quinta-feira, 28 de maio de 2020

Domingo,31/05/2020
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PENTECOSTES
I Leitura: At 2,1-11
1Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? 9Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”


II Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13
Irmãos: 3bNinguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. 4Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito.


Evangelho: Jo 20.19-23
19Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.
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Pentecostes: Plenitude Da Páscoa


Celebramos hoje a festa de Pentecostes. Pentecostes é a culminação do mistério pascal. Em Pentecostes celebramos a Páscoa em sua plenitude. De fato, desde o primeiro dia dos cinquenta dias do tempo pascal, estamos celebrando o mistério pascal como vitória de Cristo. Neste dia celebramos o Espirito como dom pascal de Cristo glorificado, o mistério da Igreja como obra do Espirito e a missão evangelizadora que o Espirito impulsiona.


A palavra “Pentecostes” vem do grego “pentekostê” significa exatamente “quinquagésimo” dia (cf. Tb 2,1; 2Mc 12,32). Originalmente “Pentecostes” era uma festa agrícola na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo, por volta de maio-junho, isto é, ocorre no “quinquagésimo” dia depois da Páscoa.


Pentecostes ou “festa das semanas” era a festa israelita celebrada sete semanas depois da Páscoa, quando terminava a colheita (Ex 34,22; Nm 28,26). No século I d.C., de festa agrícola tornou-se a festa histórica em que se lembrava o dom da Lei no Sinai e a constituição do povo, libertado da escravidão do Egito, como povo de Deus. Por isso, o barulho, o vento e a violência mencionados em At 2,2 (Primeira Leitura: At 2,1-11), são típicos da aliança do Sinai (Ex 19,6). O vento vem do céu como o que sopra sobre a montanha (Ex 19,3; Dt 4,36). As línguas de fogo também se explicam no contexto do Sinai (At 2,3).  Estas línguas foram do fogo como se relata em Ex 19,18; 24,17, bem como em Dt 4,15; 5,5, que na teofania do Sinai, mostram Javé (Deus) falando na flama (chama).


Assim, para os primeiros cristãos, Pentecostes aparece como a inauguração da Nova Aliança e a Promulgação de uma lei que não é mais gravada sobre a pedra e sim no Espírito e na liberdade (At 2,4; cf. Ez 11,19; 36,26). O essencial é este: Deus não dá apenas uma lei, mas seu próprio Espírito através de vários carismas ou dons.


A menção da “multidão”, “plêthos” (At 2,6) é uma alusão à promessa feita a Abraão de um dia ser pai de uma “multidão” (plêthos) de nações (Gn 17,4-5; Dt 26,5). Aqui as nações estão presentes de modo simbólico, pois a multidão é composta apenas de judeus que deixaram provisória ou definitivamente sua Diáspora para vir a Jerusalém em peregrinação ou para ai se estabelecer (At 2,9-10). A lista das nações é bastante heteróclita (distinta), a menção dos crentes e dos árabes (At 2,11). Simbolicamente trata-se da universalidade. Isto significa que a Igreja nasceu universal (a Igreja é católica, universal), e a aliança que o Espírito concluiu com a Igreja interessa ou serve para toda a humanidade pela sua salvação. E por ser universal, a Igreja será sempre missionária até o fim dos tempos a serviço de todas as línguas e de todas as culturas e de todos os povos. O cristão é batizado para ser missionário.


Além de tudo isso, ao afirmar que O Espírito Santo tinha descido sobre os discípulos justamente no dia de Pentecostes, Lucas nos quis ensinar só uma coisa: que o Espírito Santo tinha substituído a Lei antiga e ele se torna a nova Lei para os cristãos. Qual é a Lei do Espírito Santo? É o coração novo, é a vida de Deus que, quando penetra no ser humano o transforma e produz naturalmente as obras de Deus. Quando o homem é permeado pelo Espírito Santo, nele acontece algo inaudito: ama com o mesmo amor de Deus. João chega a dizer que o homem animado pelo Espírito Santo é simplesmente incapaz de pecar: “Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele; ele não pode pecar porque nasceu de Deus” (1Jo 3,9).


A narrativa da vinda do Espírito Santo nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) é muito simples. Os discípulos de Jesus estão reunidos numa sala. Do céu vem um barulho, como de forte vendaval, e enche a casa. Aparecem línguas de fogo, que pousam sobre cada um. Esses elementos: barulho, vento e fogo, são típicos das manifestações de Deus. Significam que Deus está agindo.


O Espirito Santo Como Dom


O fato de tudo isso vir “do céu” indica o dom de Deus, isto é, o Espírito Santo não é uma invenção dos cristãos, mas um dom que lhes foi dado, conforme a promessa de Jesus (Jo 14,15-17). O ES não é um produto da sugestão humana. Ele é uma força irresistível que foge ao controle e às manipulações humanas. Ele sopra para onde quer (cf. Jo 3,8)


O que significa que o ES é um Dom?


Primeiro, a descrição do ES como Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino da Graça. Isto significa que Deus derrama seu Espírito e seus dons sobre o seu povo, não como promoção por suas realizações, e sim na liberdade de sua misericórdia e graça. Deus não exige um pagamento velado em troca de seus dons. Seus dons levam a consequências que mudam a vida, sem quaisquer precondições, exceto a vontade para que recebamos o dom. O Dom do Espírito Santo, então, nos faz lembrar que não estamos vivendo num mundo calculista de benefícios conferidos em proporção às condições atendidas, mas no reino de um Pai gracioso, que derrama generosamente seu Espírito, em graça livre e incondicional para todos nós.


Segundo, a descrição do Espírito Santo como um Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino dos relacionamentos dinâmicos, do movimento que vem de um doador para um receptor, de abertura de uma pessoa para outra. A palavra Espírito Santo é uma palavra que tem significado apenas num relacionamento. Ele é o que é e faz tudo o que faz apenas dentro de uma rede de relacionamentos divinos e divino- humanos.


Terceiro, quando descrevemos o ES como um Dom, estamos deixando claro que nos encontramos no campo pessoal. Um dom só é um dom, no sentido apropriado da expressão, quando incorpora a intenção de um doador no sentido de dá-lo, e é recebido como dom apenas quando o receptor reconhece essa intenção. Uma vaca não dá o leite; o leite é tirado dela. O ES transmite e expressa o amor a todos nós e nós o recebemos, por isso é que ele é um dom. Quando Deus em Cristo nos doa o Espírito, ele nos doa nada menos que a si mesmo. Por isso, o Dom é um sujeito, vivo, atuante, que ama, soberano e livre.


O Espirito Santo Possibilita Comunicação


Conforme o texto, o ES se manifesta simbolicamente como “línguas de fogo”. A língua é instrumento de comunicação, de fala, e dá origem à linguagem, que é o meio dos seres humanos se comunicarem. Mas São Tiago (Tg 3,1-10) alerta que a língua pode desviar o homem do caminho de Deus e pode transtornar sua vida e desvia a linguagem do seu uso correto.  Segundo São Tiago, a língua, por menor que seja, é uma força devastadora capaz de pôr a vida a perder. O poder da língua pode sujar o corpo inteiro, tanto para quem fala como também o corpo no sentido de uma comunidade inteira. Temos impressão de que muita gente ainda não consegue domesticar a língua por isso causa a inquietação e o sofrimento em muitas pessoas.


O fato de o ES se manifestar simbolicamente como “línguas de fogo” nos leva diretamente ao seu significado que o dom do ES não é para a edificação pessoal, mas para a comunicação, e concretamente, para a comunicação da “boa notícia” do Evangelho, que transforma as relações e faz surgir a fraternidade e a partilha que podem proporcionar liberdade e vida para todos.


Efeitos Do Espirito Santo


O efeito do dom do ES ou a ação interior e transformadora do ES torna-se externamente uma nova capacidade de comunicação: conforme o texto (At 1,4) “começaram a falar outras línguas”. Mas não se trata do fenômeno como falar em línguas que ninguém compreende. Falar em línguas incompreensíveis não comunica nada a ninguém. A linguagem foi feita para produzir comunicação entre as pessoas. Trata-se aqui claramente, do horizonte universal e ecumênico do novo povo mobilizado pela força unificante do ES. Poder-se-ia ver neste elenco de povos, reunidos para escutar a voz do ES na própria língua nativa, uma referência à dispersão dos povos e à confusão das línguas depois de Babel (Gn 11,1-9). A humanidade, dispersa e dividida depois da tentativa de construir um imperialismo religioso- político, é reunida pela força do ES que unifica os diferentes grupos humanos, respeitando e promovendo as características culturais, das quais a língua é expressão. Nem a força ou a repressão, nem a planificação econômica ou política podem assegurar a unidade dos povos ou dos grupos, mas sim o poder interior do ES, que promove com a liberdade e o amor novas relações e cria espaços alternativos de comunicação.


O ES produz unidade ao mesmo tempo que promove diferentes maneiras de servir, (1Cor 12,3-7.12-13). Ele é a força criadora de diferenças e de comunhão entre as diferenças. É ele que suscita entre as pessoas os mais diversos dons e nas comunidades os mais diferentes serviços e ministérios, como se ensina nas cartas aos Romanos (Rm 12) e aos Coríntios(12). Mas esta diversidade não decai em desigualdades e discriminações porque bebemos da mesma fonte que é o Espírito Santo (1Cor 12,13). Os dons não são dados para a autopromoção, mas para o bem da comunidade (1Cor 12,7). O Espírito Santo interfere para melhorar e não para atrapalhar a comunicação da Igreja de Jesus Cristo. A comunidade fundada em Pentecostes (no Espírito Santo) é um lugar de diálogo, de encontro, de comunicação, de unidade (não necessariamente uniformidade), de acolhimento. O erro não está em sermos diferentes. O erro está em sermos divididos. A comunidade nascida em Pentecostes não é o lugar da lei que mata mas é o lugar do Espírito Santo, isto é, o lugar da abertura e da vida, do reconhecimento e do despertar, o lugar de uma libertação fundada no amor. O amor é o caminho para Deus, o único carisma realmente imprescindível na vida cristã, o carisma que jamais cessará.


O ES habita os corações das pessoas (1Cor 3,16), dando-lhes entusiasmo, coragem e determinação. Ele consola os aflitos e mantém viva a esperança. Ele nos consola, exorta e ensina como as mães fazem junto a seus filhinhos (Jo 14,26;16,13).


O Espirito Santo E Seus Frutos Na Vida Cristã


Outros frutos do Espírito Santo são o amor, a bondade, moderação e autocontrole, cortesia, mansidão e longanimidade, jovialidade e paz (veja Gl 5,22-24).


Segundo Gálatas, o amor que é o fruto do ES se expressa através de cordialidade, simpatia, coração bom. Trata-se de uma atitude típica da interioridade; é a disposição interior para o pensar bem, para o falar bem, para o agir bem. O amor traduzido com cordialidade, simpatia (simpatia vem do grego sumpáscho que significa igualar-se ao outro, ter uma atitude de profunda sintonia com o outro), coração aberto é a capacidade imediata de entender os sofrimentos e as alegrias de quem está perto de nós; é um coração espaçoso, raiz de toda a moral do NT. O amor é a virtude pela qual resplandecem até mesmo as coisas mais pequenas, e os gestos mais simples se tornam belos e construtivos. Tudo que se faz com amor, por pequeno que seja, se torna uma obra prima. E nada vale aquilo que se faz sem amor, por maior que ele seja.


A bondade é fruto do ES. A bondade é um reflexo da atitude divina. Ela é a prerrogativa daquele que se compraz em fazer por primeiro o bem, em suscitar sempre e somente o bem ao seu redor. Ela é uma qualidade criativa(tudo que Deus criou era bom. cf. Gn 1). Nossa bondade é nada mais que uma participação, no ES, da característica divina, e por isso, é bela, criativa, fascinante, capaz de suscitar uma sociedade nova. Nenhum coração resiste diante da bondade. Se a bondade é fruto do ES, então, ela é um dom a ser invocado, a ser implorado, dispondo-nos a acolhê-lo com humildade e reconhecimento.


Outro fruto do ES é a moderação. A palavra que se usa em grego é epieíkeia (ocorre 7 vezes no NT) que significa respeito, afabilidade, acessibilidade, moderação, flexibilidade e equilíbrio ao aplicar as leis, as regras; é capacidade de saber prever também as oportunas exceções às regras. Trata-se de uma atitude fundamental na vida social. O contrário da moderação é a arrogância, a petulância, a rudez, a presunção, a falta de educação etc.


O domínio de si ou autocontrole, que é outro fruto do ES, está muito ligado à moderação. É uma atitude que exige de si o respeito pelo outro, mantendo sob controle os próprios sentimentos ou instintos de poder e de prevaricação, de ser oportunista diante da fragilidade do outro. O autocontrole evita todo senso de superioridade e toda violência física, verbal e moral nos relacionamentos; evita a exploração da dignidade alheia; evita a busca da própria vantagem, do próprio prazer em prejuízo da dignidade ou do interesse de alguém. É uma virtude social fundamental.


A cortesia é outro fruto do ES. Ela é a atitude de Deus em relação ao homem, o modo com o qual o Senhor se comporta conosco, segundo o que Jesus diz: “Ele é benévolo (chrestós) para os ingratos e para os maus” (cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher, de ir ao encontro do outro fazendo-o sentir que é bem-vindo, esperado, amado. Quando uma pessoa se sente acolhida, estimada e compreendida, ela se solta, fala, dá corda ao discurso.


Outro fruto do ES é a mansidão. Ela é uma atitude que facilmente pode ser mal interpretada, pois é confundida com a fraqueza ou com a ingenuidade. Mas, na verdade, ela é a atitude típica de Jesus que se autodefine manso (cf. Mt 11,29). E ela é uma das bem-aventuranças por ele proclamada (cf. Mt 5,5). Mansidão é a atitude que acalma a ira ou cólera. A mansidão é a atitude de quem elimina ou modera a própria cólera e a dos outros; é responder à ira com a ponderação.


A longanimidade é outro fruto do ES. É uma virtude que está ligada estreitamente à cortesia e à mansidão. Ela permite sustentar no tempo a esperança (Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela é a capacidade de saber investir, sem pretender a obtenção de resultados imediatos ( o contrário da precipitação). Ela é a atitude que permite superar frustrações, que permite superar a irritação e o desencorajamento diante da aparente esterilidade da ação apostólica, educativa, formativa. Ela nos permite semear, eventualmente com sofrimento, olhando para a colheita que nos será dada pelas mãos de Deus. Ela nos convida a ter coragem e a resistir, na certeza de que da resistência virá a alegria.


Outro fruto do ES é a alegria/jovialidade (cf. Fl 4,4-7). O termo grego “chará” que se traduz por “alegria”, ocorre 59 vezes no NT, sem contar os sinônimos e os verbos a ele ligados. É muito mais fácil experimentar a alegria do que defini-la. Ela é a atitude que torna tudo mais fácil. “Deus ama a quem doa com alegria” (2Cor 9,7), pois quem doa com alegria, doa bem. Ela é a capacidade que torna outros felizes e contentes. Ela é um sinal claríssimo da presença do ES. Se quisermos entender onde o ES está agindo, precisamos verificar a presença ou a ausência da alegria. Onde há a alegria, está aí o ES. O objetivo da obra de Jesus é o tornar-nos plenos de alegria: “Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (cf. Jo 16,22-24). Por isso, ela é a característica típica do Reino de Deus.


O oposto da alegria é a tristeza, aquele sentimento pelo qual tudo parece mais pesado. E uma variante da tristeza é a depressão ou mau humor, a melancolia, o descontentamento. Como resistir à atitude da tristeza? Como superar a depressão? É invocar o ES, pois a alegria é o dom do ES. É preciso invocar o ES, na certeza de que a alegria existe, de que ela está no fundo de nós mesmos, porque ela é a presença de Jesus ressuscitado ainda que esteja escondida. A alegria vem e virá, e tal certeza, cultivada no coração, ajuda a superar depressões, maus humores, escuridão etc....


Outro fruto conjuntural e central do ES é a paz (shalom), que representa também uma espécie de síntese de todo bem na Bíblia. Biblicamente a paz é entendida como todo e qualquer bem, humano e divino. Por isso, São Paulo até diz: “E a paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensão, guardará vossos corações e vossos pensamentos em Jesus Cristo (Fl 4,7). A paz podemos definir como a atitude que nos defende da ânsia, que reina sobre a ânsia, que a domina. Ela é, obviamente, dom de Deus, do Espírito; é a riqueza que o Espírito derrama sobre os que a acolhem. A paz é a sensação de sentir-se em casa, de ter familiaridade com o ambiente em que vivemos. E sentir-se em casa com Deus, em Deus; o repouso em Deus é a paz que bloqueia a inquietude do coração. Como dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. A paz é sentir-se em casa com os outros, quando os relacionamentos são construtivos. A paz leva a pessoa a superar os medos e as desconfianças recíprocas.


O Espirito Santo Transforma Cada Cristão Em Missionário


Para os discípulos, Jesus ressuscitado diz: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (v.21). Jesus é o Enviado por excelência (Jo 3,31-34;5,30;7,17s.28; 8,16.28s.42; 12,44s;16,28).        A missão provém de Deus, que quer dar a vida ao mundo. O envio dos discípulos implica tudo o que visava o ministério confiado a Jesus: glorificar o Pai, fazendo conhecer seu nome e manifestando seu amor (cf. 17,6.26). Do mesmo modo como o Pai esteve presente com Jesus na sua missão, assim os discípulos não estarão nunca sozinhos no cumprimento de sua missão (cf. Mt 28,20).  


Aqui a ressurreição está vinculada à missão. Os discípulos são chamados e enviados para ser testemunhas do anúncio da morte que foi vencida. A Igreja surge ao redor dessa fé na ressurreição. Os discípulos são enviados para proclamar a verdade de que não é qualquer vida pode ressuscitar gloriosamente como a de Jesus, e sim somente uma vida que tem como características: vida de doação, de serviço, de perdão, de fidelidade plena a Deus, como foi a vida de Jesus. Somente assim, o cristão possuirá a vida eterna ressuscitada. Ser enviado significa ser pessoa que lança as sementes da ressurreição feito de justiça, de amor, de reconciliação e de abertura incondicional a Deus. Se um cristão, o enviado, fizer assim, a vida nova e a ressurreição estão germinando. E ele tem que cuidar bem deste germe para que ele possa chegar à sua plenitude.


Dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22). O gesto de Jesus reproduz o gesto primordial da criação dos seres humanos por Deus (Gn 2,7). O Criador “insuflou no homem um sopro que faz viver” (Sb 15,11; Ez 37,9). “Soprar” quer dizer dar vida a quem não tem. Isso significa que o ser humano só existe porque é sustentado pelo sopro de Deus. Trata-se agora da nova criação: Jesus glorificado comunica o Espírito que faz renascer o homem novo (cf. Jo 3,3-8), capacitando-o para partilhar a comunhão divina. O Filho que “tem a vida em si mesmo” dispõe dela a favor dos seus (cf. 5,26.21); e seu sopro é o da vida eterna. 


O Espirito Santo e Pluralidade de Carismas


Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum”. Assim escreveu São Paulo aos coríntios que lemos hoje na Segunda Leitura.


Esta leitura recorda a pluralidade da ação do Espirito Santo. A pluralidade dos carismas e a unidade da Igreja procedem do mesmo Espirito. A pluralidade de carismas é expressão da riqueza e vitalidade da Igreja. Mas há que recordar que ministérios e carismas, em sua diversidade, estão destinados para o bem comum (utilidade comum). Ninguém tem todos os carismas.


Há uma pluralidade de dons para o serviço do único Corpo que é a Igreja. A cada um é dado uma manifestação do Espirito Santo porque o Espirito Santo não é monopólio de ninguém. Assim o Espirito Santo não significa uniformidade sem variedade, não dispersão e sim unidade, não pobreza e sim riqueza. Pentecostes significa reconhecer esta realidade na Igreja, descobrir o próprio carisma e respeitar o carisma dos demais irmãos na Igreja. Os dons ou os carismas são auto-revelação do Espirito Santo. Nos carismas se faz visível o invisível Espirito de Deus. O dom ou o carisma é dado a cada um, mas o que se quer sublinhar não é o individualismo e sim a relação de serviço aos demais. Os carismas são para a edificação da Igreja e não para a promoção pessoal.


Por isso, São Paulo define o critério para distinguir os verdadeiros carisma dos falsos. Primeiro, o carisma autentico deve contribuir sempre para reforçar a profissão de fé no Senhor Jesus Cristo: “Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3).


Segundo critério de juízo se verifica na colaboração dos carismas mais diversos para o único desígnio de Deus (1Cor 12,4-6). O politeísmo pagão ostentava carismas muito variados concedidos por deuses diferentes. Na Igreja, pelo contrário, tudo se unifica na vida trinitária para as funções comunitárias ou para o bem comunitário. Não pode haver oposições entre os carismas, pois a fonte dos carismas é um único Deus. Quando existe alguma oposição entre os carismas é porque não provêm de Deus, isto é, não provêm do Deus trinitário.


Terceiro critério para discernir os carismas: sua maior ou menor capacidade de servir ao bem comum: “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7) e a unidade do Corpo (1Cor 12,12-13). Os carismas são distribuídos por Deus em vista do bem comum. Os carismas devem servir para o crescimento e a vitalidade do Corpo que é a Igreja.


Portanto, quero concluir esta reflexão com as palavras de Inácio de Laodicéia: “Sem o Espírito Santo, Deus se torna longínquo; Cristo fica no passado; o Evangelho vira letra morta; a Igreja, uma simples organização; a autoridade, uma opressão; a missão, uma propaganda; o culto, uma evocação; o comportamento cristão, uma moral de escravos. Mas, com o Espírito Santo, Cristo está presente; o Evangelho é poder de vida; a Igreja torna-se comunhão trinitária; a autoridade, um serviço libertador; a missão, um Pentecostes; a liturgia, um memorial e uma antecipação da glória; e o comportamento torna-se divino”.


E São Basílio afirma: “o Espirito Santo é Fonte de santificação, Luz de nossa inteligência, Ele é quem dá, de Si mesmo, uma espécie de claridade a nossa razão natural para que conheça a verdade. Inacessível por natureza, se faz acessível por sua bondade” (Sobre o Espirito Santo 9,22-23).


“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor e envia o Teu Espírito, e tudo será criado, e renovareis a face da terra”. Assim seja!
P. Vitus Gustama,svd

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