Domingo da Páscoa, 21/04/2019
DOMINGO
DA PÁSCOA
Evangelho: Jo 20,1-10
1 No primeiro dia da
semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda
estava escuro, e viu que a pedra tinha sido tirada do túmulo. 2 Então ela saiu
correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus
amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o
colocaram”. 3 Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4 Os
dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e
chegou primeiro ao túmulo. 5 Olhando para dentro, viu as faixas de linho no
chão, mas não entrou. 6 Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e
entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7 e o pano que tinha
estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar
à parte. 8 Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao
túmulo. Ele viu, e acreditou. 9 De fato, eles ainda não tinham compreendido a
Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
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I. O
Texto do Evangelho e Sua Mensagem
O Capítulo 20 de João tem quatro episódios
que algum teólogo intitula: “Em busca dos sinais do Ressuscitado”. O primeiro
episódio (vv.1-10) tem como personagens a Madalena e depois Pedro e João. O
segundo episódio (vv.11-18) faz-nos contemplar Maria Madalena que gradualmente
reconhece Jesus. Neste episódio Maria Madalena é apresentada como o personagem
mais interessado na busca dos sinais e, através dos sinais, da própria presença
do Senhor. O terceiro episódio (vv.19-23) é o episódio da manifestação de Jesus
aos apóstolos: Jesus entre os seus. E por fim, Jesus e Tomé (vv.24-29). Tomé
nos apresenta a tendência do homem a fechar-se ao mistério. Em outras palavras,
ele representa aqueles que têm dificuldade de ver os sinais da presença do
Senhor no mundo (os céticos).
O texto lido neste dia da Páscoa começa com
estas palavras: “No primeiro dia da
semana...quando estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo...”
(v.1). “Primeiro dia”, “escuro” e “túmulo” são palavras importantes para
entender o texto.
No contexto pascal, a expressão “primeiro
dia” sugere que para o mundo começou um tempo novo nascido da morte
e ressurreição de Jesus (2Cor 5,17). Jesus é a luz do novo dia que não termina
jamais. Jesus é o Senhor que ilumina o mistério da vida. Cristo detém a chave
do segredo da vida e deixa sua luz brilhar nas trevas. Nele o mistério da vida
se torna luminoso. O que é a vida, seu significado, sua finalidade, como
apreciá-la e torná-la autêntica, dar-lhe um sentido, é tudo isto que Jesus pode
nos ensinar, pois ele veio para nos fazer viver plenamente (Jo 10,10). Por
isso, com muita certeza, São Paulo diz: “Se confessas, com tua boca que Jesus é
o Senhor e crês em teu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, tu serás
salvo” (Rm 10,9).
Maria Madalena foi ao túmulo quando ainda
estava escuro (em grego skotia:
a treva). Este termo aparece em Jo oito vezes. “As trevas” em Jo não significam
mera ausência de luz. Este termo apresenta dois aspectos: Primeiro, as trevas
são consideradas como entidade ativa e perversa que pretende extinguir a luz da
vida (Jo 1,5) e assim impedir a visão do projeto de Deus sobre o homem.
Portanto, define-se como ideologia contrária ao desígnio criador. As trevas
produzem no homem a cegueira (ocultamento do desígnio de Deus), impedindo-lhe
de se realizar. Segundo, as trevas são consideradas como âmbito de obscuridade
ou cegueira criado por sua ação, onde o homem se encontra privado da
experiência da vida e não conhece o desígnio de Deus sobre ele. As trevas
sugerem que os personagens ainda não têm a luz plena.
Maria vai ao túmulo, possuída pela falsa
concepção da morte, e não se dá conta de que o dia começou. Maria crê que a
morte triunfou. Antes de saber que Jesus está vivo, Maria deve passar pela
prova do túmulo vazio. “O túmulo” é mencionado nove vezes nesta perícope,
mostrando que a ideia de Jesus morto domina na comunidade. Assim também aquele
que é chamado a descobrir glorioso deve passar pelas noites purificadoras do
desejo, deve passar pelo vazio existencial para ter acesso a este conhecimento
novo do glorioso que é concedido na fé.
“Quando ainda estava escuro, Maria Madalena
foi ao túmulo”. A comunidade representada por Maria Madalena não
espera a ressurreição. A palavra “túmulo” aparece sete vezes no texto do
Evangelho deste Domingo da Páscoa para sublinhar a ideia da morte que a
comunidade tinha, representada por Maria Madalena. Além disso, Maria Madalena
que foi ao túmulo quando estava escuro
é o reflexo da situação de desamparo em que a comunidade se sentia pela morte
de Jesus. Há a atitude de busca, mas busca o Senhor morto. Por isso, como consequência
deste tipo de busca é a experiência de perplexidade e de decepção que pode
terminar no desespero.
Muitos procuram a felicidade no lugar errado,
porque excluem Deus desta busca. Tudo o que amamos por causa de nós mesmos,
fora de Deus, só cega nosso intelecto e paralisa nosso julgamento sobre os
valores morais. Em vez de obter a felicidade procurada, encontramos “túmulo”
que está aberto para nos engolir, para nos tornar prisioneiros da escuridão da
vida sem Deus. A escuridão dura até que alguém acredite em Jesus ressuscitado,
porque Jesus é a Luz do mundo (Jo 8,12). Muitas vezes procuramos uma
“felicidade” fácil e é fácil também ela ir embora, e ficamos, depois,
perplexos, vazios e desorientados como aconteceu com Maria Madalena. Somos
convidados, por isso, a ser livres de todo tipo de prisão, de “túmulos”,
tirando as pedras de impedimento para a nossa libertação. Junto com Jesus
ressuscitado, seremos capazes também de remover as pedras de nossa vida para
sermos livres em Cristo Jesus. Só é livre completamente quem rejeita o mal de
tal maneira que seja impossível desejá-lo.
A reação de Maria é de alarme quando viu que
a pedra foi “retirada” e o corpo de Jesus não estava lá. Ao encontrar a porta
do túmulo aberta, ela não compreende o que está acontecendo. A comunidade se
sente perdida sem Jesus. Há atitude de busca mas buscam um Senhor no lugar
errado. Jesus representava a força da comunidade; crendo que passou a ser
debilidade e impotência, a comunidade se vê por sua vez sem forças. Sem mesmo
entrar no túmulo Maria corre avisar os discípulos: Pedro e o discípulo amado.
Apesar de não compreender o que está acontecendo, Maria Madalena se torna a
portadora da notícia e da surpresa. Quando falta a presença de sinais visíveis
do Senhor, é preciso agitar-se, mexer-se, correr, buscar comunicação com
outros, com a certeza de que Deus está presente e nos fala. Maria Madalena e outros
dois discípulos nos ensinam a não ficarmos parados, quando encontrarmos
barreiras na nossa caminhada rumo ao encontro com o Senhor ressuscitado. Temos
que ir atrás das respostas. Temos que nos agitar.
Os dois discípulos (Pedro e o discípulo
amado) têm a mesma reação diante da notícia que lhes dá Maria: dirigem-se ao
túmulo. Os dois apareceram juntos duas vezes anteriormente em situações
contrastantes (Jo 13,23-24;18,15-16) e aparecerão duas vezes mais (Jo
21,7.20-22). Os dois correm juntos, mostrando sua adesão a Jesus e o seu
interesse pelo ocorrido. Durante a corrida, porém, o discípulo amado correu
mais rápido e chegou primeiro do que Pedro no túmulo. Corre mais depressa o que
tem a experiência do amor de Jesus. Apesar de chegar primeiro, o discípulo
amado não entrou no túmulo mas esperou a chegada de Pedro. No texto de Jo, a
precedência de Pedro é mantida (cf. Jo 21). Até na lista que Paulo fez daqueles
para quem Jesus ressuscitado apareceu, o nome de Cefas (Pedro) vem antes de
todos os outros (cf.1Cor 15,5). Podemos encontrar vários textos no quarto
evangelho em que Pedro é recordado explicitamente
(Jo1,40-42;6,67-69;13,6-11;13,36-38;18,10-11;18,17-18.27; 21,7.11.15-23). Mas o
que interessa para o evangelista é a diferente reação de ambos ao verem o
túmulo vazio e os panos postos em ordem. Pedro é o primeiro a entrar no túmulo
(v.6) e a observar os panos(vv.6-7). Ele viu os panos e ficou calado. Jo não
diz nada da reação de Pedro. Pedro representa o racionalismo, a lentidão e a
demora em perceber e distinguir as coisas.
O discípulo amado também entrou. “Ele viu e acreditou” (v.8). “Ele viu e
acreditou” se refere unicamente ao discípulo amado. Em Jo 21,4.7, temos um
paralelo muito próximo em que o mesmo discípulo amado, ao reconhecer a presença
do ressuscitado, avisa a Pedro: “É o
Senhor”. O amor a Jesus faz o
discípulo amado capaz de captar a presença de Jesus ressuscitado. À luz de seu
laço profundo com Jesus, o discípulo amado reconhece o mistério da presença por
meio da ausência. Sua fé em Jesus e seu amor por Jesus servem para interpretar
o significado do túmulo vazio. Mesmo antes do contato com o Ressuscitado, ele
foi capaz de superar o abismo: na ausência do corpo, o que ele viu dos panos
funerários teve para ele valor de sinal. Além disso, o amor que penetrava o
discípulo amado deixou entrar nele a luz, e esta luz o ilumina para ver e
penetrar até a essência das coisas e acontecimentos. Para ele, o túmulo não
está nem vazio, nem cheio. Ele se transformou em linguagem. Atento, ele capta
no vazio do túmulo que Cristo vencera o que pertencia ao tempo; em outras
palavras, Jesus venceu a morte, ele ressuscitou. Isto quer dizer que quem ama a
Deus de todo o seu ser (cf. Mc 12,30), tem capacidade e sensibilidade de captar
os sinais de Deus em qualquer tempo e circunstância.
O poder da ressurreição certamente reside no
amor. O poder da ressurreição está no amor que flui de nós e através de nós.
Por isso, o amor é a única razão de viver para qualquer cristão. Não há outro
motivo para permanecer-se na terra a não ser o amor. Amar significa chamar
alguém à Vida. Amar a alguém equivale a lhe dizer: “Tu vives para sempre, pois ‘Deus
é Amor’” (1Jo 4,8).
O texto diz que Maria Madalena não consegue
ver o significado daquilo que está acontecendo, por isso corre e vai avisar
Pedro e o discípulo amado. Pedro e o discípulo amado também correm. Mas o
discípulo amado corre mais rápido e chega primeiro. Pedro entra no túmulo e Jo não relata a
reação de Pedro. O discípulo amado entra e conclui imediatamente que não
roubaram o Senhor: “E viu e acreditou” (Jo 20,8).
Na Igreja
que vai em
busca dos sinais
da presença do Senhor há diversos temperamentos ,
diversas mentalidades : há o afeto de Maria, a intuição
de João e a lentidão de Pedro. Mas Deus tem tempo para todos . Portanto , existem na Igreja
diversos dons
espirituais dos quais
se originam diversas disposições : alguns mais velozes , outros
mais lentos ;
mas todos
se ajudam mutuamente, respeitando-se reciprocamente, para
juntos procurarem os sinais da presença de Deus e comunicá-los entre
si , apesar
da diversidade de reações
diante do mistério .
É uma colaboração na diversidade : cada
qual comunica ao outro
o pouco que
viu e encontrou, e juntos reconstroem a orientação da existência
cristã, ali onde
os sinais da presença
do Senhor , diante
das dificuldades ou
das situações perturbadoras, parecem ter desaparecido. Se na Igreja
primitiva Madalena não
tivesse agido dessa forma , comunicando o que sabia, e se as pessoas
não se tivessem ajudado umas às outras,
o túmulo teria ficado ali e ninguém
teria ido até
lá ; teria sido inútil
a ressurreição de Jesus. Somente
a busca comum
e a ajuda uns dos outros
levam finalmente a encontrar-se juntos , reunidos no conhecimento
dos sinais do Senhor .
Como é importante
partilhar na convivência :
as alegrias e as tristezas partilhadas e
juntos construímos uma convivência
fraterna onde
um apoia outro .
II. Outras
Mensagens Da Páscoa
a). Com o fato da ressurreição de Cristo
entrou uma novidade total na história humana pois nunca aconteceu isso antes
nem depois dele, em nosso mundo fechado pelo círculo da morte. Jesus rompeu
esse círculo e deu esperança a todos nós. Ao vencer a morte, Jesus revoluciona
todos os anseios e sonhos do mundo. Por isso, a Páscoa é a festa de alegria
porque a nossa vida está assegurada; esta vida que aqui vivemos não nos será tirada
com a morte; a morte será apenas um fenômeno biológico, mas que não poderá
atingir nem destruir o nosso verdadeiro ser. A partir da ressurreição do
Senhor, não vivemos mais para morrer mas morremos para viver; a vida não
pertence mais à morte mas sim a morte pertence à vida. A morte não é total:
atinge apenas o corpo do homem. O mundo precisa saber que não somos condenados
a um fim sem sentido. Não há Boa Notícia mais radicalmente importante do que a
certeza da vitória da vida. Por isso, Jesus nos diz: “Tenha coragem! Eu venci o mundo” (Jo16,33). Temos a garantia de que
Deus não vai deixar que se perca nada do que é bom: nossos esforços, nossos
sacrifícios, nossas lutas pelo que é certo e justo, nossas boas ações, nossos
afetos, as pessoas que amamos, tudo isso fica guardando e seguro nas mãos de
Deus da ressurreição. Se a morte não tem a última palavra, toda a nossa vida
pode estar, sem medo, a serviço daquilo que traz mais vida para todos. Seja
qual for o resultado, nada estará perdido. Por isso, compreendemos por que São
Paulo escarnece da morte e triunfante lhe pergunta: “Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o espantalho com
que amedrontavas os homens?” (1Cor 15,55). O homem que crê em Jesus Cristo
é destinado à ressurreição para participar, com a totalidade de sua realidade
complexa, na vida eterna de Deus.
b).
“Jesus ressuscitou” significa também que Cristo vive. Esta é a grande
verdade da nossa fé. Cristo vive quer dizer que ele não é uma figura que
passou, que existiu num tempo, deixando-nos uma lembrança. Cristo vive quer
dizer: ele está conosco. Ele não nos abandona. Isto significa que o cristão,
cada um de nós, nunca é um homem solitário mas solidário porque ele vive com
Deus e Deus com ele. Por isso, o centro da fé cristã não consiste na celebração
da memória de um herói morto, mas da presença de um Vivo e Vivente no qual se
decifrou para todos nós o sentido último da vida.
c). Se Cristo está vivo, então todas as
coisas da vida devem refletir isto; todas as coisas devem se voltar para Jesus
Cristo. Quando Jesus Cristo é o centro, as pessoas tornam-se melhores; as
pessoas tornam-se mais humanas, buscam o crescimento e têm vontade de conseguir
todas as coisas no crescimento e na maturidade de Cristo.
d). A Páscoa é, biblicamente, a passagem da
opressão do Egito para a Terra da Promessa. Ela é uma passagem do pecado, da
opressão, e da morte para a graça, a liberdade, e a vida. Não há afirmação da
vida sem passagem pela morte, sem confronto com a morte. Por isso, como é
triste morrer sem ter sabido viver, também como é triste viver sem aprender a
morrer. Se Jesus deixou o túmulo para entrar na vida, somos, seus seguidores,
convidados também a sair de nossos túmulos, de nossas prisões de egoísmo, de
soberba, de falta de caridade, de arrogância, de desespero para experimentar e
viver a liberdade e libertação. E este chamado é urgente. Não podemos adiá-lo
para amanhã. Acreditar no Deus vivo e vivificante implica abandonar a
idolatria. A idolatria consiste em depositar confiança em algo ou alguém que
não seja Deus, como no dinheiro e no poder etc. Submeter a própria vida a algo
ou a alguém que não seja Deus significa opor-se ao Deus vivo e vivificante.
Cai-se na idolatria quem põe o ouro e a prata acima de quem os criou. Não
confiar no Deus vivo e vivificante, mas num produto de nossas mãos que nos dá
força e poder diante dos outros é fonte de alienação e de morte (cf. Ez
7,19-20). O deus da idolatria não quer que sejamos aguais a ele. Ele quer que
sejamos submissos a ele. O Deus da Vida quer que tenhamos a vida que ele tem e
é(cf. Jo 10,10), pois fomos criados à sua imagem(cf. Gn 1,26).
e).
Páscoa é a ressurreição. Cristo rompe as cordas que conservavam seu
corpo debaixo da terra. Foi a maior vitória de todos os tempos. Jamais alguém
pode vencer o poder da morte. Só Cristo Jesus. A vitória de Cristo ressuscitado
nos faz crescer na fé. Não tenhamos mais medo de nada. Tudo está sob o
calcanhar de Cristo. Com Cristo, nada nos derrotará. Cristo ressuscitado vai
tomar conta de nós. Todos os que seguem a Jesus não vão se perder por que ele é
uma luz que orienta. É a luz inapagável.
Páscoa é a saída rápida. É êxodo, partida.
Para onde? É sair para encontrar os outros. Se permanecermos fechados,
trancados dentro de nós mesmos, vamos morrer. Páscoa é reencontro com a vida.
Somente sabe viver, encontrando a vida, aquele que ama. Jesus morreu e
ressuscitou porque nos ama verdadeiramente.
Amar é sair de si para encontrar o outro. É
dialogar. É estender a mão. É abraçar para fazer as pazes. É doar a vida, o
coração e a felicidade aos outros. Páscoa é alegria. Somente encontra a alegria
aquele que sabe amar os outros. Nossos lares são como túmulos cerrados a
cimento, quando não se amam; quando não há respeito, ajuda mútua e fé. Túmulos
cerrados são as igrejas quando não se vive o que se reza e se canta.
Celebrar a Páscoa é afirmar: “Não sou mais
aquele homem do túmulo, intransigente, morto, insuportável, nervoso. Agora uma
nova luz entrou em mim e renasci, por isso. Quero remover aquela pedra que me
está impedindo de ser comunicativo, caridoso; a pedra que me impede de pedir e
de dar o perdão”.
Não existe ressurreição antes da morte de si
mesmo. Para sairmos de nós mesmos devemos fazer como os peregrinos: abandonar
tudo. Temos que abandonar tantas atitudes erradas em nós; tantos vícios; tanto
gênio em nós; tanta raiva contra os outros.
A Páscoa é tempo de sair do túmulo, da
escuridão, da falta de fé e confiança nas Palavras de Cristo. É sair das trevas
da consciência adormecida, do coração sonolento, cheio de ódio, de raiva, de
mágoa, de ganância e do egoísmo. Saímos do túmulo de nosso coração trancado.
Saímos do túmulo para ver a luz que brilha nos rostos daqueles que vencem a si
mesmos e procuram seguir os caminhos de Cristo.
Ressurreição, saída do túmulo, rompimento de
todas as amarras, deve ser realizada em nós, em nossos lares cheios de
incompreensão, de falta de Deus.
f). A
Páscoa significa passagem. Em nossa vida, de certa forma, existem duas
passagens. A primeira passamos do “nada” onde estávamos nove meses antes de vir
ao mundo à situação do bebê em seu bercinho. Mas essa passagem é apenas
condição de uma segunda. A segunda passagem é a passagem de uma existência
humana: a existência propriamente humano-divina. A primeira não pede a
autorização nossa para nos pôr no mundo. A segunda não se faz sem nós. Ela se
realiza ao longo de toda a nossa vida. No fim da passagem terrena passamos para
a comunhão terna com Deus. Todos os dias de nossa presença terrena temos que
fazer frequentemente passagens. Ninguém se transformou sem passar pelo
sacrifício de certo tipo de felicidade egoísta. É preciso renunciar ao egoísmo
para conhecer a verdadeira felicidade, a própria felicidade de Deus à qual
somos chamados por toda a eternidade. Sem ser transformado ou transfigurado,
não se vem a ser homem livre pela própria liberdade de Deus. Celebrar a Páscoa
é celebrar a libertação. Mas em que sentido estamos livres? De que estamos
livres?
A vida humana é um êxodo. Ela é concebida no
seio materno. Ali mesmo, com o calor e nutrientes de sua mãe, vive a gestação.
Com o nascimento, inicia seu êxodo existencial com outros irmãos da jornada. Da
perspectiva cristã, o caminhar juntos se converte em sinal da presença de Deus
que acompanha o homem em cada passagem de seu itinerário existencial. E o êxodo
existencial de um ser humano possui três fases: iniciar, transitar e terminar.
A vida terrena de um ser humano tem, então, seu início, faz-se no pleno
desenvolvimento e aponta para seu término inevitável. Mas o verdadeiro caminhar
do cristão termina na ressurreição. Esta é a mensagem da Páscoa que festejamos
durante sete semanas (50 dias de comemoração: o tempo pascal).
P.Vitus Gustama,svd
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