sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

30/12
 
SERVIR A DEUS EM SILÊNCIO É PENETRAR NO SEU MISTÉRIO

30 de Dezembro


Primeira Leitura: 1Jo 2, 12-17

12 Eu vos escrevo, filhinhos: os vossos pecados foram perdoados por meio do seu nome. 13 Eu vos escrevo, pais: vós conheceis aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevo, jovens: vós vencestes o maligno. 14 Já vos escrevi, filhinhos: vós conheceis o Pai. Já vos escrevi, jovens: vós sois fortes, a Palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno. 15 Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. 16 Porque tudo o que há no mundo – as paixões da natureza, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo. 17 Ora, o mundo passa, e também a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.


Evangelho: Lc 2, 36-40

Naquele tempo, 36 havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. 37 Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39 Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.

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1. Testemunho da Profetisa Ana


O texto do evangelho deste dia é a conclusão da cena da apresentação de Jesus no Templo e tem duas partes. A primeira parte fala do testemunho da profetisa Ana. A segunda parte fala da volta da Sagrada Família para Nazaré onde Jesus cresce fortemente e cheio de sabedoria e está com a graça de Deus.


A figura feminina de Ana se corresponde com a figura masculina de Simeão, formando um par ideal no relato da apresentação do Menino Jesus no Templo.


O texto diz que “Ana, da tribo de Aser, era viúva e tinha 84 anos de idade”. O número “84” é um múltiplo de 12 (12 x 7), alusão às 12 tribos de Israel; enquanto que o numero “7” tem, entre outros, valor de globalidade.


A alusão à tribo de Aser a qual pertencia a profetisa Ana, uma das dez tribos do Norte, confirma o alcance de sua representatividade. A menção da “idade avançada”, situada já no limite, contrasta com a dupla menção da “idade avançada” de Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,7.18). De um lado, Ana está muito arraigada ao passado (genealogia) e à instituição judaica (Templo). De outro lado, por sua qualidade de “viúva”, diz relação com o povo de Israel, que enviuvou de seu Deus, enquanto que como “profetisa” lança um grito de esperança diante da semelhante desastre nacional. Jesus veio como Deus-Conosco para não deixar o povo órfão na sua luta de cada dia.


Além disso, a figura de Ana nos faz pensar, em primeiro lugar, na dedicação calada e silenciosa a Deus. o bem não faz barulho e o barulho nas faz bem. O silêncio possibilita a presença da plenitude e dá oportunidade para Deus falar de si próprio e de nós e de nossa vida. Quanto mais silêncio criarmos, mais inspiração nós teremos. Qualquer grande obra que existe sempre foi e é o fruto de horas de silêncio. O silêncio possibilita qualquer um usar devidamente palavras que serão ditas ou escritas para os outros. No silêncio cada um de nós pode se ver. O silêncio é o momento de privacidade que cada um de nós deve conservar. A pessoa que sabe conservar a privacidade é mais confiável e mais discreta e, por isso, tem mais credibilidade. Sem momento de privacidade tudo se torna vulgar. Tenho medo de que a vulgaridade possa invadir até o espaço sagrado. Tenho medo de que até nas palavras possamos ser vulgares. Quem não sabe ser dono da própria boca pode se tornar escravo das próprias palavras. O silêncio nos capacitar a medirmos as nossas palavras. Deus é um grande mistério. Somente poderemos penetrar neste mistério, se nos habituarmos em criar o silêncio no meio de nossos afazeres de cada dia. Não somos coisas e sim, somos obra sagrada que foi criada no silêncio.


A figura de Ana nos faz pensar também no espírito atento para as chamadas e manifestações de Deus. A atenção faz parte da espiritualidade cristã. Ser atento é ser vigilante. É saber estar ligado com tudo ao redor. O espírito atento faz alguém se perguntar: Será que alguém está precisando de alguma ajuda? Será que minha maneira de falar e de viver está incomodando a tranqüilidade dos outros? Somente quem tem espírito atento é que capaz de captar as chamadas de Deus e suas mensagens para nossa vida diária.


A figura de Ana nos faz pensar também na alegria da salvação que sempre é nos mostrada.  A consciência de que Deus sempre quer nossa salvação nos faz sempre alegres: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4). Quem tem Deus, sua vida tem futuro. Por isso, a alegria é a característica do cristão que vive na esperança, na expectativa e na certeza da ressurreição; que vive na certeza de uma vitória final que será realizada apesar dos sofrimentos, do fracasso aparente e da morte no presente: “Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se a nós” (Rm 8,18). Por esse futuro garantido os cristãos jamais podem desistir de lutar por um mundo mais fraterno, mais justo, mais solidário e mais humano, onde um se preocupa com o outro, onde um protege o outro. Com efeito, a tristeza e o desânimo não são apenas sintomas de um profundo cansaço, e sim são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo tem sua origem na falta de fé em Deus. A firme intenção de sermos portadores de alegria e o empenho em contagiar os outros com uma alegria santa, com alegria no Senhor, são uma defesa muito eficaz contra a perda da mesma.


2. Maria Educa Jesus na Sabedoria e na Graça


A segunda parte do evangelho fala da volta da Sagrada Família para Nazaré e Lc nos relatou que Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens (Lc 2,52).


“Jesus crescia em sabedoria...”. A palavra “sabedoria” provém do latim “sapere” que significa ter inteligência, ser compreendido; mas, propriamente, significa ter gosto, exercer o sentido do gosto, ter este ou aquele sabor. A sabedoria é o sabor que conduz ao sabor. É saborear para saber que mais tarde é o saber que permite saborear. A sabedoria é refinar o gosto pela vida. com a sabedoria, a existência e a convivência se tronam mais saborosas. Por isso, a sabedoria é uma companhia indispensável para a existência e a convivência mais fraternas.


Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens (Lc 2,52). Este texto nos mostra que Maria (com José) é uma grande e perfeita educadora. Ela acompanha o crescimento de seu Filho não apenas no conhecimento humano (sabedoria), mas também na graça de Deus. Trata-se de uma educação completa, pois há um equilíbrio entre a espiritualidade e o conhecimento. O conhecimento tem uma função para servir a Deus e ao próximo. Nisto todo conhecimento tem uma função social e espiritual.


Quem pode assumir, primeiramente, essa missão de fazer filho crescer na sabedoria e na graça é a família. A família é o lugar privilegiado para a educação na justiça, no respeito mútuo, na solidariedade, no amor, na liberdade, na verdade, na sabedoria e na paz. A família é lugar privilegiado de encontro e de amor, lugar privilegiado de compreensão e de perdão, lugar privilegiado de criatividade e superação, lugar privilegiado da presença de Deus, pois Deus se fez carne em uma família humana.


Que a Sagrada Família nos conceda um pouco de sua sabedoria para nossas famílias para cada membro de cada família possa crescer na sabedoria e na graça diante de Deus e diante dos homens. Assim seja!

P.Vitus Gustama, SVD

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