Domingo,23/06/2019
CONFESSAR JESUS COMO SENHOR
DE NOSSA VIDA EXIGE UMA TRANSFORMAÇÃO TOTAL E RADICAL DE NOSSA VIDA
XII
DOMINGO DO TEMPO COMUM “C”
I Leitura: Zc 12,10-11;13,1
Assim diz o Senhor: 10
“Derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito
de graça e de oração; eles olharão para mim. Ao que eles feriram de morte, hão
de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a
dor que se sente pela morte de um primogênito. 11 Naquele dia, haverá um grande
pranto em Jerusalém, como foi o de Adadremon, no campo de Magedo. 13,1Naquele
dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém,
para ablução e purificação.
II Leitura: Gl 3,26-29
Irmãos: 26 Vós todos sois
filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo. 27 Vós todos que fostes batizados em
Cristo vos revestistes de Cristo. 28 O que vale não é mais ser judeu nem grego,
nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em
Jesus Cristo. 29 Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros
segundo a promessa.
Evangelho: Lc 9,18-24
Certo
dia, 18 Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam
com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” 19
Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas
outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. 20 Mas
Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de
Deus”. 21 Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a
alguém. 22 E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser
rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser
morto e ressuscitar no terceiro dia”. 23 Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si
mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. 24 Pois quem quiser salvar
a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a
salvará”.
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Reconhecer
e confessar que Jesus é o Senhor, “O Cristo de Deus” (Lc 9,20), não é
qualquer coisa. É uma das decisões fundamentais que o homem pode tomar em sua
vida e, portanto, tal proclamação ou tal reconhecimento deve transformar
radicalmente a vida inteira de quem o faz, como escreveu são Paulo, que lemos
na Segunda Leitura de hoje: “Vós todos
que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Não se
pode dizer que Jesus é o Senhor para viver, depois, sob qualquer outro senhor:
o dinheiro, o prazer, o poder, a fama, e assim por diante. Se, de verdade,
Jesus é nosso Senhor, nossa vida ficará livre de toda atadura para podermos nos entregar, sem nenhuma limitação, a fim de podermos trabalhar pelo Reino de
Deus, a causa pela qual Jesus lutou, viveu e morreu. Consequentemente,
estaremos com o firme propósito de não ter em nossa vida outro senhor a não ser
o próprio Senhor Jesus Cristo que nos salvou por amor a nós.
Jesus É Nosso Exemplo Na Oração
O que o evangelho de Lucas quer colocar em
destaque, como se nota no texto do evangelho de hoje, é que Jesus é uma pessoa orante: “Certo dia, Jesus estava rezando num lugar
retirado, e os discípulos estavam com ele” (Lc 9,18). Os evangelistas nos
informam frequentemente da oração de Jesus, tanto do modo como do seu conteúdo.
Naturalmente, Jesus, como bom israelita, frequentava o culto sabático da
sinagoga, subia, de Nazaré, a Jerusalém em peregrinação, celebrava a páscoa judaica
e, em geral, participava na oração litúrgica do povo. Também era normal que
Jesus, nos momentos culminantes e decisivos de sua vida pública, se retirava do
povo para orar em solidão. Antes de colocar seus discípulos perante grandes decisões,
Jesus orava em solidão, como na eleição dos apóstolos (Lc 6,12), quando ele se
dispunha a introduzi-los no mistério de sua missão (Lc 9,18).
As horas de oração têm cada vez importância vital
na formação da Igreja. A Igreja é arrebatada ao âmago da oração de Jesus.
“A oração é um
dom da graça, mas pressupõe sempre uma resposta decidida da nossa parte, porque
o que reza combate contra si mesmo, contra o ambiente e, sobretudo, contra o
Tentador, que faz tudo para retirá-lo da oração. O combate da oração é
inseparável do progresso da vida espiritual. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza” (Compêndio do Novo Catecismo, 572;
Novo Catecismo, no. 2725).
Por isso, sempre que nós rezamos de verdade,
a nossa oração é eficaz, não porque modificamos Deus, mas porque nós nos
modificamos. O mais difícil da oração não é tanto saber se Deus nos escuta, mas
conseguirmos que nós O escutemos. A oração exige uma relação em que nós
permitimos ao Outro entrar no centro de nossa pessoa, permitimo-lhe falar ali,
permitimo-lhe tocar o núcleo sensitivo de nosso ser e permitimo-lhe ver tudo o
que nós preferiríamos ocultar na escuridão. Mas será que nós em algum momento
queremos realmente fazer isso?
A oração é a expressão viva da fé. A fé se
alimenta da oração e a oração é motivada pela fé. Ninguém pode rezar sem
acreditar e ninguém pode acreditar sem rezar. Quem reza porque tem fé e quem
tem fé precisa rezar. Na medida em que um cristão reza, a sua vida se
transforma. A vida de um verdadeiro cristão sempre se coloca em consonância com
a oração e ambas (oração e vida) se tornam uma unidade inseparável. Com a
oração o cristão tem a capacidade de discernir os sinais dos tempos e
chamamento de Deus em determinadas circunstâncias. Se as nossas decisões
quiserem ser mais evangélicas devem ser feitas em oração para que o agente
principal continue sendo Jesus ressuscitado. Afastam-se assim toda a vaidade e
toda a arrogância que não levam ninguém à salvação.
A vida sem um lugar deserto torna-se
facilmente destrutiva. Quando nos apegamos aos resultados de nossas ações como
nosso único meio de identificação pessoal, de nosso sucesso, tornamo-nos
possessivos, ficamos na defensiva e tendemos a ver nossos semelhantes mais como
inimigos a ser mantidos a distância que como amigos com os quais partilhamos as
dádivas da vida. Quando
deixamos de depender deste mundo, formamos uma comunidade de fé em que há pouco
a defender, mas muito a partilhar.
Pergunta Sobre Quem é Jesus É
a Pergunta Sobre Modo De Viver Como Cristãos
O relato da confissão de Pedro, segundo
Lucas, acontece imediatamente depois da multiplicação dos pães (Lc 9,10-17; compare
Mt 14,13-21 e Mc 6,30-44). Com a confissão de Pedro e as primeiras predições da
paixão, a vida de Jesus toma um rumo diferente, que Lucas indica em Lc 9,51: “Aproximando-se o tempo em que Jesus devia
ser tirado deste mundo, tomou resolutamente o caminho de Jerusalém”.
A pergunta de quem é Jesus formulada por
Herodes em Lc 9,7-9, o evangelista Lucas respondeu apresentando-nos um Jesus
que acolhe as pessoas e não abandona sua própria sorte (Lc 9,10-17). A pergunta
no texto do evangelho de hoje é formulada pelo próprio Jesus: “Quem diz o povo que eu sou?” e “E vós, quem
dizeis que eu sou?”.
Para a primeira pergunta, “Quem diz o povo que eu sou?”, ninguém é
obrigado a tomar uma posição. Qualquer um pode responder a esta pergunta
ficando no plano teórico de argumentação em favor ou contra para qualquer
opinião. Trata-se de uma pergunta que provoca discussão em que as opiniões são mais importantes do que a própria figura
ou a própria pessoa de Jesus.
Na segunda pergunta, “E vós, quem dizeis que eu sou?”,
Jesus não pede uma opinião e sim uma opção, não pede uma teoria, e sim uma
confissão, não pede um discurso e sim uma tomada de posição. É a primeira vez
que Jesus cria esta situação para os discípulos. A Igreja e os cristãos vivem
sempre nesta segunda pergunta que se espera deles uma posição. Pela pergunta “E
vós, quem dizeis que eu sou?” é que Jesus sempre dirige à Igreja e para cada
cristão em particular.
Depois de ter provocado a identificação de si
mesmo com a revelação definitiva de Deus, Jesus vai explicar COMO Deus vai se
revelar em Jesus, a saber, na sua morte e ressurreição: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos
sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro
dia”.
Confessar Jesus como a revelação definitiva
de Deus: Jesus é “o Messias de Deus” e aceitar seu caminho implica na opção
para seguir o mesmo caminho da cruz: “Se
alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por
causa de mim, esse a salvará”. “Tomar a cruz” consiste no rompimento
radical com a tendência de pensar sempre primeiro em si mesmo e de cuidar
apenas de gozar do favor dos homens e do mundo: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder-se ou arruinar
a si mesmo?” (Lc 9,25). Aquele que, por medo dos homens ou por egoísmo não
opta por Jesus, rompe com Ele e Jesus vai se envergonhar dele no dia do juízo: “Quem se envergonhar de mim e de minhas
palavras, o Filho do Homem dele se envergonhará, quando vier em sua glória e na
do Pai e dos anjos” (Lc 9,26). Mas seguindo Jesus no sofrimento e na cruz,
o homem vai alcançar a verdadeira vida no Reino de Deus. Ao olhar para Cristo,
aprendemos o segredo da vida em plenitude.
Atualização: Jesus Nos
Pergunta Sobre Quem Ele É Para Nós (Para Mim E Para O Povo)?
Ao colocar este episódio dentro do contexto
de oração, Lucas sublinha assim a sua importância, não somente a importância da
profissão de Pedro; mais do que isto quer enfatizar a declaração que o próprio
Jesus vai fazer no v. 22.
“Quem sou eu no dizer das multidões?” (v.18). Essa ocasião
representa um dos momentos cruciais na vida e no ministério de Jesus. Depois de
ter realizado um milagre de multiplicação dos pães na presença de cinco mil
pessoas vem esta pergunta de Jesus. Na verdade a busca de resposta sobre a
identidade de Jesus começa com a pergunta que João Batista faz para Jesus: “És
tu o que há de vir?” (Lc 7,20). Em outras palavras, João Batista quer
dizer: “Quem és Tu?”. Jesus não quis responder à pergunta de João Batista. Em
vez disso, Jesus apresentou as suas obras. É a pergunta que os próprios
discípulos também fazem: “Quem é este que ordena aos ventos e às ondas, e eles
lhe obedecem?” (Lc 8,25). É uma pergunta que suscitava a curiosidade do povo
(Lc 9,7-9) e que inquietava Herodes: “João, eu mesmo o mandei decapitar;
quem é então este de quem ouço tais coisas?” (Lc 9,9). Agora chegou a vez
do próprio Jesus de fazer a pergunta, que no fim do episódio ele mesmo vai dar
a resposta certa.
Como era de esperar, a multidão reagiu de
maneira diferente e equivocada diante de Jesus. Alguns diziam que era João
Batista. Para esse grupo Jesus se parecia com João Batista porque Jesus falava
com poder profético como João Batista. Outro grupo identificava Jesus com Elias
que veio para advertir ao povo sobre o dia de julgamento (juízo) conforme a
profecia de Ml 3,23-24. E o último grupo identificava Jesus com um dos profetas
que havia ressuscitado dentre os mortos e que estavam fazendo essas coisas.
Cada uma destas respostas é incorreta. Ninguém da multidão sabia quem era Jesus
que fazia essas coisas.
Se fizermos esta mesma pergunta ao povo ou ao
mundo de hoje: “Quem sou eu no dizer das multidões?”, receberemos, sem dúvida,
várias respostas sobre Jesus Cristo. Mas, geralmente, cada resposta ouvida hoje
em dia é um reflexo de nosso testemunho, como cristãos. A imagem que os outros
têm de Cristo faz parte, de certa maneira, da fé que vivemos diariamente; ela é
o resultado do testemunho que nós mesmos damos do Senhor. Que tipo de Cristo
que vivemos e projetamos aos outros? Evitemos, por isso, que Deus morra na
Igreja nem podemos fazer da Igreja como prisão de Deus.
Ficamos perguntando: “Por que tantos que nos
dizem: ‘Cristo, sim; a Igreja, não? O Evangelho sim; mas, vós cristãos não?”
Talvez ainda seja válida a frase do poeta indiano: “Cristo, se os teus
fossem como Tu, hoje toda a Índia seria tua!” Sempre que alguém nos diz a
nós cristãos: “Cristo, sim; mas vós, não”, devemos sempre pensar que existe em
nós qualquer coisa que não é Cristo, e que em certa medida, Deus morreu em nós
e por isso temos o dever de fazê-Lo ressuscitar. Somente assim, a Igreja poderá
dizer ainda uma palavra aos que buscam uma esperança. Tudo quanto encontramos
em Cristo podemos e devemos encontrar na Igreja. Mas tudo quanto não
encontramos em Cristo, não o podemos aceitar como Igreja. Podemos dizer que não
podemos encontrar Deus onde não existe um amor que seja o amor que levou Cristo
à morte pelos outros. Deus morreu quando a consciência é substituída pelo
autoritarismo ou pelo poder mundano ou pelos interesses de egoísmo. Desta
maneira transmitiremos uma imagem falsa de Cristo para os outros. Este tipo de
cristo, ninguém aceita.
Diante destas respostas todas Jesus não dá nenhuma
opinião. Ficamos pensando o que tinha na cabeça de Jesus diante destas
respostas? O evangelho não relatou a reação de Jesus. Simplesmente Ele estava
em silêncio diante de tudo isso. Em vez disto, Jesus lança outra pergunta
diretamente aos discípulos: “Mas para vós, quem sou Eu?” (v.20). É uma
pergunta fundamental, porque implica a nossa própria identidade cristã. Jesus
agora não pede uma opinião, mas uma opção; não uma teoria, mas uma confissão;
não uma conclusão de um discurso, mas uma tomada de posição, porque a questão:
“O que significa seguir a Jesus” não pode ser separada da questão sobre a
identidade de Jesus: “Quem é Jesus (para mim)?” A resposta do povo já não
serve. A pergunta exige uma resposta sem meias-palavras. A pergunta exige uma
tomada de posição. Estar com Jesus em pessoa não era suficiente. Ter o
conhecimento da multidão não era suficiente. É necessário que seja Deus quem
nos revele a cada um o conhecimento da verdadeira identidade de Jesus. Somente
assim, conheceremos com todo o nosso coração, a nossas mente e a nossa alma
quem é Jesus verdadeiramente. Se as pessoas tinham idéias vagas e
contraditórias sobre Jesus Cristo é porque o Espírito Santo não lhes tinha
revelado quem era Jesus Cristo.
Diante da pergunta dirigida aos discípulos
Pedro afirma, em nome dos discípulos: “Tu és o Cristo de Deus” (9,20). Lucas
acrescenta “de Deus” ao que Marcos escreveu como o simples “Messias/Cristo” (Mc
8,29). O genitivo adicional “de Deus” que Lucas acrescenta expressa uma relação
especial de Jesus como Messias com o Pai (compare Lc 2,26;23,35;At 3,18). Mas
este relacionamento não tira Jesus do caminho de sofrimento e de morte.
Pedro professa que Jesus é o Messias/Cristo(o
ungido), isto é, o plenipotenciário de Deus, aquele que traz a última palavra
de Deus, aquele que inaugura os tempos escatológicos. Cristo é o ungido, o
enviado de Deus sobre a terra; ele é a porta aberta para o mistério de Deus; é
aquele que nos traz os segredos do alto; e
é aquele que nos orienta para o alto em que ele mesmo é o Caminho(Jo
14,6).
O título que Pedro emprega para Jesus, o
Cristo de Deus, nos conecta com a grande esperança de Israel. Pedro, que tem
visto como Jesus tem pregado o Reino e há levado a cabo sinais e prodígios,
reconhece nEle como aquele que veio para restaurar o reino para Israel(At 1,6).
Mas Jesus “proibiu-lhes severamente de
anunciar isso (“Cristo de Deus”) a alguém” (v.21). Por que esta proibição? Sem dúvida, Jesus impõe silêncio aos seus
discípulos sobre esta confissão messiânica certamente antes de anunciar-lhes
sua morte próxima (v.22) porque Jesus quer esvaziar todos os equívocos dos seus
discípulos que poderiam resultar de uma confissão prematura de sua
messianidade. A partir de então os discípulos de Jesus poderão proclamar
claramente que Jesus é o Messias (At 2,36). A morte e a ressurreição de Jesus
lhes manifestarão em plenitude sua messianidade que se inicia aqui na confissão
de Pedro. Por isso, os discípulos devem seguir o caminho até Jerusalém. No
seguimento de Jesus até o Gólgota lhes será revelado plenamente o mistério de
sua pessoa como Messias. Em outras palavras, o anúncio de Jesus como o Messias
de Deus para todo o povo (e não apenas para Israel) é reservado para depois da
Páscoa (At 2,36).
Jesus continua dirigindo esta pergunta à
Igreja e aos cristãos de todos os tempos. Todos são chamados a não contentar-se
com uma opinião, uma teoria, ou uma doutrina a respeito de Jesus, por nova e
moderna que ela seja. Podemos até perguntar se temos realmente consciência da
importância e da seriedade de nossa fé no Deus que Jesus Cristo nos revelou? É
preciso compreendermos até que ponto esta fé deve logicamente transformar nossa
vida. Engajar-se na vida cristã sem ter tomado consciência de que nos ligamos a
Jesus Cristo que deve transformar tudo em nossa vida significa não ter
verdadeiramente compreendido o apelo que Jesus nos dirigiu.
Pedro acaba de professar que Jesus é o Cristo
de Deus. Mas não basta sabermos que Jesus é o Messias de Deus. Não basta
entendê-lo. É necessário que cada um se comprometa com ele e com sua missão. Em
outras palavras, temos que nos identificar com a sua messianidade.
Por isso, logo depois da confissão de Pedro,
Jesus faz o primeiro dos anúncios da sua paixão, morte e ressurreição, anúncios
que são comuns para os sinóticos (cf. Lc 9,44;18,31-33): “É necessário que o
Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes
e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia” (v.22). Com este anúncio
Jesus quer afastar dos discípulos um sonho sobre um Messias política.
O cumprimento do projeto de Deus passa
através da paixão, que inclui a rejeição pública e a morte violenta de Jesus
causada por aqueles que gostam de reter o poder na mão. O sofrimento do Filho
(e dos seguidores) está, então, na proporção da maldade do mundo. Por esta
razão, quem pretender fazer o bem, esteja preparado para ser crucificado e
rejeitado. Lucas quer nos mostrar, assim, que Deus permanece fiel e salvador
também na situação extrema de uma morte infamante. Mas o caminho traçado por
Deus não decepciona as expectativas e projeções humanas, porque Jesus, de fato,
ressuscitará “ao terceiro dia”. Esta é a nossa esperança em qualquer dificuldade
encontrada.
Jesus Que Nos Põe As Condições
Para Segui-Lo
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si
mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida,
vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”
(Lc 9,23-24).
O discípulo caminha após Jesus e O segue. Um discípulo
é um seguidor. Caminhando Jesus para o sofrimento e a morte, deve então o discípulo
estar pronto para seguir pelo caminho do sofrimento e da morte por amor a Deus
e ao próximo. Ser discípulo de Jesus significa ser imitador do amor a Deus e ao
próximo até o fim (Cf. Jo 13,1). A imitação dos sofrimentos de Jesus consiste
em “renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia”. Quem se decide por Jesus,
quem vive conforme suas Palavras, que executa a vontade de Deus, como Jesus a
anuncia, ele encontrará resistência tanto do interior como do exterior. Os homens
odiarão e desprezarão os discípulos em função de defender seus interesses egoístas.
Jesus põe condições para segui-Lo: Renunciar
e perder a vida, e carregar cruz diariamente. Seguir é ir atrás de alguém.
Pedro foi chamado de Satanás porque quis ficar na frente de Jesus (Mt 16,23).
Jesus indica a Pedro que seu lugar não é na frente, mas detrás de Jesus, no seu
seguimento. Quem pretende ficar na frente de Jesus perde seu rumo, pois perde o
ponto de referência que é o próprio Jesus.
A). Renunciar A Si Mesmo
Renunciar a si mesmo não significa uma
resignação cansada diante da vida (entregar os pontos). Ele significa antes de
tudo a libertação da própria liberdade, dos egoísmos para se entregar
inteiramente a Deus. Por isso, A renúncia que Jesus pede de nós não é uma ação
negativa. Ele pede amor, doação de si mesmo. O amor é a força que liberta do
apego profundo. Amar é dar, mesmo que seja a própria vida, pelo amado. Jesus é
o exemplo disto (Jo 15,12-13). Por esta razão, a renúncia de si mesmo que não
seja animada pelo amor, que não seja uma manifestação de amor, que não seja uma
expressão de doação de si mesmo, que não leve à comunhão com os outros é apenas
tortura auto-infligida.
Neste contexto entra também uma lógica
paradoxal do seguimento em que para ganhar a vida tem que perdê-la por causa de
Cristo (v.24). Perder a própria vida por Jesus Cristo é a única maneira de
salvaguardá-la para a eternidade. O homem se encontra e se salva, doando-se.
Jesus é o exemplo disto, pois ele se doou até o fim a Deus e aos homens por
amor. Por isso, somente quem crê que o amor é a realidade última e
indestrutível, somente quem acredita que o amor tem a última palavra porque
Deus é amor (1Jo 4,8.16), estará disposto a “perder” todas as realidades penúltimas
e perecíveis por causa do amor por Deus que se traduz na doação de si para os
outros.
B). Tomar A Cruz Cada Dia
Se a cruz expressa a vida do cristão é porque
a existência do crente é definida pela vida de Jesus cujo ponto culminante é
sua entrega na cruz. O caminho da cruz é uma proposta dirigida a todos (v.23).
Carregar a cruz é a conseqüência lógica de uma opção levada a cabo. Isto quer dizer que não pode fugir da própria
vida em função da busca ilusória de uma felicidade fácil. É permanecer fiel aos
caminhos propostos por Jesus Cristo mesmo quando eles nos cobram uma porção de
morte. O sinal da nossa fidelidade a Jesus Cristo passa pela cruz. A cruz é o
preço do nosso seguimento a Jesus. Ela não é um acidente de percurso. Todo
aquele que quer seguir a Jesus incondicionalmente deve estar pronto para
percorrer todos os passos da Paixão. Há dias em que a cruz fica mais pesada,
enquanto em outros dias ela fica mais leve.
Lucas sublinha aqui uma expressão, que não se
encontra no texto paralelo de Marcos “cada dia” (Lc 9,23): carregar a cruz cada
dia. Com isto, Lucas quer nos indicar que a cruz é uma atitude permanente da
existência cristã e que não está falando de um ato isolado, por mais importante
que ele seja. Trata-se de uma interpretação espiritual importante para os
cristãos de todos os tempos; trata-se de uma afirmação de Jesus que alude
originalmente ao martírio (Mc 8,34). Lucas quer nos dizer que na vida
cotidiana, e não somente na grande perseguição ou no martírio, é que o cristão
deve manifestar sua fidelidade a Jesus.
Para não esquecer: quem é Jesus para mim? E
quem sou eu para Jesus? Cristo está vivo, ele ressuscitou, por isso, não é uma
mera recordação histórica. Ele é uma pessoa de hoje, vivo, próximo e nosso
amigo. O que significa para mim carregar a cruz diariamente? Cada um sempre tem
seus “vícios”. Sou capaz de renunciar a tudo isto para ganhar mais a liberdade
para fazer o bem? Qual é o centro da minha vida? Ou já o perdi porque vivo
satisfazendo minhas necessidades imediatas? Será que por causa disto sou mais
solitário do que solidário?
P. Vitus Gustama,svd
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