quinta-feira, 28 de agosto de 2025

XXII Domingo Comum, Ano "C", 31/08/2025

A GRANDEZA DO CRISTÃO ESTÁ NA HUMILDADE E NA GRATUIDADE POR AMOR

XXII Domingo Do Tempo Comum “C”

Primeira Leitura: Eclo 3,19-21.30-31 (gr: 17-18.20.28-29))

19 Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. 20 Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios. 21 Pois grande é o poder do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes. 30 Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele, e ele não compreende. 31 O homem inteligente reflete sobre as palavras dos sábios, e com ouvido atento deseja a sabedoria.

Segunda Leitura: Hb 12,18-19.22-24a

Irmãos: 18 Vós não vos aproximastes de uma realidade palpável: "fogo ardente e escuridão, trevas e tempestade, 19 som da trombeta e voz poderosa", que os ouvintes suplicaram não continuasse. 22 Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; 23 da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição; 24a de Jesus, mediador da nova aliança.

Evangelho: Lc 14,1.7-14

1 Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10 Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado.' 12 E disse também a quem o tinha convidado: 'Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos.'

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Lições Do Caminho

Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho para Jerusalém, sua ultima viagem para Jerusalém, pois lá ele será crucificado, morto e ressuscitado. Jesus continua com suas últimas lições/instruções dadas aos seus discípulos no seu Caminho para Jerusalém. Trata-se das lições do caminho (Lc 9,51-19,58). A intenção de Jesus ao dar tais lições é preparar os discípulos para a futura missão na Sua ausência física nesta terra. E estas lições servem também como instrução catequética-catecumenal para todos os cristãos de todos os tempos e épocas. Por ser tratarem de lições importantes Lucas não tem pressa de relatar a chegada de Jesus em Jerusalém.               

As lições que Lc nos apresenta através da passagem do evangelho deste dia são a humildade (vv. 7-11) e a gratuidade baseada sobre o amor desinteressado (vv.12-14). O que une estas lições é o tema do Reino considerado como banquete eterno. Humildade e gratuidade baseada sobre o amor desinteressado são fundamentais para participar do banquete do Reino.        

Para falar destes temas/lições Lc parte de uma refeição preparada por um fariseu para Jesus como seu convidado especial. No evangelho de Lucas os fariseus estão bastante próximos de Jesus em comparação com outros dois sinóticos (Mt e Mc). Lc nos relata que Jesus é convidado três vezes para uma refeição na casa dos fariseus (cf. Lc 7,36-50; 11,37-53; 14,7-14).      

No mundo semita o banquete ou a refeição é o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo pão/ alimento (companheiro). E o pão/alimento é fruto dos processos do trabalho humano e é distribuído a cada membro da família para sua subsistência. A refeição é o espaço onde se manifestam e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade e de fraternidade. Em qualquer povo, o primeiro gesto de hospitalidade e de fraternidade é o convite para a mesma mesa, a partilha daquele alimento que transforma estranhos em amigos. Sob o aspecto físico, a refeição é indispensável para a sobrevivência; no aspecto social, ela sela uma boa relação, uma aliança. Todas as alianças no mundo semita sempre se finalizam com uma refeição.        

A partir da refeição ou do banquete humano Jesus entra no tema do Reino, que ele vai antecipar através da instituição da Eucaristia. E o Reino é o banquete eterno, e por isso, é um espaço de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço por amor. Por esta razão, do Reino são excluídas qualquer atitude de superioridade, de orgulho/arrogância/prepotência, de ambição, de domínio sobre os demais e outras atitudes semelhantes. Para poder participar do banquete do Reino cada um deve fazer-se pequeno, humilde, simples e sem nenhuma pretensão de ser considerado melhor, mais justo/santo ou mais importante do que os outros. O próprio Jesus serve de exemplo para todos, quando, na véspera da sua morte, lavou os pés dos discípulos (cf. Jo 13,1-17). Por isso, Jesus fala da humildade e da generosidade.        

Aprofundemos um pouco mais nossa reflexão sobre alguns pontos da passagem do evangelho deste dia.

1. A Humildade Nos Faz Ocupar Nosso Lugar E Atrai A Bênção De Deus E A Simpatia Humana        

Filho, na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que Ele revela seus mistérios(Eclo 3,20).        

O texto nos relatou que Jesus foi convidado por um fariseu para uma refeição. Os fariseus formavam um dos principais grupos religiosos-políticos na época de Jesus. Seu trabalho (trabalho dos fariseus) era transmitir a todos o amor pela Lei de Moisés (Torah), porque eles se preocupavam com a santificação do povo. Mas cada exagero gera sempre novo problema. Assim aconteceu com os fariseus. Eles absolutizavam tanto a Lei a ponto de abandonarem o essencial: o amor e a misericórdia para com o próximo (cf. Mt 9,13; Tg 2,13). Por viverem de acordo com a Lei, eles se consideravam “puros”, superiores e desprezavam os demais que não cumpriam a Lei (os analfabetos, os pobres etc.).

É melhor um pecador humilde do que um beato orgulhoso”, dizia Santo Agostinho. O homem que se deixa dominar pela arrogância ou superioridade torna-se egoísta, injusto, auto-suficiente, e despreza os outros. Ele até deixa de precisar de Deus e dos outros homens. Ele olha todos com superioridade e pratica com freqüência gestos de prepotência que o tornam temido, mas nunca admirado ou amado. Um chefe temido não é respeitado. Um chefe que ama, é respeitado. Daí nasceu a lição de Jesus sobre a importância da humildade na vida do cristão (vv.7-11).        

O vocábulo “humildade” deriva do latim humilis, que por sua vez, deriva de húmus: chão, terra. E o húmus é a parte nutritiva da terra. É o lugar em que, recebendo os cuidados adequados, calor e umidade, germina a semente saudavelmente.        

A humildade consiste em saber ocupar o próprio lugar de criatura; em reconhecer que o que somos e temos é um dom de Deus por causa de seu amor. Humilde é saber ser o que cada um é e saber lutar por ser o que Deus espera que sejamos.  O olhar simples de uma fé humilde permite-nos recordar a nossa criação do nada, como pura graça, e participar na comunhão d’Aquele que é a origem de toda a vida e de toda a felicidade. Quanto mais somos como pessoas, criaturas, menos precisamos provar isso aos outros. Quando o homem ocupa seu próprio lugar como criatura, ele tem condições e disposições para se encontrar com Deus, seu Criador. A revelação de Deus somente se dirige aos humildes porque eles estão abertos a receber a dádiva de Deus: “... é aos humildes que Deus revela seus mistérios” (Eclo 3,20. cf. Mt 11,25). Humilde é aquele que se encontra bem consubstanciado com a terra. É aquele que está com os pés bem firmes no chão, é aquele que pisa firme, com segurança, e confiança. Ele não se despreza nem se teme ninguém. Ser humilde significa assumir com simplicidade o nosso lugar, colocar/pôr os próprios dons ao serviço de todos com simplicidade e com amor sem nunca humilhar os outros com a própria superioridade. Por isso, a humildade é refúgio e alimento do ser. Nunca se aprende bastante da humildade, pois é na humildade que germinam nossos autênticos valores. A prática da humildade mostra que respeitamos os outros e que ainda temos muito a aprender dos outros. Em outras palavras, a humildade é uma forma de ser por dentro. Por isso, Santo Agostinho nos alerta: “Simular humildade é a maior das soberbas”.                 

A humildade, que constitui o alicerce de outras virtudes, é uma virtude tão importante que Jesus sempre aproveita qualquer circunstância para pô-la em destaque. A encarnação de Deus em Jesus Cristo é um mistério da humildade na sua própria essência. A humildade de Jesus, Deus feito homem, nos enobrece e nos oferece a incomparável dignidade de filhos de Deus. Todo o drama da redenção é o caminho vitorioso da humildade magnânima de Jesus que nos convida e nos torna aptos para o Seu seguimento. A humildade é o fundamento sobre o qual Cristo construiu a salvação dos homens e o caminho que Ele indica aos que querem entrar no Reino do Céu. Portanto, a humildade é a virtude que atrai a simpatia dos homens e as bênçãos de Deus: “Filho, na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim, encontrarás graça diante do Senhor... pois é aos humildes que Ele revela seus mistérios e... é glorificado pelos humildes” (Eclo 3,20s).

2. Generosidade É Sinal Da Gratidão        

Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa”. 

Para Jesus, por esta lógica simétrica (hoje convido-te eu a ti; amanhã convidas-me tu a mim) os pobres ficam sempre fora.

A assimetria do Reino de Deus vira tudo do avesso e ao contrário: “Quando tu deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos(Lc 14,13-14). Como se vê, aos quatro grupos de pessoas (amigos, irmãos, parentes e vizinhos) que dão lustro ao nosso “ego”, Jesus contrapõe outros quatro grupos de pessoas habitualmente excluídas, não só por não trazerem nenhum lustro ao nosso “ego”, mas até por criarem algum embaraço. Mas para Jesus é por esta brecha de Graça aberta no nosso cotidiano, que entra Deus e o mundo novo de Deus. 

Não nos esqueçamos que “dar esmola” (elêmosýnê) é “fazer Graça(eleêô). Portanto, é imitar o Deus da generosidade que tudo criou gratuitamente. Para este Deus é que rezamos ou cantamos: Kýrie eléêson  que significa “Senhor, faz-nos Graça”, isto é, embala-nos nos teus braços maternais e olha para nós com um olhar maternal. A Graça tem tempo e jeito maternal. A Graça só sabe dizer SIM. A Graça é Deus a olhar por Mim. 

Em Jesus, a Graça é acessível a todos, pois Ele olha com olhos de Graça para todos: ricos e pobres, justos e pecadores, sãos e doentes. Inclusive os fariseus. Note-se que o Evangelho de Lucas, que é o Evangelho da Graça de Deus aberto para todos, é o único a colocar Jesus por três vezes à mesa com fariseus (Lc 7,36; 11,37; 14,1).        

Os fariseus, como as pessoas em qualquer época e cultura, escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa. Eles não convidavam pessoas de nível menos elevado. Os fariseus também convidavam aqueles que podiam retribuir da mesma forma. Com isso, tudo se tornava um intercâmbio de interesse e um jogo de favores.        

Ao saber desse jogo de interesse Jesus dá a lição sobre a gratuidade e o amor desinteressado: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14).  A festa de que Jesus fala é a partilha do que há de bom na vida, pois a partilha é a alma do projeto de Deus. Jesus nos convida a uma atitude de gratuidade ou generosidade, uma atitude que é o exato contrário do cálculo interesseiro de quem vive se perguntando: “Quanto é que eu levo nisso? Que vantagem isso me dá? Será que tem retorno em fazer isso?”.        

Ao falar da festa Jesus está apontando para além da festa humana. Ele aponta para o Reino como um banquete eterno onde os convidados estão unidos pelos laços de familiaridade, de fraternidade e de comunhão. No céu todos são irmãos e vivem na fraternidade diante do Pai de todos que é Deus. As relações entre os que querem participar da alegria eterna por tratar-se de um banquete não serão marcadas pelos jogos de interesse e de intercâmbio de favores, mas pela gratuidade e pelo amor desinteressado. Por viverem orientados pela gratuidade e pelo amor desinteressado, os participantes do Reino estão bem distantes de qualquer atitude de superioridade, de arrogância, de ambição para estarem numa atitude de humildade, de simplicidade, de serviço por amor desinteressado. A arrogância ou a prepotência e o complexo de superioridade não encontram porta para entrar no céu e acabam ficando fora dele (cf. Lc 13,27-28).                  

A generosidade é um sinal de gratidão e de liberdade interior. Tudo o que somos, tudo o que podemos e temos é precioso e libertador, se o reconhecermos e apreciarmos como um dom do amor de Deus. Se percebermos e apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que temos e daquilo que possuímos vem de Deus, o Doador de todos os bens, então não nos agarremos às nossas riquezas e capacidades, nem as utilizaremos para nos exibirmos, mas procuraremos ser cada vez mais generosos, irmãos, humanos e livres, quer dando, quer recebendo.          

Para o generoso, todos os seus bens, todas as suas capacidades e dons se transformam num tesouro que se acumula no céu e que, entretanto, vai aliviando e tornando felizes os outros. E o próprio Jesus anuncia que tudo que aqui gratuitamente fazemos, nos será recompensado na vida eterna: “Tu serás recompensado na ressurreição dos justos” (Lc 14,14). Para ser feliz aqui nesta terra e na vida eterna é necessário fazer algo de bom pelos outros, gratuitamente, sem esperar uma troca. E para ser infeliz, basta ser egoísta ou ser avaro. O avaro é o protótipo dos sem-coração. O avaro é a pessoa mais pobre que existe. O egoísmo nos torna cegos diante da nossa soberba e nos impede de vermos os que são mais dignos. 

Quem é humilde é generoso, repartindo o que tem para os que nada têm, pois ele é capaz de receber, não só de Deus, mas também dos outros.  Porém, repartirá não para chamar a atenção para si, e sim, porque agradecido, gosta de tornar seus irmãos partícipes dos dons que recebeu. A pessoa humilde é que estabelece relações que trazem a felicidade, que acabam com o egoísmo, com a competição, com a ostentação, e fazem reinar no mundo as atitudes de intercâmbio generoso dos dons de Deus. O generoso é livre na medida em que não procura o seu próprio proveito, mas o daqueles a quem favorece. E a alegria que brota da generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e permanentes dons.      

Para nosso exame de consciência        

Provavelmente muitos de nós ficaríamos bastante desconcertados e não saberíamos responder, se alguém nos perguntasse se somos humildes, ou, se nos perguntasse se valorizamos a virtude da humildade? Qual será sua resposta a respeito? Santa Teresa de Jesus dizia que “a humildade é andar com verdade”. Trata-se de não querermos aparecer superiores ou melhores que os demais, pois a verdade é que vai nos dizer o que somos e o que não somos.        

Em segundo lugar, por vezes, assistimos ou participamos de uma corrida desenfreada na comunidade pelos primeiros lugares. Há pessoas cuja ambição se sobrepõe à vontade de servir. Elas querem os títulos honoríficos, as honras, as homenagens, os lugares privilegiados e não o amor desinteressado. Muitas vezes querem os primeiros lugares para manter os privilégios, quem sabe para manter escondidas as podridões. Por isso, há a intriga, a exibição, a humilhação de quem faz sombra ou incomoda e o jogo sujo. A nossa própria consciência vai responder a seguinte pergunta: Assistimos ou participamos de tal corrida desenfreada? Por outro lado, a Palavra de Deus nos alerta que quem vive segundo esquemas de superioridade, de prepotência, de humilhação dos outros, de ambição sem medida, de arrogância corre o perigo de se excluir do Banquete eterno. Por acaso, eu faço parte desse esquema?     

P. Vitus Gustama,svd

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