sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Nossa Senhora Aparecida, 12 de Outubro + XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM "C"

BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DA CONCEIÇÃO APARECIDA

Solenidade

Primeira Leitura: Ester 5,1-2; 7,2-3

1b Ester revestiu-se com vestes de rainha e foi colocar-se no vestíbulo interno do palácio real, frente à residência do rei. O rei estava sentado no trono real, na sala do trono, frente à entrada. 2 Ao ver a rainha Ester parada no vestíbulo, olhou para ela com agrado e estendeu-lhe o cetro de ouro que tinha na mão, e Ester aproximou-se para tocar a ponta do cetro. 7,2b Então, o rei lhe disse: “O que me pedes, Ester; o que queres que eu faça? Ainda que me pedisses a metade do meu reino, ela te seria concedida”. 3 Ester respondeu-lhe: “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida — eis o meu pedido! — e a vida do meu povo — eis o meu desejo!”

Segunda Leitura: Apocalipse 12,1.5.13.15-16

1 Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. 5 E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. 13ª Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o dragão começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. 15 A serpente, então, vomitou como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. 16ª A terra, porém, veio em socorro da mulher.

Evangelho: Jo 2,1-11

Naquele tempo, 1 houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. 2Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3 Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”.  4 Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. 5 Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser”. 6 Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7 Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. 8 Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. 9 O mestre-sala experimentou a água que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 10 O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” 11 Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.

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I. Maria é a Primeira Discípul, Símbolo Da Igreja-Esposa

Obediência e serviço, do ponto de vista teológico, são duas coisas inseparáveis, porém são duas atitudes mais difíceis de se praticar. Estas duas atitudes exigem que deixemos de pensar em nós mesmos. Maria é, neste sentido, paradigma de obediência e serviço. Obediência e serviço estavam empregnados na maneira como Maria vivia a partir de seu Fiat, do seu “Faça-se”. A obediência e o desejo de servir se apresentam nela como elementos que a tornam uma discípulo por excelência.

Maria é a Mãe de Jesus (Mãe do Senhor), mas também se apresenta como sua discípula. Ela assume o discipulado como estilo de vida. Ela vive conforme a Palavra Divina que é seu próprio Filho, Deus feito homem. Por isso ela convida os outros a fazerem o que Jesus manda fazer: Fazei o que Ele vos disser. Maria sabe que que Jesus sempre se apresenta na relação conosco como Senhor e por isso, devemos tudo quanto Jesus nor ordenar. Maria vive para Jesus não somente porque ele é seu Filho, mas porque sabe que ele é o Filho de Deus e o Salvador do mundo.

Algo que chama a atenção na vida de Maria, especialmente no Evangelho de são João (Quarto Evangelho) é que Ela está sempre presente nos momentos decisivos da vida de Jesus que no Evangelho de João são resumidos em dois acontecimentos importantes: No início da vida pública de Jesus (Jo 2,1-12) e no fim da sua vida pública (no início de sua missão), aos pés da cruz, no fim de sua missão (Jo 19,25-27). Se em Caná da Galiléia a “Hora” de Jesus tinha chegado, no Calvário essa Hora chegou e Maria estava nesses dois momentos decisivos, não somente como Mãe, mas principalmente como discípulp, por excelência.

Na cruz e da cruz, Jesus entregou Maria a nós como nossa Mãe, Mãe da Igreja, através do discípulo amado: “Eis a tua Mãe!” (Jo 19,27). A fé na presença da Mãe do Senhor em nossa vida tranquiliza nosso coração e passa um sentimento de confiança. Não há situações, dias, locais nos quais não possamos sentir a presença de Maria que nos acompanha. Crer na presença de Maria, como ela estava presente festa de bodas em Caná nos impele a confiar que, em todas as situações que vivemos, Maria está ao nosso lado.

Além disso, a partir das bodas de Caná em que Maria desempenhou seu papel para solucionar o problema existente (faltar vinho na festa), nos dá o exemplo da prática de solidariedade, amor, ternura e acolhimento que se deve ter em todos os cristãos. Dentro deste contexto, todo gesto de solidariedade faz parte também da espiritualidade mariana. Ser solidário é pensar nos outros em sua necessidade, como a rainha Ester (Primeira Leitura) que pensa de forma comunitária, e não a partir do interesse pessoal.

Aparece no livro de Apocalipse (Segunda Leitura) uma misteriosa “mulher” vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Está grávida e grita com dores de parto. Depois dá à luz um filho homem, que é o Messias (Ap 12). E o Apocalipse diz que um grande Dragão vermelho se pôs diante da mulher, disposto a devorar o menino, mas o menino foi levado ao céu. Então, o grande Dragão, sentindo-se frustrado, voltou-se contra a mulher e os demais filhos seus. Mas esses filhos se esconderam no deserto e lá foram alimentados por Deus.

Essa “mulher” não pode ser a Maria histórica, real, pois nunca lhe aconteceu tal fato em sua vida: Ter de fugir com seus outros filhos para o deserto. Quem é ,então, essa mulher? É Maria, mas já tão enaltecida, que se transformou nada menos do que em um símbolo da Igreja perseguida de então. Por isso, aparece com muitos filhos (os cristãos) que fogem do Dragão (o Império Romano) para deserto (algum lugar seguro) e são alimentados por Deus (Eucaristia).

Tudo isso quer nos dizer que Maria continua sendo nossa Mãe que nos intercede e nos proteja de todo mal. Por isso na oração Ave Maria pedimos à Nossa Senhora: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!”.

Em Caná da Galiléia (Evangelho) Jesus aparece como o verdadeiro esposo, já que se encarrega de dar o vinho excelente aos convidados (600 litros). Sendo sua mãe que o consegue, Maria aparece como a noiva, símbolo da Igreja gloriosa que se une definitivamente  ao seu esposo, Jesus Cristo.

Portanto, se no Apocalipse Maria foi elevada ao símbolo da “Igreja-perseguida”, e na Bodas de Caná foi elevada ao símbolo da “Igreja-esposa, aos pés da Cruz Maria é símbolo da “Igreja-mãe” (Jo 19,27).

II. Nossa Senhora Da Conceição Aparecida e As Bodas de Caná da Galiléia

Neste dia tragamos de volta aqueles três simples pescadores: Domingos Martins Garcia, Filipe Pedroso e Joao Alves. Eles estavam pescando no Rio Paraiba do Sul no lugar chamado Porto Itaguaçu em 1717. No início, em vez de pegar peixes, eles apanharam na sua rede a imagem de Nossa Senhora sem cabeça. Na nova tentativa apanharam a cabeça da imagem. Dai em diante, os peixes chegaram em abundância para os tres humildes pescadores. É o primeiro milagre para esses simples pescadores para sua vida, pois para os pescadores, peixe significa vida, significa o pão de cada o qual pedimos no Pai Nossos. Para vivermos a vida na sua abundância e plenitude precisamos colocar em primeiro lugar Aquele que é a fonte e o Doador da vida: Deus. Aqui Maria representa aquele ventre bendito pelo qual nos trouxe a vida. Para vivermos na alegria, no ânimo, precisamos colocar Deus em primeiro lugar, precisamos viver a Palavra de Deus e de acordo com Sua Palavra. A vida, antes de ser vivida, precisa ser rezada para que possamos viver a vida na sua abundância e plenitude.

Para celebrar a festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida a Igreja (no Brasil) escolhe uma passagem do evangelho de São João 2,1-11 que fala da festa de casamento em Caná da Galiléia. No entanto, os protagonistas não são os noivos, mas Jesus e sua mãe, o que aponta já para dois níveis de leitura: a leitura a partir de Cristo que converte a água em vinho e a leitura a partir de Maria que faz a intervenção suplicante nessa festa.          

2.1. Festa De Casamento: Quem é O Nosso Deus Revelado Em Jesus Cristo?         

O simbolismo matrimonial é freqüente na Bíblia (Is 54,6.10;62,5;Os 2,16-18.21 etc...) para falar da ternura, da intimidade e do afeto da nova relação de Deus com o seu povo, todos nós. Isto quer nos dizer que o nosso Deus não é um Deus severo e tirano, e sim esposo e amigo, capaz de amar com ternura e paixão, de encontrar alegria no amor a seu povo.          

Não é por acaso que o texto diz: “Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento” (v.3). Isto quer nos dizer que o Deus de Jesus não nos é revelado rodeado de imponente majestade, mas nas bodas e acompanhado de amigos. É precisamente isto que o que o evangelista João diz: a presença de Jesus é a manifestação deste Deus novo e diferente. Não do medo e do castigo, distante das pessoas, mas o Deus próximo, em meio à festa compartilhando as suas alegrias e preocupações. É um Deus que nos acompanha, que está sempre no meio de nós (Mt 28,20; 18,20). A religião de Jesus é, e continua sendo a da alegria e a da festa compartilhada porque Jesus é o vinho novo da nossa vida. Ele é capaz de transformar as situações em que tudo parece como água, sem sabor nem cor. Quem está com Jesus tem vida sobrando, pois Jesus que é a Vida (Jo 14,6; 10,10) comunica continuamente vida e alegria. Para vivermos a vida na sua abundância precisamos ter lugar especial para Jesus na nossa vida diária. 

2.2. Maria, Nossa Mãe Que Suplica por Nós                     

Maria, Mãe de Jesus também estava presente nas Bodas de Caná. E nessa festa, ao perceber que estava faltando vinho, Maria se dirigiu diretamente a Jesus e não ao organizador da festa: “Eles não têm mais vinho”. O vinho, na Bíblia, representa o amor e a alegria (cf. Ct 1,2;7,10;8,2). Quem são “eles” nesta frase da mãe de Jesus? Aqueles que basearam a relação com Deus não no amor, mas numa série de normas e regras, tornando assim essa relação fria e paralisada. Jesus é quem transforma essa relação cheia de regras para uma relação cheia de amor simbolizada na transformação da água em vinho. 

Depois desta frase, Mãe de Jesus diz outra frase, mas, desta vez, para os serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (v.5). O que leva Maria a dizer esta frase é a fé absoluta em Jesus Cristo. Ela não exige provas antes de render a seu Filho uma total confiança. Ela não tem dúvida alguma de que Jesus vai fazer algo. Maria leva até o limite a sua fé consciente. Ela abandona-se à decisão do Filho. A fé de Maria é ilimitada em Jesus. A expressão “Fazei tudo o que ele vos disser”, sublinha a soberania de Jesus, por um lado e a fé absoluta de Maria em Jesus, por outro lado.         

Pela sua atitude e pelas suas palavras, ao convidar os servidores a adotar a mesma atitude de obediência às palavras de Jesus, Maria é modelo para todos os que fazem parte do novo Povo de Deus. Maria não só realiza a vontade de Deus na sua vida, mas também orienta os outros a fazerem de acordo com a Palavra de Deus. Maria, como a perfeita discípula e seguidora de Jesus se torna mestra e guia para todos nós. Sua frase continua atual. Ela continua nos dizendo hoje: “Para ser feliz, para viver a vida na sua profundidade e na sua abundância, vale a pena ouvir, ler, meditar e viver de açodo com a Palavra de Deus”.          

Além disso, Maria nos ensina a orar pelos nossos irmãos, assim como ela fez nas Bodas de Caná. Maria está uma mulher muito atenciosa e prestativa. Por isso, ela percebe com rapidez as necessidades dos outros e logo toma providência. Maria é muito atenciosa. A atenção é um comportamento vigilante do eu sobre os outros; é uma transparência de olhar, uma prontidão em notar sinais de sofrimento em volta de si, um doar-se. A atenção é o amor verdadeiro, delicado, desinteressado e previdente. Ela é uma qualidade humana necessária e preliminar no caminho espiritual.        

Revivendo hoje o momento em que o Filho de Deus transforma a água em vinho para os convivas de Caná, deveríamos ter a capacidade de perceber que uma das mais exaltantes mensagens do cristianismo é a mensagem de alegria. Deus quer que haja o vinho nupcial da alegria, a alegria de permanecer unidos, como irmãos. Cabe a cada um de nós a tarefa de viver e de anunciar a mensagem de alegria para os outros de que Deus sempre tem a última palavra. E esta última palavra está cheia de vida, de paz e de alegria. Temos que proclamar as razões da alegria, não da tristeza; temos que apontar os motivos do otimismo, não do pessimismo; temos que promover a vida, não a morte. A alegria deveria ser característica de quem vive na fé e caminha para o Reino de Deus. A religião de Jesus é e continua sendo a da alegria e da festa compartilhada porque Jesus é o vinho novo da nossa vida. Ele é capaz de transformar as situações tristes em alegria. Quem está com Jesus tem vida sobrando, pois ele comunica continuamente vida e alegria.

O papa Gregório Magno, uma vez na sua pregação, disse a seguinte frase: “Embora tenha quem escute as boas palavras, falta quem as diga”.

2.3. Nossa Devoção à Mãe Do Senhor Que É Também Nossa Mãe 

Nós, católicos, sem dúvida nenhuma, acreditamos que Jesus é o Senhor (Rm 10,9; Fl 2,11), o único mediador entre Deus e a humanidade (1Tm 2,5). Por isso, no final das orações da missa, dizemos: “Por Nosso Senhor Jesus Cristo,... na unidade do Espírito Santo”. Em cada oração, nos dirigimos ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.        

Se toda a oração é trinitária, dirigida ao Pai, pelo Filho, no Espírito, como então nós podemos rezar a Maria e aos santos?        

Se nós olharmos com cuidado o jeito como Jesus realiza sua missão aqui na terra, perceberemos que ele não trabalha sozinho. Ele conta com a colaboração dos discípulos (Mt 10,1-8). Também algumas mulheres seguem Jesus e fazem parte do seu grupo mais próximo (Lc 8,1-3). Maria, Mãe do Senhor, fazia parte desse grupo. O Evangelho de Lucas mostra com clareza que Maria é o exemplo do discípulo e seguidor de Jesus. Ela escuta a palavra com fé (Lc 1, 38.45), acolhe-a, medita no coração (Lc 2,19.51) e a põe em prática, transformando-a em belos frutos (Lc 1,42;11,28).        

Nós, católicos, adoramos somente a Deus e a Ele prestamos culto. Reconhecemos que só Jesus é o nosso Salvador, o único Senhor. Mas continuamos respeitando e veneramos os santos. Sabemos muito bem que isso não nos tira do rumo certo. Temos cuidado para que eles não ocupem o espaço de Jesus. Porque eles são santos porque participaram da santidade de Jesus, são reflexos de Jesus. Se Jesus não existisse, não existiria também santo nenhum. Ficamos contentes, quando experimentamos que não estamos sozinhos na travessia dessa vida. Não somente os nossos companheiros de comunidade estão conosco, mas também os santos, os “vivos em Deus”.        

Maria tem um posto especial na comunhão dos santos. Como diz o Concílio Vaticano II (LG VIII), ela ocupa o lugar único, mais perto de Cristo e mais perto de nós. Por isso, podemos rezar para ela, contar com sua intercessão, pedir sua proteção e auxílio e entregar-nos nas mãos de Deus. A graça que Maria nos dá não vem dela e ela nada segura para si. Tudo vem de Deus e para Deus volta. Qualquer oração a Maria nos coloca em sintonia com Deus mesmo: o Pai, o Filho e o Espírito.        

Quando chamamos Maria de “Nossa Senhora”, fazemos isso com delicadeza e afeto, reconhecimento e gratidão. Mas não podemos colocá-la no mesmo nível de Jesus. Jesus é o Nosso Senhor. Ela aprendeu de Jesus a ser serva, a prestar serviço a toda a humanidade (Mt 20,28). Maria, como um espelho ou um prisma, reflete e transmite a graça de Deus (Rm 3,18). No seu manto de luz, ela transmite a luz amorosa de Deus.         

Em relação ao Evangelho da missa, os teólogos concordam que o Evangelho de João é para os cristãos maduros porque o evangelista João tem uma profundidade nas suas reflexões. É naturalmente, ele fala de Maria de forma mais profunda. Ele não se preocupa com a infância de Jesus, ou com as relações familiares com sua mãe. Responde a outras perguntas: Qual é o lugar de Maria na missão de Jesus? E como ela contribui na comunidade dos amigos de Jesus.        

No Evangelho de João, Maria aparece somente duas vezes. Primeiro, Maria atua na realização do primeiro sinal de Jesus, em Caná, ao inaugurar sua missão pública (Jo 2,1-11). Segundo, Maria permanece ao pé da cruz, no momento da morte de Jesus, no final de sua missão nesse mundo (Jo 19,25-27). Ao colocar Maria no início e no final da missão de Jesus, João está dizendo que ela tem um lugar especial, pois se faz presente nos momentos mais importantes.        

O evangelista nos conta Maria na festa de bodas em Caná. Quase todo mundo gosta de festa. Numa festa boa, parece que o tempo não existe. Ninguém olha para o relógio.  Se estivermos conscientes mesmos de que a missa é um grande banquete do Senhor, uma grande festa, ninguém se preocupará com o relógio ou com o celular. A festa rompe com a dureza do dia-a-dia. O Senhor que cada participante possa saborear esse banquete divino.        

Em Caná Maria está na festa. Jesus e seus discípulos também. O vinho, que é o elemento principal nessa festa, está terminando e Maria se dirige a Jesus, fazendo-lhe um pedido discreto: “Eles não têm mais vinho”.        

Jesus faz o primeiro sinal de forma discreta. João coloca, como primeiro sinal de Jesus, a transformação da água em vinho para nos transmitir que Jesus é o vinho novo da nossa vida. Ele é capaz de transformar as situações em que tudo parece “água”, sem sabor nem cor. No AT, o vinho simboliza a felicidade e a abundância que acontecerá para todos, quando o Messias chegar. Com o sinal do vinho Jesus está dizendo que ele é o vinho novo. Acabou o tempo de miséria. Quem está com Jesus tem vida sobrando. Ele comunica vida e alegria. 

O relato sobre a festa de Caná nos mostra Maria como a mãe da comunidade cristã, que estimula os servidores e amigos de Jesus a realizarem sua vontade: “Façam tudo o que ele disser a vocês”. Ela ajuda os discípulos a terem fé em Jesus e ficarem junto dele: “Jesus manifestou sua glória e os discípulos creram nele” (Jo 2,11) Maria, a mulher atenta às necessidades das pessoas, pede ao seu filho. O povo vê nesse gesto de Maria sua bondade e caridade, e também sua capacidade de intercessão, pelo bem de todos.        

Nós somos hoje os discípulos amados de Jesus. O Pai nos dá o mesmo amor com o qual amou a Jesus (Jo 17,26). E nos presenteia Maria, mãe educadora, para nos ajudar a viver nossa vocação cristã. Que saibamos captar as palavras de Maria: “Façam tudo o que Jesus disser a vocês”. Maria continua dizendo-nos hoje: “Vale a pena buscar a vontade de Jesus, ouvir suas palavras e tomar atitudes concretas”.

 P. Vitus Gustama,svd

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VIVER NO PERMANENTE AGRADECIMENTO: DEZ LEPROSOS

XXVIII Domingo Do Tempo Comum “C”

Evangelho: Lc 17,11-19

11 Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. 12 Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, 13 e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” 14 Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. 15 Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; 16 atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. 17 Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? 18 Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19 E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

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Estamos acompanhando Jesus na sua ultima viagem para Jerusalém ouvindo atentamente para suas últimas e importantes lições para todos nós, cristãos (Lc 9,58-19,28). A lição que Jesus nos dá hoje é sobre o agradecimento. Reconhecer que tudo o que temos e somos vem de Deus nos leva a vivermos uma vida de agradecimento.  E o evangelista Lucas tem muita simpatia pelos excluídos da sociedade porque eles têm o espírito de agradecimento. Como protagonista para este tema o evangelista Lucas nos apresenta um samaritano agradecido.

Quem São Os Samaritanos?  

Samaria era uma província situada entre a Galiléia ao norte e a Judéia ao sul. Era habitada por uma população que, em sua origem, não era judaica em sentido estrito. Desde a invasão dos assírios (722 a. C) aí foram instalados migrantes não- judeus, de modo que as etnias haviam-se misturadas. Por isso, para os judeus, os samaritanos eram um povo impuro, já que seu sangue estava contaminado pelo dos outros povos estrangeiros. Para eles, os samaritanos não são seu próximo; eles são piores que pagãos, de acordo com o ditado judaico: “Aquele que come pão de um samaritano come carne de porco” (porco era animal impuro. Compare Jo 4,9), dizia um ditado na época. E era um grande palavrão/uma grave ofensa um judeu chamar outro judeu de “samaritano” (cf. Jo 8,48). Os judeus proíbem o casamento com samaritanos. No ano 6 depois de Cristo os samaritanos profanaram gravemente o Templo de Jerusalém jogando nele, de noite, ossos humanos (para um judeu, o simples pisar num túmulo faz alguém impuro, como se tocasse um morto), exatamente num dia de Páscoa, em resposta à destruição do Templo Garizim, templo dos samaritanos (Jo 4,20) pelo judeu João Hircano e que depois foi restaurado por Herodes o Grande no ano 30 antes de Cristo. A partir daí cresceu o ódio mútuo entre os dois grupos.    

Apesar de tudo isso, Jesus propõe como “modelo” os samaritanos para os judeus. Porque eles são “protótipo” de amor ao próximo e, em síntese, do amor a Deus. É um amor que se sobrepõe ao ódio nacionalista de raízes tão antigas (Lc 10,25-37, o bom samaritano). Eles são “exemplo” de gratidão diante dos judeus, cumpridores fiéis da Lei religiosa, porém ingratos, como relata o texto deste domingo. Até Jesus não se defende do insulto de “samaritano”(Jo 8,48), pois os heterodoxos samaritanos aceitaram sua mensagem(Jo 4,40-42), ao passo que os ortodoxos dirigentes judeus tentaram matá-lo(Jo 7,19.20.25;8,37.40).    

O texto relata a cura de dez leprosos cuja atenção se dirige ao samaritano agradecido. Todas as doenças eram consideradas um castigo de Deus (cf. Jo 9,1-2), mas a lepra era o próprio símbolo do pecado. Para a Lei, a lepra era uma impureza contagiosa, por isso o leproso era excluído da comunidade até a sua cura e purificação ritual, que exige um sacrifício pelo pecado (Lv 13-14). Um leproso era equiparado a um morto. Por isso, a cura da lepra era considerada um milagre, comparável à ressurreição de um morto: só o Senhor poderia realizá-la; mas antes era preciso expiar todos os pecados que a tinha causado. Os leprosos, portanto, sentiam-se rejeitados por todos: pelos homens e por Deus (Deus que os dirigentes anunciavam). Eles não podiam aproximar-se das pessoas nem dos lugares públicos porque eles podiam torná-los impuros. Por isso, curar um leproso era mais que libertá-lo de uma doença. Era devolver a ele o direito de conviver e o acesso ao Reino de Deus.    

Sendo estes os costumes e esta a mentalidade, entende-se o motivo pelo qual os dez leprosos, no Evangelho de hoje, tenham parado à distância e de longe tenham gritado: “Jesus Mestre, tem compaixão de nós!” Observe-se bem: Não lhe pedem a cura, mas somente que Jesus tenha compaixão deles diante da situação desesperadora em que se encontram. Eles não precisam expressar o desejo profundo para serem curados que está dentro de cada um deles. Toda a sua confiança está fundada na misericórdia de Jesus.    

Jesus não foi até eles nem os tocou como em Lc 5,12-14. Nem sequer disse: “Estais curado!” Jesus sabe daquilo que os leprosos precisam: a cura. Mas Jesus coloca a fé e a confiança dos dez leprosos à prova (compare 2Rs 5,10). Por isso, Jesus simplesmente os mandou ir mostrar-se aos sacerdotes: “Ide e apresentai-vos aos sacerdotes” (v.14). Este era o procedimento normal quando um leproso era curado. Porque a lei estabelece que, quem ficar curado desta doença, se apresente ao sacerdote para o sacerdote reintegrá-lo à comunidade dos fiéis. O sacerdote funcionava como um tipo de inspetor de saúde para certificar que a cura realmente ocorrera (Lv 14,2ss).     

Na obediência à ordem de Jesus os dez leprosos encontram a cura (compare 2Rs 5,14). A cura não acontece imediatamente, mas ao longo do caminho, quando estão andando pela estrada. E percebendo que estava curado, um deles volta atrás e prostra-se aos pés de Jesus e lhe agradece. Ele reconhece na ordem de Jesus uma ação salvífica de Deus e por isso glorifica a Deus (v.15). Ele se sente perdoado, já que a doença era considerada como um castigo de Deus. E o evangelista Lucas acentua expressamente: “... era um samaritano” (v.16b). Ele representa aquele povo samaritano que é desprezado pelos judeus pelos motivos que já se mencionaram anteriormente. Justamente este povo desprezado possui abertura e sensibilidade suficientes para reconhecer e agradecer ao benfeitor (Deus em Jesus Cristo). A fé do samaritano se manifestou no reconhecimento do benefício e no louvor a Deus autor desse benefício.

Jesus aceita e proclama a fé do samaritano: “Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou” (v.19). Por isso, o elemento central neste relato não é tanto a cura em si, mas a volta e o agradecimento do samaritano. O homem de fé sempre está consciente de que tudo que tem ou faz de bem lhe vem de Deus. Por isso, a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,30-37) e do samaritano agradecido é sem dúvida nenhuma, uma advertência de Jesus contra a auto-suficiência religiosa de quem quer que seja (neste caso dos judeus).    

Vamos prestar a nossa atenção para alguns pormenores significativos deste episódio para tirar outras mensagens para nós hoje.

1).        Observemos, antes de tudo, que não se trata de um só leproso, mas de dez. Lucas registra este detalhe não só por uma obrigação de historiador, mas por uma consideração teológica. Este número (10) na Bíblia tem um significado simbólico: indica a totalidade. Os dez leprosos, portanto, representam todo um povo: Israel ou a humanidade inteira. E a lepra é o símbolo da condição de pecado, da miséria humana, da situação de distanciamento de Deus e dos irmãos. Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. “O homem para onde se dirija, sem se apoiar em Deus, só encontrará sofrimento e dor”, disse Santo Agostinho. Lucas quer nos ensinar que todos nós precisamos encontrar Jesus Cristo. Ninguém é justo, ninguém está sem “lepra” no coração: todos estão à procura da salvação do Senhor. O profeta Isaías nos dá este conselho: “Procurai a Deus enquanto pode ser encontrado, invocai-o enquanto está perto. Volte para ele...porque Ele é rico em perdão” (Is 55,6-7).

2).        O segundo pormenor: esta doença une judeus e samaritanos, isto é, une pessoas que, quando gozam de boa saúde, se consideram inimigas tradicionais irreconciliáveis. A desgraça e a dor as tornam amigas e solidárias.    

Algo semelhante acontece conosco. Quando nos sentimos justos, perfeitos, ricos, inteligentes ou famosos, começamos a levantar barreiras: colocamos os “bons” do nosso lado e os “impuros” do outro lado; exigimos que os pecadores mantenham a distância, não queremos ficar contaminados. Ao contrário, quando consideramos com sinceridade a nossa condição de “leprosos”, de pecadores diante de Deus, então não nos sentiremos superiores a ninguém, não condenamos, não julgamos, não excluímos. O amor não exclui ninguém. Se levantarmos barreiras contra os outros, é porque nosso amor é ainda pequeno e bem frágil, pois nada é sem valor e ninguém é pequeno quando o amor é grande.

3).        O terceiro pormenor: os leprosos não buscam a salvação individualmente. Eles vão à procura de Jesus em conjunto. A oração deles é comunitária: “Jesus Mestre, tem compaixão de nós!” É uma oração partilhada que tem uma força maior. É uma oração que tem o fundamento bíblico; é ensinada pelo próprio Senhor Jesus: “Em verdade, eu vos digo, se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está no céu. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, ali estou Eu no meio deles” (Mt 18,19s). É um modo novo de rezar que devemos praticar nos grupos, nas famílias ou em qualquer lugar e ocasião.  

Por isso, perguntamos: É assim que nós rezamos? Nos sentimos solidários com todos os homens ou pensamos ainda na “salvação da nossa alma?” Entendemos que, nem mesmo no paraíso, poderemos ser felizes enquanto até o último dos homens não tenha sido libertado da “lepra”.

4).        Os dez leprosos foram curados ao longo do caminho.  Jesus não curou os dez leprosos com este tipo de frase: “Sejam curados!”, mas os mandou apresentar-se ao sacerdote como se estivessem já curados. Jesus, na verdade, estava submetendo a teste a fé destes homens, ao pedir que agissem como se estivessem sido curados. Os dez leprosos não reclamaram dizendo que não estavam curados ainda. Mas eles acreditaram no poder da Palavra do Senhor que contém já uma promessa de cura e por isso lhe obedeceram. E enquanto obedeciam, assim aconteceu: “Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados” (v.14b). No Novo Testamento, a vida cristã é comparada freqüentemente a um itinerário e sabemos que se trata de uma viagem longa e espinhosa. A cura espiritual não acontece de repente, exige muito tempo. Não se pode ter a pretensão de alguém, que durante muitos anos viveu na condição de ‘leproso’, mude de repente, quase milagrosamente, os seus maus hábitos. Permaneçamos ao seu lado, caminhemos com ele e verificaremos um dia com alegria, depois de termos percorrido juntos um longo caminho, fomos curados pela Palavra de Jesus a qual devemos obedecer. A obediência à palavra de Deus é que cura os leprosos.

5).        Um só que voltou para agradecer e por acaso um samaritano. A cura imediatamente despertou a gratidão num dos dez que era um samaritano. Ele não esperou para se certificar em condições de voltar à comunidade; pelo contrário, voltou a Jesus quando se viu curado. Quando chegou a Jesus, agiu em humildade, prostrando-se em homenagem enquanto agradecia o Mestre, pois ele via a mão de Deus na cura. E ele quis proclamar diante de todos a sua gratidão e a sua descoberta. Os outros não eram maus, só demoraram para entender a novidade. Prosseguiram pelos caminhos tradicionais; pensaram que deveriam chegar até Deus através das práticas religiosas antigas, através dos sacerdotes do templo. Enquanto os judeus que ambicionavam os gestos salvíficos como um direito exclusivo, ficaram alheios ao dom salvífico de Deus, o estrangeiro, o excluído e menosprezado como um pagão agradeceu e fazia agora parte dos pequeninos para quem o Reino de Deus é destinado.

Este duplo comportamento é símbolo daquilo que aconteceu ao povo de Israel: os pagãos, as pessoas afastadas da religião, foram as primeiras a reconhecer em Jesus o mediador da salvação de Deus. Também é símbolo do que acontece ainda hoje: são muitas as pessoas que continuam chegando até Deus através de caminhos propostos por outras religiões ou por outros caminhos. Por muitíssimos motivos nem todos conseguem logo descobrir que a salvação vem só através de Jesus e da sua palavra, pois Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida”(Jo 14,6).

O samaritano voltou para agradecer ao Senhor pela cura. Com freqüência, temos memória para as nossas necessidades do que para os nossos bens ou benefícios. Vivemos pendentes daquilo que nos falta, e reparamos pouco naquilo que temos, e talvez seja por isso que ficamos aquém no nosso agradecimento ou ficamos reclamando continuamente. Pensamos que temos pleno direito ao que possuímos e nos esquecemos do que diz Santo Agostinho ao comentar esta passagem do Evangelho: “Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido (de Deus)?” Toda a nossa vida deve ser uma contínua ação de graças. Não percamos a alegria quando percebemos que nos falta alguma coisa, porque mesmo isso que nos falta é, possivelmente, uma preparação para recebermos um dom mais alto. São Bernardo ensina: “A quem humildemente se reconhece obrigado e agradecido pelos benefícios, com razão lhe são prometidos muito mais. Pois quem se mostra fiel no pouco, com justo direito será constituído sobre o muito, assim como, pelo contrário, se torna indigno de novos favores quem é ingrato em relação aos que antes recebeu”.

Neste domingo a comunidade eucarística é convidada a fazer a experiência da gratidão. A eucaristia é o ápice da vida cristã, mas ao mesmo tempo é fonte. Ela é ponto de chegada da vida toda. Nela todas as “ações” do dia-a-dia tornam-se “ações de graças”. E igualmente, ela é ponto de partida, nascente transbordante em nós por nossos irmãos. A ação de graças contém e expressa um misto de sentimentos de louvor, agradecimento e reconhecimento diante de Deus por causa dos seus benefícios. Saber agradecer já é ver o mundo de outro jeito, saber ver que há espaço para esperança e bondade no mundo. Um coração agradecido nos dá condições de olhar a vida com mais alegria e confiança. Saber agradecer é saber ver que há espaço para esperança e bondade no mundo. Para os que sabem para que serve a sua vida, sabem também agradecer e não perdem o ânimo, enquanto os outros se arrasam pela vida de mau humor. Não existe um só dia em que Deus não nos conceda alguma graça particular e extraordinária. Pare e verifique! Agradecer é uma atitude própria de quem tem dignidade. Quem não sabe agradecer está mal preparado para conviver.

P. Vitus Gustama,svd


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