sábado, 3 de setembro de 2011

CONVIVER COMO IRMÃOS

Reflexão Para XXIII Domingo Do Ano Litúrgico A
 Domingo, 04 de Setembro de 2011

Texto de Leitura: Mt 18,15-20

          
O capítulo 18 de Mt é o quarto dos cinco discursos de Jesus neste evangelho e este discurso é conhecido como  discurso eclesiológico”(discurso sobre a Igreja) ou  discurso comunitário”. Este capítulo, do qual são extraídos o trecho de hoje e o do próximo domingo, foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade ? O que fazer se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?
          
Na comunidade de Mt (como muitas vezes na nossa) cresce a ambição e se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se consideram mais importantes do resto. Há pouca consideração para com os pequenos, até são desconsiderados e desprezados (quem são pessoas que não levamos em consideração na comunidade? Como será nossa vida, se nos colocarmos no lugar destes desconsiderados?). Estes pequenos correm risco de desviar-se e de se tornarem incrédulos e de afastar-se da atividade comunitária. Nessa comunidade suscitam também pecadores notórios, inclusive as ofensas  e os ressentimentos que abalam a convivência fraterna.
          
Nesse capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Para isso, Mt coloca em ordem o material transmitido pela tradição para regular as relações internas da comunidade. Contra os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos, os fracos na , é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência. Para enfatizar mais este tema, Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho de retidão, em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade, pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão pecador, a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas, deve haver perdão, pois uma comunidade pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).
          
O trecho de hoje enfrenta um destes problemas: que atitude tomar em relação a quem erra? Em outras palavras, como corrigir o irmão que peca/erra? (Correção fraterna).
          
A correção fraterna é norma antiquíssima, como lemos em Lv 19,17: “Deves repreender teu próximo, e assim não terás a culpa do pecado”. Com a correção fraterna nos tornamos um para o outro ocasião de salvação. Somente entre irmãos é que pode haver correção. Ser irmão significa sentir-se responsável pelo crescimento do outro e, portanto, gozar de seu bem ou capacidade e sentir seu mal. É ir além da indiferença e do medo, da inveja, da rejeição e do ciúme.
           
A correção fraterna é uma atividade espiritual, pois deve ser feita à luz do Espírito para não transformá-la em censura e juízo que exprimem mais superioridade que fraternidade. A correção fraterna é um modo de ser e crescer juntos, de ligar a própria vida à vida de quem me está “próximo”, de conceber a fraternidade como evento de salvação. A correção fraterna me faz descobrir o irmão e me faz irmão para o outro. A correção fraterna faz alguém pôr-se ao lado do outro para caminhar junto.
           
A Igreja, todos nós, não constitui uma comunidade de perfeitos, mas de pessoas em busca da perfeição. Ninguém de nós é perfeito, e não é porque seguimos a Jesus é que estejamos livres de cometer erros. São João diz: “Se dissermos: ‘Não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós... Se dissermos: ‘Não pecamos’, fazemos dele um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1Jo 1,8.10). Todos nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, somos convidados a manifestar nossa responsabilidade para com o irmão que erra ou peca. Não se trata de condenar, mas de fazer a correção fraterna para que se estabeleça o amor. A lei do amor, com certeza, obriga a um esforço para reconduzir o irmão que erra ao bom caminho.
          
Por isso, há uma coisa que absolutamente não deve ser feita (mas infelizmente, a primeira que se faz): espalhar a notícia do erro cometido. Porque isto é difamação. A difamação presta-se somente a humilhar quem errou, a irritá-lo, a fazê-lo teimar no mal. É mesmo que perder para sempre a oportunidade de recuperar o irmão. A difamação pode destruir o homem, como diz o Eclesiástico: “Um golpe de chicote deixa marca, mas um golpe de língua quebra completamente os ossos” (Eclo 28,17). A difamação (língua) pode matar um irmão, pode arruinar uma família e pode destruir um casamento. Há quem pense que por ter falado a verdade pode ficar tranqüilo. A questão é de que modo se transmite a verdade. A verdade que não produz amor, mas que provoca perturbação e desunião, que gera discórdias, ódios e rancores, não deve ser dita. A verdade nua e crua, às vezes, provoca o efeito contrário do amor. A verdade que mata opõe-se à vida. Como dizia São Francisco de Sales: “Uma verdade que não é caridosa procede de uma caridade que não é verdadeira”. A verdade, então, está submetida à caridade. Precisamos levar em consideração o grande respeito e prudência em ditar a verdade. O que se diz e como se diz devem ser levados sempre em consideração.
          
O caminho que Jesus propõe para dizer a verdade a um irmão que está cometendo erros ou pecados, inclui três etapas.
          
O primeiro passo é ir falar pessoalmente na caridade: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo em particular, a sós contigo” (v.15). O “irmão”, membro do povo santo, pode chegar a ser um pecador. Não somente pela fragilidade cotidiana de todo justo (1Jo 1,8-10), mas por um ato radical e inequívoco. Quando um filho de Deus cair nessa situação, seuirmãonão pode permanecer indiferente. Este tem que repreendê-lo. O único objetivo é ganhar novamente o irmão desviado (cf. Tg 5,19-20).
          
Conforme a nossa lógica, o ofensor tem que ir ao encontro do ofendido para pedir perdão. Neste texto, Jesus não prescreve ao ofensor quepedir perdão ao ofendido; ao contrário, o ofendido é que deverá tomar a iniciativa para mostrar que perdoou o ofensor com o intuito de facilitar a reconciliação: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo mas em particular, a sós contigo” (v.15). Por sua vez, o ofensor deve ter a boa vontade em reconhecer seu erro. Mas isto deve ser feito pessoalmente como irmão, de homem para homem, cara a cara na caridade. Se fizer na caridade isto quer dizer que tudo deve ser feito em segredo para evitar que alguém tome conhecimento do que aconteceu, levando em conta que todos têm direito à boa fama. Por isso, não se deve espalhar o erro do irmão para todo mundo. Popularmente, pode-se dizer que ninguém fofoque  a vida de ninguém. A fofoca é o instrumento dos inseguros, infelizes, maldosos e manipuladores. A fofoca é quase sempre negativo. Mesmo que a pessoa comece com um tom positivo, a conversa logo degenera numa crítica. A fofoca é o instrumento dos infelizes e inseguros que se usa para se sentirem importantes e conseguirem atenção. E acontece muitas vezes é que o fofoqueiro gosta de caçar informações para provocar mais fofocas.
         
Esta primeira tentativa é mais delicada, porque, normalmente, ninguém gostaria de fazê-lo; ao contrário, todos preferem falar com os outros, não com a pessoa interessada. É também muito difícil encontrar palavras apropriadas para o irmão não ficar ofendido.
         
Numa situação dessas, o pensamento que lemos na carta de São Paulo aos Romanos pode nos ajudar muito: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem  ama o próximo está cumprindo a Lei” (Rm 13,8). Ao mantermos vivo o princípio do amor é fácil compreender o irmão que erra. Pois o amor é a essência da realidade, por isso, é a do cristianismo também. Ele é a última palavra da compreensão e o critério definitivo do juízo. Todos os demais preceitos dependem da lei do amor. Por isso, à medida que a vida avança, o critério do amadurecimento real é a capacidade de amar. Por isso também, “o céu é o lugar onde todos os presentes devem estar de tal formamadurospara o amor” (Carlo Carreto). Pois o amor é o resumo da vida eterna. Compreendê-lo e vivê-lo seria chegar à fonte da vida que é Deus, poisDeus é AMOR” (1Jo 4,8.16). E geralmente, aquelas pessoas puras, que têm muito amor no coração, enxergam as coisas boas e procuram ignorar os defeitos dos outros, refletem a sua serenidade interior e transmitem a paz aos outros, inclusive aos que erram na vida.
          
Quantos problemas na comunidade ou nas famílias que poderíamos resolver se tivéssemos um pouco de amor e um pouco de espírito dialogal no nosso coração.
          
O segundo passo que Jesus propõe é pedir ajuda a um ou dois irmãos da comunidade (cf. Dt 19,15 cf. também 17,6) que tenham sensibilidade e sabedoria em transmitir a verdade para evitar qualquer tipo de fofoca. Por isso, é preciso lembrar sempre que o objetivo é a recuperação do irmão e não para encostá-lo na parede ou colocá-lo diante de testemunhas que possam acusá-lo. Trata-se de um gesto pastoral. Ele deve perceber que está falando com amigos, com pessoas que lhe querem bem.
          
A última etapa que Jesus propõe é o apelo à comunidade. Isto somente pode acontecer nos casos nos quais a falta cometida seja um perigo de inquietação para todos os irmãos da comunidade, especialmente para os mais fracos na . O Evangelho de hoje diz que se desta vez também o irmão que erra não quisesse corrigir-se, deveria ser considerado “como um pagão e como um publicano”. Um pagão não pertence ao povo eleito, enquanto publicano é um traidor do povo eleito. Mas isto não significa que tudo seja encerrado. Agora a comunidade deve procurar o irmão, e rezar por ele, assim como o pastor procura a ovelha perdida, porque “Jesus veio para salvar o que estava perdido” (Mt 18,1). A missão de Jesus deve ser também a nossa missão, que somos cristãos, seguidores do Cristo.
          
Depois da correção fraterna seguem-se três ditos de Jesus (vv.18-20). O primeiro (v.18) repete praticamente Mt 16,19 sobreligar” e “ desligar”(veja o comentário destes termos na festa de São Pedro e São Paulo). Mas a acentuação é diferente. Em Mt 16,19 o papel de ligar e desligar é o de Pedro. Aqui não é um ministro sozinho que soluciona isso. Todos participam das decisões que se referem à vida comunitária. O papel de declarar autoritativamente a excomunhão e a readmissão no seio da Igreja é exercido pela comunidade local que será sancionado pelo próprio Deus. Aqui acontece a perfeita correspondência entre o céu(mundo divino) e a terra(mundo humano eclesial). Percebemos neste capítulo a evolução do exercício do poder que tem característica mais colegial e igualitária do que em Mt 16, pois o poder de decidir não fica com uma pessoa mas com toda a comunidade no seu conjunto.
          
Esta perfeita correspondência entre o céu e a terra acontece também na oração comunitária ou partilhada que será atendida por Deus (especialmente no contexto de recuperar o irmão pecador): “Se dois de vós, sobre a terra, põem-se de acordo para pedir algo, meu Pai celeste o concederá” (v.19). O êxito depende da comunhão no pedir, do estar de acordo. A oração feita junto, quando é verdadeira, realiza duas grandes promessas, repetidas de modo incisivo nos vv.19-20: a eficácia do pedido e a presença de Jesus. A oração educa para a comunhão
          
Por fim, o Evangelho de hoje propõe uma coisa é que a força maior para todas as etapas proposta por Jesus é a oração partilhada ou comunitária. Acreditamos que Deus não gosta das pessoas que pensam em si mesmas, que se preocupam com sua própria vida espiritual, pois no Reino de Deus nãoespaço para os egoístas, pois Deus é Amor. Ele quer encontrar um povo, quer relacionar-se com pessoas que vivem em comunidade. Pois onde dois ou três estarem reunidos em nome do Senhor Jesus, ele está no meio deles (v.20). Neste versículo se exprime a certeza de que Deus está no meio da comunidade quando ela se reúne no seu nome. A presença de Jesus no coração de uma comunidade fraterna é o que qualifica a oração cristã. Quando os que crêem rezam juntos, revelam a própria , reconhecendo-se irmãos e irmãs, e assim proclamam ao mundo o seu pertencer ao Cristo ressuscitado. A comunidade torna-se o contexto vital do encontro com o Senhor, porque esse é o berço da vida de e o seu destino. Assim os discípulos que rezam juntos criam interiormente um movimento de comunhão, fazem crescer um coração e alma.
          
Será que nos sentimos ainda como uma comunidade? Será que tratamos aos outros membros da comunidade como irmãos? Existe sempre na comunidade um conflito entre os “antigos e os modernos”. Os “antigos” têm medo do novo, e o encaram como uma ameaça, um perigo, um erro; eles o condenam e, muitas vezes, o destroem. O novo incomoda. Os “modernostambém se irritam com o que é antigo e o rejeitam como errado, corrompido, ruim, conservador, e rompem com ele. E o responsável da comunidade pode ser crucificado por essas tensões. Mas, no fundo, não existe o conflito entre o “novo/moderno” e o “antigo”. O verdadeiro conflito existe entre o falso e o verdadeiro. Todos devem se submeter à verdade de acordo com a Palavra de Deus. Quando a verdade ficar no meio e não o poder nem interesse individual, e todos aceitarem a verdade como critério, as tensões vão diminuindo aos poucos, pois “...a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

P.Vitus Gustama, svd

MÊS DA PALAVRA DE DEUS
NO CAMINHO DA PALAVRA QUE TRANSFORMA

O mês de setembro é o mês queatenção maior para a Bíblia ou a Palavra de Deus. A Bíblia é o livro mais difundido do mundo. No Brasil ela continua sendo o livro mais comprado e lido pelo povo. Todas as classes e todas as pessoas de todas as idades a lêem. Ela tem convertido milhares de pessoas. No nosso século bilhões de exemplares foram impressos e divulgados no mundo inteiro. Ela foi traduzida em milhares de línguas, expressa em poesia, música, arte, dança, filmes etc, e é reconhecida como “O Grande Código” de arte e literatura. Milhares de WEBS dedicados à Bíblia servem informação e serviço a centenas de milhares de internautas de todo o mundo. A Bíblia, em suas múltiplas traduções e edições, representa um dos instrumentos que promove mais a alfabetização dos povos menos favorecidos.

A Bíblia não é somente um livro e sim ela é o Livro. Ela é a voz de Deus; ela é o livro para todos os tempos. No processo da história da salvação a Palavra se faz Aliança, se faz Torá, se faz Palavra profética, que denuncia e anuncia. Ela se faz Palavra Orante (Salmos); se faz Palavra Encarnada em Jesus de Nazaré (Jo 1,14). Como voz de Deus a Palavra de Deus deve ser escutada, meditada, contemplada e vivida. “Ler a Bíblia é aprender a conhecer o coração de Deus mediante Suas palavras” (Gregório Magno). E coração de Deus é um coração cheio de amor misericordioso. Quando a Palavra de Deus for proclamada e lida, estarei frente a frente com Deus. Em cada Palavra de Deus proclamada ou lida, Deus sempre tem alguma palavra para mim: para minha vida, minha família, meu trabalho, minhas dificuldades e meus problemas, meu futuro, minha salvação. Por isso, eu preciso escutá-la. “Não adormeças na hora de ouvir a Palavra de Deus. não te suceda levantar sobressaltado na hora de prestar contas dela” (Santo Agostinho).
      
A Palavra de Deus continuará a ser eficaz, curadora, transformadora e libertadora, se soubermos ouvi-la atentamente e vivê-la na nossa vida cotidiana. Se ela curou tantas pessoas, converteu tantos pecadores, libertou tantas pessoas de seus problemas, guiou a vida de tantos homens, esta mesma Palavra continua tendo o mesmo poder e a mesma eficácia. A palavra humana pode errar e enganar, porque o homem é fraco. Mas a Palavra de Deus não erra nem engana. A Palavra de Deus é firme para sustentar a vida de quem nela se agarra e por ela se orienta. Quando ouvida, meditada, rezada e contemplada, a Palavra de Deus vive em nós e nós vivemos nela e nossa vida se transborda de alegria e de força.

Cada Palavra de Deus, cada passagem da Bíblia confronta o homem com uma nova maneira de pensar e de viver; leva-o a adquirir um novo olhar, a enxergar em outras direções diferentes daquela que havia escolhido. A Palavra de Deus nos apresenta uma visão mais profunda da realidade e nos ajuda a descobrir a mão de Deus que atua no esplendor da criação, na beleza da vida humana e nas comunidades que lutam pela justiça, pela paz e pela fraternidade. A Palavra de Deus nos permite olharmos nossa realidade e nossas esperanças com olhos novos, enquanto que a realidade nos fornece novas lentes para ler e interpretar a Bíblia. Na escuta e na prática da Palavra de Deus, o olhar e o entendimento se modificarão e abandonaremos “nossa sabedoriapara acolher a sabedoria de Deus.

Quando lês a Bíblia, Deus te fala; quando rezas, tu falas a Deus” (Santo Agostinho).


P. Vitus Gustama,svd


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