sexta-feira, 31 de outubro de 2025

05/11/2025- Quartaf Da XXXI Semana Comum - Ano Ímpar

PARA SEGUIR A JESUS É PRECISO

RENUNCIAR POR AMOR

 

Quarta-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 13,8-10

Irmãos, 8 não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo – pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei. 9 De fato, os mandamentos: “Não cometerás adultério”, “Não matarás”, “Não roubarás”, “Não cobiçarás”, e qualquer outro mandamento se resumem neste: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. 10 O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.

Evangelho: Lc 14, 25-33

Naquele tempo, 25 grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: 26 “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. 28 Com efeito: qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, 29 ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo: 30 ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’ 31 Ou ainda: Qual rei que, ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? 32 Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei ainda está longe, envia mensageiros para negociar as condições de paz. 33 Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!”

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Amar Como Deus Nos Ama

Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo – pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”. Não se trata de uma dívida financeira, e sim de uma obrigação moral e de uma espiritualidade constante ou permanente. Amar faz parte da espiritualidade cristã. A "dívida" do amor nunca se "quita" ou nunca é paga completamente, porque o ato de amar é contínuo e sempre há mais amor para dar. Se Deus continua sendo Amor (1Jo 4,8.16), o amor deve ser praticado permanentemente. Parar de amar e de perdoar significa parar de crer no Deus de amor. Na ausência do amor praticam-se a injustiça, a desonestidade, a corrupção, o roubo, a discriminação, e assim por diante.

Ontem, na Primeira Leitura São Paulo comparava a vida de uma comunidade cristã a um corpo em que todos tinham que colaborar para o funcionamento da comunidade.

Nos versículos anteriores de Rm 13, São Paulo nos acaba de falar de nossos deveres de justiça para com os poderes públicos, da obediência e da obrigação de pagar os impostos. Agora nos diz que não devamos nada a ninguém.... Mas ao escrever estas palavras, cai em conta de que há uma dívida que sempre teremos em aberto. Por isso, São Paulo diz: “... a não ser o amor mútuo”. O amor, uma vez pago, sempre ficaremos em dívida, pois amar não somente uma vez para sempre.

Para São Paulo a chave geral para que a comunidade funcione bem é o amor fraterno. Onde houver o amor, não tem necessidade da existência da lei, “pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”. O próprio Jesus coloca o amor como o principal mandamento, pois quem ama a Deus e ao próximo cumpre tudo o que tem que cumprir.

Qual é a medida do amor fraterno? Há três expressões embora sejam difíceis. A primeira expressão dessa medida é “amar o próximo como a nós mesmos” (como a ti mesmo). A segunda expressão desta medida: “Amar o próximo como Deus ama a todos”. E a terceira expressão é a medida de Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Jesus amou até o fim, até a morte de cruz. E da cruz Jesus ama seus inimigos, perdoando-os: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. As três medidas são difíceis porque supõe radicalidade, maturidade espiritual, gratuidade no amor, sair de si mesmo e buscar o bem dos demais. A maturidade cristã consiste em amar por amor, sem segundas intenções.

Creio que o mundo não pede milagres dos cristãos. O que o mundo pede é o amor fraterno, a delicadeza, a ternura, a compreensão fraterna, ajuda mútua, a solidariedade, a compaixão, o perdão mútuo e assim por diante que são fundamentais para uma boa convivência e sem os quais a convivência se torna difícil.

Ao terminar cada dia, o exame de consciência feito por cada cristão deve ser sobre o amor fraterno. Um dia sem o amor fraterno, sem a prática do bem e da bondade é um dia jogado fora da vida de um cristão ou de todas as pessoas de boa vontade.

Seguir a Jesus Firmemente Apesar De Tudo

Continuamos a acompanhar Jesus no seu Caminho para Jerusalém onde Ele será crucificado, morto e glorificado (Lc 9,51-19,28). Durante este caminho Jesus deu aos seus discípulos Suas últimas lições. As lições apresentadas no texto do evangelho de hoje são sobre as condições para seguir a Jesus. O que nos torna verdadeiro discípulo de Jesus?

É preciso sabermos que as condições do seguimento apresentadas por Jesus têm caráter universal, pois são dirigidas às multidões que o acompanham em seu caminho para Jerusalém. Todas elas são centradas no caráter global que tem o seguimento de Jesus.

E Jesus nos adverte que o seguimento em questão não é fácil. Podemos explicar isso através do texto do evangelho de ontem em que muitos não aceitaram o convite para participar do banquete do Reino, pois é exigente e não se trata somente de sentar-se à Sua mesa (cf. Lc 14,15-24). É necessário cumprir as exigências básicas. A existência das exigências garante uma vitória final ao cumpri-las.

Hoje Jesus nos diz que para ser seus discípulos temos que colocar a importância do Reino acima dos sentimentos familiares, pois a nossa salvação está em jogo.

Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Assim Jesus começou suas lições sobre o seguimento.

Somos advertidos sobre onde colocamos nosso maior amor. O amor sem condições e sem fronteiras não é um suave sentimento muito tranqüilo e fácil. É uma revolução. Jesus pede uma renúncia total para que nossa entrega a Ele seja total. Sabemos que Jesus quer que amemos aos nossos (cf. Jo 13,34-35; 15,12). O amor filial, o amor conjugal, o amor fraterno são “sagrados”. Todavia, o amor de Deus, que nos sustenta, anima e salva, deve ser maior. Devemos elevar o amor familiar para o amor divino para que todos sejam salvos.

Trata-se, desta primeira condição, de uma opção radical pela pessoa de Jesus e pela nova escala de valores que Ele propõe. Os valores do Reino devem estar acima de tudo, pois garantem nossa salvação. Quem não fizer opção pela Vida, por excelência, que o próprio Jesus personifica (cf. Jo 11,25; 14,6), terá que contentar-se com uma vida raquítica, isto é uma vida limitada sem desenvolvimento e não conseguirá jamais superar os problemas que estabelecem as relações humanas e ainda há possibilidade de não alcançar a salvação.

A segunda condição é consequência da anterior: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Cada história há sua cruz e cada cruz tem sua história. Há cruz com Cristo (ressurreição-salvação) e há cruz sem Cristo (sem salvação). A exemplo de Jesus, cada discípulo deve estar preparado para afrontar a recusa da sociedade que vive os valores contrários aos do Reino. Os discípulos têm que aceitar a sensação de fracasso ou experimentar o aparente fracasso. O “aparente fracasso” porque a última palavra sobre o homem será a de Deus e não a do homem. O discípulo deve estar preparado para sentir a sensação sem segurança.

Ao seguir a Jesus ficamos frente a frente com a cruz: a cruz da contrariedade, a cruz da injustiça, a cruz da desonestidade, a cruz da perda de um inocente, a cruz da corrupção e assim por diante. E Jesus continua nos chamando a caminhar atrás dele vivendo uma vida honesta, justa, fraterna no amor. A cruz nos convida a nos deixarmos contagiar pelo amor. Quem carrega a cruz com amor, une-se a Cristo. Quem a carrega sem amor, encontra-se com condenação.

Carreguemos nossa cruz de cada dia, sendo fieis à missão que o Senhor nos confiou de anunciar Seu Evangelho. Sejamos um Evangelho encarnado do amor de Deus para os demais. Passemos a vida, como Cristo, fazendo o bem a todos (cf. At 10,38). Somente edificaremos a Igreja sobre a Pedra angular que é Cristo, se renunciarmos a nossos egoísmos, a nossas injustiças, a nossas paixões desordenadas, a nossas inclinações desenfreadas aos bens materiais ou ao poder. Cristo nos quer livres de toda carga de maldade, de toda injustiça e de todo sinal de morte.

Podemos dizer que a moral cristã é uma moral simples que tem seu grande ponto de referência no amor ao próximo: Não fique devendo a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei. O amor é o cumprimento perfeito da Lei”, diz São Paulo aos romanos (Rm 13,8.10). Todos os preceitos da ética cristã ficam profundamente condicionados pelo preceito do amor ao próximo. Por isso, uma falta contra qualquer dos preceitos se descobre como uma falta contra a lei do amor. Todas as injustiças são consequências da falta de amor. Para os justos, os bons, os honestos, os que têm amor no coração não necessitariam de nenhuma lei.

Amar, não tem término. Há que avançar sempre no amor para alcançar o Deus de amor (1Jo 4,8.16). Amor é um grande desafio de cada dia, pois ele é essencial para os seres humanos e sua convivência diária a fim de chegar à sua plenitude. Por ser essencial, tudo deve partir dele e nele tudo deve terminar. Quando cumprirmos as leis civis, diremos que estamos dentro da lei. Mas o amor é uma “chamada” dirigida a todos para que o ser humano seja mais humano a fim de ser mais divino.

A partir do amor podemos entender o seguimento renunciante de Jesus, que nos recorda a passagem do evangelho lida neste dia. Jesus, para levar até o fim Sua missão salvadora da humanidade, renunciou a tudo, inclusive, a sua vida. Por isso, foi constituído Senhor e Salvador de todos. E nos diz que também nós devemos saber carregar a cruz de cada dia para fazer o bem como Ele e com Ele.

A fé em Cristo abarca toda nossa vida. Por isso, para ser um verdadeiro cristão é preciso aprender a renunciar a muita coisa na vida. Renunciar não é um ato negativo e sim uma opção por aquilo que é superior na escala de valores. Cada renúncia supõe o amor. Se cada renúncia não se complementar por, com e no amor, a renúncia poderá se converter em anti-entrega. Somente o amor é que transforma qualquer renúncia em doação gratificante.

A adesão a Jesus leva cada pessoa ou cada cristão a um comportamento novo diante de todas as coisas e diante de todas as pessoas, inclusive diante das pessoas que tem uma ligação afetiva.

Para ser seus discípulos, Jesus não nos pede que cumpramos as regras, ou que sejamos bons. Tudo isso é necessário. Jesus nos pede que sejamos absolutamente disponíveis. Ser discípulo de Jesus não é somente ser bom, pois todos têm que sê-lo independentemente de ser ou de não ser cristão. Ser discípulo de Jesus é ser diferente, por ser disponível e pronto para renunciar a tudo pelo valor superior. Ser cristão é sério e difícil. Por isso, muitos caminham com Jesus, mas poucos chegam a ser discípulos.

Nesta Eucaristia ou celebração, o Senhor nos manifesta quanto nos ama, dando sua vida por nós todos, e fazendo-nos participes da Vida que Ele recebeu do Deus Pai. Em seu amor por nós, Jesus carregou sobre si nossos pecados para nos redimir. Por isso, ele se converteu para nós no Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Entremos em comunhão de vida com Ele e estejamos dispostos a ir atrás de suas pecadas, carregando nossa cruz de cada dia. Carreguemos nossa cruz de cada dia, sendo fieis à missão que o Senhor nos confiou de anunciar seu Evangelho de salvação. Sejamos um evangelho encarnado do amor de Deus para os demais. Vivamos fazendo o bem para todos.

Que Deus nos conceda a graça de viver com lealdade nossa fé em Jesus Cristo para que, sendo luz em meio das trevas do mundo, colaboremos para que todos encontrem o caminho que leva a Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6), Luz das nações e salvação para todos os homens.

P.Vitus Gustama, SVD

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

04/11/2025- Terçaf Da XXXI Semana Comum- Ano Ímpar

PARTICIPAR DA ALEGRIA DE DEUS EM COMUNHÃO COM OS IRMÃOS

Terça-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 12,5-16a

Irmãos, 5 assim nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, todos membros uns dos outros. 6 Temos dons diferentes, de acordo com a graça dada a cada um de nós: se é a profecia, exerçamo-la em harmonia com a fé; 7 se é o serviço, pratiquemos o serviço; se é o dom de ensinar, consagremo-nos ao ensino; 8 se é o dom de exortar, exortemos. Quem distribui donativos faça-o com simplicidade; quem preside presida com solicitude; quem se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria. 9 O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. 10 Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, prevenindo-vos com atenções recíprocas. 11 Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, 12 alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração. 13 Socorrei os santos em suas necessidades, persisti na prática da hospitalidade. 14 Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. 15 Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. 16ª Mantende um bom entendimento uns com os outros; não vos deixeis levar pelo gosto de grandeza, mas acomodai-vos às coisas humildes.

Evangelho: Lc 14,15-24

Naquele tempo, 15 um homem que estava à mesa disse a Jesus: “Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!” 16 Jesus respondeu: “Um homem deu um grande banquete e convidou muitas pessoas. 17 Na hora do banquete, mandou seu empregado dizer aos convidados: ‘Vinde, pois tudo está pronto’. 18 Mas todos, um a um, começaram a dar desculpas. O primeiro disse: ‘Comprei um campo, e preciso ir vê-lo. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 19 Um outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-las. Peço-te que aceites minhas desculpas’. 20 Um terceiro disse: ‘Acabo de me casar e, por isso, não posso ir’. 21 O empregado voltou e contou tudo ao patrão. Então o dono da casa ficou muito zangado e disse ao empregado: ‘Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos’. 22 O empregado disse: ‘Senhor, o que tu mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’. 23 O patrão disse ao empregado: ‘Sai pelas estradas e atalhos, e obriga as pessoas a virem aqui, para que minha casa fique cheia’. 24 Pois eu vos digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete”.

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Servimos a Deus e Ao Próximo a Partir Do Dom Recebido De Deus

Depois que falou do destino de Israel e da parte mais teológica de sua Carta aos Romanos, a gora a partir de Rm 12, São Paulo se fixa em alguns aspectos da vida da comunidade cristã, principalmente sobre a unidade dos cristãos. Ou seja, concluída a exposição "doutrinária" (parte doutrinal), eis a parte sobre as "aplicações práticas": “Nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, todos membros uns dos outros”. A primeira consequência concreta da parte doutrinal é a "unidade" da comunidade cristã. Esta era uma das grandes preocupações de São Paulo. Os primeiros cristãos vinham de origens muito diferentes, com costumes e tradições diametralmente opostos. O perigo de cisma, divisão ou seita estava sempre presente.

A unidade da Igreja se estabelece, assim, em seu nível mais profundo: aquele que eu não aceito, aquele que me irrita, aquele que tem opiniões totalmente opostas às minhas, aquele que me faz sofrer... é um "membro de mim mesmo"! Somos "membros uns dos outros".

Para São Paulo a Igreja é como um corpo organicamente unido e diversificado em seus membros (cf. 1Cor 12). A Igreja é como um corpo organicamente unido, porém diverso em seus membros. Cada membro deste corpo tem seus próprios dons particulares: pregação, serviço, ensino, distribuição, liderança. E todos esses dons devem ser exercidos para o benefício de um só corpo:  Nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, somos todos membros uns dos outros”.

Para que a comunidade possa andar bem, São Paulo enumera algumas atitudes necessárias que os membros devem colocar em prática: caridade, carinho, diligencia no trabalho, esperança alegre, firmeza, acolhida e hospitalidade, solidariedade com os que riem e com os que choram, humildade, perdão....

A imagem do corpo humano, diverso e um, é uma das prefereidas de São Paulo para descrever como deve ser a Igreja de Jesus Cristo. O corpo continua o mesmo embora se encontre em qualquer ambiente. Isto quer nos dizer que onde estivermos que nos sintamos um único corpo eclesial, o Corpo de Cristo. E que nós devemos nos apoiar e nos ajudar uns aos outros como os membros de um corpo trabalhando para o bem do conjunto. Cada um ajuda de acordo com seu dom. “Deus não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que pode”, dizia Santo Agostinho (Serm. 54,2). Nem todos presidem, nem todos ensinam, nem todos encarregados da administração. Mas todos podem fazer aquilo que pode para a construção do Corpo Místico de Jesus que é a Igreja da qual faço parte pelo Batismo. Se cada membro da Igreja desempenhar seu papel a partir do seu carisma, haverá uma grande mudança na sociedade e no mundo em geral.

Vale a pena relembrarmos a importância da convivência fraterna como escreveu São Paulo na Primeira Leitura de hoje. Que nossa caridade não seja uma farsa; que sejamos carinhosos uns com os outros como bons irmãos em Jesus Cristo; que nos mantenhamos firmes na tribulação, pois Deus terá a última palavra para a humanidade; que sejamos assíduos na oração, pois rezar significa estar com Deus e estando com Deus ninguém conseguirá nos tirar do amor de Deus; que sejamos capazes de chorar com quem está com tristeza e rir com quem está com a alegria; que respeitemos e amemos os outros no amor ágape, isto é, fazer o bem pelo bem, amar por amor sem segundas intenções e que colaboremos sinceramente na tarefa comum.

A base de tudo isto está a fraternidade universal, pois Deus é o Pai Comum. Sendo irmãos, não teremos grandes pretensões, mas que nivelemos nosso relacionamento, principalmente ao nível dos humildes. É o que o Salmo Responsorial também quer que levemos em conta: “Guardai-me, em paz, junto a vós, ó Senhor! Senhor, meu coração não é orgulhoso, nem se eleva arrogante o meu olhar; não ando à procura de grandezas, nem tenho pretensões ambiciosas!”. Essa humildade nos salvará de tantos desgostos e nos colocará na atitude certa na presença de Deus e de nossos irmãos na comunidade.

Somos Chamados A Participar Do Banquete Divino

Estamos com Jesus no Seu caminho para Jerusalém, escutando atentamente seus últimos e importantes ensinamentos para todos nós cristãos em qualquer época e lugar (Lc 9,51-19,28). Trata-se das lições do Caminho.

O texto do evangelho lido neste dia fala do banquete ou da comida comunitária. A comida, o banquete é, em todas as culturas, um dos maiores símbolos de unidade comunitária e familiar e da amizade. Na cultura semita o banquete era o símbolo da máxima comunhão. Participar do banquete significa participar (fazer parte) da comunhão ou da comunidade ou da família em questão.

Jesus aproveita este valor cultural para ressaltar os valores do Reino. Na verdade o Reino de Deus não é uma realidade longe de nossa cotidianidade. O Reino de Deus é precisamente a máxima realização dos ideais humanos de fraternidade, de solidariedade, de comunhão, de familiaridade, de igualdade e de justiça. E precisamente no comer comunitário ou na festa comunitária se vivem os sinais que mostram como possível ou realizável o Reino de Deus entre os seres humanos. Para isso, há que ter uma disponibilidade generosa e a aspiração de construir algo maior do que os pequenos negócios e trabalhos particulares ou individuais.

A parábola do banquete é muito rica. Seus elementos recordam outros elementos. A recusa de alguns para o convite do banquete e a aceitação de outros nos recordam, por exemplo, a distinta sorte da semente na parábola do semeador (cf. Lc 8,4-8: algumas sementes caíram à beira do caminho, outras no pedregulho, no meio de espinhos e em terra boa). E o convite que se estende aos pobres, aos cegos, aos coxos faz pensar na busca dos perdidos. Na verdade, para o próprio Deus ninguém é perdido, pois Ele vai atrás de cada um dos homens. Mas o homem precisa correr aos abraços de Deus para sentir novamente a importância de uma comunhão no amor. O amor nos humaniza e nos diviniza, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Vamos Destacar Alguns Pensamentos Ou Alguns Elementos Sobre A Parábola Do Convite Ao Banquete:

1. O Reino De Deus É Festivo, Precioso E Alegre. Ele é semelhante a um banquete, a um tesouro, a uma pérola maravilhosa. Por isso, ele é superior a qualquer valor no mundo. Viver o Evangelho de Jesus é viver na alegria apesar das dificuldades passageiras. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”, escreveu o Papa Francisco (Evangelii Gaudium (EG) n.1). Para viver na alegria do Evangelho, segundo o Papa Francisco, é preciso aprendermos a viver na partilha ou na doação: “Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais” (EG n. 10).

2. A Parábola Também Destaca Que A Entrada No Banquete Não É Livre, Pois Não Se Trata De Direito; Requer-Se Um Convite. Um patrão chama, um rei convida. E o convite é um ato de graça, e quem convida quer difundir sua alegria, manifestá-la e quer que os outros participem na mesma alegria. É um ato generoso. Cada generosidade é criadora, pois prolonga o ato criador de Deus que criou e cria tudo para nós graciosamente e gratuitamente. Deus nos chama através de vários sinais para que possamos participar da alegria divina que não depende das coisas materiais, embora sejam necessárias, mas da comunhão de vida trinitária onde o amor circula livremente dentro da própria pessoa e entre as pessoas. Não há alegria maior do que amar e ser amado. Não é por acaso que Jesus nos deu apenas um mandamento: o amor (cf. Jo 13,34-35; 15,12). Deus está no ato de amar.

3. O Convite É Sério E Exige Empenho. O Acento É Muito Forte Sobre Este Aspecto. É um convite de amor que compromete a vida. É evidente, aqui, o salto de qualidade entre o humano e o divino. Um convite humano pode ser aceito ou recusado. Se for recusado não haverá nenhum prejuízo para quem recusa o convite. Também se for aceito, não há comprometimento existencial. Mas o convite de Deus é diferente. Deus é tão misterioso, maravilhoso que, ao convidar, compromete, e é um compromisso que muda totalmente a vida, transfigura-a e faz a vida nova e renovada. Se o convite de Deus tem como objetivo mudar de vida para a melhor a fim de alcançar a salvação que é uma alegria sem fim, então, aquele que o recusa é considerado como insensato e irracional. É como aquele que quer agarrar um dólar e recusa uma oferta de um milhão de dólares gratuitamente. Só poderia ser um irracional e insensato.

4. O Convite É Dirigido A Todos E Não Apenas Para Os Privilegiados Ou Elites Ou Para Os Santos Ou Os Certinhos. Aqui encontramos o amor de Deus dirigido aos perdidos da vida, aos coxos, aos excluídos da sociedade, a todos, pois todos são os filhos e filhas do mesmo Pai: “Tomai todos e comei. Tomai todos e bebei!”, assim Jesus nos convida em cada banquete eucarístico. Trata-se do banquete celeste já na terra.  Isto significa que o rei que é Deus quer todos, ama a todos cujo único objetivo é salvar. Então, eu não sou excluído desse amor. Deus me ama e creio no seu amor. O amor de Deus me alcança e me abraça. Por isso, não há uma Igreja de elites, há sim uma Igreja para todos onde há espaço para todos. O convite se faz na primeira hora, nas horas intermediárias e nas ultimas horas. A santidade não depende dos anos na Igreja e sim depende da renovação da chamada em cada instante. Por isso, a Igreja é chamada santa e pecadora.

5. Como Cristãos Somos Todos Discípulos-Missionários. Na parábola o dono da festa manda os empregados a chamarem todos os convidados para o banquete. É a missão de cada cristão levar outras pessoas para Deus. Os convidados especiais recusaram o convite. Mas quando o convite foi lançado para os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos, estes prontamente o aceitaram. É preciso sermos simples e humildes para poder captar os sinais do convite de Deus na nossa vida.

Todos nós somos enviados para chamar todos a participarem do banquete da salvação. A missão nasce da fé em Deus. A missão é a conseqüência da fé em Deus. A fé é o bem supremo para nós, porque ela é o fundamento e a raiz da salvação plena e total do homem. “... Urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei, n.4).  O impulso missionário nasce da profundidade da fé, do encontro vivo com deus, da vivência da fé, da alegria da fé, da fatiga da fé, do sofrimento pela fé. A missão é a proclamação da fé. Sendo em si mesma um bem maior, a fé pede, por sua natureza ser difundida. A Igreja enquanto comunidade de fé é missionária. “Propagar a fé é o primeiro dever do cristianismo, é a caridade maior; todas as outras obras de caridade estão unidas e subordinadas a esta suma obra(Cardeal Carlo Maria Martini). Todo cristão é missionário e por isso, é enviado.

6. Cada Um É Chamado Para O Banquete Eterno, Mas É Tentado Ao Mesmo Tempo Pela Aparência Bela Das Atrações Do Mundo. O pecado tem aspecto atrativo. Se não fosse, ninguém pecaria. Mas quando alguém estiver nos abraços do pecado, isto é, no seu domínio, ele o sufoca e o agarra e dicificulta a saída dos braços dele. Para sair dos seus braços supõe a existência de uma força maior alcançada pela oração sem cessar e a vontade sem limite para alcançar a vida feliz e salva. Quem tem objetivo ou meta para melhorar a vida, sempre arranja um jeito para alcançar a meta e vai somar forças para alcançá-la. Não basta abandonar o pecado; é preciso saber o que você vai fazer com sua vida. Caso contrário, você vai voltar a pecar novamente e vai ser pior do que antes: “Com efeito, se aqueles que renunciaram às corrupções do mundo pelo conhecimento de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, nelas se deixam de novo enredar e vencer, seu último estado torna-se pior do que o primeiro” (2Pd 2,20).

Deus convida cada um de nós diariamente à sua alegria que é redentora. Diante desse convite, você é insensato e irracional ou sensato e racional? Quais são minhas justificativas ou recusas habituais toda vez que fui ou for convidado para fazer parte da equipe que trabalha para o bem comum na minha comunidade? Que contrapõe ao que Deus espera de mim? Qual lugar ocupa Deus na minha vida?

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 28 de outubro de 2025

03/11/2025- Segundaf Da XXXI Semana Comum- Ano Ímpar

SER GENEROSO PROLONGA O AMOR GENEROSO DE DEUS

Segunda-Feira da XXXI Semana Comum

Primeira Leitura: Rm 11,29-36

Irmãos, 29 os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. 30 Outrora, vós fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, em consequência da desobediência deles. 31 Assim são eles agora os desobedientes, para que, em consequência da misericórdia usada convosco, alcancem finalmente misericórdia. 32 Com efeito, Deus encerrou todos os homens na desobediência, a fim de exercer misericórdia para com todos. 33 Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! 34 De fato, quem conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? 35 Ou quem se antecipou em dar-lhe alguma coisa, de maneira a ter direito a uma retribuição? 36 Na verdade, tudo é dele, por ele, e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém!

Evangelho: Lc 14,12-14

Naquele tempo, 12 dizia Jesus ao chefe dos fariseus que o tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.

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Sejamos Misericordiosos e Generosos Com Deus

Hoje temos a conclusão de São Paulo sobre a primeira parte, a parte doutrinal de sua Carta aos Romanos: primeiro ele conclui sua exposição sobre o destino de Israel em relação aos pagãos... depois ele inicia uma "doxologia", ação de graças à Glória de Deus, terminando com "Amém".

Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. Outrora, vós fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, em consequência da desobediência deles. Assim são eles agora os desobedientes, para que, em consequência da misericórdia usada convosco, alcancem finalmente misericórdia”, escreveu São Paulo aos Romanos.

A Primeira Leitura de hoje começa com a mesma frase do que terminou a Primeira Leitura do sábado passado: “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”. São Paulo continua com o problema da salvação de seu povo, Israel. Quando se fala dos dons da parte Deus, trata-se de algo "seguro", "sólido", algo "dado" e “irrevogável”. Uma vez dado, por Deus, o dom para o homem está dado até a morte.  De nossa parte (da parte do homem) é comprometer-nos com os dons recebidos, isto é, multiplicá-los ou frutificá-los (cf. Mt 25,14-30). O que se enfatiza aqui é a generosidade de Deus para o homem. O dom é a garantia para a vida do homem neste mundo.

Para São Paulo, tanto os pagãos como os judeus caíram em desobediência. Deus respeita a liberdade do homem para o homem experimentar o pecado, fruto de sua desobediência a fim de  um homem experimentar sua vaidade (o seu nada), o vazio. O vazio faz o homem se abrir para a gratuidade do amor divino (amor misericordioso).

Por causa de sua desobediência à vontade de Deus, ambos (judeus e os pagãos convertidos) necessitam da misericórdia de Deus. Todos são pecadores e todos são perdoados por Deus quando se convertem. Este é o ponto de partida da salvação: a misericórdia de Deus: “Outrora, vós fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, em consequência da desobediência deles. Assim são eles agora os desobedientes, para que, em consequência da misericórdia usada convosco, alcancem finalmente misericórdia”. Quando salva o homem, Deus o salva em Jesus Cristo por amor e com amor. O infinito poder de Jesus Cristo é o poder do Amor infinito. Não há salvação sem amor. Não há crescimento saudável sem amor. Não há comunhão sem amor. Não há o céu sem o amor. O inferno é o topo de todo processo de negação ao amor, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O amor misericordioso é um amor que ama até quem não merece ser amado. Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado”, dizia o Papa João Paulo II na sua Carta Encíclica: Dives In Misericórdia.

Deus não pactua com o pecado, mas está ao lado do pecador e manifesta Sua misericórdia infinita para com o pecador arrependido. O amor de Deus pelo homem é um amor essencialmente misericordioso, o amor “uterino”, o amor entranhável, pois é dado a alguém que se tornou indigno, pela soberba, pela desobediência, pela ingratidão, pelos pecados, pela maldade, pela rebelião e assim por diante. Jesus Cristo, Deus-Conosco é o amor misericordioso encarnado. E este amor misericordioso deve se encarnar em cada cristão.

O texto da Primeira Leitura de hoje, por isso, é um hino de admiração de São Paulo para a generosidade e a sabedoria de Deus. É um Deus misericordioso tanto para os judeus como para os pagãos.

A misericórdia e a generosidade de Deus para nós todos devem nos tornar pessoas misericordiosas e generosas para os outros. Porque quem acredita no Deus misericordioso e generoso deve ser seu reflexo neste mundo da misericórdia e da generosidade.

O Generoso Revela Sua Riqueza Interior e Prolonga a Generosidade de Deus

Continuamos a escutar atentamente as ultimas e mais importantes ensinamentos de Jesus na sua ultima viagem para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Trata-se das lições do caminho. Caminhando, aprendendo com o Senhor.

Na passagem do evangelho deste dia Jesus nos convida a sermos generosos e a não pensarmos nas vantagens daquilo que fazemos ou fizermos para os outros, especialmente para os necessitados. Ajudar os necessitados que não tem como retribuir é um serviço prestado a Deus. “A caridade cristã é tridimensional. Pratica-se na terra pelas boas obras e busca ajudar a quem necessita: eis sua profundidade. Sofre as adversidades pacientemente e persevera na verdade: eis sua extensão. Tudo faz com vistas a obter a vida eterna: esta é sua magnitude(Santo Agostinho: Epist. 140,25).

O texto do evangelho de hoje é a continuação da passagem anterior que fala do convite dirigido a Jesus por um fariseu para uma refeição (cf. Lc 14,1-11). Os fariseus, como as pessoas em qualquer época e cultura, escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa (almoço ou jantar). Eles não convidavam pessoas de nível menos elevado. Os fariseus também convidavam aqueles que podiam retribuir da mesma forma. Com isso, tudo se tornava um intercâmbio de interesse e um jogo de favores. Dou para que tu me dês (Do ut des).        

Ao saber desse jogo de interesse Jesus dá uma lição sobre a gratuidade e o amor desinteressado: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos(Lc 14,13-14). A festa da qual Jesus fala é a partilha do que há de bom na vida, pois a partilha é a alma do projeto de Jesus Cristo. Jesus nos convida a uma atitude de gratuidade ou generosidade, uma atitude que é o exato contrário do cálculo interesseiro de quem vive se perguntando: “Quanto é que eu levo nisso? Que vantagem isso me dá? Será que tem retorno em fazer isso?” Rebemos tudo de Deus gratuitamente. Tudo é graça. Reter somente para mim o que é de Deus, em vez de ajudar os necessitados é estar contra o Deus da generosidade. Esta é uma instrução do Senhor: “De graça recebestes, de graça dai” (Mt 10,8). A instrução incentiva a generosidade e a partilha de talentos ou dons.  Os dons devem ser compartilhados      

Ao falar da festa Jesus está apontando para além da festa humana. Ele aponta para o Reino como um banquete eterno onde os convidados estão unidos pelos laços de familiaridade, de fraternidade e de comunhão diante do Pai comum que é Deus. As relações entre os que querem participar da alegria eterna por tratar-se de um banquete não serão marcadas pelos jogos de interesse e de intercâmbio de favores, mas pela gratuidade e pelo amor desinteressado. Por viverem orientados pela gratuidade e pelo amor desinteressado, os participantes do Reino estão bem distantes de qualquer atitude de superioridade, de arrogância, de ambição para estarem numa atitude de humildade, de simplicidade, de serviço por amor desinteressado. 

A generosidade é um sinal de gratidão pelos benefícios recebidos de Deus e, ao mesmo tempo, manifesta a liberdade interior. O generoso não só dá as coisas para os necessitados, mas dá-se a si próprio por amor de Deus e do próximo, graças à sua liberdade interior. Por isso, a generosidade que se concretiza na partilha e na solidariedade não empobrece, mas é geradora de vida e de vida em abundância.        

Geralmente uma pessoa humilde é generosa, repartindo o que tem para os que nada têm, pois ela é capaz de receber, não só de Deus, mas também dos outros.  Porém, repartirá não para chamar a atenção para si, e sim, porque agradecida, gosta de tornar seus irmãos partícipes dos dons que recebeu. A pessoa humilde é que estabelece relações que trazem a felicidade, que acabam com o egoísmo, com a competição, com a ostentação, e fazem reinar no mundo as atitudes de intercâmbio generoso dos dons de Deus. O generoso é livre na medida em que não procura o seu próprio proveito, mas o daqueles a quem favorece. E a alegria que brota da generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e permanentes dons.       

A generosidade é um sinal de gratidão e de liberdade interior. Tudo o que somos, tudo o que podemos e temos é precioso e libertador, se o reconhecermos e apreciarmos como um dom do amor de Deus. Por isso, em tudo temos que dar graças a Deus. Se percebermos e apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que temos e daquilo que possuímos vem de Deus, o Doador de todos os bens, então não nos agarraremos às nossas riquezas e capacidades, nem as utilizaremos para nos exibirmos, mas procuraremos ser cada vez mais generosos e livres, quer dando, quer recebendo. Jamais podemos ajudar um necessitado para nos sentir bons e íntegros, porque ofenderemos e humilharemos nosso irmão necessitado. A ajuda vale não pelo valor daquilo que é dado e sim pelo amor com que o damos.          

Para o generoso, todos os seus bens, todas as suas capacidades e dons se transformam num tesouro que se acumula no céu e que, entretanto, vai aliviando e tornando felizes os outros. E o próprio Jesus anuncia que tudo que aqui gratuitamente fazemos, nos será recompensado na vida eterna: “Tu serás recompensado na ressurreição dos justos” (Lc 14,14). Para ser feliz aqui nesta terra e na vida eterna é necessário que cada um de nós faça algo de bom pelos outros, gratuitamente, sem esperar uma troca. E para ser infeliz, basta ser egoísta ou ser avaro. O avaro é o protótipo dos sem-coração. O avaro é a pessoa mais pobre que existe.      

Ser generoso significa dar-se a si próprio por amor de Deus e do próximo, graças à intima liberdade que possuímos. É ser prolongamento do amor generoso de Deus por nós todos. Esta virtude é libertadora para ambas as partes: para o generoso e para quem é favorecido. O generoso é livre na medida em que não procura o seu próprio proveito, mas o daquele a quem favorece. Acreditamos que todos nós já fizemos alguma coisa por alguém por pura generosidade e sabemos a alegria que isso traz ao nosso coração. Quem de nós, ao prestar gratuitamente um favor ou uma ajuda, já não ouviu a frase: “Deus lhe pague; Deus lhe abençoe?”. A alegria que brota da generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e permanentes dons. 

Qualquer cristão não deve se deixar mover pelo egoísmo, mas pelo amor fraterno. O egoísmo entristece a vida de quem o tem. A partilha torna alguém leve e alegre. Somente assim se assegurará a única recompensa do Pai que tem valor definitivo. Com essa conduta o cristão se faz no mundo, para os homens, sinal do amor do Bom Deus, que beneficia aos justos e ímpios (cf. Lc 6,36). Somente o Pai do céu é recompensa cabal para o serviço desinteressado do cristão.

P. Vitus Gustama,svd

Dia De Finados, Domingo 02/11/2025

DIA DE FINADOS

02 de Novembro

Primeira Leitura: Jó 19,1.23-27a

Jó tomou a palavra e disse: "Gostaria que minhas palavras fossem escritas e gravadas numa inscrição com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na rocha para sempre! Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros".

Segunda Leitura: 1Cor 15,20-24a.25-28

Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. A seguir, será o fim, quando ele entregar a realeza a Deus-Pai. Pois é preciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Com efeito, "Deus pôs tudo debaixo de seus pés". Mas, quando ele disser: "Tudo está submetido", é claro que estará excluído dessa submissão aquele que submeteu tudo a Cristo. E, quando todas as coisas estiverem submetidas a ele, então o próprio Filho se submeterá àquele que lhe submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.

Evangelho: Lc 12,35-40

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrir, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar! Mas ficai certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes".

Ou

Jo 11,17-27: Eu sou a ressurreição e a vida.

Quando Jesus chegou, a Betânia, encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. 18 Betânia ficava a uns três quilômetros de Jerusalém. 19 Muitos judeus tinham  vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21 Então Marta disse a Jesus: "Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá". 23 Respondeu-lhe Jesus: "Teu irmão ressuscitará". 24 Disse Marta: "Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia". 25 Então Jesus disse: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?" 27 Respondeu ela: "Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo".

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Aqueles que nos deixaram não estão ausentes e sim invisíveis. Eles têm seus olhos cheios de glória, fixos em nossos olhos cheios de lágrimas”, (Santo Agostinho)

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O dia de finados é o dia de saudade porque ele nos leva às nossas raízes familiares. Ele leva as pessoas à memória familiar. Cada um de nós sempre tem algum lugar especial no coração para a lembrança daqueles que conviveram conosco, mas partiram antes de nós. Por isso, neste dia as lágrimas rolam dos olhos espontaneamente. A lágrima é a única linguagem que é capaz de expressar toda a nossa emoção e todo o nosso sentimento. Neste dia, cada um leva as flores ao cemitério para enfeitar o túmulo do ente querido por um dia e acende umas velas. Levar flores aos túmulos é um rito muito significativo. Além de ser uma expressão de gratidão e de reconhecimento pelo que Deus realizou, por sua graça naqueles que nos precederam na fé, as flores simbolizam, principalmente, o jardim, o paraíso, a felicidade eterna, que todos desejam aos seus entes queridos, como também nós desejamos para nós mesmos que estamos peregrinando neste mundo.

Dia de Finados é o dia especial em que todos nós somos chamados a voltar para a raiz familiar. É o dia em que todos nós voltamos a sentir, de uma maneira especial, a presença de todos os membros de nossa família que já partiram. Por algum instante visitamos, na memória, o passado no qual convivíamos e que no presente estão ausentes fisicamente. É um dia de saudade dos que conviveram conosco, mas partiram antes de nós. É o dia de saudade porque quando a morte atinge nossos entes queridos, uma parte de nós se vai com eles. Nós nos unimos à sua entrega total e sabemos que também nós estamos partindo (morrendo). Algo de nós se vai para sempre quando uma pessoa amada morre.

A partir da morte percebemos que a vida é um mosaico de tempos diversos. Cada momento é assinalado por algo que se deixa ou por algo que se descobre. Cada momento comporta a separação daquilo que se era, para se aventurar em direção do que se pode vir a ser. Nesta dinâmica universal e constitutiva da vida, relação e separação, encontro e despedida, nascimento e morte, não se excluem, mas se atraem. A relação atrai a separação. O encontro atrai a despedida. O nascimento atrai a morte. Aquele que é capaz de acolher, saberá também se separar, assim como a separação é pré-requisito de qualquer encontro. Talvez na linguagem bíblica possamos dizer: “Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa de baixo do céu: tempo para nascer, e tempo para morrer... Tempo para chorar, e tempo para rir... Tempo para dar abraços, e tempo para afastar dos abraços(Ecl 3,1-2.4.5b). Cedo ou tarde chegará o momento de dizer “adeus”: o amor ganha, então, as feições da dor. E repentinamente o passado reaparece com suas recordações, o presente se impregna de solidão e o futuro se desdenha repleto de incertezas para quem não se prepara e não sabe lidar com tudo isso. Um poeta espanhol escreveu: “Partiremos, quando nascermos, caminharemos enquanto vivermos, e chegaremos no momento em que morrermos”.

O Dia de finados quer nos relembrar que a vida é sempre uma partida. Há uma partida para os olhos que se fecham, para os ouvidos que se cansam e para o corpo que envelhece.  A condição humana é ser passageiro, ser transitório, ser limitado. Estamos sempre na saudação dos que chegam, no nascimento, e da despedida dos que partem sem volta para este mundo fisicamente, na morte. Em tudo há um adeus. E ninguém tem poder de parar o tempo. Todo nascimento é uma referência existencial à morte que é seu termo. Em outras palavras, a chegada será sempre uma partida. Um encontro será sempre uma despedida. Em cada nascimento esconde-se a morte.

Se a morte é a certeza, a imortalidade é a esperança. A teologia da esperança nos leva à verdade que nós existimos no mundo, mas acima do mundo, no tempo, mas acima do tempo. O nosso Credo termina com uma afirmação de esperança: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”. E o prefácio da missa destaca a crença cristã: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada...” Por isso, olhando para todos os túmulos, que possamos dizer: “Tudo isto vai ser vencido. Um dia, os túmulos se abrirão à voz de Deus. Mais do que para os cemitérios, caminhemos para Deus”

A partir da teologia da esperança, o dia de finados é também, e principalmente, o dia da esperança. O filósofo Aristóteles chama a esperança como “sonho de quem está acordado”. De onde vem esta esperança? Ela vem das próprias palavras de Jesus Cristo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25) e da sua própria ressurreição: “Se Cristo não ressuscitasse seria vã a nossa pregação e seria vã a vossa fé” (1Cor 15,14). Por isso, crer em Jesus Cristo, o Ressuscitado, significa jamais parar de existir. A partir da ressurreição do Senhor em quem acreditamos, não vivemos mais para morrer e sim morremos para viver. A vida não mais pertence à morte e sim a morte pertence à vida. A vida é real, enquanto que a morte é passageira. Temos que abraçar o que é real, e largar o que é passageiro. Dizia muito bem Tertuliano, um dos padres da Igreja dos primeiros séculos: “A esperança cristã é a ressurreição dos mortos; tudo o que somos nós o somos enquanto acreditamos na ressurreição”. A ressurreição de Cristo coloca o ser humano na dimensão de salvação, anunciando que a vida é mais forte do que a morte, que a nova vida nasce da morte, assim como cada dia é precedido pela noite.

Para nós que acreditamos no Deus da Vida a morte é o caminho que termina em Deus, de onde, um dia, saímos e um outro dia voltaremos. Isto significa que nós pertencemos ao Senhor: “Se vivemos, é para o Senhor, que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor(Rm 14,8). A vida que nos foi dada não pertence ao homem, mas a Deus.  Essa pertença a Deus é o que torna a vida algo sagrado. E para todos os homens, a vida temporal é dada como semente de vida eterna (cf. 1Cor 15,35-58). Por isso, morrer significa entregar totalmente a vida a Deus. O mesmo Senhor que nos criou por amor, nos acolhe também para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com Ele, para uma eternidade (cf. Jo 14,1-6). É uma partida com chegada definitiva. São Pedro expressa esta realidade nestas palavras: “Fugindo da corrupção, nos tornamos participantes da natureza divina(2Pd 1,4). Para nós, morrer é entregar a vida para Deus a exemplo de Jesus Cristo, que ao entregar a vida totalmente à vontade de Deus, ele experimentou a ressurreição. A ressurreição de Jesus é a mensagem mais clara sobre o futuro do homem (cf. 1Cor 15,12-19).

A Igreja sempre acredita na imortalidade da alma. Por isso, no Credo professamos: “Creio na comunhão dos santos... Creio na ressurreição da carne... Creio na ressurreição da carne...Creio na remissão dos pecados”. Este Credo se baseia sobre a ressurreição de Jesus. Até São Paulo chegou a dizer que se Cristo não ressuscitasse, seria vã a nossa pregação e seria vã também a nossa fé (cf. 1Cor 15,14). A ressurreição do Senhor vem nos dizer que o homem não nasce para morrer, mas nasce para ressuscitar, para viver. A vida não pertence à morte e sim a morte pertence à vida. Por isso, um cristão nunca morre, e sim ele nasce duas vezes: nasceu do ventre materno pela primeira vez e nasce para a vida eterna pela segunda vez. A morte é considerada como uma passagem para a vida. O destino do homem, então, não é o cemitério. Não estamos caminhando para o cemitério, mas para a Casa do Pai que está pronto para nos acolher e abraçar (cf. Jo 14,1-6).

E Nós Que Ainda Nos Resta A Vida, O Que Devemos Fazer?

Em primeiro lugar, precisamos valorizar a presença, pois ela é um dom. Muitas vezes sentimos a importância de uma pessoa somente na sua ausência. Precisamos estar conscientes de que como é bom estarmos juntos enquanto for dado a nós o dom de convivência, pois vai chegar um dia em que seremos obrigados a viver de outra maneira.

Em segundo lugar, precisamos valorizar mais as pessoas do que as coisas. Viemos para este mundo de mãos vazias (nus) e voltaremos para a terra (túmulo) também de mãos vazias. Deus nos deu o direito de usar e de usufruir as coisas materiaias que Deus as criou e não de possuí-las. Durante a vida a conta bancária é sua; na hora da morte não é mais sua. Durante a vida todos os bens materiais são seus, mas na hora da morte nada mais é seu. É precisa usarmos as coisas para amar mais as pessoas e não usarmos as pessoas para ganhar mais coisas materiais. Aproveitemos os bens materiais para fazer a bondade, pois a bondade é o único investimento que não falha diante de Deus.

“Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Fica muito claro o ensinamento de Jesus para nós: quando uma pessoa faz do dinheiro seu único ponto de apoio e sua única meta, a obediência ao Deus verdadeiro desaparece. E o coração do indivíduo que caiu na armadilha do dinheiro se endurece. Ele tende a buscar apenas seu próprio interesse, não pensa no sofrimento e na necessidade dos outros. Em sua vida não há lugar para a solidariedade. Por isso, não há lugar para um Deus Pai de todos. Lembremo-nos que seremos julgados sobre o amor (cf. Mt 25,36-45). Não corramos apenas atrás das coisas de Deus; precisamos, primeiro, correr atrás do Deus das coisas. Ao procurar Deus encontraremos as coisas criadas por Deus. Muitos homens correm apenas atrás das coisas criadas por Deus e abandonam o Deus das coisas e, consequentemente, um dia vão cair no nada, pois nada será levado deste mundo a não ser nosso amor fraterno vivido até o fim a exemplo de Jesus (cf. Jo 13,1).

Em terceiro lugar, não precisamos acumular as flores para formar um dia uma coroa de flores para um caixão, pois uma flor oferecida para uma pessoa viva vale muito mais do que uma coroa de flores para um morto. Que a coroa de flores oferecida na morte de alguém represente todas as flores dadas durante a vida daquele que já se foi.

Em quarto lugar, não precisamos esperar alguém morrer para elogiá-lo ou para falar de suas virtudes. É bom elogiarmos quem merece ser elogiado enquanto ele estiver convivendo conosco. Pois um elogio sincero dado para um vivo vale muito mais do que um elogio triste para um caixão. Perdoemo-nos mutuamente enquanto estivermos vivos, pois como é bom experimentarmos o que é que a ressurreição ou a libertação enquanto para nós é dado o dom de viver um pouco mais.

Em quinto lugar, como é triste morrer sem ter sabido viver e ao mesmo tempo como é triste viver sem aprender a morrer. Para vivermos melhor e com outra intensidade precisamos aprender a morrer. É o paradoxo da vida: para viver verdadeiramente precisamos aprender a morrer.

Precisamos aprender a morrer de nosso egoísmo, de nossa prepotência, de nosso rancor, de nossa falta de perdão, de nossa vingança, de nossa soberba que mata a caridade e a fraternidade, de nossa preguiça de rezar e de participar do banquete celeste aqui na terra que é a eucaristia. Em outras palavras, precisamos aprender a morrer de nossa morte para que possamos ressuscitar para uma vida com Deus.

Para olhar o mundo, a nós mesmos e todos os acontecimentos na plenitude da verdade não há ponto de observação melhor que o da morte. A partir dali tudo é visto em sua justa perspectiva. Visto a partir desse ponto, tudo ganha seu justo valor. Olhar a vida a partir da morte nos ajuda extraordinariamente a vivermos bem e a valorizarmos cada segundo de nossa vida. A morte nos impede que nos prendamos às coisas, e nos impede que fixemos aqui embaixo a morada de nosso coração esquecendo que “não temos aqui residência permanente” (cf. Hb 13,14). Não é a morte que é absurda, mas a vida sem a morte.

Neste Dia de Finados, cada ser humano, cada homem e cada mulher é convidado a considerar sua peregrinação terrena não como um fim em si, mas como caminho que guia à vida sem fim: a vida com Deus. Ele também é convidado a viver sua existência cotidiana como um mistério a ser descoberto e não apenas como um problema para ser resolvido. Quanto mais se mergulha no mistério da vida, mais se descobre o mistério do homem e o mistério de Deus.

Que os que nos precederam descansem em paz (RIP) e que nós, que ainda estamos peregrinando neste mundo, vivamos em paz para que possamos alcançar a morada eterna, a casa do Pai do céu. Assim seja.

P. Vitus Gustama,SVD

 

Para Refletir

 

Prefiro que partilhes comigo uns poucos minutos,

Agora que estou vivo,

E não uma noite inteira quando eu morrer.

Prefiro que apertes suavemente a minha mão,

Agora que estou vivo,

E não apóies o teu corpo sobre mim quando eu morrer.

Prefiro que faças uma só chamada,

Agora que estou vivo,

E não faças uma inesperada viagem, quando eu morrer.

Prefiro que me ofereças uma só flor, agora que estou vivo,

E não me envies um formoso ramo e uma coroa de flores

Quando eu morrer.

Prefiro que elevemos juntos ao céu uma oração, agora que estou vivo,

E não uma oração poética quando eu morrer.

 

Prefiro que me digas umas palavras de alento, agora que estou vivo,

E não um dilacerante poema quando eu morrer.

Prefiro que um só acorde de guitarra, agora que estou vivo,

E não uma comovedora serenata quando eu morrer.

Prefiro que me dediques uma leve prece, agora que estou vivo,

E não um político epitáfio sobre minha tumba quando eu morrer 

Prefiro desfrutar de todos os mínimos detalhes do tempo de nossa convivência,

Agora que estou vivo,

E não de grandes manifestações quando eu morrer.

Prefiro escutar-te e ver-te um pouco nervos@

Dizendo o que sentes por mim,

Agora que estou vivo,

E não um grande lamento porque não o disseste no tempo certo, e agora estou mort@....

Aproveitemos a convivência fraterna e amorosa com os nossos seres queridos, agora que estão entre nós...

Valorize as pessoas que estão à tua volta.

Ama-as, respeita-as e lembra-te delas,

Enquanto estão vivas.

Deus te abençoe!    

 

Pe. Vitus Gustama, SVD

06/12/2025- Sábado Da Primeira Semana Do Advento

SER PROFETA DA ESPERANÇA PARA A HUMANIDADE Sábado da I Semana Do Advento Primeira Leitura: Is 30,19-21.23-26 Assim fala o Senhor, o ...