domingo, 17 de março de 2024

Solenidade de São José, Esposo Da Virgem Maria, 19 de Março

SÃO JOSÉ, ESPOSO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA,

PADROEIRO DA IGREJA UNIVERSAL

19 de Março

Primeira Leitura: 2Sm 7,4-5a.12-14a.16

Naqueles dias, 4a Palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: 5a“Vai dizer ao meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: 12 Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. 13 Será ele que construirá uma casa para o meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real. 14ª Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16 Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre’”.

Segunda Leitura: Rm 4,13.16-18.22

Irmãos, 13 não foi por causa da Lei, mas por causa da justiça que vem da fé que Deus prometeu o mundo como herança a Abraão ou à sua descendência. 16 É em virtude da fé que alguém se torna herdeiro. Logo, a condição de herdeiro é uma graça, um dom gratuito, e a promessa de Deus continua valendo para toda a descendência de Abraão, tanto para a descendência que se apega à Lei, quanto para a que se apoia somente na fé de Abra­ão, que é o pai de todos nós. 17 Pois está escrito: “Eu fiz de ti pai de muitos povos”. Ele é pai diante de Deus, porque creu em Deus que vivifica os mortos e faz existir o que antes não existia. 18 Contra toda a humana esperança, ele firmou-se na esperança e na fé. Assim, tornou-se pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: “Assim será a tua prosperidade”. 22 Esta sua atitude de fé lhe foi creditada como justiça.

Evangelho: Mt 1,16.18-21.24a

16 Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. 18 A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo. 20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 24ª Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.

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José É Um Homem Que Sabe Escutar Deus e Ler Os Sinais De Deus

Sabe-se muito pouco da vida de José, esposo de Maria. Mas inquestionavelmente, ele pertence à “casa e família de Davi” (Lc 2,4), à linhagem do Messias (2Sm 7,12.16).  O silêncio de José fala de sua profunda interioridade e de sua intimidade com o mistério, e como consequência, de sua sabedoria de discernir os sinais dos tempos e acaba sendo colaborador de Deus na obra da redenção da humanidade. Neste espaço silencioso criado por José, Deus tem oportunidade para falar com ele. José fala pouco, mas escuta muito. Nisto consiste a compreensão do mistério, embora, intelectualmente, José não entenda. O silêncio de José nos mostra que ele está atento às manifestações ou sinais de Deus no seu cotidiano, pois precisamente Deus fala no nosso cotidiano e através do nosso dia-a-dia.  José é alguém que sabe escutar a voz que vem do profundo do seu ser e a voz que vem do mistério. O silêncio de José é reflexão. Diante do mistério da Encarnação de Deus, José se cala. O seu silêncio permite a presença da eternidade, permite que o Céu fale para ele. Por isso é que ele reconhece naquele Menino Jesus o Salvador do mundo.

A partir de então, José não é apenas esposo de Maria, mas o servo do Senhor que está pronto para exercer ou executar o que o Senhor lhe manda. Precisamente, a grandeza de José está em discernir sua missão a partir de uma profunda consciência de ser servo do Senhor e de ser pai adotivo para o menino Jesus, pois Jesus é o Filho de Deus.

Creio que não estamos habituados a refletir e sim a reagir. Por isso, em muitas coisas somos muito precipitados e acabamos cometendo muitos erros. A precipitação nos abre espaço para cairmos com facilidade de um erro atrás de outros erros. São José vem nos ensinar que precisamos escutar mais para compreender melhor, e falar menos. 

A Primeira Leitura nos fala, com acentos históricos e teológicos, da descendência de Davi, que reinará para sempre. Seguramente, a profecia de Natan alude a Salomão, filho de Davi, e construtor do Templo. No entanto, as palavras “confirmarei/consolidarei a sua realeza/reino” (2Sm 7,12) indicam uma larga descendência sobre o trono de Judá. Esta descendência teve um final histórico e por isso, o oráculo é interpretado com força profética, e alude ao Messias, descendente de Davi. A tradição cristã releu sempre este fragmento como profético e messiânico, aplicando-o a Jesus, Messias descendente de Davi e de modo indireto, também a José, o último nome da genealogia davídica e transmissor histórico da promessa divina feita a Israel.

José: Um Homem Justo

“José, seu marido, era justo...”

O justo, biblicamente, significa aquele que é fiel aos mandamentos de Deus; aquele que tem fé nos anúncios dos profetas e espera com paciência seu cumprimento, pois Deus é fiel às suas promessas. Nada desvia José do caminho traçado por Deus. Embora passe por situações bastante dolorosas, José continua sendo firme como a rocha e sempre conta com a ajuda de Deus. É justo o homem que olha para Deus e ordena a sua vida segundo os ditames da vontade divina. É justo o homem que cumpre a Lei divina de todo coração e com sincera alegria e leveza. O justo é o homem sábio e bondoso. O justo é, portanto, uma figura ideal do homem agradável a Deus e aos homens de boa vontade. Será que estou dentro deste critério?

José: Um Homem Que É Chamado A Entrar No “Sonho” De Deus         

“Sonho” é um estado no qual a nossa atividade pessoal se detém ou pelo menos, está fortemente diminuída. No sonho não temos mais controle sobre a nossa vida e atividade. É um estado de profunda tranquilidade, de profunda serenidade, ou podemos dizer, de profundo êxtase. Certamente, quando nos calarmos, Deus começará a falar para nós (cf.1Rs 19,1-18). Enquanto não ficarmos calados, Deus não terá chance para falar conosco e de nós. Deus pode muito mais facilmente irromper na nossa vida, quando soubermos nos calar.          

José sabe criar o silêncio dentro de si para escutar melhor o que Deus quer dele numa situação complicada humanamente. Se dependesse de sua vontade, José abandonaria Maria e o Salvador no ventre de Maria: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria em segredo”. Mas José acredita muito mais na vontade de Deus do que na sua própria vontade. Por causa da sua fidelidade à vontade de Deus, ele deixa de lado os planos de raciocínios meramente humanos. José deixa de se preocupar consigo próprio para seguir a vontade de Deus. Ele cria um espaço interior para ouvir a voz de Deus. Ele deixa ser convidado a entrar no “sonho” de Deus. O “sonho” de Deus é salvar a humanidade, mas com a participação do próprio ser humano.

"Mediante o sacrifício total de si próprio, José exprime o seu amor generoso para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe ‘dom esponsal de si’. Muito embora decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava a realizar-se, por ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a sua condição de pertencer exclusivamente a Deus(João Paulo II: REDEMPTORIS CUSTOS no. 20b). 

É tocante a docilidade de José diante da vontade de Deus que ele nem pede nenhuma explicação de Deus, como Maria (Lc 1,34), nem diz uma única palavra. Simplesmente ele faz seus os desígnios de Deus. Por isso, na perspectiva de sua fé que o anima, a estrutura humana de José se torna gigantesca. Ele é realmente um homem-sinal e homem-missão que se expressa no respeito pelo mistério de Deus operado em Maria e na vocação de ser o pai legal de Jesus. 

Da mesma forma, somos todos convidados, a exemplo de José, a participar no “sonho” de Deus. É bom sonharmos com Deus para que todos sejam salvos. 

José E Maria, Duas Pessoas Totalmente Dominadas Pela Luz De Deus e Obedientes à vontade de Deus 

Não dá para falar de São José sem falar de Maria. Porque a existência de Maria ilumina a existência de José. E os dois são pessoas totalmente dominadas pela luz divina e obedientes à Palavra de Deus. Por isso, são José é chamado de o homem justo, isto é, aquele que vive totalmente de acordo com os mandamentos de Deus; é aquele se deixa guiar pela luz da Palavra de Deus. 

Maria, mesmo antes de se casar com José, é uma jovem totalmente dominada pela graça de Deus. Por estar totalmente plenificada pela luz da graça de Deus, o Anjo do Senhor a chama de “cheia de graça”. Trata-se de uma jovem que se deixa conduzir totalmente pela graça de Deus.

Não é por acaso que, pela benevolência de Deus, o ventre da jovem Maria se torna o ninho do Salvador. E só pode ser José, o homem justo pode se tornar pai adotivo de Jesus. Somente dentro de uma família em que Maria como esposa cheia da graça e José, como esposo justo que vive de acordo com os mandamentos do Senhor é que o menino Jesus cresce em sabedoria e a graça diante dos homens e diante de Deus (cf. Lc 2,52). 

Se quisermos encontrar uma jovem exemplar para ser espelhada pela juventude na preparação para formar uma família ou para seguir outra vocação, encontramos este exemplo em jovem Maria. Se quisermos encontrar um jovem para ser um futuro pai justo, encontramos em José como modelo. O casamento de duas pessoas de Deus: uma é cheia de graça e o outro vive de acordo com a Palavra de Deus, só pode sair uma geração cheia de sabedoria e da graça como Jesus. 

Creio que, por tudo isso, não tem como não pedirmos a intercessão tanto do homem justo, José, como da jovem Maria, cheia de graça pela nossa juventude. A juventude, como todos nós, precisa olhar para José e Maria para que nossa família, nossos jovens, deixando-se guiar pela Palavra de Deus, possam crescer na sabedoria e na graça diante de Deus e diante dos homens. Somente assim seremos luzes para as pessoas ao redor. 

Papa Francisco Sobre São José Na Carta Apostólica PATRIS CORDE 

1. Pai Amado

A grandeza de São José consiste no facto de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, afirma São João Crisóstomo, «colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico». 

2. Pai Na Ternura

Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4). Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem» (Sl 103, 13).

3. Pai Na Obediência

De forma análoga a quanto fez Deus com Maria, manifestando-Lhe o seu plano de salvação, também revelou a José os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade. 

Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat», como Maria na Anunciação e Jesus no Getsêmani. Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12). 

Vê-se, a partir de todas estas vicissitudes, que «José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação». 

4. Pai No Acolhimento

José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento». 

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro. Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). 

5. Pai Com Coragem Criativa

Se a primeira etapa de toda a verdadeira cura interior é acolher a própria história, ou seja, dar espaço no nosso íntimo até mesmo àquilo que não escolhemos na nossa vida, convém acrescentar outra caraterística importante: a coragem criativa. Esta vem ao de cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter.

José é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo (cf. Lc 2, 6-7). Face ao perigo iminente de Herodes, que quer matar o Menino, de novo em sonhos José é alertado para O defender e, no coração da noite, organiza a fuga para o Egito (cf. Mt 2, 13-14). 

Sempre nos devemos interrogar se estamos a proteger com todas as nossas forças Jesus e Maria, que misteriosamente estão confiados à nossa responsabilidade, ao nosso cuidado, à nossa guarda. O Filho do Todo-Poderoso vem ao mundo, assumindo uma condição de grande fragilidade. Necessita de José para ser defendido, protegido, cuidado e criado. Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria que encontra em José aquele que não só Lhe quer salvar a vida, mas sempre A sustentará a Ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história e ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria. José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe. 

6. Pai Trabalhador

Um aspeto que caracteriza São José é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento? 

A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo, que é económica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho! 

7. Pai Na Sombra

O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai, narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele. Lembra o que Moisés dizia a Israel: «Neste deserto (…) vistes o Senhor, vosso Deus, conduzir-vos como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizeste até chegar a este lugar» (Dt 1, 31). Assim José exerceu a paternidade durante toda a sua vida. 

Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito. 

Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja por isso que a tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou também o de «castíssimo». Não se trata duma indicação meramente afetiva, mas é a síntese duma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir, acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida. 

Maria e José: Duas Pessoas Que Se Deixam Guiar Pela Palavra De Deus 

Não dá para falar de São José sem falar de Maria. Porque a existência de Maria ilumina a existência de José. E os dois são pessoas totalmente dominadas pela luz divina e se deixam guiar pela Palavra de Deus. Por isso, são José é chamado de o homem justo, isto é, aquele que vive totalmente de acordo com os mandamentos de Deus; é aquele se deixa guiar pela luz da Palavra de Deus. 

Maria, mesmo antes de se casar com José, é uma jovem totalmente dominada e guiada pela graça de Deus. Por Maria estar totalmente plenificada pela luz da graça de Deus, o Anjo do Senhor a chama de “cheia de graça”. Trata-se de uma jovem que se deixa conduzir totalmente pela Palavra de Deus. Não é por acaso que, pela benevolência de Deus, o ventre da jovem Maria se torna o ninho do Salvador. 

E só pode ser José, o homem justo, é que pode se tornar pai adotivo de Jesus. Somente dentro de uma família em que Maria como esposa cheia da graça e José, como esposo justo que vive de acordo com os mandamentos do Senhor é que o menino Jesus cresce em sabedoria e a graça diante dos homens e diante de Deus (cf. Lc 2,52). 

Se quisermos encontrar uma jovem exemplar para ser espelhada pela juventude na preparação para formar uma família ou para seguir outra vocação, encontramos este exemplo em jovem Maria. Se quisermos encontrar um jovem para ser um futuro pai justo, encontramos em José. O casamento de duas pessoas de Deus: uma é cheia de graça e o outro vive de açodo com a Palavra de Deus, só pode ter como resultado uma geração cheia de sabedoria e da graça como Jesus. 

O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação.” (PAPA BENTO XVI: Durante ANGELUS no III Domingo da Quaresma, 19 de Março de 2006)

Neste dia em que celebramos a sua solenidade, São José vem questionar nossa pouca fé, nossa infidelidade à vontade de Deus, nosso ceticismo em relação ao poder de Deus, nossas rebeldias contra Deus. São José vem sussurrar no nosso interior: “Confie em Deus, pois ele é fiel às suas promessas!”.  As almas mais sensíveis aos impulsos do amor divino vêem em José um exemplo luminoso de vida interior. Mais ainda, a aparente tensão entre a vida ativa e a vida contemplativa tem em José uma superação ideal, possível para quem possui a perfeição da caridade.” (João Paulo II: REDEMPTORIS CUSTOS no. 27). 

São José e Quaresma 

O pai adotivo de Jesus tem uma estreita ligação com a Quaresma. Esta ligação se explica como caminho preparatório ao Mistério central da Redenção: a Paixão, Morte Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas tal tipo de Redenção foi possível porque o Filho de Deus é verdadeiramente homem. como todo homem tem umas raízes, um povo, uma história: o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai (Primeira Leitura). Sem raízes, sem estirpe, Jesus seria um estranho. É este o grande serviço que são José presta a partir de sua fé para a obra da Redenção.

A Quaresma é um caminho de iluminação progressiva na fé. É voltar a aprendermos a ver as pessoas, as coisas e os acontecimentos como os olhos com que Deus os vê. E nisto, temos em são José um verdadeiro Patriarca na linha da fé dos grandes personagens do Antigo Testamento. E no Novo Testamento, depois de Maria, e junto com Ela, rompe o caminho da fé para toda a Igreja: Apoiado na esperança, ele creu contra toda a esperança (Segunda Leitura). Ele fez o que o anjo do Senhor havia ordenado (Evangelho). 

Também a Quaresma vai restaurar a comunhão com a Igreja, que o pecado rompeu, ou, ao menos relaxou ou corrompeu. Isso supõe voltar a viver a Igreja como conservadora (aquela que conserva, protege, cuida) e transmissora do mistério de Cristo para a salvação do mundo. Para esta dimensão faz referência a oração da coleta recordando a estreita vinculação de São José com a Igreja, já que a sua fiel custódia foram confiados por Deus os primeiros mistérios da salvação dos homens: “Deus todo-poderoso, pelas preces de são José, a QUEM CONFIASTES AS PRIMÍCIAS da Igreja, concedei que ela possa levar à plenitude os mistérios da salvação”.

A condição especial da paternidade de José em relação a Jesus não deve nos levar a pensar que ele não se exercitou como pai humano de Jesus, contribuindo para seu crescimento corporal e espiritual o próprio de um bom pai. Precisamente isso fazia parte de seu serviço ao Filho de Deus feito homem. Se a Quaresma está especialmente relacionada à educação na fé, como tempo catecumenal, a figura de São José é um chamado para os pais cristãos se exercitarem como tais, sendo os primeiros educadores da fé de seus filhos.

P. Vitus Gustama,svd

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