domingo, 5 de junho de 2022

Segunda-feira Da XI Semana Comum,13/06/2022

VIVER COMO CRISTÃOS É VIVER COMO JUSTOS E RECONCILIADOS

Segunda-Feira da XI Semana Comum

Primeira Leitura: 1Rs 21,1-16

Naquele tempo, 1 Nabot de Jezrael possuía uma vinha em Jezrael, ao lado do palácio de Acab, rei de Samaria. 2 Acab falou a Nabot: “Cede-me a tua vinha, para que eu a transforme numa horta, pois está perto da minha casa. Em troca eu te darei uma vinha melhor, ou, se preferires, pagarei em dinheiro o seu valor”.  3 Mas Nabot respondeu a Acab: “O Senhor me livre de te ceder a herança de meus pais”. 4 Acab voltou para casa aborrecido e irritado por causa desta resposta que lhe deu Nabot de Jezrael: “Não te cederei a herança de meus pais”. Deitou-se na cama, com o rosto voltado para a parede, e não quis comer nada.  5 Sua mulher Jezabel aproximou-se dele e disse-lhe: “Por que estás triste e não queres comer?” 6 Ele respondeu: “Porque eu conversei com Nabot de Jezrael e lhe fiz a proposta de me ceder a sua vinha pelo seu preço em dinheiro, ou, se preferisse, eu lhe daria em troca outra vinha. Mas ele respondeu que não me cede a vinha”.  7 Então sua mulher Jezabel disse-lhe: “Bela figura de rei de Israel estás fazendo! Levanta-te, toma alimento e fica de bom humor, pois eu te darei a vinha de Nabot de Jezrael”. 8 Ela escreveu então cartas em nome de Acab, selou-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade de Nabot. 9 Nas cartas estava escrito o seguinte: “Proclamai um jejum e fazei Nabot sentar-se entre os primeiros do povo, 10 e subornai dois homens perversos contra ele, que deem este testemunho: ‘Tu amaldiçoaste a Deus e ao rei!’ Levai-o depois para fora e apedrejai-o até que morra”. 11 Os homens da cidade, anciãos e nobres concidadãos de Nabot, fizeram conforme a ordem recebida de Jezabel, como estava escrito nas cartas que lhes tinha enviado. 12 Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se entre os primeiros do povo. 13 Chegaram os dois homens perversos, sentaram-se diante dele e testemunharam contra Nabot diante de toda a assembleia, dizendo: “Nabot amaldiçoou a Deus e ao rei”. Em virtude disto, levaram-no para fora da cidade e mataram-no a pedradas. 14 Depois mandaram a notícia a Jezabel: “Nabot foi apedrejado e morto”. 15 Ao saber que Nabot tinha sido apedrejado e estava morto, Jezabel disse a Acab: “Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael não te quis ceder por seu preço em dinheiro; pois Nabot já não vive; está morto”. 16 Quando Acab soube que Nabot estava morto, levantou-se para descer até a vinha de Nabot de Jezrael e dela tomar posse.

Evangelho: Mt 5,38-42

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38 “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40 Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41 Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! 42 Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado”.

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No Abuso Do Poder, o Inocente, o Simples É Sempre Vítima 

Lemos na Primeira leitura o abuso do poder do rei Acab através de sua esposa, Jezabel. 

O episódio de um poderoso (Acab) que se apropria injustamente do que pertence a um pobre (Nabot) é uma cena que pode contar-se do século IX a.C ou de hoje mesmo. 

É um fato cheio de cinismo, sobretudo por parte de Jezabel, a rainha adoradora de Baal, que entende a religião e o poder somente a seu favor, sem ter em conta a justiça social. O bom homem Nabot faz bem em recusar-se a vender sua vinha, mesmo que o rei a tenha pedido em termos justos. Trata-se da herança que recebeu dos pais e que não pode ser alienada assim. E o rei fica triste por causa desta recusa: “Deitou-se na cama, com o rosto voltado para a parede, e não quis comer nada”. 

Por que Nabot não quer entregar seu terreno ao rei Acab? Porque, como foi dito, o terreno é sagrado no conceito do povo eleito. Cada família recebeu sua parte da terra prometida, dada pelo Senhor, e esta terra tem que permanecer unida à família como um depósito sagrado e inalienável (cf. Lv 25,23). 

Segundo o conceito do rei Acab, em nome da ganância, a venda e a troca da herança familiar faz parte de um negócio completamente legal: “Cede-me a tua vinha, para que eu a transforme numa horta, pois está perto da minha casa. Em troca eu te darei uma vinha melhor, ou, se preferires, pagarei em dinheiro o seu valor” (1Rs 21,2). Porém o rei deve respeitar a razão e o direito de Nabot: “Não te cederei a herança de meus pais”, disse Nabot ao rei Acab (1Rs 21,4). Para Nabot a vinha representa o lugar de sua fidelidade aos antepassados e ao próprio Javé de quem recebeu a terra.

Mas quem abusa do poder sempre acha alguma “saída”, mesmo que seja contra a ética ou mesmo que alguém deva ser vítima disso. Neste caso, a mulher de Acab, Jezabel resolveu arrumar um problema para Nabot para poder possuir o terreno de Nabot: “Ela escreveu então cartas em nome de Acab, selou-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade de Nabot. Nas cartas estava escrito o seguinte: ´Proclamai um jejum e fazei Nabot sentar-se entre os primeiros do povo, e subornai dois homens perversos contra ele, que deem este testemunho: ‘Tu amaldiçoaste a Deus e ao rei!’ Levai-o depois para fora e apedrejai-o até que morra´”.  

Para Jezabel, a rainha devota de Baal, é inconcebível  que a autoridade permita a um súdito não obedecer ao rei Acab, seu marido. Os que se acham poderosos sempre procuram algum meio, nem que seja através da violência para calar seus súditos, os pobres, os inocentes. Deste modo, Jezabel tem a porta bem aberta para continuar pervertendo o povo de Israel e os anciãos do povo caíram na armadilha da rainha Jezabel. E o rei Acab, sem personalidade e sem ética aceitou o plano da mulher, Jezabel. Nabot, o inocente, se torna uma vítima fatal: foi apedrejado até a morte. A briga dos poderosos sempre termina com o sacrifício da vida dos inocentes. 

Para um poderoso, como o rei Acab e a rainha Jezabel, tudo é permitido e não existe lei ou direito que o limite. Para ele, não agir assim significa não reinar. Quantos inocentes foram e continuam sendo vítimas dos poderosos. O resultado desse plano: “Nabot foi apedrejado e morto”. E o rei Acab toma posse do terreno que não era dele, mas era do morto Nabot: “Quando Acab soube que Nabot estava morto, levantou-se para descer até a vinha de Nabot de Jezrael e dela tomar posse”. Tudo é crime, pois acaba com a morte do inocente, Nabot. 

Para um ambicioso como o rei Acab e sua esposa, Jezabel, o recurso à violência parece-lhe justo e honesto. O ambicioso só obedece ao seu instinto de mandar e receber honrarias. E esse instinto é violento.  Quem desejar ser a todo custo o primeiro, dificilmente se preocupará com ser justo. Nas mãos de um ambicioso, o poder só representa um constante perigo. Para ele, o poder é um convite aos seus maus instintos para que explorem a força que ele tem a seu dispor. Quando no vértice do poder, o ambicioso transmitirá aos súditos os seus sentimentos, arruinando as pessoas contrárias ao seu desejo, arruinando a nação com assim chamada  a política do prestígio, dos que só visam a conseguir a sua própria grandeza. Prestígio! Palavra mágica que encanta e corrompe a tantos mortais. 

Um ambicioso anda com o político corrupto.  Um corrupto consegue arrancar dinheiro de ruas, de rodovias, de ferrovias, de portos, de aeroportos, de hospitais, de escolas, cursos profissionalizantes e assim por diante para si próprio e suas comparsas. A desonestidade consegue inventar todo o tipo de fraudes. Na avareza está oculta uma ofensa social. E nosso coração chora ao nos sentirmos traídos por pessoas às quais delegamos o poder para ser nossos representantes políticos em função do bem comum.

Mas o Senhor não renunciava a ser o attentico Rei de Israel, defensor dos desamparados, dos excluídos, dos inocentes, dos justos. A voz do profeta se levanta como um eco da bondade de Deus que recusa totalmente a perversão do poder. A força da palavra profética na pessoa de Elias é muito mais forte do que o poder da rainha Jezabel, pois a culpa pesa muito mais do que qualquer poder neste mundo. é um aviso à autoridade injusta e atodos os seus cúmplices. 

A maldade dos cínicos e o abuso de poder continuam a existir no nosso mundo. Muitas pessoas poderosas tiram vantagem de sua situação para sua própria vantagem. O que hoje chamamos de "tráfico de influências" ou os vários tipos de corrupção do poder, é a mesma coisa que Acab e Jezabel fizeram com o pobre Nabot. O fraco sempre sai perdendo, mesmo que esteja com a verdade. Isso pode acontecer em níveis políticos, na relação entre poderosos e fracos, ou na economia mundial, entre ricos e pobres. Também na Igreja. João Paulo II, no Limiar Do Terceiro Milênio, convidou a comunidade cristã a examinar quantas vezes recorreu à violência, acreditando que, ao fazê-lo, estava fazendo o bem para a verdade ou para a religião, com o que chama de «métodos de intolerância e até da violência a serviço da verdade» (Tertio Millennio Adveniente, 35). 

Mas também pode acontecer em nosso pequeno mundo doméstico. Cada um de nós pode ser um tirano e abusar de seu poder em relação a outros mais fracos. Será que recorremos a truques e até injustiças para conseguir o que queremos, quando não conseguimos de outra maneira?

Não nos contentemos em julgar Jezabel e Acabe. Pode ser que nós também às vezes “esmaguemos os fracos” quando eles nos atrapalham em nossos propósitos e em nossos interesses. 

A Misericórdia Divina Pede Para Vivermos Reconciliados 

O texto do evangelho lido neste dia se encontra no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Este texto é conhecido como a quinta antítese nesse Sermão que nos fala sobre como devemos nos relacionar com quem nos ofendeu. Para entender o significado desta antítese precisamos conectá-la com as bem-aventuranças na abertura do Sermão da Montanha. Em algumas das bem-aventuranças Jesus declara: “Bem-aventurados os mansos... Bem-aventurados os misericordiosos... Bem-aventurados os que promovem a paz...”. É isto que Jesus nos ensina agora e nos ensinará também com seu exemplo (cf. Mt 11,28-30; 12,18-21). Na Paixão, Jesus pedirá o perdão ao Pai para os malvados (cf. Lc 23,34). São Pedro na sua primeira Carta escreveu: “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa  nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23).

Nesta quinta antítese, Jesus faz seu comentário sobre a lei de talião do Antigo Testamento. No Livro do Êxodo lemos: “Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex 21,23-25; cf. Lv 20,17-22). Aqui se acentua a vingança proporcional ou a vingança na mesma medida.           

A lei de talião era conhecida em todo o Oriente Antigo. Ela é encontrada no Código Hammurábi, nas leis assírias, na Torah bem como também entre os gregos e os romanos. 

No famoso Código de Hammurabi (século XVIII a.C) encontramos os seguintes artigos referentes à Lei de talião:

·      O artigo 196: “Se alguém arrancar um olho de outro, também seu olho será arrancado”.

·      O artigo 197: “Se alguém quebrar um membro de outro, também um de seus membros será quebrado”.

·      O artigo 200: “Se alguém quebrar um dente de outro, um de seus dentes será quebrado”. 

A finalidade primordial dessa lei era colocar um limite a uma vontade desenfreada de vingança em uma sociedade em que a vingança era quase que institucionalizada (cf. Gn 4,23-24). Portanto, a intenção dessa lei era proteger os direitos das pessoas contra os excessos de violência. 

Na quinta antítese do Sermão da Montanha Jesus faz uma reflexão sobre a lei de talião e oferece uma solução: « Pelo contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante um quilômetro, caminha dois com ele. Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado” (Mt 5,38-42).           

Com esta antítese Jesus coloca como alternativa à violência, não a lei de talião, mas a não-violência. Na verdade, Jesus já colocou nas Bem-aventuranças a atitude certa contra a violência: “Bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os que promovem a paz”. Jesus nos ensina também com seu exemplo (cf. Mt 11,28-30; 12,18-21). E São Pedro na sua Carta escreveu que Cristo “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23). 

A reação paradoxal que Jesus sugere aos cristãos, diante da violência, tem uma finalidade concreta: mostrar as possibilidades extremas de aplicação do seu mandamento de amor. Quem é movido por um amor incondicional ao próximo será capaz de fazer gestos radicais para coibir a violência, sem responder com a mesma moeda. Tudo supõe que se tenha um coração limpo (cf. Mt 5,8). A lei de talião é excluída pela limpeza de coração e pela compaixão. O cristão é chamado a não entrar na engrenagem infernal de um violento e não reagir com a violência à violência.       

Segundo Jesus não basta “aguentar” os maus; devemos fazer, por eles, algo de positivo. Jesus não quer bobos, mas fortes, capazes de fazer algo para que o mundo mude ou melhore. Não é suficiente sofrer, enquanto tivermos ainda uma possibilidade de fazer positivamente o bem. 

Não é possível viver odiando em inimizade profunda e irreversível. O dano interior provocado por uma relação esfarrapada corrói nossas melhores energias e o Templo de Deus em nós se deteriora (cf. 1Cor 3,16-17) e os sentimentos de vingança o deformam lentamente. O perdão é o testamento escrito por Jesus na cruz. Da cruz Jesus pede perdão por todos aqueles que o crucificaram: “Pai, perdoa-lhe porque sabem o que fazem” (Lc 23,34). 

Vamos olhar para nossa realidade, tanto dentro da Igreja como fora dela, na sociedade, e vamos nos perguntar: a Lei de Talião ainda continua sendo praticada? Será que abandonamos a cultura que o Papa Francisco denomina a Cultura do encontro em que um se torna próximo do outro e por isso, um tem que cuidar do outro? A cultura do encontro freia até elimina a cultura de violência em que tudo se resolve com a briga e a vingança? Não temos tentação em fazer vingança contra o outro que não está de acordo com nosso pensamento e nossa maneira de viver? Viver uma vida de uma maneira só é uma grande pobreza e mata toda a criatividade. 

Deveríamos realizar um progressivo desarme intelectual, moral e religioso. É não justificar o injustificável. É crer na força do amor. É tirar da Eucaristia a certeza de curar nossas feridas profundas. Toda vez que fazemos memória da morte e ressurreição de Cristo, o mesmo Senhor nos introduz, pelo Espírito, na plenitude de sua existência pascal. 

Quando o amor for “excesso” o mal é obrigado a não se produzir e sua existência se extingue. Não é uma petição aos heróis e sim para todos os cristãos para que imitem o exemplo do seu Senhor Jesus Cristo. Para isso, temos que pedir permanentemente ao Senhor sua graça e força que vem de Seu Espírito para acontecer uma transformação profunda no nosso modo de viver com os demais homens. Mas “Empregar o nome de não-violência quando existe uma espada em vosso coração é, não somente hipocrisia e desonesto, mas, ainda, covardia. Se permanecermos não-violentos, o ódio ficará sem efeito. O primeiro princípio da ação não-violenta é o da não-cooperação com tudo que é humilhante” (Mahatma Gandhi). 

Reflitamos as seguintes palavras do escritor e psicólogo argentino, René Juan Trossero: 

“Não me importam as suas teorias sobre a violência;

O que me interessa saber é como você vive

No meio da violência que nos cerca por todas as partes.

 

Se você nunca foi vítima da violência,

Fale sobre ela com prudência

Por respeito aos que a sofrem na pele.

 

Provocar a violência em nome de Deus

E do Evangelho é um sacrilégio.

Pregar a resignação para os que sofrem a violência,

Invocando Deus e o Evangelho, é uma trapaça.

 

Não acabará a violência quando houver menos armas,

E sim quando houver mais amor.

 

Destruir a violência com a violência

É como apagar um incêndio com gasolina.

A única maneira de lutar contra a violência

É não provocá-la”.   

São Pedro descreve Jesus da seguinte maneira: “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23). Diante deste Jesus precisamos olhar para nossa maneira de viver e de conviver, pois adotamos a maneira de viver de Jesus como nossa e assumimos seus ensinamentos para nossa vida cotidiano, pois somos cristãos? Será que podemos nos dizer como somos cristãos, ou estamos cristãos ainda?

P.Vitus Gustama,svd

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