sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

18/02/2025-Terçaf da VI Semana Comum

SEJAMOS BONS FERMENTOS DO SENHOR NESTA VIDA

Terça-Feira Da VI Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 6,5-8; 7,1-5.10

6,5 O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal. 6 Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração muito magoado, 7 e disse: “Vou exterminar da face da terra o homem que criei; e com ele, os animais, os répteis e até as aves do céu, pois estou arrependido de os ter feito!” 8 Mas Noé encontrou graça aos olhos do Senhor. 7,1 O Senhor disse a Noé: “Entra na arca com toda a tua família, pois tu és o único homem justo que vejo no meio desta geração. 2 De todos os animais puros toma sete casais, machos e fêmeas, e dos animais impuros, um casal, macho e fêmea. 3 Também das aves do céu tomarás sete casais, machos e fêmeas, para que suas espécies se conservem vivas sobre a face da terra. 4 Pois, dentro de sete dias, farei chover sobre a terra, quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da superfície da terra todos os seres vivos que fiz”. 5 Noé fez tudo o que o Senhor lhe havia ordenado. 10 E, passados os sete dias, caíram sobre a terra as águas do dilúvio.

Evangelho: Mc 8,14-21

Naquele tempo, 14os discípulos tinham se esquecido de levar pães. Tinham consigo na barca apenas um pão. 15Então, Jesus os advertiu: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”.16Os discípulos diziam entre si: “É porque não temos pão”. 17Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? 18Tendo olhos, não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais 19de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?”Eles responderam: “Doze”. 20Jesus perguntou: E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas, quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços? Eles responderam: “Sete”. 21Jesus disse: “E ainda não compreendeis?”

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Um Deus Justo Que Pune, Um Deus Bom Que Não Sacrifica o Homem Piedoso

O texto da Primeira Leitura extrai do relato preliminar do dilúvio os versículos da tradição Javista. A história do dilúvio pertence a uma lenda popular difundida no Oriente Médio, talvez originária de alguma grande inundação na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates.

O autor de Gênesis, vestindo-o com trajes literários populares, interpreta esse dilúvio em um sentido religioso. A ideia básica é que foi o pecado que causou esse desequilíbrio cósmico, assim como também causou a grave desordem causada pelo assassinato do irmão.

O texto quer focalizar os antagonistas do dilúvio: uma humanidade que, desde Adão, não cessou de retroceder ou não quer parar de pecar: “O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal. Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração muito magoado”. Aqui o autor usa a linguagem antropomórfica, isto é, uma maneira de falar, que empresta reações humanas a Deus. É certamente necessário usar a linguagem antropomórfica aqui; mas esse modo de falar que presta a Deus as reações humanas, não deixa de ter um profundo significado. Toda revelação nos apresenta um Deus sensível ao sofrimento humano. O mal não o deixa indiferente. Há uma incompatibilidade absoluta entre Deus e o mal, entre Deus e a injustiça, entre Deus e a opressão, entre Deus e a maldade, entre Deus e a marginalização do ser humano, entre Deus e a escravidão de um ser humano, entre Deus que é amor e o ódio, e assim por diante.

Toda a moral autêntica é baseada nesta convicção de que os comportamentos do homem não são indiferentes, mas comprometem a Deus: Deus quer o bem e a felicidade. Deus vai contra o mal e a desgraça. Ao enviar seu Filho para a salvação do mundo, Deus é fiel a si mesmo. É muito bom contemplar "Deus magoado" pelo mal que os homens continuam a fazer hoje como no tempo do dilúvio! Isso pode nos comprometer profundamente a lutar com Ele energicamente.

No auge da desgraça encontra-se um único justo (Noé) perdido neste universo por quem Deus salvará a humanidade do cataclismo. Aqui o autor mostra um Deus justo que pune e um Deus bom que não safricica o homem piedoso com os outros. Deus não despreza nenhum justo. Mesmo encontrando-se no meio da tempestade desta vida, o justo sairá vitorioso, pois “a vida dos justos está nas mãos de Deus e nenhum tormento os atingirá” (Sb 3,1). Não tenhamos medo de ser justos! Não tenhamos vergonha de ser justos! Um homem justo na Bíblia é aquele que é fiel aos mandamentos de Deus, que tem nos anúncios proféticos e espera seu cumprimento. Ele, por isso, é protótipo de um israelita verdadeiro.

Mas Noé encontrou graça aos olhos do Senhor:Tu és o único justo que viu nesta geração’”.

Jesus Cristo, o único verdadeiro justo, será também Quem salvará definitivamente a humanidade da perdição total. Jesus é o Salvador da humanidade.

O escritor sagrado nos apresenta, então, uma figura de Deus ingênua e genial ao mesmo tempo, com a mesma simplicidade com que no relato da criação e do paraíso fala das palavras, ações e passeios de Deus na brisa da tarde, e que agora escreve: “O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal. Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração muito magoado”.

Estamos diante de uma humanização de Deus atrevida, até arriscada e sem precedentes do ponto de vista teológico. Aparentemente, mas somente aparentemente Deus não é Aquele que sabe tudo - o Onisciente - e que se surpreendeu com a forma como os homens agem, a ponto de sentir magoado e decidir a destruição da humanidade. A desilusão e o desencorajamento - tais sentimentos humanos - são projetados em Deus, sem que sua figura pareça diminuída aos olhos do justo do Antigo Testamento. O escritor sagrado estava tão convencido da eternidade de Deus e da grandeza de Deus, que ele podia se dar ao luxo de humanizá-lo nessa medida. Não é por acaso que no Novo Testamento este Deus “se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1,14): é um Deus que se compadece (Mt 9,36), que tem sede (Jo 19,28), que tem pavor diante da morte (Mc 14,36), que grita da dor da solidão/abandono (Mc 15,34). Mas desta maneira é que Deus nos salvou por amor e pela sua ressurreição experimentaremos também a ressurreição pela fé n´Ele (Jo 11,25).

Entre na arca, você e sua família, com sete animais puros de cada espécie....”. É uma linguagem simbóloca. Por um lado, é o homem que salva e deve salvar a natureza. Em determinada situação, o homem é que destrói a natureza.  O homem é o responsável pela destruição da natureza em nome de dinheiro. O único mal verdadeiro é o mal culpável: aquele que o homem faz.

Por outro lado, esta “arca da salvação”, esta barca de salvamento, cheia de seres vivos tão díspares, é uma imagem da Igreja. Porque, em última análise, Deus não quer destruir, mas salvar. A Bíblia continua nos dizendo que o mal não terá a última palavra. Jesus, “Deus salva”, aparece no horizonte do dilúvio universal, como salvador universal definitivamente.

Outra lição que podemos tirar da cena do dilúvio é esta: teremos que deixar sempre uma margem à esperança na nossa vida em qualquer situação encontrada. Através de Noé que é o único piedoso, Deus salvou a humanidade através da água. No dia de nosso Batismo fomos “salvos através da água”, como foram oito membros da família de Noé (1Pd 3,20). Fomos incorporados ao novo Noé: Jesus Cristo, que atravessou a morte e passou para a nova existência na Arca que é a Igreja. Vivamos como pessoas renovadas em Cristo Jesus! 

Sejamos Bons Fermentos Para a Humanidade

A partir de um episódio de pouca importância, isto é, o esquecimento de os discípulos levarem pães suficientes para o barco, Jesus aproveita a ocasião para dar uma lição sobre o fermento que eles devem evitar. “Cuidado! Guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes”.

O fermento é um elemento pequeno, simples, humilde, mas que é capaz de fermentar para o bem ou para o mal toda a massa de farinha de trigo. Ele trabalha silenciosamente e imperceptível, mas o resultado é bem notável.

No AT a festa da Páscoa implicava, entre outras coisas, o rito de comer pães não fermentados. O fermento era considerado como sinal e causa de corrupção. A Páscoa era a festa da novidade, da renúncia ao velho, da busca de um Deus que se revela no novo. O NT aprofunda este sentido da novidade e vê em Jesus o homem novo diante do homem velho (1Cor 15,20-23; Rm 6,1-11). Assim fica patente como o fermento se põe em relação com a maldade e a bondade (cf. 1Cor 5,7-8).

Na literatura judeu-helenista a metáfora do fermento se aplicava freqüentemente não a qualquer “corrupção” moral e sim muito concretamente ao orgulho/à arrogância, à soberba, à hipocrisia. Na passagem paralela o evangelista Lucas acrescenta expressamente: “Acautelai-vos do fermento, isto é, da hipocrisia dos fariseus” (Lc 12,1).

Jesus alerta, então, a todos os seus seguidores sobre o perigo do orgulho e da soberba. O orgulhoso/arrogante não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro de atenção e a norma para o resto. O orgulhoso tem todos os vícios como o egoísmo, a injustiça, a ingratidão, a imoralidade, a hipocrisia. Normalmente o orgulho encontra o abrigo nas pessoas desequilibradas ou de pouca personalidade. A arrogância é uma forma de não aceitar as próprias fraquezas e defeitos.

É preciso que estejamos conscientes de que somos criaturas dependentes da graça de Deus para viver e conviver em harmonia com os demais, com a natureza e com o próprio Criador. Por isso, são Paulo diz: “Eu sou o que sou pela graça de Deus(1Cor 15,10). A graça é a razão principal de nossa alegria e de nossa coragem: “Basta-te a minha graça”, responde o Senhor quando são Paulo se queixa do aguilhão em sua carne (2Cor 12,9).

Há fermentos e fermentos. O bom fermento faz crescer a massa e a converte em pão, alimento básico. Na época de Jesus era difícil entender a vida diária sem o pão feito com trigo ou com cereais. Para fazer o pão é necessário o fermento. Uma pequena quantidade de fermento é suficiente para transformar uma quantidade maior de farinha de trigo. Mas existem outros fermentos, capazes de estragar a massa, de empobrecê-la. O bom fermento transforma a massa de trigo em pão saboroso. Mas o mau fermento estraga a massa e o pão já não será fonte de vida, mas será fonte de enfermidade e de morte.

Um fermento bom ou mau dentro de uma comunidade pode enriquecê-la ou destruí-la. Jesus quer que todos os seus seguidores evitem o fermento dos fariseus e de Herodes isto é, o orgulho/arrogância, a soberba, a hipocrisia.

O orgulhoso não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro e a norma. Ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio. O orgulhoso gosta de desprezar, maltratar e colocar os outros na parede. Seus atos não precisam respeitar moral nenhuma, mas impõe aos outros normas morais e éticas.

Um hipócrita gosta de simular virtudes, sentimentos nobres e boas qualidades que não existem nele, com o intuito de conquistar a estima dos outros e obter louvores. Ele julga seus atos a partir da aprovação dos outros e não a partir do valor moral e ético. Ele é tão habilidoso em camuflar-se a ponto de nós o admirarmos. O hipócrita não tem consciência de que a dignidade da pessoa humana não consiste em parecer bom e sim em ser bom. “Foge por um instante do homem irado, mas foge sempre do hipócrita”, dizia Confúcio, sábio chinês.

Acautelai-vos do fermento, isto é, da hipocrisia dos fariseus”. O fermento é um elemento pequeno, simples e humilde, mas pode fazer uma massa inteira de pão fermentar para melhor ou para pior. Também pode ser entendido num sentido simbólico: um fermento bom ou ruim, dentro de uma comunidade, pode enriquecê-la ou estragá-la. Jesus quer que seus discípulos evitem o fermento dos fariseus e de Herodes.

Acautelai-vos do fermento, isto é, da hipocrisia dos fariseus”. O aviso é para nós, antes de tudo, em nossa vida pessoal. Uma atitude interna de inveja, ressentimento, hipocrisia e egoísmo pode arruinar toda a nossa conduta. Nos fariseus, esse fermento ruim poderia ser a hipocrisia ou o legalismo; em Herodes, poderia ser o sensualismo ou a superficialidade egoísta.

Ao contrário, quando há fé e amor interior, tudo é transformado por esse bom fermento interior. Os atos visíveis têm uma raiz na nossa mentalidade e no nosso coração: teríamos que nos conhecer profundamente e atacar a raiz.

Estes fermentos têm uma força suficiente para destruir uma comunidade por dentro. Uma atitude interior de vaidade, de hipocrisia e do legalismo (como os fariseus), de rancor, de egoísmo, de arrogância, de superficialidade interesseira e de sensualismo (como Herodes), pode destruir nossa própria vida e a vida de uma comunidade.

Mas quando dentro de nós e de uma comunidade há fé e amor fraterno tudo se transforma em fermento bom. Nossos atos visíveis têm sua raiz em nossa mentalidade e em nosso coração. O coração é de cada um de nós, mas o nosso rosto é dos outros, isto é, aquilo que tem no nosso coração passa a ser visível no nosso rosto e no nosso comportamento. Por isso, São Paulo nos dá o seguinte conselho: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de pureza e de verdade” (1Cor 5,6-8).

O fermento bom transforma a massa de trigo em pão saboroso, alimento básico para o ser humano. O fermento mau/ruim estraga a massa de trigo e o pão se torna fonte de enfermidade e de morte. Que tipo de fermento sou eu na minha comunidade, no meu grupo ou na minha família? O que tem na sua mão diante da “massa” da comunidade: fermento bom ou fermento mau/ruim? “O espírito se enriquece com aquilo que recebe; o coração com aquilo que dá” (Victor Hugo). “O fermento é uma substância que excita outras substâncias, e nossa vida é sempre um fermento espiritual com que influenciamos as existências alheias” (Wambasten Lima).

P. Vitus Gustama,svd

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