MARIA MADALENA:
SEU AMOR E SUA BUSCA POR JESUS
22 de Julho
Primeira Leitura: Ct 3,1-4a
Eis o que diz a noiva: 1Em meu leito, durante a noite,
busquei o amor de minha vida: procurei-o, e não o encontrei. 2Vou levantar-me e
percorrer a cidade, procurando pelas ruas e praças, o amor de minha vida:
procurei-o, e não o encontrei. 3Encontraram-me os guardas que faziam a ronda
pela cidade. “Vistes porventura o amor de minha vida?” 4aE logo que passei por
eles, encontrei o amor de minha vida.
Evangelho: Jo 20,1-2.11-18
1 No primeiro
dia da semana,
Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda
estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2 Então
ela saiu correndo e foi encontrar
Simão Pedro e o outro discípulo, aquele
que Jesus amava, e lhes
disse: “Tiraram o Senhor do túmulo,
e não sabemos onde
o colocaram”. 11 Maria estava do lado
de fora do túmulo,
chorando. Enquanto chorava, inclinou-se
e olhou para dentro
do túmulo. 12 Viu, então, dois anjos vestidos
de branco, sentados onde
tinha sido posto
o corpo de Jesus, um
à cabeceira e outro
aos pés. 13 Os anjos perguntaram: “Mulher,
por que
choras?” Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o
colocaram”. 14 Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé.
Mas não
sabia que era
Jesus. 15 Jesus perguntou-lhe: Mulher,
por que
choras? A quem procuras?”
Pensando que era
o jardineiro, Maria disse: “Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde
o colocaste, e eu o irei buscar”.
16 Então Jesus disse: “Maria!” Ela voltou-se e exclamou, em
hebraico: “Rabunni” (que quer dizer: Mestre). 17 Jesus disse: “Não
me segures. Ainda
não subi para
junto do Pai.
Mas vai dizer
aos meus irmãos:
subo para junto
do meu Pai
e vosso Pai,
meu Deus
e vosso Deus”.
18 Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos:
“Eu vi o Senhor”,
e contou o que Jesus lhe tinha dito.
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Maria Madalena: Do Seu
Primeiro Encontro
com Jesus. Este
é um dos personagens
bíblicos escritos pelo
famoso escritor
libanês, Khalil Gibran, no seu livro: Jesus,
o Filho do Homem.
No encontro com
Maria Madalena, Khalil Gibran colocou na boca
de Jesus as seguintes palavras dirigidas a Maria Madalena: “Tu
tens muitos amantes;
entretanto só
eu te
amo. Os outros
homens amam a si
mesmos quando
te procuram. Eu
ti amo por
ti mesma. Os outros
homens veem em
ti uma beleza que
desaparecerá mais cedo
do que seus
próprios anos.
Mas eu
vejo em ti uma beleza
que não
esmaecerá e, no outono dos teus dias, esta
beleza não
terá receio de olhar-se no espelho,
e não será ofendida. Somente
eu amo
o que não
se vê em
ti”.
Khalil Gibran colocou na boca
de Maria Madalena as seguintes palavras como sua reação diante da pessoa e das palavras de Jesus: “Então,
levantou-se e olhou-me como as estações devem olhar para os campos, e
sorriu. E disse novamente: ‘Todos os homens
te amam por
si mesmos.
Eu te
amo por
ti mesma’. E afastou-se, caminhando. Eu não sabia, mas naquele dia
o poente de Seus
olhos matou o dragão
que havia em
mim, e tornei-me uma mulher, tornei-me Miriam”.
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Celebramos no dia 22 de julho
a festa de Maria Madalena. “Maria”
significa “preferida por Deus”. Seu sobrenome “Madalena” é o nome
da cidade onde
ela nasceu, situada na orla do mar da
Galiléia.
Maria Madalena (Magdalena), assim com seu nome completo,
aparece em várias cenas evangélicas. Ocupa o primeiro lugar entre as mulheres
que acompanham a Jesus (Mt 27,56; Mc 15,47; Lc 8,2). Ela está presente durante
a Paixão (Mc 15,40) e ao pé da Cruz com a Mãe de Jesus (Jo 19,25); ela observa
como sepultam o Senhor (Mc 15,47); chega antes que Pedro e João ao sepulcro, na
manhã da Páscoa (Jo 20,1-2); é a primeira a quem Jesus ressuscitado aparece (Mt
28,1-10; Mc 16,9; Jo 20,14); é enviada a sr apóstolo dos apóstolos (Jo 20,18).
Tanto Marcos como Lucas nos informam que Jesus expulsou dela “sete demônios” (Lc
8,2; Mc 16,9).
Dela sabemos muito pouco,
além das informações acima mencionada, mas
os traços, que
nos oferece o evangelho,
apoiado pelo texto da Primeira Leitura, nos
permitem adentrarmos no mistério de “um amor muito mais forte do que a morte” encontrado em Maria Madalena.
Ao incluir o livro do
Cântico dos Cânticos, de onde foi tirado o texto da Primeira Leitura, no Cânon dos
Livros inspirados, que fala bastante sobre o amor humano, Israel, e depois a
Igreja, reconheceu que não se trata somente da consagração do amor entre o
homem e a mulher, e sim muito mais do que isto: trata-se da expressão simbólica
do amor de Deus por seu povo. Também a alma sedenta de Deus conhece as longas
noites de silêncio de Deus e de sua incompreensível ausência, mas que purificam
a alma humana: “Em meu leito, durante a noite, busquei o amor de minha vida:
procurei-o, e não o encontrei” (Ct 3,1).
Na inquietude desperta-se
o desejo do Senhor e volta a busca apaixonada e vital: “Vou levantar-me e percorrer a
cidade, procurando pelas ruas e praças, o amor de minha vida” (Ct
3,2ª). É preciso perseverar nesta tensão: “Encontraram-me os guardas que faziam a ronda
pela cidade. ‘Vistes porventura o amor de minha vida?’”. E depois é
preciso ir além, na consciência de que Deus pode nos orientar a Ele. Então, Ele
próprio se fará presente a quem não se cansa de procurá-Lo na noite da vida com
coração ardente: “E logo que passei por eles, encontrei o amor de minha vida” (Ct
3,4ª).
E o texto do Evangelho de hoje
nos mostra que o amor de Maria Madalena não morre sob a Cruz. Jesus tinha
devolvido a vida em plenitude para Maria Madalena e a partir daquele momento,
ela começou a viver para o Senhor (Cf. Lc 8,2).
Na hora trágica d
Sexta-Feira Santa, Maria Madalena permanece fiel Àquele que salvou sua
dignidade. Nada pode afastar Maria Madalena de seu objetivo nem sequer o
descimento do túmulo vazio.
Maria Madalena é figura
da Igreja-esposa e de toda alma que busca a Cristo e não tem outra coisa para
oferecer que as lágrimas do amor. E o Senhor se deixa encontrar por quem O
busca deste modo. Ressuscitado e vivo, o Senhor se aproxima de quem sabe
permanecer na solidão junto ao mistério incompreensível: “Maria estava do lado de fora do
túmulo, chorando” (Jo 20,11ª). No entanto, somente podemos reconhecer o
Senhor quando Ele nos chama por nosso nome e nos faz sentir que Ele nos conhece
profundamente. Nosso nome está realmente tatuado na palma da mão do Senhor,
segundo o profeta Isaías (Cf. Is 49,16).
Em Maria Madalena vemos
o luminoso testemunho de quem, perseverando-se na busca de Deus, ainda que seja
na obscuridade da fé e na prova da esperança, encontra, por fim, Aquele a quem
ama, ou melhos dizer, foi encontrado por Aquele que nos ama até o fim (Cf. Jo
13,1).
A frase
“Encontrei o
amor de minha
vida” que
nos diz o Livro
do Cântico dos Cânticos
parece-nos apropriada para
resumir a trajetória
pessoal de Maria Madalena. Quem experimenta
o amor de Cristo
vê as coisas
de outra maneira,
vê a morte da
vida velha
ou vê
a morte da vida
passada para experimentar a vida nova. Por causa dessa nova visão a pessoa acaba
mudando de vida (maneira
de viver). Maria Madalena viveu essa experiência em seu encontro pessoal com
Jesus. Tão profundo
e tão decisivo
foi o primeiro encontro
com Jesus que
tornou a vida de Maria Madalena uma busca incessante
do Bem Maior que é Jesus Cristo
como relatou o evangelho
deste dia. Somente
busca o Bem Maior aquele que foi encontrado pelo Bem Maior. Parece-nos
que o Salmo
responsorial foi feito para
esse fim:
“A minha alma
tem sede de vos,
Senhor, minha
carne também
vos deseja
como terra sedenta e sem água! ... Vosso amor vale mais do que a vida, e por isso, meus lábios vos louvam” (Sl 62/63,1-2).
Que o amor
que transformou Maria Madalena em uma buscadora do Senhor
fica patente na pergunta
que o Ressuscitado lhe
dirigiu: “Mulher a quem
procuras?”. Chamam nossa
atenção duas coisas.
A primeira é que
esta pergunta-chave é precedida por outra pergunta: “Mulher, por que choras?”. Como
se a intensidade da busca/procura fosse proporcional à magnitude
da perda. Somente
choramos por aquilo
que nos
afeta profundamente,
seja por causa
da tristeza profunda,
seja por causa
da alegria profunda,
seja por causa
da partida de uma pessoa
tão amada.
O pranto de Maria Madalena é um certificado
de um amor
direto ao coração.
Choramos por causa
de alegria profunda
como choramos por
causa de uma tristeza profunda. O choro
é a única linguagem
capaz de expressar
tudo que
sentimos profundamente em lagrimas que
nenhuma outra língua
capaz de expressar.
O pranto
de Maria Madalena, como o de Pedro durante a Paixão
é fruto de uma descoberta
da verdade. Por
isso, trata-se de um
pranto salutar,
de um pranto
que exprime o que
não pode ser expresso por
nenhuma palavra humana.
O pranto de Maria Madalena nasce do sentimento de pertença.
Ela chora
por estar em relação com Jesus que em determinado momento desaparece. Ela
tem sentimento de pertencer
a Cristo, a relação
com define sua
vida. Ela
é como é agora
por causa de Cristo que
devolveu sua dignidade.
A segunda
coisa que chama atenção é
a mudança de termos.
Para o pranto
se busca uma causa:
“Por que
choras?”. Ou “Por
qual razão
tu choras”. O que
se busca na pergunta
é a causa do pranto.
Mas para a busca
se faz referência a uma pessoa:
“A quem procuras?”.
Maria Madalena não busca
um ideal,
não uma causa
pela qual
lutar, não busca um sentido, pois tudo isto vem por acréscimo.
Maria Madalena busca Aquele que,
olhando-a de outra maneira,
restituiu-a em sua
dignidade de mulher.
Ela busca
Aquele a Quem
seguia pelos caminhos
da Galiléia em companhia
de outros homens
e mulheres. Ela
busca Aquele
que foi cravado em
uma madeira e abandonado quase por todos, exceto ela e a própria
mãe de Jesus e algumas outras pessoas (cf. Jo 19,25). Ela
busca Aquele
que lhe
garante um futuro
seguro. Ela busca Aquele que tem a ultima palavra
para sua vida e sua morte. Ela busca Aquele que é capaz de lhe dar a serenidade apesar
de estar no meio
das tempestades desta vida.
“Jesus lhe disse: ‘Maria’”. Jesus escolhe a maneira mais pessoal e a mais
imediata: chama-a pelo
nome “Maria”. Para
cada um
de nós Deus
tem nome, por
anônima que
seja uma pessoa na sociedade.
E Deus nos
chama pelo nome: “Eu
te chamo pelo
nome, és meu”,
disse Deus para
cada um
de nós (Is 43,1). “Eis
que estás gravada na palma de minhas
mãos, tenho sempre
sob os olhos
tuas muralhas”, acrescentou Deus (Is 49,16). Quando
estivermos dominados pelas preocupações,
pelo medo, pela tristeza, pelo desespero, pela confusão; quando trilharmos pelo caminho errado, quando
compactuarmos com
o mal ou
com a maldade;
quando ficamos irritados, nervosos com a vontade de destruir tudo, Deus nos chama pelo nome: Maria,
Valéria, Mônica, Bernardo, Lucas, João,
José...! Deus quer
nos dizer: “Ei...Estou aqui!
Não estás Me
vendo? Dirige teus olhos
para Mim, e não para o túmulo de tua vida!”.
Merecem nossa atenção e
nossa meditação
para duas perguntas
essenciais encontradas no evangelho de João para nossa vida e nossa peregrinação
neste mundo: “O que
realmente você
está procurando neste mundo?”. Esta pergunta é feita por Jesus logo
no inicio do evangelho de João: “Que estais procurando?”. É a pergunta
dirigida aos primeiros discípulos no evangelho
de João (Jo 1,37).
Parece-me que dedicamos bastante
tempo de nossa
vida em
função da procura
do “o quê” de nossa
vida. Uma vez
Oscar Wilde escreveu: “Neste mundo só há
duas tragédias: uma é não se conseguir o que se quer, a outra é conseguir”. Mas no fim
confessamos que o dinheiro
e o poder não
satisfazem aquela fome sem nome que temos na alma.
Carl Gustav Jung escreveu no seu livro: O Homem Moderno à
Procura de Uma alma,
escreveu: “O problema de cerca de um terço de meus pacientes não é
diagnosticado clinicamente como neurose, mas resulta
da falta de sentido
de suas vidas
vazias. Isto pode ser
definido como
a neurose geral
de nossa época”.
O que nos
frustra e tira nossa
alegria de viver
é a ausência do significado
de nossa vida.
Nossa alma
não está sedenta
de poder, de fama, de popularidade, de conforto,
de propriedades e assim
por diante.
Nossa alma
tem fome do significado
da vida, ou
de aprendermos a viver de tal
modo que
nossa existência
ou nossa
passagem neste mundo
tenha importância ou
significado capaz
de modificar ou
de melhorar o mundo,
pelo menos,
ao nosso redor.
Através dessa primeira pergunta o evangelista João nos
dirige para a pergunta essencial que ele coloca no fim
do seu evangelho.
A pergunta é esta: “A quem
procuras?”. De fato,
as coisas, as riquezas,
os bens materiais
mesmo que
os possuamos, eles continuam sendo alheios a nós. Eles jamais serão nossos próximos. No fim
confessamos que estamos procurando Alguém capaz de
nos salvar de
uma vida vazia.
A resposta que
o evangelista nos
dá é Jesus: “Jesus fez ainda, diante de seus discípulos, muitos
outros sinais,
que não
se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos
para crerdes que
Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para
que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo
20,30-31; cf. Jo 10,10; 14,6).
“O que
estais procurando?” e “A quem estais
procurando?”. Como é que você pode colocar em equilíbrio estas duas perguntas
na sua vida
cotidiana para
que sua
vida realmente
tenha sentido? Você
enfatiza mais na pergunta
“O que estais procurando?” ou “A quem
estais procurando?”.
Para Refletir:
“Onde é que Te encontrei para poder conhecer-Te (Senhor)? Não estavas na minha
memória antes
de eu Te
conhecer. Onde,
então, Te
encontrei, para conhecer-Te, senão
em Ti mesmo,
acima de mim?
Eis que
habitavas dentro de mim
e eu Te
procurava do lado de fora! Tu me chamaste, e Teu
grito rompeu a minha
surdez. Fulguraste e brilhaste e Tua luz afugentou a minha
cegueira. Espargiste tua fragrância
e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu Te saboreei,
e agora tenho fome
e sede de Ti. Tu
me tocaste, e agora
estou ardendo no desejo de Tua paz. Fizeste-nos para Ti, e
inquieto está o nosso coração, enquanto
não repousa em
Ti. Dá-me, Senhor, saber
e compreender qual
seja o primeiro: invocar-Te ou
louvar-Te... Quem O procura
O encontra, e, tendo-O encontrado, O
louvará. (Santo
Agostinho. Confissões, X,26-27;
I,1).
P. Vitus Gustama,svd
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