segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

 
O ENCONTRO COM DEUS TORNA NOSSA VIDA MAIS LEVE E PRAZEROSA

Quarta-Feira da II Semana do Advento
10 de Dezembro de 2014
 

Evangelho:  Mt 11, 28-30 (I Leitura: Is 40, 25-31)

Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: 28“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. 30 Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

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 O Senhor é o Deus eterno que criou os confins da terra; ele não falha nem se cansa, insondável é sua sabedoria; elecoragem ao desvalido e aumenta o vigor do mais fraco” (Is 40,28-29), são palavras do profeta Deutero-Isaías para seus companheiros no exílio de Babilônia.


A catequese do profeta Deutero-Isaías quer nos dizer que o verdadeiro conhecimento de Deus consiste muito mais em adotar certas atitudes concretas do que em afirmar uns princípios teóricos. Essa catequese parte do drama do exílio de Babilônia que suscita o sentimento de que a fé é insuficiente para afrontar os problemas da vida. Porém, por outro lado, Deus não está para satisfazer as pequenas ou grandes curiosidades do homem. A tentação contra a fé parte de uma tremenda solidão (no exílio de Babilônia). No entanto, a certeza da fé não está em função das verificações que dela podemos fazer. Somente uma adesão global pode responder a uma questão global. As razões da fé não podem ser menores do que o próprio Deus. Com sua catequese o profeta quer levar o leitor para um ato de fé no amor e na vida: “Os que esperam no Senhor renovam suas forças, criam asas como as águias, correm sem se cansar, caminham sem parar” (Is 40,31).


O profeta Deutero-Isaías acredita no Grande Deus. Para ele este grande Deus é um Deus surpreendente. Ele se preocupa com cada um de nós, especialmente com os pequenos, os débeis, os cansados, os desamparados e os desesperados, pois a única esperança que eles têm é somente o Deus de amor. O profeta quer nos dizer que o grande Deus e transcendente, Criador das estrelas e do cosmos é também o Deus próximo, o Emanuel (cf. Mt 1,23; 18,20; 28,20) que comunica sua força aos que se abrem a Ele, aos que põem nele sua confiança. Este Deus próximo devolve cada manhã a cada homem o vigor de existir, de empreender, de começar de novo, e de vencer sempre o desespero e desesperança: “Cansam-se as crianças e param, os jovens tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam suas forças, criam asas como as águias, correm sem se cansar, caminham sem parar” (Is 40,30-31).  Para isto, o único requisito é a que é o reconhecimento simultâneo do próprio desamparo e a aceitação do poder salvador de Deus.


 Diante deste grande Deus, o profeta nos convida: “Levantai os olhos para o alto e vede: quem criou tudo isso? Aquele que expressa em números o exército das estrelas e a cada uma chama pelo nome: tal é a grandeza e força e poder de Deus” (Is 40,26). Se nós somos capazes de admirar o poder e a inteligência do homem, por que seríamos cegos diante da obra de Deus tão vasto como o próprio universo e infinitamente maravilhoso? Se a inteligência humana é tão desenvolvida capaz de enviar cosmonautas à lua (e a outros planetas) e naves espaciais tripuladas ou não tripuladas, por que não seríamos capazes de admirar a grandiosidade do cosmos com suas galáxias e bilhões de estrelas que atrás de tudo isso está o Criador?  Esta citação nos chama a contemplarmos a “inteligência” de Deus. Neste exato momento bilhões de estrelas está se movendo e girando em suas respectivas órbitas. A terra gira neste momento e sempre. O sol se levanta em algum lugar, e suscita a vida. E tudo isto não nos faria maravilhados, não renovaria nossas forças e nossa esperança?                                                                   


Diante deste Deus tão grande e, ao mesmo tempo, tão próximo ninguém tem mais razão para se desesperar, ninguém tem mais desculpa para dizer que está .  O homem de fé não é solitário e sim solidário, pois ele acredita que Deus está com ele e ele está com Deus e com os que, como ele, acreditam no amor infinito de Deus pela humanidade. Devemos ouvir no silêncio o suave convite deste Deus que nos ama: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).


Do que peso se trata? Trata-se aqui da opressão moral e religiosa, provocada pelo formalismo de uma religião estéril e de um moralismo legalista. Os “cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardosaqui são os pobres e famintos, ignorantes e pequeninos, os míseros/miseráveis e os doentes. O legalismo é sufocante, é uma moral sem alegria. Assim, a religião fica longe de ser motivo de liberdade e alegria, pois ela é reduzida a uma carga pesada ou reduzida a umas regras ou normas religiosas. O ser humano se torna animal, pois a quem se impõe “jugo” e “carga”, senão aos animais?
     

Pelo contrário, o cristianismo e a moral cristã não são uma imposição. A lei de Cristo é amor (Jo 13,34-35; 15,12), lei do Espírito quevida, lei de relação filial com Deus, Pai Nosso, e amigo da vida. Ao lado de Jesus Cristo, todas as fadigas se tornam amáveis e tudo o que poderia ser mais custoso no cumprimento da vontade de Deus se suaviza. Quem se aproxima de Jesus, encontrará repouso para suas aflições. “A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”, escreveu o Papa Francisco (Exortação Evangelii Gaudium n.1).  Jesus veio, certamente, para libertar o ser humano de todo tipo de escravidão, mostrando-se manso e humilde de coração e recusando-se a multiplicar normas religiosas. Jesus reduziu tudo ao essencial: amor e misericórdia. A religião torna-se, assim, prazerosa por respeitar a liberdade e por ser humanizadora.
   

Para tudo isso se tornar possível, há uma chave principal: o amor, tanto como um dom recebido de Deus, pois ele nos amou primeiro (1Jo 4,19), como uma responsabilidade, a exemplo de Jesus Cristo que se dá a si mesmo a Deus e aos irmãos (Jo 15,12-14; cf. Jo 13,1). Quem ama não sente a lei de Cristo como uma obrigação pesada. Pela experiência sabemos que quando se ama de verdade muitas coisas se tornam fáceis e suportáveis que seriam difíceis e até insuportáveis sem o amor. o amor torna tudo leve. E nada é pequeno quando o amor é grande.


Ir ao encontro de Jesus é descarregar o fardo aos seus pés, olhá-lo nos olhos, renunciando às nossas pequenas idéias sobre a questão e preferindo seu pensamento ao nosso.


A pessoa fatigada encontra em Jesus a força necessária para continuar o caminho porque Ele cura todos os males e enfermidades, perdoa todas as culpas, sobretudo, cumula de graça e de ternura, como diz o Salmo 103 (102),3-5: “É Deus quem perdoa todas as tuas faltas, e cura todos os teus males. É Ele quem  redime tua vida da cova e te coroa de amor e compaixão. É Ele que renova tua juventude”. As palavras de Jesus são uma proclamação da esperança. Dar esperança é o aspecto principal da figura de Jesus. Esta imagem acolhedora de Cristo deve ou deveria ser também a imagem que cada cristão ofereceria a todos.


“... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração...”(v.29). O humilde é aquele que tem noção da própria capacidade e da própria fraqueza e está aberto totalmente a Deus; e o manso é a pessoa boa nas relações com os outros. Jesus se proclama o Mestremanso e humilde de coração”, pois ele é totalmente aberto a Deus e extremamente bom para com os outros a ponto de compartilhar de sua existência. Por isso, a palavramansidão” é fruto do Espírito (Gl 5,23) e é sinal da presença da sabedoria do alto (Tg 3,13.17).


Todos nós sabemos como é fácil combater a ira com a ira, a cólera com a cólera, a raiva com a raiva. A mansidão, pelo contrário, rompe esse círculo vicioso, cumprindo aquilo que é justo diante de Deus. A mansidão é a força que resiste e domina a ira. A mansidão é a virtude que modera a ira e conserva a caridade. Quem a possui, é amável, prestativo e paciente. Até os pecadores mais endurecidos não resistem diante de quem tem a virtude de mansidão. A um coração manso e humilde como o de Cristo, os homens se abrem. Por isso, a mansidão não é característica dos fracos; pelo contrário, ela exige uma grande fortaleza de espírito. Aquele que é dócil a Deus, é manso para com os outros. A mansidão é a arma dos fortes. Da falta dessa virtude provém as explosões de mau humor, irritação, frieza, impaciência, violência e ódio entre as pessoas que vão corroendo gradativamente amor.


Portanto, as leituras deste dia nos convidam a não duvidarmos de Deus, porque o nosso Deus é grande e está próximo de nós e conhece nossa debilidade. Sabendo de nossa fragilidade e debilidade, Deus se oferece como força, pois sem Ele nada podemos fazer (cf. Jo 15,5b). Ao mesmo tempo somos convidados a ser pessoas que acolham e que diante da dor que as pessoas encaram ou da busca da resposta de Deus para essa dor que não lhes respondamos com legalismo e exigências, e sim com amor e compreensão sabendo que Deus nos ama e cremos no Seu amor. Nos tempos atuais, talvez mais do que nunca, existe vazio de Deus, e pouca unidade e harmonia na própria existência. O cristão deve ser uma resposta de Deus para essa humanidade.


Para Refletir


1.    O Senhor não é o Deus de um lugar, nem mesmo o Deus vinculado a um tempo sagrado específico, mas o Deus de uma pessoa, concretamente o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, capaz de entrar em contato com o homem e estabelecer com ele uma aliança. A é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei n. 8).


2.    A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo (Idem n. 4).


3.    O homem fiel é aquele que crê no Deus que promete; o Deus fiel é aquele que concede o que prometeu ao homem (Idem n. 10).


4.    A pede para se renunciar à posse imediata que a visão parece oferecer; é um convite para se abrir à fonte da luz, respeitando o mistério próprio de um Rosto que pretende revelar-se de forma pessoal e no momento oportuno (Idem n. 13)

P. Vitus Gustama,svd

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