sábado, 6 de maio de 2017

08/05/2017
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EU SOU CONHECIDO PELO BOM PASTOR


Segunda-Feira Da IV Semana Da Páscoa


Primeira Leitura: At 11,1-18


Naqueles dias, 1 os apóstolos e os irmãos, que viviam na Judeia, souberam que também os pagãos haviam acolhido a Palavra de Deus. 2 Quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis de origem judaica começaram a discutir com ele, dizendo: 3 “Tu entraste na casa de pagãos e comeste com eles!” 4 Então, Pedro começou a contar-lhes, ponto por ponto, o que havia acontecido: 5 “Eu estava na cidade de Jope e, ao fazer oração, entrei em êxtase e tive a seguinte visão: Vi uma coisa parecida com uma grande toalha que, sustentada pelas quatro pontas, descia do céu e chegava até junto de mim. 6 Olhei atentamente e vi dentro dela quadrúpedes da terra, animais selvagens, répteis e aves do céu. 7Depois ouvi uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro, mata e come’. 8 Eu respondi: ‘De modo nenhum, Senhor! Porque jamais entrou coisa profana e impura na minha boca’. 9 A voz me disse pela segunda vez: ‘Não chames impuro o que Deus purificou’.  10 Isso se repetiu por três vezes. Depois a coisa foi novamente levantada para o céu. 11 Nesse momento, três homens se apresentaram na casa em que nos encontrávamos. Tinham sido enviados de Cesaréia à minha procura. 12 O Espírito me disse que eu fosse com eles sem hesitar. Os seis irmãos que estão aqui me acompanharam e nós entramos na casa daquele homem. 13 Então ele nos contou que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa e dizer: ‘Manda alguém a Jope para chamar Simão, conhecido como Pedro. 14 Ele te falará de acontecimentos que trazem a salvação para ti e para toda a tua família’. 15 Logo que comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, da mesma forma que desceu sobre nós no princípio. 16 Então eu me lembrei do que o Senhor havia dito: ‘João batizou com água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo’. 17 Deus concedeu a eles o mesmo dom que deu a nós que acreditamos no Senhor Jesus Cristo. Quem seria eu para me opor à ação de Deus?” 18 Ao ouvirem isso, os fiéis de origem judaica se acalmaram e glorificaram a Deus, dizendo: “Também aos pagãos Deus concedeu a conversão que leva para a vida!”


Evangelho: Jo 10,11-18


Naquele tempo, disse Jesus: 11 “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12 O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13 Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17 É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18 Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi de meu Pai”.


A Salvação De Deus É Para Todos Os Convertidos


Lucas, o autor dos Atos dos Apóstolos, dá muita importância ao episódio do pagão convertido, Cornélio, em seu livro. Para este assunto Lucas dedica os capítulos 10 e 11 dos Atos. Hoje lemos, como Primeira Leitura da missa, At 11,1-18, em que Pedro é obrigado a explicar todo o episódio, pois a comunidade de Jerusalém questiona sobre o comportamento de Pedro em deixar os pagãos se tronarem cristãos.


Nestes textos (At 10 e 11) se fala de um assunto muito importante para Lucas: admitir ou não admitir os pagãos à fé, e com que condição? A conversão de Cornélio (era pagão) e sua família à fé cristã é o protótipo para outros casos, como foi o episódio do eunuco Etíope convertido com o diácono Filipe. 


A exegese descobre neste relato duas tradições distintas referindo-se a dois problemas diferentes. Uma tradição admite a entrada dos pagãos na Igreja (At 10,1-18; 18,26; 11,1.11-18). Outra tradição, que se preocupa mais com a pureza ritual, trata das relações entre cristãos circuncidados (judeu-cristãos) cristãos incurcindados (At 10,10-16; 11,2-10). As perspectivas das duas tradições permanecem bastante autônomas.


Vemos o processo de mudança que se dá em Pedro. Por sua formação judaica, Pedro não podia admitir tão facilmente a abertura universal da Igreja ao mundo pagão simbolizada na visão da toalha e os alimentos que não se podiam comer: “De modo nenhum, Senhor! Porque jamais entrou coisa profana e impura na minha boca!”, reagiu Pedro. Recordamos a recusa de Pedro quando Jesus estava para lavar seus pés (Jo 13,6-11). Agora chegou a mudança. O argumento que convence Pedro, logo a comunidade também é que Deus tomou a iniciativa: “Não chames impuro o que Deus purificou” (referente às comidas). “João batizou com água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo. Deus concedeu a eles o mesmo dom que deu a nós que acreditamos no Senhor Jesus Cristo. Quem seria eu para me opor à ação de Deus?”, argumentou Pedro diante da comunidade judeu-cristã em Jerusalém (desta vez referido à admissão dos pagãos). O Espirito Santo vai guiando Pedro para a universalidade da fé cristã. Já que os Apóstolos não se decidiam, foi o próprio Espirito Santo que batizou a família de Cornélio, com o “novo Pentecostes” que agora sucede na casa de um pagão.


Outra dado admirável merece ser notado é que Pedro, autoridade máxima aceita a interpelação crítica de alguns membros da comunidade de Jerusalém. Pedro não se precipita em tomar decisão. Ele dá explicações oportunas para a comunidade. E a comunidade as aceita, reconhecendo que “Também aos pagãos Deus concedeu a conversão que leva para a vida!”.


A lição da abertura da comunidade apostólica, superando as dificuldades que surgiam por sua formação anterior, é sempre atual para a Igreja. Isto supõe que a Igreja em geral e cada membro da Igreja em particular sejam dóceis aos sinais com que o Espirito Santo nos quer conduzir para as fronteiras sempre além do habitual. A razão é simples, mas profunda: Deus quer salvar todos os seres humanos. Da parte de Deus há abertura permanente. A porta da salvação é aberta para quem decidir entrar. Ser pagão não é questão pertencer ou não pertencer a uma crença. Ser pagão é questão de modo de viver fraternalmente. Quando vir no rosto do outro meu próprio rosto e no seu coração, o meu próprio coração, logo pertenço a Deus mesmo que eu não faça parte de uma crença ou religião (leia Mt 25,31-46).


Aprendemos também de Pedro e da comunidade de Jerusalém que o diálogo sincero resolve um momento de tensão causada pelos conflitos, que poderia se tornar muito grave. A palavra “conflito” provem do latim “conflictu” significa, “choque; embate; luta”. O conflito é uma situação que envolve um problema, uma dificuldade e pode resultar posteriormente em confrontos, geralmente entre duas partes ou mais, cujos interesses, valores e pensamentos observam posições absolutamente diferentes e opostas. Mas através de um diálogo sincero haverá o encontro em vez de confronto. Em cada diálogo há encontro. Mas em cada confronto há guerra. Numa guerra ninguém sai vitorioso, pois de dois lados há vítimas que não são poucos. Em tudo é preciso ficarmos dóceis ao Espirito Santo para que tudo seja resolvido na paz do Senhor.


Fica para nós pergunta: será que somos dóceis aos sinais com que o Espirito Santo nos quer conduzir para além do habitual de acordo com o plano missionário e universal de Deus? Será que somos vítimas de ataduras de nossa formação anterior, como Pedro no seu caminho inicial para a abertura da Igreja para o mundo pagão? Será que praticamos discriminações que são contrárias ao amor universal de Deus e à vontade ecumênica de Seu Espirito? Como resolvemos os conflitos e as tensões inevitáveis que surgem numa comunidade ou simplesmente na comunidade da qual fazemos parte? Sabemos dialogar ou só queremos impor?


Somos Ovelhas Do Bom Pastor Que Nos Dá Sua Vida por nós


Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”. Esta afirmação de Jesus é dirigida a cada um de nós. Bom- bondade é a própria perfeição possuída por um ser. A bondade é sempre ativa, isto é, a capacidade que possui um ser de dar ao outro a perfeição que lhe falta. Jesus é bom porque ele dá o que é mais caro para si: sua própria vida para que os outros possam viver. Por isso, ser bom é muito mais do que ser educado, muito mais do que ser atencioso, muito mais do que ser gentil, muito mais do que ser pacífico, muito mais do que ser simples e humilde. Eu sou bom na medida em que dou o que é melhor de mim, o que é caro para mim para que o outro possa viver. Quem é bom de verdade nunca perguntará quem será beneficiado do meu ato bom. O bom simplesmente brilha como sol com seus raios para todos. Crer em Jesus, o Bom Pastor, aceitar Jesus como o Bom Pastor é um grande compromisso de ser bom na vida, de ser amoroso para com os outros, de ser vida para os demais. A bondade é o investimento que nunca falha, pois Deus é o bem absoluto.


Jesus me resgatou sacrificando a própria vida na cruz. E Ele me alimenta renovando seu sacrifício na eucaristia: “Eu sou o pão vivo descido do céu... Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna. Pois a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida” (Jo 6,51.54-55).


Esta afirmação nos devolve a serenidade perdida, pois, de fato, somos ovelhas do Senhor. A verdadeira serenidade nos envolverá, se aceitarmos humildemente nossa pequenez e nos deixarmos guiar por Deus. Nossa serenidade somente é possível, se começarmos a pensar e a viver a partir de Deus. A partir de Deus saberemos julgar que neste mundo tudo é importante, mas nada é demasiado importante. O único importante é esse Deus em cujas mãos estamos e cuja vida sustenta a nossa vida. O importante é esse Pastor que nos guia ao Pai. A partir desse Pastor que nos guia, tudo será compreendido de uma maneira nova. Tudo tem saída. Não somos abandonados. Com ele sempre podemos ter esperança e renovar a esperança.


Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem”, diz Jesus, o Bom Pastor (v.14). Aqui “conhecer” não se trata de uma atitude ou atividade intelectual, mas trata-se de uma comunidade de vida baseada no amor; trata-se de uma relação existencial. Pela origem da palavra, o verbo “conhecer” quer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro. Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Trata-se de uma relação existencial. O verbo “conhecer” envolve o ver, o ouvir, o perceber, o experimentar. 


Jesus Cristo conhece pessoalmente cada um de nós. Ele não conhece como massa de pessoas. Ele conhece cada um em sua integridade. Jesus me conhece na minha integridade, no meu ser, na minha especificidade, na minha estrutura, na minha angústia, no meu medo, nos meus sonhos. O próprio Senhor Deus é a razão de ser mais profunda de minha existência. Se Deus me ama devo também me aceitar a mim mesmo. O Senhor me conhece verdadeiramente, tal como realmente sou, sem aplicar rótulos e categorias. Por isso, ele é a única garantia de que eu posso ser eu mesmo. Essa consciência da origem divina torna-me justamente mais precioso e mais seguro. Certamente nessa dependência reside uma profunda paz que o mundo nunca será capaz de me dar.


Será que sou uma boa ovelha? Será que eu conheço Jesus como meu Bom Pastor?


P. Vitus Gustama,svd

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