No ultimo boletim refletimos nesta coluna sobre a Páscoa como dar o passo. E dar o passo significa incorporar-se a uma vida nova em Jesus Cristo ressuscitado. A vida em Jesus é a vida de amor. Jesus foi morto porque amou os homens, especialmente os menos favorecidos, até as ultimas conseqüências. São João expressou muito bem este pensamento ao escrever: “Sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1; cf. Jo 3,16). O caminho de amor sempre foi o caminho de Jesus. Jesus, na sua vida terrestre, estava sempre no caminho de amor. E ele transformou o amor em mandamento novo para qualquer seguidor: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34; cf. Jo 15,12). Amar é despertar em alguém a força mais poderosa que se conhece. E o amor fraterno será a própria marca da identidade cristã: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35).
O amor é parte essencial de nosso ser, especialmente como cristãos. Toda vez que amamos, afirmamos nosso ser. Não é por acaso que Victor E. Frankl afirma: “Amo, logo sou”. E toda vez que não amamos, negamos nosso ser. Sem amar não se pode Ser. Ao amar nos conectamos com nosso aspecto mais essencial e mais íntimo, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Com e cada ato de amor revelamos nosso ser e com ele cultivamos nosso espírito.
Amar não significa apegar-se e sim desapegar-se. O apego implica dependência, o desapego, independência. O amor genuíno não é possessivo. Por isso, quando alguém ama verdadeiramente não vive aferrado às pessoas nem às coisas. No amor nasce a liberdade. Com o amor se desatam todas as nossas ataduras e com ele assumimos plenamente nossa liberdade. Sempre que alguém desenvolve sua liberdade interior cresce espiritualmente. Todo ato de amor é crescer espiritualmente. Não há amor inoperante.
Com amor captamos a essência dos seres ou das coisas. É aguçar o olhar para captar os valores que encerram. O amor é comunhão no valor. Amar é colocar os dons e talentos ao serviço dos valores superiores. Amar é subir de nível e ver com claridade de uma dimensão mais elevada. “Quanto mais amas, mais alto sobes”, dizia Santo Agostinho.
Ser cristão ou ser pessoa do bem é estar no caminho de amor que é o caminho de Jesus. O próprio Jesus se identifica com esse caminho: “Eu sou o Caminho” (Jo 14,6). A vida em sintonia com a vontade de Deus não consiste em um conjunto de leis e sim na pessoa de Jesus. Ele é o Caminho que permite o homem saltar do abismo de uma vida sem sentido que o separa de Deus que é a razão do seu ser para uma vida cheia de graça. Para os povos semitas o “caminho” é símbolo do comportamento moral, símbolo do modo de atuar eticamente. Por isso, a Bíblia fala de caminhos em relação com Deus e o homem. Há oposição entre o caminho de Deus, que leva à vida, e o caminho do homem, que conduz à morte. O homem tem que saber escolher: “Eis que hoje estou colocando diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade” (Dt 30,15). O caminho dos malvados é tortuoso e leva à ruína (Sl 1,6), enquanto que o dos justos conduz à vida (Pr 2,19).
Estar no caminho de Jesus é estar no caminho de amor. São Paulo nos aconselhou: “Andai, pois, no Senhor Jesus Cristo” (Cl 2,6). O amor opera grandes transformações. A escuridão se transforma em luz, a solidão em comunhão, o Eu em Nós, o Éros em Ágape, o humano em divino. O amor divino transforma qualquer um em evangelizador, como Maria para quem dedicamos o mês de maio. Maria, amada por Deus, devolve este amor e se converte em dom total ao serviço da humanidade. Deus é amor. Maria é dom de amor.
Vitus Gustama, SVD
Nenhum comentário:
Postar um comentário