01 de Janeiro
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS
DIA MUNDIAL DA PAZ
01 de Janeiro
O texto
do Evangelho desta festa
faz parte do evangelho
do Natal (missa
da noite ). Os pastores ,
ao saberem do nascimento do Salvador pela boca do anjo , foram para Belém “às pressas ”, como
Maria para Ain Karim para
visitar Isabel (Lc 1,39). . Aqui
a pressa é, evidentemente ,
um dado
teológico-espiritual. É a mesma pressa com que os discípulos
de Emaús, após terem encontrado Jesus, esqueceram-se
imediatamente do que
os poderia reter
na própria cidade ,
retornaram correndo a Jerusalém, e anunciaram aos Apóstolos
reunidos terem visto o Senhor
Ressuscitado (Lc 24,33); é a pressa com que a samaritana , abandonou sua
bilha de água
junto ao poço
e correu à cidade para
anunciar a todos
que havia encontrado o Messias (Jo
4,28); a mesma pressa
com que
Maria Madalena, que correu para anunciar aos apóstolos : “Eu
vi o Senhor ”(Jo 20,18).
“Partir às pressas ” simultaneamente significa seriedade , empenho ,
solicitude , zelo ,
entusiasmo , ardor .
Quem recebeu a revelação
do projeto de Deus ,
quem sentiu-se inserido pessoalmente em
tal projeto ,
nota em
si o sentido
da urgência da salvação; a urgência que
pode conviver com
a “paciência ”, se esta for modelada sobre a paciência
de Deus , que
é uma paciência de longa
visão , e por
isso mesmo
muito diferente
da resignação. Santo
Ambrósio comenta essa pressa com uma expressão
latina quase
intraduzível : “Nescit tarda
molimina Spiritus Sancti gratia” (a graça
do Espírito Santo
não admite demora ).
E como se nos
dissesse que algo ,
decidido interiormente
no coração com
profundidade , seja feito ,
porque caso
contrário , acaba morrendo. Isto vale também para as pequenas coisas :
uma carta que
devemos escrever ou
responder ; uma visita
que nos
custa ; uma iniciativa
que nos
pesa ; um
trabalho que
decidimos fazer e que ,
no entanto , continuamos a adiar ; um perdão que
devemos oferecer ; uma palavra
de amiga que
devemos pronunciar etc. Os adiamentos ,
os atrasos , nos
desgastam e nos consomem internamente .
Há, no entanto ,
um claro
contraste entre
a alegria dos pastores
e a admiração de todos
os que os ouvem, por
um lado ,
e a atitude contemplativa de Maria, por outro . Os verbos usados por
Lucas para descrevê-la(grego :
syntereo e symballo) significam acolher , guardar , conservar e ponderar as palavras
e os acontecimentos visto
e ouvidos . Só
com respeito
a Maria é dito que
a mensagem recebida, os fatos e as palavras ,
são cuidadosamente conservados e
meditados, na memória do seu coração , como um tesouro , para compreender
mais clara
e profundamente seu
significado salvífico.
Maria, como
nós , viveu sua
fé numa atitude
permanente de receptividade e de abertura . Ela
passou pela noite
escura da fé
para depois compreender o significado
do mistério de Deus .
Só chegou a conhecer
o verdadeiro significado
da pessoa , da vida
e da missão de Jesus depois da ressurreição
e de pentecostes (At 1,14). Maria é o modelo do ouvinte da Palavra de Deus .
O nosso
texto termina com
esta frase : “Quando se completaram os dias
para circuncisão
do menino , deram-lhe o nome de Jesus, como
fora chamado pelo
anjo antes
de ser concebido” (v.21). Lucas é o único evangelista
que menciona a circuncisão .
Através desse rito ,
o menino judeu
passava a fazer parte
do povo de Deus ,
tornando-se destinatário das promessas feitas
a Abraão e à sua descendência
(cf. Gn 17,9-14.23-27; 34,14-16;At 7,8). A circuncisão
era ao mesmo
tempo sinal
da aceitação das exigências
da Aliança e da fidelidade
de Deus ao seu
povo . Ao submeter-se ao rito da lei mosaica , Jesus solidariza-se com
o seu povo .
O nome
“Jesus” foi escolhido pelo próprio
Deus : “E tu
o chamarás com o nome
de Jesus, pois ele
salvará o seu povo
dos seus pecados ”
(Mt 1,21), disse o Anjo a José. Também a Maria o Anjo
dizia: “Eis que
conceberás um filho
e o chamarás com o nome
de Jesus” (Lc 1,31; cf. 2,11: “Nasceu hoje
o Salvador ”).
O nome
“Jesus”, que começou a ser
pronunciado por Maria e por José, será incessantemente
invocado ao longo
dos séculos por
milhões e milhões
de cristãos de todas as raças e línguas ,
de todas as idades e em todas as situações .
Diante do Sinédrio
firmemente disse: “... não há, de baixo do céu , outro nome dado aos homens
pelo qual
devamos ser salvos ”
(At 4,12). Podemos repeti-lo muitas vezes
durante o dia
segundo nos
encontrarmos tristes ou alegres ,
perturbados ou em
paz .
Vamos estender
nossa reflexão
sobre algumas mensagens
da festa da Santa
Maria, Mãe de Deus
e nossa Mãe .
1. Somos Filhos No Filho ,
Não Escravos
Estamos ainda
no Tempo de Natal ,
e por isso ,
ainda celebramos o Nascimento de Cristo . Ele se chama Jesus, Deus
salva . É Ele
que ilumina nossa
existência inteira
e nos oferece a salvação de Deus . Por esta razão , temos motivos
muito mais
plenos para nos alegrar e esperar que Deus bendiga nosso
Novo Ano ,
fazendo a paz em
nosso redor .
Nossa atenção
está centrada nele, mas também hoje
recordamos a Sua Mãe ,
Santa Maria. Sobre
ela São
Paulo nos diz: “Quando
se completou o tempo previsto ,
Deus enviou o seu
Filho , nascido de uma mulher ... para que todos nós
recebêssemos a filiação adotiva ”
(Gl 4,4-5). O mistério do Natal
não é somente
o mistério de um
filho , mas também é o mistério
de uma multidão de “filhos ”:
todos os homens
podem chegar a ser “filhos ” neste “Filho
de Deus ” (cf. Jo 19,26-27). O Filho de Deus
se fez homem no seio
da Virgem Maria para que nós todos fóssemos filhos
adotivos de Deus .
Por isso
podemos dizer com
confiança que
é o Espírito de Deus
que pode gritar
dentro de nós :
Abba, Papaizinho.
Somos filhos ,
não escravos ,
assim diz São
Paulo (Gl 4,7). Ser filhos
de Deus é a melhor
perspectiva do ano
que começa .
Aconteça o que acontecer
sou filho/filha de Deus em Jesus Cristo. Meu verdadeiro Pai é Deus, Pai de
todos os pais neste mundo. Ao longo dos seus doze meses do ano que se inicia podemos nos encontrar com dificuldades
de todo tipo; podemos cair
enfermos , sofrer
as mil vicissitudes
da vida . Mas
não estamos sós .
Somos filhos ! Pertencemos à família de Deus .
Não podemos nos
deixar dominar pelo pessimismo ou pela angústia ou pelo desespero .
Nasceu nos Jesus, o Deus-que-salva.
Jesus é nossa salvação, nosso sol que nos
ilumina, nossa festa
que não
termina. E ele nos
ensinou quem é Deus
para nós : às vezes o chamamos de Criador ,
ou Todo-poderoso ,
ou Ser Supremo , ou Deus , ou Senhor , assim por diante . Mas Jesus nos
diz que podemos chamá-Lo Abbá,
Papaizinho. Com o Papaizinho é que vamos começar e caminhar durante este Ano Novo : “Eis que estou com vocês todos os dias até o fim do mundo ”
(Mt 28,20). Para cada
um de nós ,
tanto se estamos contentes
ou tristes ,
vir participar da celebração deste início
do Ano Novo
significa viver e saber que não estamos
sós porque
Jesus, Deus-Conosco, nos acompanha, que está conosco
para nos dar força e para nos ensinar a caminhar pelo
caminho do Evangelho :
caminho de amor
e de paz .
2. Maria,
Mãe De Jesus É Nossa
Mãe
A recordação da Virgem
Maria faz ainda mais
agradável o nosso
Ano Novo , como mais uma
Boa Notícia para
nós . Ela ,
uma simples mulher
do povo , foi eleita de Deus para trazer
a este mundo
o Salvador . E hoje ,
no primeiro dia
do Ano Novo , nós dedicamos uma das festas
mais solenes
do ano , recordando e celebrando sua Maternidade :
Santa Maria, Mãe
de Deus . Deus
para fazer-se homem
quis ter mãe .
Assim Aquele
que nasceu de Maria é Deus . Por esta razão , Ela é a Mãe deste Deus que é Jesus Cristo .
Maria é Mãe de Deus
não porque
gerou Deus na eternidade ,
e sim porque
O gerou mais de dois
mil anos .
Negar que
Maria é Mãe de Deus
é negar a Encarnação
do Filho ou
negar que é Filho de Deus , pois Deus se fez homem sem deixar de ser Deus . A verdade de que Maria é Mãe
de Deus é parte
da fé de todos
os cristãos ortodoxos
(de doutrina reta ).
Foi proclamada dogmaticamente no Concílio
de Êfeso no ano 431 e é o primeiro
dogma mariano .
Quando a Virgem
Maria visitou a sua prima
Isabel, esta, movida pelo Espírito
Santo lhe
chamou “Mãe do meu
Senhor ”. O Senhor a quem se refere Isabel não
pode ser outro
senão Deus
(cf. Lc 1,39-45). É claro que Deus não precisaria de uma mãe ,
mas a quis para
se aproximar de nós
com seu
infinito amor :
“Deus amou tanto o mundo , que entregou o seu
Filho único ,
para que todo o que nele
crê não pereça, mas
tenha vida eterna ”
(Jo 3,16).
Maria era
tão fiel
e tão santa ,
vivia tão atenta
a Palavra de Deus ,
que antes
de conceber Cristo
em seu
seio , já
o havia concebido em seu coração . A maternidade de Maria ilumina o caminho
da vida cristã. Precisamente
a Virgem Maria, Mãe
de Deus , é o melhor
modelo de como
nós temos que
celebrar a Eucaristia
neste começo do Ano .
Ela , a discípula
de Cristo , guardava as coisas a respeito
do Filho de Deus
nascido dela, as meditava, e assim nos ensinou a atitude de escuta da Palavra
de Deus (Lc 2,19.51b). Também foi ela que melhor exemplo de pessoa que sabe dar graças a Deus através de seu
Magnificat pelo que
Deus tinha
feito em
favor dela (Lc 1,46-55). Foi ela
que esteve ao pé
da Cruz , em
comunhão perfeita
com seu
Filho no momento
da morte (Jo 19,25-27), como
o havia estado com
ele no seu
nascimento (Lc 2,6ss). Ela nos ensina , então , a viver de acordo com
estas três atitudes :
Escuta da Palavra
de Deus e medita-la, Ação
de graças , e Comunhão
com o Corpo
entregue e o Sangue
derramado de Jesus Cristo . Estas três atitudes
devem ser nossas atitudes ,
especialmente durante
este Novo Ano para que estejamos cheios
de Deus e conseqüentemente
seremos instrumentos de Sua graça para os demais , a exemplo de Santa
Maria, Mãe de Deus .
3. O Cristão , O Tempo
E A Paz
“Quando
se completou o tempo previsto , Deus enviou
o seu Filho ,
nascido de uma mulher sujeito
à lei ...” (Gl 4,4). Sabemos que o tempo é
uma realidade que
nos recorda a veloz
caducidade da vida
terrena . O dia
segue à noite , uma semana
a outra e um
ano a outro
em sucessão
indefinida , monótono
e igual . Mas
igual ?
A partir do momento
em que
“enviou Deus seu
Filho nascido de uma mulher sujeito à lei ” não podemos
mais falar
desta maneira : “igual
e monótono !”, porque
Deus se faz presente
no tempo , se faz tempo
e o tempo chega
a sua plenitude .
Por Deus
fazer-se tempo , o passo
do tempo não
mais nos
entristece, e cada ano
somos mais livres
e mais plenos
por este
Deus que
se faz tempo . “Por
fim livre ,
por fim
seguro , por fim eterno ” (Bispo Nicolas von Honthein). Cada
dia me
está criando, me está curando, me está amando. E isto
é vida . Somos uma criação
continuada de Deus . Está me criando para que creia, está me
curando para que
cure e está me amando para
que ame. Isto
é ser vivificador. Deus
está me criando para
que viva
e para que
faça viver . Para o cristão o tempo
assinala, então , um
progresso . Por
esta razão , para
o cristão , o tempo
é Kairós, oportunidade , dom de Deus . Este é o mistério do tempo em sua profundidade .
O cristão celebra no tempo a redenção
do Senhor .
O Ano
Novo é um dom de Deus . É
uma oportunidade que
não devemos desprezar .
Por isso ,
neste início do Ano
Novo desejamos uns para com os outros aquilo que está
escrito no Livro
de Números : ”O Senhor
te abençoe e te
guarde! O Senhor faça brilhar
sobre ti a sua
face , e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz !” (Nm 6,24-26).
“O Senhor
volte para ti o seu
rosto e te
dê a paz !”. A paz
se encontra entre
os anseios mais
profundos de todos
os corações , mas
parece um ideal
inalcançável. De onde proverá, então ? É do rosto
que o Senhor
ilumina sobre cada
um de nós .
Um olhar duro e agressivo
desperta sentimentos de mal-estar , de oposição
e de guerra . O olhar
feliz do pai
e da mãe gera, ao contrário ,
paz e bem-estar
no coração dos filhos .
O olhar de Deus
está sempre dirigido sobre nós : o Pai olha
benevolamente a seu Filho
e a toda família
humana , convertida em
família Sua .
Este olhar
desperta a paz em
nosso coração .
De onde nasce a paz
a não ser do bom coração que há em cada homem ! No olhar sereno de
tantas imagens de Maria Santíssima com seu Filho temos
como um
“sacramento ” deste olhar
de Deus capaz
de restaurar nossos
corações . E no olhar
embelezado de tantas mães para
seu filho
nos braços
temos também um
sinal da bondade
dos homens e da humanidade
de nosso Deus .
“Deus mostre para ti a
sua face e te conceda a paz!”
“Paz”, “Shalom” resume todos os bens
salvífícos. Desejar “Shalom” (Paz) para alguém é desejar-lhe uma paz interior e
exterior, a acolhida, a fraternidade, o estar a favor do bem do outro, a
harmonia com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a natureza. Podemos ter
em conta tudo isto na eucaristia no rito da paz.
Desejar “shalom” para o outro é uma
espécie de oração dirigida a Deus. A oração fortalece nossa vontade, estimula
nossa debilidade e robustece nossa animo para buscar a paz e trabalhar por ela
incansavelmente. Quem reza pela paz ardentemente se faz mais capaz de acolher a
paz em seu coração. Quem reza desta maneira está fazendo a paz em seu interior.
Ninguém pode orar contra os outros. Cada deve orar, sim, contra seu próprio
pecado, sua própria cegueira, seu egoísmo e intolerância, suas reações de ódio
e vingança. A verdadeira oração converte quem reza. A oração, quando for
verdadeira, nos faz mais capazes para o perdão e reconciliação, mais sensíveis
diante de qualquer injustiça, abuso e mentira e mais livres diante de qualquer
manipulação.
P. Vitus Gustama,svd
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