Domingo, 04 de Setembro de 2011
O capítulo 18 de Mt é o quarto dos cinco discursos de Jesus neste evangelho e este discurso é conhecido como “discurso eclesiológico”(discurso sobre a Igreja ) ou “discurso comunitário ”. Este capítulo , do qual são extraídos o trecho de hoje e o do próximo domingo , foi escrito para responder aos problemas internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade ? O que fazer se acontecem escândalos ? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade , o que fazer ? Como corrigir um irmão que erra ? Quando é que uma oração pode ser chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar ?
Na comunidade de Mt (como muitas vezes na nossa ) cresce a ambição e se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se consideram mais importantes do resto . Há pouca consideração para com os pequenos , até são desconsiderados e desprezados (quem são pessoas que não levamos em consideração na comunidade ? Como será nossa vida , se nos colocarmos no lugar destes desconsiderados?). Estes pequenos correm risco de desviar-se e de se tornarem incrédulos e de afastar-se da atividade comunitária . Nessa comunidade suscitam também pecadores notórios , inclusive as ofensas e os ressentimentos que abalam a convivência fraterna .
Nesse capítulo , são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade . Para isso , Mt coloca em ordem o material transmitido pela tradição para regular as relações internas da comunidade . Contra os sonhos de grandeza e de orgulho , Mt coloca a atitude de humildade que agrada a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos , os fracos na fé , é necessário ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é inadmissível para uma boa convivência . Para enfatizar mais este tema , Mt fala dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho de retidão , em vez de condená-lo, a comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade , pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão pecador , a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20). E para as ofensas , deve haver perdão , pois uma comunidade só pode sobreviver se existe o perdão mútuo (18,21-35).
O trecho de hoje enfrenta um destes problemas : que atitude tomar em relação a quem erra ? Em outras palavras , como corrigir o irmão que peca/erra ? (Correção fraterna ).
A correção fraterna é norma antiquíssima, como lemos em Lv 19,17: “Deves repreender teu próximo , e assim não terás a culpa do pecado ”. Com a correção fraterna nos tornamos um para o outro ocasião de salvação. Somente entre irmãos é que pode haver correção . Ser irmão significa sentir-se responsável pelo crescimento do outro e, portanto , gozar de seu bem ou capacidade e sentir seu mal . É ir além da indiferença e do medo , da inveja , da rejeição e do ciúme .
A correção fraterna é uma atividade espiritual , pois deve ser feita à luz do Espírito para não transformá-la em censura e juízo que exprimem mais superioridade que fraternidade . A correção fraterna é um modo de ser e crescer juntos , de ligar a própria vida à vida de quem me está “próximo ”, de conceber a fraternidade como evento de salvação. A correção fraterna me faz descobrir o irmão e me faz irmão para o outro . A correção fraterna faz alguém pôr-se ao lado do outro para caminhar junto .
A Igreja , todos nós , não constitui uma comunidade de perfeitos , mas de pessoas em busca da perfeição . Ninguém de nós é perfeito , e não é porque seguimos a Jesus é que estejamos livres de cometer erros . São João diz: “Se dissermos: ‘Não temos pecado ’, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós ... Se dissermos: ‘Não pecamos’, fazemos dele um mentiroso , e a sua palavra não está em nós ” (1Jo 1,8.10). Todos nós , membros da Igreja de Jesus Cristo , somos convidados a manifestar nossa responsabilidade para com o irmão que erra ou peca. Não se trata de condenar , mas de fazer a correção fraterna para que se estabeleça o amor . A lei do amor , com certeza , obriga a um esforço para reconduzir o irmão que erra ao bom caminho .
O caminho que Jesus propõe para dizer a verdade a um irmão que está cometendo erros ou pecados , inclui três etapas .
O primeiro passo é ir falar pessoalmente na caridade : “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo em particular , a sós contigo ” (v.15). O “irmão ”, membro do povo santo , pode chegar a ser um pecador . Não somente pela fragilidade cotidiana de todo justo (1Jo 1,8-10), mas por um ato radical e inequívoco . Quando um filho de Deus cair nessa situação , seu “irmão ” não pode permanecer indiferente . Este tem que repreendê-lo. O único objetivo é ganhar novamente o irmão desviado (cf. Tg 5,19-20).
Esta primeira tentativa é mais delicada , porque , normalmente , ninguém gostaria de fazê-lo; ao contrário , todos preferem falar com os outros , não com a pessoa interessada. É também muito difícil encontrar palavras apropriadas para o irmão não ficar ofendido.
Numa situação dessas, o pensamento que lemos na carta de São Paulo aos Romanos pode nos ajudar muito : “Não fiqueis devendo nada a ninguém , a não ser o amor mútuo , pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei ” (Rm 13,8). Ao mantermos vivo o princípio do amor é fácil compreender o irmão que erra . Pois o amor é a essência da realidade , por isso , é a do cristianismo também . Ele é a última palavra da compreensão e o critério definitivo do juízo . Todos os demais preceitos dependem da lei do amor . Por isso , à medida que a vida avança , o critério do amadurecimento real é a capacidade de amar . Por isso também , “o céu é o lugar onde todos os presentes devem estar de tal forma “maduros ” para o amor ” (Carlo Carreto ). Pois o amor é o resumo da vida eterna . Compreendê-lo e vivê-lo seria chegar à fonte da vida que é Deus , pois “Deus é AMOR ” (1Jo 4,8.16). E geralmente , aquelas pessoas puras, que têm muito amor no coração , enxergam as coisas boas e procuram ignorar os defeitos dos outros , refletem a sua serenidade interior e transmitem a paz aos outros , inclusive aos que erram na vida .
O segundo passo que Jesus propõe é pedir ajuda a um ou dois irmãos da comunidade (cf. Dt 19,15 cf. também 17,6) que tenham sensibilidade e sabedoria em transmitir a verdade para evitar qualquer tipo de fofoca . Por isso , é preciso lembrar sempre que o objetivo é a recuperação do irmão e não para encostá-lo na parede ou colocá-lo diante de testemunhas que possam acusá-lo. Trata-se de um gesto pastoral . Ele deve perceber que está falando com amigos , com pessoas que lhe querem bem .
A última etapa que Jesus propõe é o apelo à comunidade . Isto somente pode acontecer nos casos nos quais a falta cometida seja um perigo de inquietação para todos os irmãos da comunidade , especialmente para os mais fracos na fé . O Evangelho de hoje diz que se desta vez também o irmão que erra não quisesse corrigir-se, deveria ser considerado “como um pagão e como um publicano”. Um pagão não pertence ao povo eleito, enquanto publicano é um traidor do povo eleito. Mas isto não significa que tudo seja encerrado. Agora a comunidade deve procurar o irmão , e rezar por ele , assim como o pastor procura a ovelha perdida, porque “Jesus veio para salvar o que estava perdido” (Mt 18,1). A missão de Jesus deve ser também a nossa missão , já que somos cristãos , seguidores do Cristo .
Esta perfeita correspondência entre o céu e a terra acontece também na oração comunitária ou partilhada que será atendida por Deus (especialmente no contexto de recuperar o irmão pecador ): “Se dois de vós , sobre a terra , põem-se de acordo para pedir algo , meu Pai celeste o concederá” (v.19). O êxito depende da comunhão no pedir , do estar de acordo . A oração feita junto , quando é verdadeira, realiza duas grandes promessas , repetidas de modo incisivo nos vv.19-20: a eficácia do pedido e a presença de Jesus. A oração educa para a comunhão
Será que nos sentimos ainda como uma comunidade? Será que tratamos aos outros membros da comunidade como irmãos ? Existe sempre na comunidade um conflito entre os “antigos e os modernos ”. Os “antigos ” têm medo do novo , e o encaram como uma ameaça , um perigo , um erro ; eles o condenam e, muitas vezes , o destroem. O novo incomoda. Os “modernos ” também se irritam com o que é antigo e o rejeitam como errado, corrompido, ruim , conservador , e rompem com ele . E o responsável da comunidade pode ser crucificado por essas tensões . Mas , no fundo , não existe o conflito entre o “novo /moderno ” e o “antigo ”. O verdadeiro conflito existe entre o falso e o verdadeiro . Todos devem se submeter à verdade de acordo com a Palavra de Deus . Quando a verdade ficar no meio e não o poder nem interesse individual , e todos aceitarem a verdade como critério , as tensões vão diminuindo aos poucos , pois “...a verdade vos libertará” (Jo 8,32).
P.Vitus Gustama, svd
MÊS DA PALAVRA DE DEUS
NO CAMINHO DA PALAVRA QUE TRANSFORMA
O mês de setembro é o mês que dá atenção maior para a Bíblia ou a Palavra de Deus . A Bíblia é o livro mais difundido do mundo . No Brasil ela continua sendo o livro mais comprado e lido pelo povo . Todas as classes e todas as pessoas de todas as idades a lêem. Ela tem convertido milhares de pessoas . No nosso século bilhões de exemplares já foram impressos e divulgados no mundo inteiro . Ela foi traduzida em milhares de línguas , expressa em poesia , música , arte , dança , filmes etc, e é reconhecida como “O Grande Código ” de arte e literatura . Milhares de WEBS dedicados à Bíblia servem informação e serviço a centenas de milhares de internautas de todo o mundo . A Bíblia , em suas múltiplas traduções e edições , representa um dos instrumentos que promove mais a alfabetização dos povos menos favorecidos.
A Bíblia não é somente um livro e sim ela é o Livro . Ela é a voz de Deus ; ela é o livro para todos os tempos . No processo da história da salvação a Palavra se faz Aliança , se faz Torá , se faz Palavra profética, que denuncia e anuncia. Ela se faz Palavra Orante (Salmos ); se faz Palavra Encarnada em Jesus de Nazaré (Jo 1,14). Como voz de Deus a Palavra de Deus deve ser escutada, meditada, contemplada e vivida . “Ler a Bíblia é aprender a conhecer o coração de Deus mediante Suas palavras ” (Gregório Magno ). E coração de Deus é um coração cheio de amor misericordioso. Quando a Palavra de Deus for proclamada e lida , estarei frente a frente com Deus . Em cada Palavra de Deus proclamada ou lida , Deus sempre tem alguma palavra para mim : para minha vida , minha família , meu trabalho , minhas dificuldades e meus problemas , meu futuro , minha salvação. Por isso , eu preciso escutá-la. “Não adormeças na hora de ouvir a Palavra de Deus . não te suceda levantar sobressaltado na hora de prestar contas dela” (Santo Agostinho).
A Palavra de Deus continuará a ser eficaz , curadora, transformadora e libertadora, se soubermos ouvi-la atentamente e vivê-la na nossa vida cotidiana . Se ela curou tantas pessoas , converteu tantos pecadores , libertou tantas pessoas de seus problemas , guiou a vida de tantos homens , esta mesma Palavra continua tendo o mesmo poder e a mesma eficácia . A palavra humana pode errar e enganar , porque o homem é fraco . Mas a Palavra de Deus não erra nem engana . A Palavra de Deus é firme para sustentar a vida de quem nela se agarra e por ela se orienta. Quando ouvida , meditada, rezada e contemplada, a Palavra de Deus vive em nós e nós vivemos nela e nossa vida se transborda de alegria e de força .
“Quando lês a Bíblia , Deus te fala ; quando rezas, tu falas a Deus ” (Santo Agostinho).
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário