JUSTIÇA, MISERICÓRDIA E FIDELIDADE SÃO ESSENCIAIS PARA
A VIDA E A SALVAÇÃO DO SER HUMANO
Terça-Feira da XXI Semana Comum
Primeira Leitura: 2Ts
2,1-3a.14-17
1 No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: 2 não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo. 3ª Que ninguém vos engane de modo algum. 14 Deus vos chamou para que, por meio do nosso evangelho, alcanceis a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. 15 Assim, portanto, irmãos, ficai firmes e conservai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta. 16 Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, 17 animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra.
Evangelho: Mt 23,23-26
Naquele tempo, disse
Jesus: 23 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo
da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais
importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vós
deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo. 24 Guias cegos! Vós
filtrais o mosquito, mas engolis o camelo. 25 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus
hipócritas! Vós limpais o copo e o prato por fora, mas, por dentro, estais
cheios de roubo e cobiça. 26 Fariseu cego! Limpa primeiro o copo por dentro,
para que também por fora fique limpo.
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Viver o Presente Com Responsabilidade Cristã
“No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo. Que ninguém vos engane de modo algum”, é o conselho do autor da Segunda Carta aos tessalonicenses que lemos na Primeira Leitura.
A grande questão das duas Cartas de são Paulo aos Tessalonicenses é a Parusia, isto é, a vinda escatológica de Jesus, a última vinda do Senhor. O Dia do juízo é especificado: trata-se da parusia de Cristo, o “encontro” dos fiéis com Ele e o “Dia do Senhor”. O termo “parusia” significa “presença”, “vinda”. No contexto cristão o termo indica o retorno glorioso de Cristo ressuscitado ao final da história, na qualidade de juiz escatológico.
A finalidade da exortação do autor da 2Ts no texto de hoje é para equipar os Tessalonicenses perante o risco de mal-entendido sobre o momento exato deste encontro. Para o autor, o Dia do Senhor não está nada presente nem mesmo iminente. Por isso, pede-se que os Tessalonicenses não fiquem pertubados por causa disso. O autor inisiste para que ninguém se deixe enganar. A parusia não está às portas (2Ts 2,3b-12), porque antes, segundo autor, deve acontecer a “apostasia” e a manifestação do “homem da iniquidade” ou “filho da perdição”, “adversário”, “aquele que está contra tudo o que é divino e sagrado” (2Ts 2,3-4). A apostasia é a deserção (abandono) deliberada da fé e foi contada entre os pecados mais graves, porque marcava o abandono de uma realidade tão preciosa como a própria fé.
Quando o homem iníquo ou perverso for revelado, então Cristo, segundo o autor, o destruirá. Aquele será o momento verdadeiro da parusia do Senhor, que o “matará com o sopro de sua boca, destruindo-o com a manifestação de sua vinda (2Ts 2,8). Cristo na sua parusia, portanto, se apresentará como um guerreiro vitoriosos sobre os inimigos só com a força da sua Palavra e da sua Presença. Certamente, satanás vai colocar em campo todos os seus encantos sedutores, tentando imitar as ações prodigiosas de Deus e dando vazão ao seu poder (2Ts 2,9-10), mas o ápice de seu sucesso será também o início da sua ruína. Por isso, vale a pena ser fiel a Cristo seja no momento de alegria (sem problemas), seja no momento das perseguições.
Alguns cristãos tessalonicenses estavam persuadidos da iminência do retorno de Jesus Cristo e os esperavam com tal impaciência que eram negligentes em seus deveres cotidianos. São Paulo pretende simplesmente repetir o que Jesus havia claramente proclamado: “Ninguém sabe nem o dia nem a hora... o dia do Senhor vem como um ladrão... há que estar sempre vigilantes...” (Mc 13; Mt 24; Lc 21). O “dia do Senhor”, segundo toda a tradição profética é o dia que marcará o ato final da história.
Por isso, são Paulo pede aos Tessalonicenses que “não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo”. Aqui parece dizer que não é iminente a última vinda do Senhor e que os Tessalonicenses não façam caso do rumores sobre visões e revelações neste sentido.
Ao longo da história sempre houve e continua havendo vários períodos em que se agitam os ânimos sobre a possível iminência do fim do mundo. Os sonhadores que anunciam o fim do mundo trazem sempre confusão, especialmente para os inocentes e simples. A orientação de são Paulo vale para qualquer cristão em qualquer lugar e época que assuma a realidade do momento presente, isto é, que faça algo com responsabilidade para o bem de todos. Quem fica pensando somente na morte é sinal de que não está vivendo bem sua vida nem leva a sério a responsabilidade como cristão. Quem fica pensando na morte, perde tempo para fazer o bem.
A vida real tem lugar aqui e agora. E o Deus em Quem acreditamos é um Deus do presente. O Deus em quem acreditamos é Aquele-que-é, e que é para mim no momento presente. Deus está presente neste momento quer seja difícil ou fácil, quer alegre ou triste (Cf. Mt 28,20). Eis porque Jesus veio para tirar de nós o peso do passado e as preocupações pelo futuro. “Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. Cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,34). Temos que aprende a viver um dia de cada vez e dar o melhor de nós para o mundo ao nosso redor. Deste modo, a vida vale a pena ser vivida.
Convem para nós olharmos para frente, pois isso nos ajuda a endireitarmos nossa rota e a motivarmos nosso trabalho de cada dia. Não tenhamos medo de praticar bem mesmo que encontremos dificuldades ou experimentemos o cansaço. O que mais importante para nós é como vamos fazendo o caminho com consciência de o povo peregrino sem cidadania definitiva neste mundo, e como nos preparamos para o encontro derradeiro com o nosso Pai misericordioso.
Viver o Essencial e Viver Em Função Do Bem Comum
Continuamos a acompanhar os “ais” de Jesus endereçados aos dirigentes religiosos do povo (escribas e fariseus). Como foi dito no dia anterior, o capítulo 23 do Evangelho de Mateus é uma página mais dura dirigida aos escribas e fariseus, pois a hipocrisia que eles vivem afeta a vida e a salvação do povo. No texto do evangelho de hoje Jesus desmascara todos aqueles que se escondem atrás de uma fachada religiosa para enganar o povo/os outros com o seu ensinamento.
Jesus se enfrentou abertamente com as autoridades judaicas. Ele os criticava a falta de responsabilidade psobre o povo de Deus, pois só pensavam nos próprio interesses e não no bem comum. As comparações que Jesus faz põe em evidência a mentira com que os fariseus se encobrem. Aparentemente eles são homens puros, mas em seu interior somente acumulam a cobiça, a corrupção e a maldade. Os fariseus se mostram como homens extremamente cumpridores da lei, mas não lhes importa a justiça nem a fidelidade a Deus.
“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da lei como a justiça, a misericórdia e a fidelidade”, disse Jesus aos fariseus. Os fariseus (e os escribas) se preocupam em pagar os dízimos até as mínimas coisas, mas esquecem-se de observar o mais essencial. Os pontos essenciais da lei que as normas se referem ao amor ao próximo são a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Justiça indica o comportamento para o homem que compreende todo o campo da justiça social, tal como entendiam os profetas (cf. Am 5,24; Os 4,1-2, etc.). Justo é aquele que vive de acordo com os mandamentos do Senhor resumidos no amor fraterno. Daqui nasce a “misericórdia”, isto é, amar até os que não merecem ser amados (misericórdia= dar o coração aos miseráveis) que tanto se enfatiza neste evangelho: “Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13; cf. Mt 12,12-13). Da justiça nasce também a “fidelidade” entendida como verdadeiro cumprimento da vontade de Deus (cf. Mt 22,34-40). Jesus não despreza as mínimas coisas, mas que não se esqueça o essencial para a vida e a salvação do homem.
O que essencial no ensinamento de Jesus é amar a Deus e ao próximo. Toda a ação pastoral deve ser direcionada para essa essência. Quanto tempo gastamos para discutir os secundários, e menos tempo para o essencial! Ame! Amor. “Por este caminho não há outro caminho”, dizia Santo Agostinho.
Os cristãos receberam, no Batismo, uma das três funções: a função profética. A comunidade cristã é chamada e enviada para continuar a ação profética de Jesus. A comunidade cristã não pode guardar silêncio diante dos que usam o poder sem escrúpulo que enganam o povo com mentiras e projetos fantasiosos e promessas enganosas. Quem tem um olhar profético e permanece em Cristo percebe facilmente tudo que é falso e mentiroso, e logo toma posição contra.
“Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da lei como a justiça, a misericórdia e a fidelidade”. Os judeus eram minuciosos em algumas bagatelas e não se preocupavam com os assuntos importantes. Jesus nos recorda as grandes exigências de todos os tempos: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Justiça é reconhecer os direitos dos outros, é dar a outro o que lhe compete ou lhe pertence. Não tem como praticar a caridade sem praticar a justiça. Para praticar a caridade o homem tem que reconhecer o direito do outro. Simplesmente, podemos dizer que a justiça é dar a alguém o que é dele e dar a mim o que é meu. A caridade é dar a alguém o que é meu. Do mesmo modo podemos dizer quer não tem como pedir o perdão de Deus se não formos capazes de ser misericordiosos para com os outros. Não tem como sermos fieis, se nossa vida for contaminada pelas traições praticadas violando nossa própria dignidade e conseqüentemente a dignidade dos outros.
“Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade”. Hoje diríamos: a ajuda aos mais pobres, a defesa dos débeis e dos oprimidos, a pureza do coração, a honestidade profissional, a justiça social, respeito devido a toda pessoa, e assim por diante. Jesus quer que a fidelidade às observâncias cultuais seja o reflexo de uma fiel observância do amor aos demais durante toda a vida.
Os defeitos apresentados no evangelho de hoje não são exclusivos dos fariseus, podemos tê-los também hoje em dia. Na vida há coisas de pouca importância para as quais há que dar pouca importância. E há outras coisas muito mais transcendentes para as quais vale a pena que se preste atenção a elas. Em outras palavras temos que dar a importância para as coisas de acordo com seus valores para nossa vida e nossa salvação. Temos que saber discernir o que é importante e urgente para ser realizado e o que não é importante nem urgente. Há coisas que são importantes, mas não são urgentes para serem realizadas. É preciso a aprender a viver de acordo com a escala de valores. Para isso, temos que aprender a viver de acordo com os valores. Não podemos nivelar o valor do ouro com o da prata.
Seremos como os fariseus se reduzirmos nossa vida de fé a meros ritos exteriores sem nenhuma ligação com a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Seremos fariseus se dermos mais importância ao parecer do que ao ser, à aparência do que à transparência, ao bonzinho do que ao bom. Tudo é puro quando sai de um coração limpo. A impureza do coração afasta a pessoa da vontade de Deus. Pelo contrário, buscando-se a pureza interior, tudo o mais se torna puro. Autenticidade atrai, a falsidade afasta as pessoas. Uma pessoa simples atrai a simpatia dos outros; uma pessoa complicada afasta as outras pessoas de seu círculo.
Ao fazer qualquer coisa devemos também nos perguntar: Será que aquilo que estou fazendo é essencial? Será que aquilo que estou vivendo e praticando serve para minha edificação e para minha salvação e das pessoas com quem vivo? Não deixemos “de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade” é a mensagem forte da Palavra de Deus hoje para cada um de nós.
P. Vitus Gustama,svd
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