17/01/2019
Irmãos, 7 escutai o que
declara o Espírito Santo: “Hoje, se
ouvirdes a sua voz, 8 não endureçais os vossos corações, como aconteceu na
provocação, no dia da tentação, no deserto, 9 onde vossos pais me tentaram,
pondo-me à prova, 10 embora vissem as minhas obras, durante quarenta anos. Por
isso me irritei com essa geração e afirmei: sempre se enganam no coração e
desconhecem os meus caminhos. 11 Assim jurei na minha ira: não entrarão no meu
repouso”. 12 Cuidai,
irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela
incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo. 13 Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia,
enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela
sedução do pecado – 14 pois tornamo-nos companheiros de Cristo, contanto que
mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial.
Evangelho: Mc 1,40-45
Naquele
tempo , 40 um
leproso chegou perto
de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres tens, o poder de
curar-me”. 41 Jesus, cheio de compaixão , estendeu a mão ,
tocou nele, e disse: “Eu quero: fica
curado!” 42 No mesmo instante , a lepra
desapareceu, e ele ficou curado. 43 Então Jesus o mandou logo
embora , 44 falando com
firmeza : “Não
contes nada disso a ninguém !
Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação ,
o que Moisés ordenou, como prova para
eles !” 45 Ele
foi e começou a contar e a divulgar
muito o fato .
Por isso
Jesus não podia mais
entrar publicamente numa cidade :
ficava fora , em
lugares desertos .
E de toda parte
vinham procurá-lo.
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Somos
Chamados a Ser Fiéis Ao Senhor Permanentemente
“Não
endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da
tentação, no deserto... Cuidai,
irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela
incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo. Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia,
enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela
sedução do pecado –pois tornamo-nos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos
firme até o fim a nossa confiança inicial”, assim a Primeira Leitura nos
alerta.
Como fez São Paulo em 2Cor 10, o autor da Carta
aos hebreus faz uma ampla alusão às murmurações de Israel no deserto (cf. Sl
94/95,7-11; Ex 15,23-24; Nm 20,5) para alertar os cristãos-hebreus, aos quais
se dirige a Carta. A murmuração era uma tentação séria. Murmurar equivalia para
os hebreus no deserto não aceitar seu estado de nomadismo pelo deserto rumo à
Terra prometida. Murmurar seria voltar para o passado de escravidão. Murmurar
seria recusar a perceber a presença de Deus na situação atual para se refugiar
num sonho em que Deus fosse supostamente mais encontrável.
Sem dúvida, o autor da Carta aos hebreus
percebe que os cristãos-hebreus para quem a Carta é dirigida vivem murmurando
pela situação na qual vivem. Daí a exortação: “Não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia
da tentação, no deserto... Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um
coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”.
O autor da Carta fala sobre o coração. O
coração simboliza para a grande maioria das culturas, o centro da pessoa onde
gira a unidade e se funde a múltipla complexidade de suas faculdades,
dimensões: o espiritual e o material, o afetivo e o racional, o instinto e o
intelectual. O coração é o centro de nosso ser, a fonte de nossa personalidade,
o motivo principal de nossas atitudes e escolhas livres, o lugar da misteriosa
ação de Deus. Através de suas escolhas,
de seu comportamento diariamente, todos vão perceber se você é uma pessoa com
coração ou sem coração. Muitos tem sabedoria na cuca, mas ignorantes de
coração; sábios intelectualmente, mas pobres de coração. Para o homem antigo
ter coração equivale a ser uma personalidade íntegra.
A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade,
pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o cuidado para o
próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha: “... animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser
“hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado”.
Nos seis primeiros versículos de Hb 3 o autor
da Carta começa a propor a contemplar a fidelidade de Jesus Cristo. Jesus
Cristo se manteve fiel a Deus na missão de “construir a casa como Filho”, isto
é, de salvar os homens pela entrega total de si mesmo até a morte (cf. Jo
13,1). A partir da fidelidade de Jesus, o autor exorta aos cristãos, da segunda
geração, à fidelidade aos ensinamentos de Cristo. É a segunda geração, pois
trata-se de uma geração que não conheceu Jesus com os olhos da carne: “Cuidai,
irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela
incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”.
Nós somos os cristãos da segunda geração. É uma
geração que se tornou cristã. Qual é o ambiente que reina em qualquer geração
que se tronou cristã? É a negação, a despreocupação, a típica indiferença de
que se sabe cristã e nunca pensou em abandonar a fé cristã precisamente porque
já não lhe preocupa. É a situação de mediocridade totalmente contrária à
conversão permanente que pode terminar na apostasia. Por isso, o autor exorta:
“Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela
incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”. A incredulidade pode
esconder-se no coração na maior tranquilidade do mundo. É um problema de fé.
Cuidado
Com o Coração
O método científico está cada vez mais eficaz
para a saúde física. Mas não é bem assim com a saúde espiritual. Cuidamos do órgão
do coração, mas esquecemos aquilo que nos adverte a Carta aos Hebreus: “Cuidai,
irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela
incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo” (Hb 3,12).
Seguindo a linha de pensamento do Salmo 94,
que, por isso, é também o Salmo Responsorial de hoje, a leitura bíblica convida
os cristãos a não caírem na mesma tentação dos israelitas no deserto: o desânimo,
o cansaço, a dureza de coração. Esquecendo-se de tudo que Deus havia feito por
eles, os israelitas “endureceram seus corações”, “transviou o coração”, “não conheceram
os caminhos de Deus”, “desertaram do Deus vivo”.
Coração duro, ouvidos surdos, desvio
progressivo até perder a fé. É o que passou aos israelitas. E poderá acontecer
com os cristãos se não ficarem atentos. Podemos cair na tentação do desânimo e
nos esfriar na fé inicial, ou a linguagem do Apocalipse de são João: nem quente
nem frio (cf. Ap 3,15).
Escutemos com seriedade a advertência: “Não endureçais
vossos corações como no deserto”, “Ouvi hoje Sua voz”. Deus foi fiel e continua
sendo fiel. Cristo foi fiel e continua a estar conosco (Mt 28,20). Nós cristãos
devemos ser fieis.
É difícil ser cristão no mundo de hoje. Sabemos
disso. Pode descrever-se nossa existência em tons parecidos à travessia dos
israelitas pelo deserto durante tantos anos. Os entusiasmos da primeira hora em
nossa vida cristã, religiosa, vocacional ou matrimonial, podem chegar a ser corroídos
pelo cansaço ou pela rotina ou pelas tentações do mundo. Podemos cair na
mediocridade, na indiferença, no conformismo com o mal. Inclusive podemos
chegar a perder a fé.
Por isso, nos vem bem na hora o convite da
Carta aos Hebreus: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração
transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”
(Hb 3,12). Há que continuar lutando e mantendo uma sã tensão na vida. Para esta
luta temos, antes de tudo, a ajuda de Jesus Cristo: “Somos partícipes de Cristo”.
Além disso, temos outra fonte de fortaleza: “Animai-vos uns aos outros, dia
após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’”. O bom exemplo e a palavra
amiga dos outros nos dão força. Portanto, minhas palavras de ânimo podem também
ter uma influência decisiva nos outros para se manter firme na sua fé. Meu exemplo
de vida pode ajudar a manter a esperança nos outros. O apoio fraterno é um dos
elementos mais eficazes em nossa vida de fé. A Carta aos Hebreus nos desperta
do engano individualista e do egoísmo mortal e isolador.
Jesus
Quer Nos Curar De Nossas “Lepras” Que Discriminam e Excluem As Pessoas
Lepra! Que horrível é a lepra. Ainda hoje o
leproso fica marginalizado da sociedade, fechado numa leprosaria. Mas há uma
vantagem: a medicina se interessa por ele; a investigação cientifica busca sua
cura. Na época de Jesus não era assim.
O evangelho
deste dia fala ,
certamente , da cura
de um leproso
(cf. Mt 8,2-4; Lc 5,12-16). Naquela época , lepra não se
restringia apenas à doença
que a medicina
moderna chama
de lepra , mas
qualquer doença
da pele era
considerada como lepra .
E todas as doenças eram consideradas como um castigo de Deus ,
mas a lepra era o próprio símbolo do pecado .
A lepra era
considerada como a própria
morte , pois dificilmente
podia ser curada. A cura
da lepra era ,
por isso ,
considerada um milagre ,
como se fosse uma ressurreição
de um morto .
Isto quer
dizer que somente Deus podia
curá-lo dessa lepra . Acreditava-se, além disso, que
a lepra era um instrumento eficaz usado por
Deus para castigar os invejosos ,
os arrogantes , os ladrões ,
os assassinos , os responsáveis
por falsos
juramentos e por
incestos .
Os leprosos
eram considerados no AT como impuros (cf. Lv 13,3), por
isso eram excluídos de quaisquer direitos sociais
e eram marginalizados do convívio da comunidade até
a sua cura
(eles deviam ficar
fora dos povoados ),
pois a lepra era considerada como
uma impureza contagiosa
(cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso
evitava o contato com
um leproso
para não se tornar impuro . Por isso , um leproso , além de sofrer a dor da lepra (fisicamente),
sofria também o preconceito
(psicologicamente e socialmente ), pois era excluído da comunidade
por ser impuro . Além
disso, era acusado como
um grande
pecador , porque
a lepra era
considerada como um
grande castigo
de Deus . O leproso
é o protótipo da marginalização religiosa e social
imposta pela
Lei (Lv.13,45-46).
E Jesus, embora
saiba da proibição
de fazer contato
com qualquer
leproso , estende a mão
e o tocou: “Jesus, cheio de compaixão , estendeu a mão ,
tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica
curado! ’” (Mc 1,41). Por que Jesus tocou o leproso ?
Por compaixão :
“Jesus cheio de compaixão ...”.
As misérias humanas tocam Jesus profundamente . Se no Batismo ,
Jesus se solidarizou com a multidão de pecadores ,
também o faz aqui
nessa cena com
o leproso . Aqui
Jesus não se limita apenas
nas palavras , mas
Ele se aproxima e toca
no leproso , pois
quer transmitir
toda Sua
solidariedade . Para
Jesus, o leproso não
era um
marginalizado e sim uma pessoa
digna de Sua
bondade , capaz
de se abrir à misericórdia
divina .
O leproso
“foi e começou a contar e a divulgar
muito o fato ”.
É assim que
Marcos concluiu o episódio .
Mc apresenta o leproso curado como um verdadeiro anunciador do Evangelho .
O leproso purificado se converte em apóstolo e
anuncia Jesus a todos . E por isso , “de
toda parte
vinham procurar Jesus”.
O ato
dos dois (do leproso
e de Jesus) era verdadeiramente audacioso para a sua época . Os dois quebram o costume de longa data . O leproso tem grande
vontade de ficar
curado e acredita no poder de Jesus. E Jesus, por sua vez , tem compaixão
pela miséria
do homem , e, por
isso , se aproxima do homem e quer
integrá-lo à vida normal
como qualquer
ser humano .
O Reinado
de Deus não
exclui ninguém da salvação (cf. At
10,34-35; Mt 5,45). Neste contexto , o leproso personifica a multidão
de marginalizados em busca da salvação. E Deus
sempre acolhe quem
o busca com
sinceridade e fé .
Deus não
decepciona quem o procura
permanentemente . O gesto
exterior de Jesus de estender
a mão e de tocar
no leproso é sua
identificação interior
profunda com
o sofrimento do leproso .
O evangelho
de hoje nos
convida a fazermos o exame de consciência
sobre como
tratamos os marginalizados da sociedade , os “leprosos ” de nossa
sociedade . O exemplo
de Jesus é claro . Ele
nunca permaneceu indiferente
diante do sofrimento humano . Nós , como cristãos ,
devemos imitar Jesus. Devemos afastar “as lepras”
de nosso coração, “lepras” que discriminam, que excluem as pessoas de nossa
convivência, lepras de falta de perdão e de benevolência e de misericórdia e
assim por diante. Quem tem um coração pura, ama o outro de verdade e com liberdade.
O ato de
Jesus de se aproximar do leproso
e de tocá-lo nos leva
a nos perguntarmos: “Como você se posiciona perante “os leprosos ”
(marginalizados) da humanidade : fugir , aproximar-se ou
procurar erguê-los como
Jesus fez?” Ou o nosso
coração está cheio
de “lepra ” faz com
que nos
afastemos dos outros e afastemos os outros ? A “lepra ” que mata é a vida sem amor pelo próximo :
mata quem vive
sem amor
e mata quem precisa deste amor .
“Não
contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua
purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”, assim disse
Jesus ao homem curado da lepra.
Mas como pode o homem que foi tocado pelo amor
de Deus permanecer calado? É impossível! Muitos cristãos permanecem calados
para dar testemunho sobre o amor de Deus, o amor que cura e salva. Será que
ainda não foram tocados pelo amor de Deus que cura? Muitos cristãos permanecem
calados cheios de medo, vivendo como faziam os leprosos, isolados da
comunidade. É necessário que peçamos a Jesus: “Senhor, se queres, podes
purificar-me”. Ao mesmo tempo é necessário que Jesus nos diga outra vez: “Eu
quero: fica curado!”. Creio que Jesus vai fazer toda vez que lhe fizermos o
mesmo pedido. Só assim ficaremos cheios de vida no Espirito. Assim uma vez
tocados pelo amor de Deus que cura, nos converteremos em verdadeiras
testemunhas deste amor no mundo.
“Pai
misericordioso e Deus fiel , Vós nos destes vosso
Filho Jesus Cristo ,
nosso Senhor
e Redentor . Ele sempre se mostrou cheio de misericórdia
pelos pequenos
e pobres , pelos
doentes e pecadores ,
colocando-se ao lado dos perseguidos e
marginalizados. Com a vida e a palavra
anunciou ao mundo que
sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas... Dai-nos olhos
para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos
irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações
para confortar os
desanimados e oprimidos ; fazei que , a exemplo
de Cristo , e seguindo o seu mandamento ,
nos empenhemos lealmente
no serviço a eles .
Vossa Igreja
seja testemunha viva
da verdade e da liberdade ,
da justiça e da paz ,
para que toda a humanidade
se abra à esperança de um mundo novo ” (Oração Eucarística VI-D).
P. Vitus Gustama,svd
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