sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Domingo, 12/11/2017
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APRENDER A VIVER NA PRUDÊNCIA NA ESPERA DO ENCONTRO DERRADEIRO COM DEUS
XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM


Primera leitura: Sb 6:12-16
12 A sabedoria é radiante e imarcescível, e facilmente se deixa contemplar e encontrar pelos que a amam e procuram. 13 Ela se antecipa aos que a desejam, sendo a primeira a se fazer conhecer. 14 Quem madruga para ela, não se cansará, pois a encontra sentada à sua porta. 15 Meditar sobre ela é com efeito a perfeição da inteligência, quem lhe consagra sua vigília depressa estará livre de cuidados. 16 Ela mesma procura por toda parte os dignos dela, de boa vontade lhes aparece no caminho e vem ao encontro de todos os desejos.


Segunda leitura: 1Ts 4:13-18
13 Não queremos, irmãos, que fiqueis na ignorância a respeito dos mortos; não vos deixeis tomar pela tristeza, como os outros que não têm esperança. 14 Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também devemos crer que Deus, por meio de Jesus, levará junto com ele os que morreram. 15 Isto vos dizemos segundo a palavra do Senhor: nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor, não procederemos os que morreram. 16 Isto porque o mesmo Senhor descerá do céu, quando for dado um sinal, o grito do Arcanjo, o toque da trombeta divina, e os mortos ressuscitarão primeiro pelo poder de Cristo.17 Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles por entre nuvens, nos ares, ao encontro do Senhor, e estaremos para sempre com o Senhor. 18 Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.


Evangelho: Mt 25,1-13
Naquele tempo, disse Jesus, a seus discípulos: 1 O reino dos céus é comparável a dez virgens que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo. 2 Cinco delas eram imprevidentes e cinco previdentes. 3 As descuidadas, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo. 4 As prudentes, porém, juntamente com as lâmpadas, levaram vasilhas de azeite. 5 Ora, como o esposo demorava a chegar, todas pegaram no sono e ficaram dormindo. 6 À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘Aí vem o esposo. Ide a seu encontro’. 7 Então todas aquelas virgens se levantaram e começaram a preparar as lâmpadas. 8 As descuidadas disseram, então, às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando’. 9 Mas as prudentes responderam: ‘De jeito nenhum. Poderia acontecer que não baste nem para nós, nem para vós. Em vez disso, ide às vendas e comprai-o’. 10 Enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam prontas entraram com ele para a festa do casamento e a porta da sala foi trancada. 11 Finalmente, chegaram também as outras virgens, dizendo: ‘Senhor, Senhor, abre-nos!’ 12 Mas ele respondeu: ‘Eu vos declaro esta verdade: não vos conheço!’ 13 Ficai vigiando, portanto, porque ignorais o dia e a hora.
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Os capítulos 24-25 do evangelho de Mateus constituem o quinto e o último discurso do Evangelho. Este quinto discurso é conhecido como o “Discurso escatológico” (discurso apocalíptico). Mt elabora notavelmente o discurso escatológico de Mc (Mc 13) e o amplia com uma série de parábolas e com uma impressionante descrição do julgamento final (Mt 25,31-46), cuja principal intenção é orientar os cristãos sobre como preparar a segunda vinda do Senhor (Parusia). Mt não trata, como em Mc, dos sinais que precederam a destruição do Templo e sim da vinda do Filho do Homem e das atitudes necessárias com que os discípulos devem preparar esta vinda. 


Com o discurso escatológico Mt quer responder à situação em que a sua comunidade vive. Por um lado, a comunidade vê que a segunda vinda do Senhor Jesus se atrasa, enquanto diante dela aparece a história como espaço para o compromisso (Não podemos nos esquecer que este discurso é uma elaboração do discurso de Mc 13. Na comunidade de Mc, a destruição de Jerusalém e do Templo que ocorreu no ano 70 d.C., resultou em surgimento de uma onda de entusiasmo apocalíptico. Os profetas fáceis interpretaram o acontecimento como um sinal de que o fim do mundo estava próximo).


Por outro lado, o evangelista contempla com preocupação os sinais de abandono, preguiça espiritual, relaxamento moral, rotina e esfriamento que começam a aparecer na comunidade. Nesta situação, Mt descobre que aquelas palavras de Jesus contém um profundo ensinamento e servem de exortação para os cristãos. A exortação se fundamenta numa profunda convicção: a vinda do Filho do Homem é certa, porém, não acontecerá em seguida, isto é, o momento da vinda é incerto ou desconhecido. Por isso, chegou o momento de preparar-se para este grande acontecimento vivendo segundo os ensinamentos de Jesus. 


A linguagem destes capítulos pode provocar temor. Mas, na verdade, trata-se de uma linguagem apocalíptica que era relativamente freqüente entre alguns grupos judeus e cristãos. Chama-se de linguagem apocalíptica porque tem como objetivo manifestar uma revelação escondida (apocalypsis). Em muitas ocasiões esta revelação é dirigida a grupos ou comunidades que vivem uma situação de perseguição, com a intenção de animá-los e encorajá-los em suas lutas e tribulações. Por isso, não há motivo nenhum de alguém ver nestes textos uma ameaça e sim, uma mensagem de esperança e de ânimo para não se entregar.


O “discurso apocalíptico” de Mt pode-se dividir em duas partes. A primeira (Mt 24,1-35) segue, com pequenos variantes, o texto de Mc (Mc 13) e trata de identificar os sinais que precedem e acompanham a vinda do Filho do Homem. A segunda, própria de Mt (Mt 24,36-25,46) mostra as atitudes com que os cristãos devem preparar esta vinda.


A parábola das dez virgens complementa a parábola do servo fiel e do infiel que a antecede imediatamente (Mt 24,45-51). Ela, então, está muito relacionada com a parábola precedente. Esta parábola se encontra somente em Mt. Pela sua introdução, a parábola é qualificada como parábola do Reino: “...O Reino de Deus é como...” (v.1). E pela introdução, a parábola não se refere à espera da vinda do Senhor, e sim a chegada do Reino. Mas pelo contexto em que se encontra, ela tem ligação com a vinda final de Cristo(parusia).


Esta parábola, se olharmos do ponto de vista da prudência, pois a parábola trata das cinco virgens prudentes (phronimoi) e outras cinco insensatas (morai), nos faz lembrar também da conclusão do Sermão da Montanha que compara um homem néscio a um homem prudente (Mt 7,24-27). Na literatura sapiencial o prudente é aquele que age de acordo com as exigências de Deus; o insensato, ao contrário, age conforme sua cabeça. E sabedoria sempre leva vantagem sobre a loucura (cf. Ecl 2,12-17). Da conclusão do Sermão da Montanha sabemos que um que é néscio construiu a casa sobre a areia e o outro que é prudente sobre a rocha. A casa do néscio desmoronou, pois sem nenhuma base sólida, enquanto a do outro fica firme diante da tempestade, pois foi construída sobre a rocha. Nesta parábola encontra-se novamente o contraste entre prudente e néscio. Sabemos que a prudência determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar.  Ela separa a ação do impulso. “A prudência é um amor que escolhe com sagacidade”, dizia Santo Agostinho. Prudentes são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a praticam. Ao contrário, néscios são aqueles que a escutam, mas não vivem de acordo com a Palavra de Deus. As cinco virgens levam o azeite suficiente, pensando na chegada atrasada do noivo, enquanto que as outras cinco não pensam nisso. Como é importante estar preparado, tanto para as surpresas agradáveis como para as desagradáveis na vida. Como um time de futebol, que deve pensar na vitória, mas deve-se preparar que o time adversário possa jogar melhor. Normalmente, quem pensa nisto tudo, sofre menos.


O azeite é a Palavra de Deus vivida no dia a dia que se resume no amor. Diz Santo Agostinho: “Coisa grande, verdadeiramente muito grande significa o azeite(óleo). Só pode ser amor” (Aliquid magnum significat oleum, valde magnum. Putas non caritas est?). “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus”, concluiu o Sermão da Montanha (Mt 7,21). E aqui nesta parábola lemos que as cinco virgens insensatas gritam: “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!” (v.11). Mas a porta continua fechada. Quem vive segundo a Palavra de Deus tem a chave na mão para abrir a porta (do céu). As palavras da profissão “Senhor, Senhor” só salvam quem as professa, se viver de acordo com essa profissão. Chamamos e professamos Deus de Senhor porque queremos que ele assenhore nossa vida, e guie nossos atos e decisões, que ele seja o centro de nossa vida, que a vontade dele prevaleça na nossa vida, pois tudo que Deus quer é só salvar. Quem de nós não quer ser salvo? 


Esta parábola é contada por Mt para fazer a advertência à própria comunidade e também para as comunidades cristãs em qualquer lugar e tempo. Todas as dez virgens são escolhidas para esperar e aguardar a mesma coisa: a vinda do noivo. Mas algumas perdem a esperança e a persistência muito cedo. A comunidade mateana, embora acredite na mensagem, começa a perder a fé por causa da demora do dia do Senhor. Como conseqüência, vem o declínio e a apatia no cumprimento das exigências evangélicas. Por isso, esta parábola tem como motivo opor-se a esse declínio ou à apatia da comunidade. Ele enfatiza que nunca se sabe, nem se pode ter certeza sobre o fim da história. O que a comunidade precisa fazer é manter a esperança e estar pronta em todos os momentos para a chegada do Senhor. Por isso, no fim da parábola, Mt pede que a comunidade esteja sempre vigilante(v.13), pois o Senhor pode chegar no momento menos esperado (à meia noite. v. 6). Para Mt, estar vigilante e preparado significa escutar e colocar em prática as palavras de Jesus que podem resumir-se no mandamento do amor. A verificação da autêntica vigilância e da esperança cristãs consiste no cumprimento do mandamento do amor.  Vigiar significa dar-se conta da realidade, estar atento ao essencial. Evita-se assim uma fuga da responsabilidade do presente.


A mensagem de Mt é, por isso, esta: o atraso da volta de Jesus não pode levar ao adormecimento e ao descuido, nem pode levar os cristãos a ficarem relaxados nos seus compromissos. Ao contrário, a certeza da vinda do Senhor e incerteza do momento da chegada devem motivá-los a assumir seus compromissos com as palavras de Jesus ativamente. A comunidade cristã deve se preparar para o futuro salvífico através do cumprimento fiel das exigências de Deus reveladas por Cristo.


As cinco virgens prudentes estão de prontidão e prestam atenção às coisas essenciais. Enquanto as cinco insensatas pensam em tudo, menos naquilo que, de fato, tem importância. Acontece também em nossos dias, talvez em todos os tempos, a mesma coisa. Há pessoas que perdem o rumo por causa das coisas efêmeras: dinheiro, poder, prazeres etc. e não se dão conta de estarem perdendo um tempo valioso, não se lembram dos valores autênticos como caridade, justiça, paz, verdade, reconciliação etc. pelos quais vale a pena comprometer-se. O homem tão pendente das coisas passageiras que lhe falta interesse pelas de Deus. “Diz o insensato em seu coração: Não há Deus” (Sl 13,1). O homem tão ocupado com as mil coisas que não deixam mais do que efêmeras satisfações que se esgotam logo que se produzem, e que não tem tempo para Deus. Um sábio diz que há esquecimento por falta de memória, mas há esquecimento por falta de amor. Esquecemos de Deus não por falta de memória, mas por falta de amor para com ele. Não é fácil imaginar que uma pessoa que ama se esqueça daquilo que agrada ao ser amado. Quantos se interessam hoje em dia por averiguar quais razões que Deus terá tido para os chamar à vida, em vez de qualquer outra das inúmeras criaturas que poderiam ter nascido em seu lugar?  Na íntima consciência, a cada instante, está iminente a eternidade do Deus santo, que será nosso Salvador, ou...nosso Juiz. O perigo é que, sem luz, por falta de azeite, na hora da verdade podemos nos encontrar, tal como as cinco virgens insensatas, na rua e diante de uma recusa aterradora: “Em verdade Eu vos digo: Não vos conheço!” (v.12). Todos nós somos convidados, como as dez virgens, a participar da celebração do casamento de Jesus com a humanidade. Contudo, devemos estar conscientes de que a porta estará aberta para uns e fechada para outros. Não é que Deus não queira, mas a opção pessoal é que determina a entrada ou não na sala do banquete eterna com Jesus, o noivo celeste.


O que nos chama a nossa atenção é o aparente egoísmo e aparente falta de solidariedade das cinco virgens prudentes que não dividiram seu azeite para as insensatas. E a aparente falta de amor do noivo que não abriu a porta para as cinco insensatas também chama a nossa atenção. A parábola quer destacar uma responsabilidade pessoal que não é substituível por ninguém diante de Deus no fim dos tempos. Ninguém pode prestar contas em nome de ninguém diante de Deus nesse momento. Cada um é único diante do Deus único. As qualidades interiores, as qualidades do espírito que temos ou não as temos, não podem ser emprestadas ou repartidas diante da seriedade do momento. É insubstituível o compromisso pessoal da vigilância.


O juízo particular é tema que desperta não só responsabilidade, mas também esperança e otimismo. Deus não empurra ninguém para o céu ou para o inferno. É a própria pessoa quem decide sobre isso durante sua vida. Não é um sentença divina que vai declarar a pessoa culpada ou inocente, mas sim é a atitude, é o modo de vida da pessoa que vão condicionando sua opção por Deus. O juízo particular é processo histórico que a própria pessoa vai tecendo.


Este pensamento nos leva a perguntar sobre o destino do companheiro ou da companheira que está ao nosso lado. Quem ele/ela é? Será que ele/ela tem azeite suficiente até a chegada do noivo celeste? Será que a porta estará aberta para ele/ela? A mesma pergunta é dirigida para cada um de nós. Temos um desejo comum: que a porta esteja aberta para nós na hora da verdade. Mas para isso, que tenhamos a chave desta porta na nossa mão.


Resumindo....


O noivo da parábola é Cristo que chega numa hora desconhecida. Ele vem em qualquer momento para nos buscar e levar (Cf. Jo 14,3).


As virgens representam os homens e as mulheres que compõem a humanidade. Alguns vivem na permanente vigilância através de sua dedicação para as obras boas pelo bem da humanidade. Outros se deixam levar pelo prazer do mundo; eles vivem com as lâmpadas sem azeite, o que dificulta a vida quando a noite chegar.


O período entre a espera e a chegada do esposo é a vida dada por Deus para cada um dos homens e mulheres. A responsabilidade recai sobre cada um. Neste período vivemos para o bem ou para o mal. Mas o mal não tem futuro. O bem tem futuro. O tempo somente eterniza o que é bom, certo, justo, digno, amoroso, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).


Uma coisa importante que a parábola das dez virgens quer nos recordar é esta: não podemos nos preocupar com o secundário, com o que tem menos importância e até, por vezes nenhuma. Ao contrário, jamais podemos, nem devemos nos esquecer do essencial, isto é, daquilo que se refere ao Senhor e ao amor pelo próximo. O resto vale a pena ser abandonado. Examinemos na presença do Senhor o que é realmente o principal ou o essencial na nossa vida nestes momentos. Se o Senhor viesse hoje ao nosso encontro, Ele nos acharia vigilantes, esperando-O com as mãos cheias de boas obras?


A fé é olhar para a frente. A fé é a conversão para o Senhor que vem, e que está vindo. Porque a fé é o êxodo da antiga escravidão e partida para a terra prometida.  O medo do desconhecido nos leva a refugiar-se no hábito e na rotina, desconfiar da mudança, rejeitar até o novo pelo simples fato de ser assim. "Melhor mau conhecido do que é bom saber". No entanto, o evangelho é novidade, anúncio e proclamação do nunca visto. É por isso que a mesma coisa daqueles que escutam o evangelho é abrir e ser confiantemente surpreso e não julgar tudo e condená-lo pelos preconceitos e costumes em que se sente seguro. Para os cristãos, afinal, e depois de tudo, aquele que vem não é algo, e sim o Senhor. Ele nos convidou para casamentos eternos.


P. Vitus Gustama,SVD

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