ele.
Por tudo
isto, pedimos hoje
ao nosso Senhor
Jesus Cristo, menino
de oito dias,
que conceda ao mundo
e a esta nossa sociedade,
à nossa família,
Sua paz:
Sua paz
que é alegria
e equilíbrio, respeito
e liberdade, amor
e perdão. E pedimos que
faça de nós instrumentos
de Sua paz,
que possamos levar
a nossos ambientes
um pouco
de serenidade e bom
gosto: que
a palavra seja educada, o gesto confiado, o trato
amistoso e que
sejamos fortes no amor.
A novidade do Ano
Novo é, para o cristão, renovação em
Cristo. Somos pessoas novas pela fé, pelo batismo, pela esperança pelo compromisso de caridade. O homem
velho se faz novo
pela conversão,
por um
começar de novo. As pessoas renovadas se põem a caminho
para ver, ouvir,
meditar e proclamar as maravilhas de Deus
a exemplo dos pastores
do Natal.
P. Vitus Gustama,svd