Domingo,31/05/2020
PENTECOSTES
I Leitura: At 2,1-11
1Quando chegou o dia de
Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente,
veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde
eles se encontravam. 3Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e
pousaram sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e
começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. 5Moravam
em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. 6Quando ouviram o
barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os
discípulos falar em sua própria língua. 7Cheios de espanto e admiração, diziam:
“Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8Como é que nós os
escutamos na nossa própria língua? 9Nós, que somos partos, medos e elamitas,
habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da
Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também
romanos que aqui residem; 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós
os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”
II Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13
Irmãos: 3bNinguém pode
dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. 4Há diversidade de dons,
mas um mesmo é o Espírito. 5Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o
Senhor. 6Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as
coisas em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem
comum. 12Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os
membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também
acontece com Cristo. 13De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou
livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e
todos nós bebemos de um único Espírito.
Evangelho: Jo 20.19-23
19Ao anoitecer daquele
dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do
lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio
deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20Depois dessas palavras, mostrou-lhes
as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também
eu vos envio”. 22E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
“Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão
perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.
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Pentecostes: Plenitude Da Páscoa
Celebramos hoje a festa de Pentecostes. Pentecostes
é a culminação do mistério pascal. Em Pentecostes celebramos a Páscoa em sua
plenitude. De fato, desde o primeiro dia dos cinquenta dias do tempo pascal,
estamos celebrando o mistério pascal como vitória de Cristo. Neste dia
celebramos o Espirito como dom pascal de Cristo glorificado, o mistério da
Igreja como obra do Espirito e a missão evangelizadora que o Espirito
impulsiona.
A palavra “Pentecostes” vem do grego “pentekostê” significa exatamente
“quinquagésimo” dia (cf. Tb 2,1; 2Mc 12,32). Originalmente “Pentecostes” era
uma festa agrícola na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo,
por volta de maio-junho, isto é, ocorre no “quinquagésimo” dia depois da Páscoa.
Pentecostes ou “festa das semanas” era a
festa israelita celebrada sete semanas depois da Páscoa, quando terminava a
colheita (Ex 34,22; Nm 28,26). No século I d.C., de festa agrícola tornou-se a
festa histórica em que se lembrava o
dom da Lei no Sinai e a
constituição do povo, libertado da escravidão do Egito, como povo de Deus. Por isso, o
barulho, o vento e a violência mencionados em At 2,2 (Primeira Leitura: At
2,1-11), são típicos da aliança do Sinai (Ex 19,6). O vento vem do céu como o
que sopra sobre a montanha (Ex 19,3; Dt 4,36). As línguas de fogo também se
explicam no contexto do Sinai (At 2,3). Estas
línguas foram do fogo como se relata em Ex 19,18;
24,17, bem como em Dt 4,15; 5,5, que
na teofania do Sinai, mostram Javé (Deus) falando na flama (chama).
Assim, para os primeiros cristãos,
Pentecostes aparece como a inauguração da Nova Aliança e a Promulgação de uma
lei que não é mais gravada sobre a pedra e sim no Espírito e na liberdade (At
2,4; cf.
Ez 11,19; 36,26). O essencial é este: Deus não dá apenas uma lei, mas
seu próprio Espírito através de vários carismas ou dons.
A menção da “multidão”, “plêthos” (At 2,6) é uma alusão à promessa feita a Abraão de um dia
ser pai de uma “multidão” (plêthos)
de nações (Gn 17,4-5; Dt 26,5). Aqui as nações estão presentes de modo simbólico,
pois a multidão é composta apenas de judeus que deixaram provisória ou
definitivamente sua Diáspora para vir a Jerusalém em peregrinação ou para ai se
estabelecer (At 2,9-10). A lista das nações é bastante heteróclita (distinta),
a menção dos crentes e dos árabes (At 2,11). Simbolicamente trata-se da universalidade.
Isto significa que a Igreja nasceu universal (a Igreja é católica, universal),
e a aliança que o Espírito concluiu com a Igreja interessa ou serve para toda a
humanidade pela sua salvação. E por ser universal, a Igreja será sempre missionária
até o fim dos tempos a serviço de todas as línguas e de todas as culturas e de
todos os povos. O cristão é batizado para ser missionário.
Além de tudo isso, ao afirmar que O Espírito
Santo tinha descido sobre os discípulos justamente no dia de Pentecostes, Lucas
nos quis ensinar só uma coisa: que o Espírito Santo tinha substituído a Lei
antiga e ele se torna a nova Lei para os cristãos. Qual é a Lei do Espírito
Santo? É o coração novo, é a vida de Deus que, quando penetra no ser humano o
transforma e produz naturalmente as obras de Deus. Quando o homem é permeado
pelo Espírito Santo, nele acontece algo inaudito: ama com o mesmo amor de Deus.
João chega a dizer que o homem animado pelo Espírito Santo é simplesmente
incapaz de pecar: “Todo aquele que nasceu
de Deus não comete pecado, porque sua semente permanece nele; ele não pode
pecar porque nasceu de Deus” (1Jo 3,9).
A narrativa da vinda do Espírito Santo nos
Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) é muito simples. Os discípulos de Jesus estão
reunidos numa sala. Do céu vem um barulho, como de forte vendaval, e enche a
casa. Aparecem línguas de fogo, que pousam sobre cada um. Esses elementos:
barulho, vento e fogo, são típicos das manifestações de Deus. Significam que
Deus está agindo.
O Espirito Santo Como Dom
O fato de tudo isso vir “do céu” indica o dom
de Deus, isto é, o Espírito Santo não é uma invenção dos cristãos, mas um dom
que lhes foi dado, conforme a promessa de Jesus (Jo 14,15-17). O ES não é um
produto da sugestão humana. Ele é uma força irresistível que foge ao controle e
às manipulações humanas. Ele sopra para onde quer (cf. Jo 3,8)
O que significa que o ES é um Dom?
Primeiro, a descrição do ES
como Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino da Graça. Isto significa que
Deus derrama seu Espírito e seus dons sobre o seu povo, não como promoção por
suas realizações, e sim na liberdade de sua misericórdia e graça. Deus não
exige um pagamento velado em troca de seus dons. Seus dons levam a consequências
que mudam a vida, sem quaisquer precondições, exceto a vontade para que
recebamos o dom. O Dom do Espírito Santo, então, nos faz lembrar que não
estamos vivendo num mundo calculista de benefícios conferidos em proporção às
condições atendidas, mas no reino de um Pai gracioso, que derrama generosamente
seu Espírito, em graça livre e incondicional para todos nós.
Segundo, a descrição do Espírito
Santo como um Dom enfatiza o fato de que estamos no Reino dos relacionamentos
dinâmicos, do movimento que vem de um doador para um receptor, de abertura de
uma pessoa para outra. A palavra Espírito Santo é uma palavra que tem
significado apenas num relacionamento. Ele é o que é e faz tudo o que faz
apenas dentro de uma rede de relacionamentos divinos e divino- humanos.
Terceiro, quando descrevemos o
ES como um Dom, estamos deixando claro que nos encontramos no campo pessoal. Um
dom só é um dom, no sentido apropriado da expressão, quando incorpora a
intenção de um doador no sentido de dá-lo, e é recebido como dom apenas quando
o receptor reconhece essa intenção. Uma vaca não dá o leite; o leite é tirado
dela. O ES transmite e expressa o amor a todos nós e nós o recebemos, por isso
é que ele é um dom. Quando Deus em Cristo nos doa o Espírito, ele nos doa nada
menos que a si mesmo. Por isso, o Dom é um sujeito, vivo, atuante, que ama,
soberano e livre.
O Espirito Santo Possibilita
Comunicação
Conforme o texto, o ES se manifesta
simbolicamente como “línguas de fogo”. A língua é instrumento de comunicação,
de fala, e dá origem à linguagem, que é o meio dos seres humanos se
comunicarem. Mas São Tiago (Tg 3,1-10) alerta que a língua pode desviar o homem
do caminho de Deus e pode transtornar sua vida e desvia a linguagem do seu uso
correto. Segundo São Tiago, a língua, por
menor que seja, é uma força devastadora capaz de pôr a vida a perder. O poder
da língua pode sujar o corpo inteiro, tanto para quem fala como também o corpo
no sentido de uma comunidade inteira. Temos impressão de que muita gente ainda
não consegue domesticar a língua por isso causa a inquietação e o sofrimento em
muitas pessoas.
O fato de o ES se manifestar simbolicamente
como “línguas de fogo” nos leva diretamente ao seu significado que o dom do ES
não é para a edificação pessoal, mas para a comunicação, e concretamente, para
a comunicação da “boa notícia” do Evangelho, que transforma as relações e faz surgir
a fraternidade e a partilha que podem proporcionar liberdade e vida para todos.
Efeitos Do Espirito Santo
O efeito do dom do ES ou a ação interior e
transformadora do ES torna-se externamente uma nova capacidade de comunicação:
conforme o texto (At 1,4) “começaram a falar outras línguas”. Mas não se trata
do fenômeno como falar em línguas que ninguém compreende. Falar em línguas
incompreensíveis não comunica nada a ninguém. A linguagem foi feita para
produzir comunicação entre as pessoas. Trata-se aqui claramente, do horizonte
universal e ecumênico do novo povo mobilizado pela força unificante do ES.
Poder-se-ia ver neste elenco de povos, reunidos para escutar a voz do ES na
própria língua nativa, uma referência à dispersão dos povos e à confusão das
línguas depois de Babel (Gn 11,1-9). A humanidade, dispersa e dividida depois
da tentativa de construir um imperialismo religioso- político, é reunida pela
força do ES que unifica os diferentes grupos humanos, respeitando e promovendo
as características culturais, das quais a língua é expressão. Nem a força ou a
repressão, nem a planificação econômica ou política podem assegurar a unidade
dos povos ou dos grupos, mas sim o poder interior do ES, que promove com a
liberdade e o amor novas relações e cria espaços alternativos de comunicação.
O ES produz unidade ao mesmo tempo que
promove diferentes maneiras de servir, (1Cor 12,3-7.12-13). Ele é a força
criadora de diferenças e de comunhão entre as diferenças. É ele que suscita
entre as pessoas os mais diversos dons e nas comunidades os mais diferentes
serviços e ministérios, como se ensina nas cartas aos Romanos (Rm 12) e aos
Coríntios(12). Mas esta diversidade não decai em desigualdades e discriminações
porque bebemos da mesma fonte que é o Espírito Santo (1Cor 12,13). Os dons não
são dados para a autopromoção, mas para o bem da comunidade (1Cor 12,7). O
Espírito Santo interfere para melhorar e não para atrapalhar a comunicação da
Igreja de Jesus Cristo. A comunidade fundada em Pentecostes (no Espírito Santo)
é um lugar de diálogo, de encontro, de comunicação, de unidade (não
necessariamente uniformidade), de acolhimento. O erro não está em sermos
diferentes. O erro está em sermos divididos. A comunidade nascida em
Pentecostes não é o lugar da lei que mata mas é o lugar do Espírito Santo, isto
é, o lugar da abertura e da vida, do reconhecimento e do despertar, o lugar de
uma libertação fundada no amor. O amor é o caminho para Deus, o único carisma
realmente imprescindível na vida cristã, o carisma que jamais cessará.
O ES habita os corações das pessoas (1Cor
3,16), dando-lhes entusiasmo, coragem e determinação. Ele consola os aflitos e
mantém viva a esperança. Ele nos consola, exorta e ensina como as mães fazem
junto a seus filhinhos (Jo 14,26;16,13).
O Espirito Santo E Seus Frutos Na
Vida Cristã
Outros frutos do Espírito Santo são o amor, a
bondade, moderação e autocontrole, cortesia, mansidão e longanimidade,
jovialidade e paz (veja Gl 5,22-24).
Segundo Gálatas, o amor que é o fruto do ES se
expressa através de cordialidade, simpatia, coração bom. Trata-se de uma
atitude típica da interioridade; é a disposição interior para o pensar bem,
para o falar bem, para o agir bem. O amor traduzido com cordialidade, simpatia (simpatia
vem do grego sumpáscho que significa igualar-se ao outro, ter uma atitude de
profunda sintonia com o outro), coração aberto é a capacidade imediata de
entender os sofrimentos e as alegrias de quem está perto de nós; é um coração
espaçoso, raiz de toda a moral do NT. O amor é a virtude pela qual resplandecem
até mesmo as coisas mais pequenas, e os gestos mais simples se tornam belos e
construtivos. Tudo que se faz com amor, por pequeno que seja, se torna uma obra
prima. E nada vale aquilo que se faz sem amor, por maior que ele seja.
A bondade
é fruto do ES. A bondade é um reflexo da atitude divina. Ela é a prerrogativa
daquele que se compraz em fazer por primeiro o bem, em suscitar sempre e
somente o bem ao seu redor. Ela é uma qualidade criativa(tudo que Deus criou
era bom. cf. Gn 1). Nossa bondade é nada mais que uma participação, no ES, da
característica divina, e por isso, é bela, criativa, fascinante, capaz de
suscitar uma sociedade nova. Nenhum coração resiste diante da bondade. Se a
bondade é fruto do ES, então, ela é um dom a ser invocado, a ser implorado,
dispondo-nos a acolhê-lo com humildade e reconhecimento.
Outro fruto do ES é a moderação. A palavra que se usa em
grego é epieíkeia (ocorre 7 vezes no NT) que significa respeito, afabilidade,
acessibilidade, moderação, flexibilidade e equilíbrio ao aplicar as leis, as
regras; é capacidade de saber prever também as oportunas exceções às regras.
Trata-se de uma atitude fundamental na vida social. O contrário da moderação é
a arrogância, a petulância, a rudez, a presunção, a falta de educação etc.
O domínio de si ou autocontrole, que é outro fruto do ES, está muito
ligado à moderação. É uma atitude que exige de si o respeito pelo outro,
mantendo sob controle os próprios sentimentos ou instintos de poder e de
prevaricação, de ser oportunista diante da fragilidade do outro. O autocontrole
evita todo senso de superioridade e toda violência física, verbal e moral nos
relacionamentos; evita a exploração da dignidade alheia; evita a busca da
própria vantagem, do próprio prazer em prejuízo da dignidade ou do interesse de
alguém. É uma virtude social fundamental.
A cortesia
é outro fruto do ES. Ela é a atitude de Deus em relação ao homem, o modo com o
qual o Senhor se comporta conosco, segundo o que Jesus diz: “Ele é benévolo (chrestós)
para os ingratos e para os maus” (cf. Lc 6,35). A cortesia é a arte de acolher,
de ir ao encontro do outro fazendo-o sentir que é bem-vindo, esperado, amado.
Quando uma pessoa se sente acolhida, estimada e compreendida, ela se solta,
fala, dá corda ao discurso.
Outro fruto do ES é a mansidão. Ela é uma atitude que
facilmente pode ser mal interpretada, pois é confundida com a fraqueza ou com a
ingenuidade. Mas, na verdade, ela é a atitude típica de Jesus que se autodefine
manso (cf. Mt 11,29). E ela é uma das bem-aventuranças por ele proclamada (cf.
Mt 5,5). Mansidão é a atitude que acalma a ira ou cólera. A mansidão é a
atitude de quem elimina ou modera a própria cólera e a dos outros; é responder
à ira com a ponderação.
A longanimidade é outro fruto do ES. É uma virtude que está ligada
estreitamente à cortesia e à mansidão. Ela permite sustentar no tempo a
esperança (Cf. Lc 13,6-9; 2Cor 2,1-4). Ela é a capacidade de saber investir,
sem pretender a obtenção de resultados imediatos ( o contrário da
precipitação). Ela é a atitude que permite superar frustrações, que permite
superar a irritação e o desencorajamento diante da aparente esterilidade da
ação apostólica, educativa, formativa. Ela nos permite semear, eventualmente
com sofrimento, olhando para a colheita que nos será dada pelas mãos de Deus.
Ela nos convida a ter coragem e a resistir, na certeza de que da resistência
virá a alegria.
Outro fruto do ES é a alegria/jovialidade (cf. Fl 4,4-7). O termo
grego “chará” que se traduz por “alegria”, ocorre 59 vezes no NT, sem
contar os sinônimos e os verbos a ele ligados. É muito mais fácil experimentar
a alegria do que defini-la. Ela é a atitude que torna tudo mais fácil. “Deus
ama a quem doa com alegria” (2Cor 9,7), pois quem doa com alegria, doa bem. Ela
é a capacidade que torna outros felizes e contentes. Ela é um sinal claríssimo
da presença do ES. Se quisermos entender onde o ES está agindo, precisamos
verificar a presença ou a ausência da alegria. Onde há a alegria, está aí o ES.
O objetivo da obra de Jesus é o tornar-nos plenos de alegria: “Eu vos disse
isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (cf.
Jo 16,22-24). Por isso, ela é a característica típica do Reino de Deus.
O oposto da alegria é a tristeza, aquele
sentimento pelo qual tudo parece mais pesado. E uma variante da tristeza é a
depressão ou mau humor, a melancolia, o descontentamento. Como resistir à
atitude da tristeza? Como superar a depressão? É invocar o ES, pois a alegria é
o dom do ES. É preciso invocar o ES, na certeza de que a alegria existe, de que
ela está no fundo de nós mesmos, porque ela é a presença de Jesus ressuscitado
ainda que esteja escondida. A alegria vem e virá, e tal certeza, cultivada no
coração, ajuda a superar depressões, maus humores, escuridão etc....
Outro fruto conjuntural e central do ES é a paz
(shalom), que representa também uma espécie de síntese de todo bem na Bíblia.
Biblicamente a paz é entendida como todo e qualquer bem, humano e divino. Por
isso, São Paulo até diz: “E a paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensão,
guardará vossos corações e vossos pensamentos em Jesus Cristo (Fl 4,7). A paz podemos
definir como a atitude que nos defende da ânsia, que reina sobre a ânsia, que a
domina. Ela é, obviamente, dom de Deus, do Espírito; é a riqueza que o Espírito
derrama sobre os que a acolhem. A paz é a sensação de sentir-se em casa, de ter
familiaridade com o ambiente em que vivemos. E sentir-se em casa com Deus, em
Deus; o repouso em Deus é a paz que bloqueia a inquietude do coração. Como
dizia Sto. Agostinho: “Nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”.
A paz é sentir-se em casa com os outros, quando os relacionamentos são
construtivos. A paz leva a pessoa a superar os medos e as desconfianças
recíprocas.
O Espirito Santo Transforma Cada
Cristão Em Missionário
Para os discípulos, Jesus ressuscitado diz: “Como
o Pai me enviou, também eu vos envio” (v.21). Jesus é o Enviado por
excelência (Jo
3,31-34;5,30;7,17s.28; 8,16.28s.42; 12,44s;16,28). A
missão provém de Deus, que quer dar a vida ao mundo. O envio dos discípulos
implica tudo o que visava o ministério confiado a Jesus: glorificar o Pai,
fazendo conhecer seu nome e manifestando seu amor (cf. 17,6.26). Do mesmo modo como
o Pai esteve presente com Jesus na sua missão, assim os discípulos não estarão
nunca sozinhos no cumprimento de sua missão (cf. Mt 28,20).
Aqui a ressurreição está vinculada à missão.
Os discípulos são chamados e enviados para ser testemunhas do anúncio da morte
que foi vencida. A Igreja surge ao redor dessa fé na ressurreição. Os
discípulos são enviados para proclamar a verdade de que não é qualquer vida pode
ressuscitar gloriosamente como a de Jesus, e sim somente uma vida que tem como
características: vida de doação, de serviço, de perdão, de fidelidade plena a
Deus, como foi a vida de Jesus. Somente assim, o cristão possuirá a vida eterna
ressuscitada. Ser enviado significa ser pessoa que lança as sementes da
ressurreição feito de justiça, de amor, de reconciliação e de abertura
incondicional a Deus. Se um cristão, o enviado, fizer assim, a vida nova e a
ressurreição estão germinando. E ele tem que cuidar bem deste germe para que
ele possa chegar à sua plenitude.
“Dito isso, soprou sobre eles e disse:
‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20,22). O gesto de Jesus reproduz o
gesto primordial da criação dos seres humanos por Deus (Gn 2,7). O Criador “insuflou
no homem um sopro que faz viver” (Sb 15,11; Ez 37,9). “Soprar” quer dizer dar vida a quem não tem. Isso significa que o
ser humano só existe porque é sustentado pelo sopro de Deus. Trata-se agora da
nova criação: Jesus glorificado comunica o Espírito que faz renascer o homem
novo (cf. Jo 3,3-8), capacitando-o para partilhar a comunhão divina. O Filho
que “tem a vida em si mesmo” dispõe dela a favor dos seus (cf. 5,26.21); e seu
sopro é o da vida eterna.
O Espirito Santo e Pluralidade de
Carismas
“Há
diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios,
mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que
realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito
em vista do bem comum”. Assim escreveu São Paulo aos coríntios que lemos
hoje na Segunda Leitura.
Esta leitura recorda a pluralidade da ação do
Espirito Santo. A pluralidade dos carismas e a unidade da Igreja procedem do
mesmo Espirito. A pluralidade de carismas é expressão da riqueza e vitalidade
da Igreja. Mas há que recordar que ministérios e carismas, em sua diversidade,
estão destinados para o bem comum (utilidade comum). Ninguém tem todos os
carismas.
Há uma pluralidade de dons para o serviço do
único Corpo que é a Igreja. A cada um é dado uma manifestação do Espirito Santo
porque o Espirito Santo não é monopólio de ninguém. Assim o Espirito Santo não
significa uniformidade sem variedade, não dispersão e sim unidade, não pobreza
e sim riqueza. Pentecostes significa reconhecer esta realidade na Igreja,
descobrir o próprio carisma e respeitar o carisma dos demais irmãos na Igreja.
Os dons ou os carismas são auto-revelação do Espirito Santo. Nos carismas se
faz visível o invisível Espirito de Deus. O dom ou o carisma é dado a cada um,
mas o que se quer sublinhar não é o individualismo e sim a relação de serviço
aos demais. Os carismas são para a edificação da Igreja e não para a promoção
pessoal.
Por isso, São Paulo define o critério para
distinguir os verdadeiros carisma dos falsos. Primeiro, o carisma autentico
deve contribuir sempre para reforçar a profissão de fé no Senhor Jesus Cristo:
“Ninguém
pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3).
Segundo critério de juízo se verifica na
colaboração dos carismas mais diversos para o único desígnio de Deus (1Cor
12,4-6). O politeísmo pagão ostentava carismas muito variados concedidos por
deuses diferentes. Na Igreja, pelo contrário, tudo se unifica na vida
trinitária para as funções comunitárias ou para o bem comunitário. Não pode
haver oposições entre os carismas, pois a fonte dos carismas é um único Deus.
Quando existe alguma oposição entre os carismas é porque não provêm de Deus,
isto é, não provêm do Deus trinitário.
Terceiro critério para discernir os carismas:
sua maior ou menor capacidade de servir ao bem comum: “A cada um é dada a manifestação
do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7) e a unidade do Corpo
(1Cor 12,12-13). Os carismas são distribuídos por Deus em vista do bem comum.
Os carismas devem servir para o crescimento e a vitalidade do Corpo que é a
Igreja.
Portanto, quero concluir esta reflexão com as
palavras de Inácio
de Laodicéia:
“Sem o Espírito Santo, Deus se torna
longínquo; Cristo fica no passado; o Evangelho vira letra morta; a Igreja, uma
simples organização; a autoridade, uma opressão; a missão, uma propaganda; o
culto, uma evocação; o comportamento cristão, uma moral de escravos. Mas, com o
Espírito Santo, Cristo está presente; o Evangelho é poder de vida; a Igreja
torna-se comunhão trinitária; a autoridade, um serviço libertador; a missão, um
Pentecostes; a liturgia, um memorial e uma antecipação da glória; e o
comportamento torna-se divino”.
E São Basílio afirma: “o Espirito Santo é Fonte
de santificação, Luz de nossa inteligência, Ele é quem dá, de Si mesmo, uma
espécie de claridade a nossa razão natural para que conheça a verdade.
Inacessível por natureza, se faz acessível por sua bondade” (Sobre o Espirito
Santo 9,22-23).
“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações
dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor e envia o Teu Espírito, e
tudo será criado, e renovareis a face da terra”. Assim seja!
P.
Vitus Gustama,svd
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