quinta-feira, 26 de maio de 2022

Festa Da Visitação De Nossa Senhora a Isabel, 31/05/2022

VISITAÇÃO DE MARIA A ISABEL

31 de Maio

Primeira Leitura: Sofonias 3,14-18

14 Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! 15 O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o rei de Israel é o Senhor, ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal. 16 Naquele dia, se dirá a Jerusalém: “Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! 17 O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido pelo amor; exultará por ti, entre louvores, 18 como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação”. 

Evangelho: Lc 1, 39-56

39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre!” 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.

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Maria, Filha de Sião

 

Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido pelo amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa. Afastarei de ti a desgraça, para que nunca mais te cause humilhação” (Sofonias 3,17-18). 

Com o profeta Sofonias, cujo texto da Primeira Leitura tiramos do seu livro, nos encontramos no século VI a.C, nos tempos do Rei Josias. É um período marcado pelas contínuas infidelidades a Deus por parte de Israel, pois esta faz alianças com o poder estrangeiro com seus cultos pagãos (idolatria). O profeta Sofonias tem diante de seus olhos esta situação amarga. Consequentemente, o profeta proclama “O Dia terrível de Javé” sobre todas as nações, inclusive Judá. Porém, atrás desta proclamação está o convite à conversão para que “O Dia terrível de Javé” se transforme em “O Dia messiânico”. Com a conversão do povo, já não terá mais o dia de ira do Senhor e sim será o Dia da misericórdia, o Dia do novo amor entre Deus e seu povo. Não existirá mais medo. Tudo motivo de alegria: serão vencidos os inimigos, Deus voltará a ser o único rei de Israel que é o Deus salvador. 

A Filha de Sião da qual fala o profeta Sofonias é figura de Maria, pois através de seu sim incondicional nasceu para a humanidade o Salvador, Jesus Cristo. Ele é a encarnação do amor misericordioso do Pai do céu. Por isso, ele pede para que todos sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36).

Aprendemos que toda conversão sempre resulta na alegria e na salvação. Não há a verdadeira conversão que não traga a alegria a quem é beneficiada. Sejamos facilitadores da concretização da misericórdia divina a exemplo de Maria, Mãe do Senhor, para que a alegria volte a reinar no meio de nós. 

Maria Serve Com Dignidade Como Uma Irmã                       

Terminamos o mês de maio com a festa da Visitação da Virgem a Isabel. Sobre este episódio, narrado sobriamente no Evangelho de Lucas, foram feitas todas as espécies de considerações. As Bíblias costumam traduzir  a expressão grega "metà spoudés" por "à pressa", "prontamente". A palavra grega "spoudé" tem muitos outros significados: zelo, diligência, compromisso, cuidado, seriedade, dignidade. Ela não faz isso para satisfazer uma necessidade pessoal (sentir-se útil, parecer bem, ser elogiada), mas para responder a uma necessidade que, de certa forma, quebra seus planos. E ela o faz com dignidade (não como escrava, mas como irmã), com cuidado (não de forma alguma, mas com atenção aos detalhes), prontamente (não com relutância, mas com um espírito feliz e bem disposto). 

Maria tinha motivos poderosos para cuidar de si mesma, para manter a calma em Nazaré. Ela precisava de tempo para assimilar sua inesperada maternidade. Ninguém poderia exigir que, depois do susto, ela não pensasse em si mesma por um tempo. 

Ela, no entanto, deixou a aldeia de Nazaré e, sem pensar duas vezes (“prontamente”, diz Lucas), partiu para Ain Karim, a cidade de sua parente Isabel. Não havia se recuperado do espanto produzido pelo anúncio do anjo e já pensava na maneira concreta de ajudar. Os 160 quilómetros que separam Nazaré de Ain Karim testemunharam o passo decisivo de uma menina solidária. 

Não entrou na casa de Isabel fingindo ser importante, reclamando da quantidade de coisas que teve que deixar em Nazaré para vir servi-la, fazendo cara de sofrimento, exigindo sutilmente reconhecimento. Ela entrou saudando; isto é, presenteando de mãos cheias graça e paz. Tanta alegria transbordou que até o pequeno João foi afetado por aquelas misteriosas ondas de entusiasmo. 

A festa da Visitação está cheia de encantos e de uma ternura inigualável. Duas mulheres, que se encontram, que se saúdam, estão cheias de Deus e por isso, cheias de alegria para fazer o ambiente mais humano, mais leve e mais fraterno e por isso, mais divino. 

Santo Ambrósio comentou a expressão “dirigindo-se apressadamente” com as seguintes palavras: “A graça do Espírito Santo não admite demora” (“Nescit tarda molimina Spiritus Sancti gratia”). É preciso fazer ou cumprir aquilo que é importante e essencial, pois, caso contrário, acaba morrendo tudo. Jamais podemos adiar o que é essencial para não nos lamentar mais tarde: uma visita para um doente ou um idoso, um perdão que precisa ser dado ou recebido, uma ajuda oferecida sem muita discusão, um trabalho importante que decidimos fazer, e assim por diante. Os adiantamentos, os atrasos podem nos desgastar e nos consomem interiormente. Precisamos trabalhar permanentemente sobre nossa capacidade de intuir o que deve ser feito agora e aqui na graça de Deus. 

Maria é uma mulher que se põe em caminho com dignidade, com cuidado, com prontidão. Não o faz para satisfazer uma necessidade pessoal: ela faz para servir sua parenta, Isabel, que está grávida e que necessita de uma ajuda. Ela faz tudo com dignidade como uma irmã. Maria é de Deus e por isso, ela é do povo e para o povo. Maria é mulher de nossa história, aberta a Deus e aos seres humanos. Viveu sempre em atitude de gratuidade e de doação. Será que fazemos tudo, a exemplo de Maria, com dignidade, com cuidado e com prontidão?

 Contemplando Maria dessa maneira, compreendemos até que ponto a graça de Deus pode florescer nos seres humanos, que tipo de humanidade surge quando Deus "agrada" uma pessoa disposta a aceitar seu dom? 

Encontro De Duas Pessoas Benditas 

Na Anunciação o Anjo do Senhor “entrou” na casa de Maria e a “saudou”. Nessa visita Maria fez a mesma coisa: ela “entrou” na casa de Zacarias e saudou a Isabel. É a saudação da Mãe do Senhor para a mãe do Precursor do Senhor. A saudação de Maria comunica o Espírito a Isabel e ao menino no seu ventre. A presença do Espírito Santo em Isabel se traduz em um grito poderoso e profético: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,42-45). Aqui Isabel fala como profetisa: se sente pequena e indigna diante da visita daquela que leva em seu seio o Senhor do universo. Sobram as palavras e explicações quando alguém entra na sintonia com o Espírito. Maria leva no seu seio o Filho de Deus concebido pela obra do Espírito Santo. E a presença do Espírito Santo em Isabel faz com que Isabel glorifique a Deus. Por isso, o encontro entre Maria e sua prima Isabel é uma espécie de “pequeno Pentecostes”. Onde entra o Espírito Santo, ai entra também paz, alegria e vida divina. 

A Mãe de Deus que leva Jesus em seu seio é a causa de alegria. Quando estivermos cheios de Jesus Cristo em nosso coração, a nossa presença traz alegria e a paz para a convivência. A ausência de Cristo em nosso coração produz problemas e discórdias na convivência. O encontro de duas pessoas benditas sempre causa alegria: Maria causa alegria em Isabel e Jesus em pequeno João Batista. Ao contrário, o encontro de duas pessoas não benditas sempre causa angústia e mal-estar na convivência. Cada cristão deve fazer os encontros felizes e alegres com os outros. E isso só pode acontecer se houver lugar para Cristo em nosso coração. Precisamos engravidar Jesus Cristo para fazê-lo nascer para os outros. Por isso, vale a pena cada um se perguntar: Que tipo de encontro que fazemos diariamente: de pessoas benditas ou de pessoas não benditas? 

Na narração da visitação, Isabel, “cheio do Espírito Santo” acolhendo Maria em sua casa, exclama: ”Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Esta bem-aventurança, a primeira que se encontra no evangelho de Lucas, apresenta Maria como a mulher que com sua fé precede à Igreja na realização do espírito das bem-aventuranças. Maria, crendo na possibilidade do cumprimento do anúncio, interpela ao Mensageiro divino somente a modalidade de sua realização para corresponder melhor à vontade de Deus a que quer aderir-se e entregar-se com total disponibilidade. “Buscou o modo; não duvidou da onipotência de Deus”, comentou Santo Agostinho (Serm. 291). Maria se adere plenamente ao projeto de Deus sem subordinar seu consentimento à concessão de um sinal visível. É uma entrega total ao projeto de Deus. É uma confiança sem reservas à vontade de Deus: “Faça-se em mim segundo Vossa palavra!”. Maria tem muito a dizer sobre a vivência de nossa fé na nossa vida cotidiana. 

Maria "entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel", continua São Lucas. Seria uma saudação respeitosa, pelos anos de Isabel e pelo afeto, a velha tradicional saudação palestina: "A paz esteja com você, Isabel". Mas já, aqui, neste momento, o prodígio. Isabel sente algo. Algo que nem sangue nem carne lhe dizem, mas sim Aquele que está no céu e para quem nada é impossível. Pela primeira vez o Messias será reconhecido. Isabel sente que o filho que está no sexto mês e que, segundo a profecia do anjo a Zacarias, está cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe, pula em seu ventre, como uma criança pulando de alegria. E "ela mesma", diz São Lucas, "sentiu-se cheia do Espírito Santo". Isabel vê Maria, olha-se em seus olhos arregalados e prodigiosos, entra-se por eles no mistério que a Donzela traz escondido. E grita alto "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre! De onde é concedido que a Mãe do meu Senhor venha a mim? Eis que logo que a vossa voz ressoou nos meus ouvidos, saltou a criança no meu Bem-aventurados sois vós, que crestes que se cumpriria o que vos foi dito pelo Senhor!”. 

Os saltos de João Batista no ventre de sua mãe são o primeiro sinal de uma expectativa humana diante do Messias que já está vindo, que precisará que seus caminhos sejam pavimentados para que a Verdade caminhe com facilidade e encontre eco nos corações endurecidos dos homens. 

Anunciação-Visita A Isabel E Ação Pastoral 

Na anunciação Maria faz perguntas para ter certeza sobre sua missão de ser Mãe do Salvador (cf. Lc 1,26-37). Quando tudo se torna certo, Maria diz seu Sim a Deus radicalmente. Maria deixa a Palavra de Deus entrar em sua vida e ela é fecundada pelo Salvador. Jesus, o Salvador, que está no seio de Maria já empurra Maria para a ação pastoral, isto é, ir ao encontro de Isabel que está precisando da presença de Maria. Maria poderia pensar em si mesma, na sua gravidez. Mas ela pensa no outro e vai ao encontro do outro. 

Quem permitir e viver o mistério da Anunciação, será fecundado como Maria. Quem não é fecundado, não é feliz. Com a fecundação e a fecundidade na vivência do mistério da Anunciação, eu serei capaz de sair de mim mesmo para a ação pastoral como Maria visitou Isabel na sua necessidade. Se permitirmos a entrada da Palavra de Deus na nossa vida, ficaremos fecundados e seremos capazes de fazer Jesus nascer para o mundo. 

É preciso fazer uma ligação entre a Anunciação e a Ação Pastoral. Sem a Anunciação, isto é, sem ser fecundado pela Palavra de Deus, a ação pastoral se torna estéril. A Anunciação sem a Ação Pastoral se torna um isolamento estéril e mortal. 

Palavras De Alguns Padres Da Igreja (Santo Tomás de Aquino: Catena Aurea, Exposição Contínua Sobre Os Evangelhos vol.3, Evangelho de São Lucas, Ed. Ecclesiae, Campinas/SP,2020 pp.67-68): 

1.   Jesus que estava no seu ventre (ventre de Maria), tinha pressa para santificar João, encerrado ainda no ventre de sua mãe. Por isso segue: com pressa. (Orígenes). 

2.   A graça do Espírito Santo não conhece delongas. Aprendei, ó virgens, a não vos deterdes nas praças, a não misturardes com o povo em conversas. (Santo Ambrósio de Milão).

3.   Não havia, pois, ficado cheio do Espírito até ter estado diante daquela que levava o Cristo em seu ventre. Foi então que ficou cheio do Espírito e exultava dentro de sua mãe. Por isso segue: e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Não se deve, portanto, duvidar que aquela que então ficou cheia do Espírito Santo, ficou cheia por causa de seu filho (Orígenes).

P. Vitus Gustama,svd

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