14/05/2020
O AMOR CRISTÃO É UM AMOR
CIRCULANTE:
DE DEUS PARA JESUS E DE JESUS
PARA NÓS E DE NÓS PARA OS OUTROS
Quinta-Feira
da V Semana da Páscoa
Naqueles dias, 7 depois de longa discussão, Pedro levantou-se e falou aos
apóstolos e anciãos: “Irmãos, vós sabeis que, desde os primeiros dias, Deus me
escolheu, do vosso meio, para que os pagãos ouvissem de minha boca a palavra do
Evangelho e acreditassem. 8 Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a
favor deles, dando-lhes o Espírito Santo como o deu a nós. 9 E não fez nenhuma
distinção entre nós e eles, purificando o coração deles mediante a fé. 10
Então, por que vós agora pondes Deus à prova, querendo impor aos discípulos um
jugo que nem nossos pais nem nós mesmos tivemos força para suportar? 11 Ao
contrário, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos ser salvos, exatamente
como eles”. 12 Houve então um grande silêncio em toda a assembleia. Depois
disso, ouviram Barnabé e Paulo contar todos os sinais e prodígios que Deus
havia realizado, por meio deles, entre os pagãos. 13 Quando Barnabé e Paulo
terminaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: “Irmãos, ouvi-me: 14 Simão
acaba de nos lembrar como, desde o começo, Deus se dignou tomar homens das
nações pagãs para formar um povo dedicado ao seu Nome. 15 Isso concorda com as
palavras dos profetas, pois está escrito: 16 “Depois disso, eu voltarei e
reconstruirei a tenda de Davi que havia caído; reconstruirei as ruínas que
ficaram e a reerguerei, 17 a fim de que o resto dos homens procure o Senhor com
todas as nações que foram consagradas ao meu Nome. É o que diz o Senhor, que
fez estas coisas, 18conhecidas há muito tempo’. 19 Por isso, sou do parecer que
devemos parar de importunar os pagãos que se convertem a Deus. 20 Vamos somente
prescrever que eles evitem o que está contaminado pelos ídolos, as uniões
ilegítimas, comer carne de animal sufocado e o uso do sangue. 21 Com efeito,
desde os tempos antigos, em cada cidade, Moisés tem os seus pregadores, que
leem todos os sábados nas sinagogas”.
Evangelho: Jo 15,9-11
Naquele
tempo, disse Jesus a seus discípulos: 9 “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. 10Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu
guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. 11Eu vos
disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja
plena”.
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Concilio de Jerusalém e a
Abertura da Igreja a Ação do Espirito Santo
“Por
que vós agora pondes Deus à prova, querendo impor aos discípulos um jugo que
nem nossos pais nem nós mesmos tivemos força para suportar? Ao contrário, é
pela graça do Senhor Jesus que acreditamos ser salvos, exatamente como eles”.
A Primeira Leitura de hoje é a continuação do
texto da Primeira Leitura do dia anterior. No texto de hoje, o autor dos Atos
dos Apóstolos nos apresenta o chamado Concílio de Jerusalém e dá um certo
destaque sobre a importância deste Concilio. O episódio, situado
intencionalmente no centro do livro dos Atos, é como o eixo de sua dinâmica
narrativa: há um antes e um depois, está Jerusalém com sua comarca e a diáspora
com a missão entre os pagãos, Pedro e Paulo.
O motivo da convocatória está em At 15,5: “Alguns
dos que tinham pertencido ao partido dos fariseus e que haviam abraçado a fé
levantaram-se e disseram que era preciso circuncidar os pagãos e obrigá-los a
observar a Lei de Moisés”.
A decisão favorável do Concílio tem três
fases culminantes. Primeira fase, o discurso de Pedro (At
15,6-12). Neste discurso Pedro invoca três fatos: a conversão de Cornélio, o
jugo insuportável da Lei e a salvação de todos pela graça de Jesus. A segunda fase:
o discurso de Tiago (At 15,13-21) líder respeitado da comunidade judaica de
Jerusalém. No discurso, Tiago invoca um texto universalista da Escritura, mas
pede que se observem as chamadas “cláusulas
de São Tiago”: “Sou do parecer que
devemos parar de importunar os pagãos que se convertem a Deus. Vamos somente prescrever que eles evitem o
que está contaminado pelos ídolos, as uniões ilegítimas, comer carne de animal
sufocado e o uso do sangue”. Aqui se enfatiza alguns aspectos que
creram razoáveis ser exigidos a todos: evitar a idolatria e a fornicação,
e também manter a norma de não comer sangue nem animais estrangulados pelo
caráter sagrado que se atribui ao sangue. Praticamente, são Tiago quer nos
dizer que para ser cristão, não precisa ser judeu. Assim como para ser
muçulmano não precisa ser árabe ou para ser hinduísta não precisa ser indiano.
É procurar classificar o que é essencial e o que é secundário; o que é cultural
e o que é a semente divina. A terceira fase: o
decreto do Concílio (At 15,22-29) e a promulgação do decreto apostólico em
Antioquia (At 15,30-35): “... devemos
parar de importunar os pagãos que se convertem a Deus. 20 Vamos somente
prescrever que eles evitem o que está contaminado pelos ídolos, as uniões
ilegítimas, comer carne de animal sufocado e o uso do sangue”.
Qual lição que podemos tirar do Concílio de
Jerusalém? A assembleia/Concílio em Jerusalém deu-nos a imagem de uma
comunidade capaz de escutar, de valorizar prós e contras, de saber reconhecer
os passos de abertura que o Espirito Santo lhes está inspirando ainda que sejam
incomodados pela formação cultural e religiosa recebida. Quando todos se
deixarem inspirar e conduzir pelo Espirito Santo tudo tem saída e solução. Se
nos deixarmos guiar pelo Espirito Santo à luz da fé e da experiência dos demais
e o que Deus quer em cada momento, formaremos uma comunidade mais cristã e
plena do Espirito Santo. A democracia é antes uma atitude pessoal do que um
sistema político. Uma atitude mais tolerante baseada no diálogo em busca de
pontos de convergência não somente nos ajuda a sermos melhores cidadãos, mas
também a sermos melhores cristãos. Em tudo o ponto de referência não deve ser
nossas convicções e sim a vontade de Cristo e de seu Espirito que acompanha a
Igreja em todos os tempos e lugares. A abertura ao Espirito Santo é que salva
os que tentam encontrar o caminho para chegar até Deus. E nós cristãos
precisamos ser facilitadores para nossos irmãos para que possam encontrar o
caminho seguro para o céu. Para isso é preciso ter muito amor no coração, pois
o amor é sempre uma boa solução. “O amor é a vida do Espirito” (Santo
Agostinho: In ps. 54,7). “Todo homem busca amor. Busca só o que ama” (Santo
Agostinho: In Joan. 7,1)
Amar É Questão De Qualidade de
Vida, Pois Deus é Amor
O texto do Evangelho se encontra no
discurso da despedida de Jesus dos seus discípulos no evangelho de João (Jo
13-17). Jesus sabe de sua morte iminente e por isso, deu as últimas
recomendações para os seus discípulos.
Hoje Jesus nos disse: “Como meu Pai me
amou, assim também eu vos amei”. Isto quer dizer que o amor cristão nasce e
começa em Deus. Originalmente é coisa de Deus e não nossa. A iniciativa é de
Deus: “Amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Deus é amor
(1Jo 4,8.16), origem e motor do amor. O Filho, Jesus, se origina do Pai num
processo de amor que é o Espírito. Este amor em Deus é comunidade, Trindade. E
este amor vai se manifestando na criação, na encarnação, na filiação, na
amizade, na alegria definitiva do encontro derradeiro. Deus é sempre a origem e
o término. “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. Que profundidade
encontrada nesta afirmação. Eu sou amado de Deus e por Deus. Jesus me ama como
o Pai ama Jesus. Eu sou privilegiado/privilegiada. Eu preciso viver esta
verdade na minha vida cotidiana, em todas as circunstâncias. Deus me ama e eu
creio no Seu amor. Com o amor divino por mim eu posso encarar tudo na minha vida
como o amado/amada de Deus. Quanta serenidade terei eu se eu viver
profundamente esta verdade! Não há nada que possa me separar do amor de Deus
(cf. Rm 8,35-39).
E o sinal mais evidente, a encarnação desse
amor divino é Jesus: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho
único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo
3,16). Jesus é a medida do amor de Deus e o exemplo a seguir. Todas as palavras
de Jesus, todas as obras de Jesus são manifestação do seu amor por nós todos.
Jesus é o amor de Deus feito rosto humano.
E este amor que nasce no Pai e passa por
Jesus termina necessariamente nos irmãos. O amor cristão tem dois polos: Deus e
os irmãos (o homem). Quem não ama o irmão, não conhece Deus, não conhece Jesus,
não entendeu o que é a fé cristã. Sem amor a Deus e ao irmão, não há fé cristã.
Amor cristão é, então, um amor circulante: o
amor que vem do Pai para o Filho, Jesus e de Jesus para nós e de nós para os
irmãos.
“Como meu Pai me amou, assim também eu vos
amei”. É maravilhoso o que Jesus nos diz hoje. Há alguém que me ama com o
amor divino: Jesus Cristo. O amor com que Jesus me ama é o mesmo amor com que
Ele é amado pelo Pai. Diante de Deus sou amado e sou amado eternamente, porque
Aquele que me ama é eterno: “Eu te amei com amor eterno, por isso, conservei
para ti o amor”, diz Deus através do profeta Jeremias (Jr 31,3). Posso
estar rodeado pelas dificuldades ou problemas, mas eu sei que há alguém que me
ama. A certeza desse amor eterno por mim me dá força para lutar e para melhorar
minha vida. A certeza desse amor eterno me dá serenidade em tudo. De fato, eu
não estou sozinho na minha luta de cada dia, pois há alguém que me ama: “Como
meu Pai me amou, assim também eu vos amei”. Na minha oração só posso dizer
a Jesus: “Obrigado, Senhor Jesus, porque me ama eternamente”.
Mas a relação com Deus não é algo automático.
Por isso, Jesus acrescenta: “Permanecei no meu amor”. A palavra “permanecer” é uma forma de acreditar em Jesus,
de deixar-se penetrar pelo amor de Jesus, de deixar-se envolver pela ternura. É
uma entrega total em Jesus para que Ele possa operar totalmente em nós a fim de
que possamos ser reflexos do mesmo amor para o mundo ao nosso redor.
“Se guardardes os meus mandamentos, vós
permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e
permaneço no seu amor”.
Este “Se” é inquietante para nós, porque é a
responsabilidade de nossa liberdade. Eu sei que Deus me ama, mas será que eu
permaneço no amor de Deus? Eu sei que sou filho (a) de Deus, mas será que eu
vivo como tal? Eu sei que faço parte da família de Deus, mas será que estou
dela? São Paulo nos esclarece sobre este tema ao nos dizer: “Não devais nada
a ninguém, a não ser o amor mutuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei... A
caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude
da Lei” (Rm 13,8.10). Tudo isto significa que o amor divino com que eu sou
amado deve também transparecer e circular na minha relação com os outros. Nisto
mostrarei que eu permaneço no amor divino.
O amor fraterno quando for vivido na sua
profundidade leva a pessoa à alegria: “Eu vos disse isso para que a minha
alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,11). A
verdadeira alegria brota do amor e da fidelidade com que se guardam na vida
concreta as leis do amor. Sentiremos essa alegria na medida em que
permanecermos no amor a Jesus, guardando os mandamentos de amor, seguindo o
estilo de sua vida.
Se
vivermos tristes, será que isso acontece por causa da falta de nossa permanência
no amor divino? Será que abandonamos o amor na nossa vida, por isso é que
ficamos tristes o tempo todo? Será que nosso amor está nem morno nem quente,
como diz o livro de Apocalipse (Ap 3,16)?
P. Vitus Gustama,svd
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