sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

04/03/2025-Terçaf Da VIII Semana Comum

SEGUIR JESUS COM GENEROSIDADE PARA FORMAR UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS

Terça-Feira Da VIII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 35,1-15

1 Aquele que guarda a lei faz muitas oferendas; 2 aquele que cumpre os preceitos oferece um sacrifício salutar (3). 4 Aquele que mostra agradecimento, oferece flor de farinha, e o que pratica a beneficência oferece um sacrifício de louvor. 5 O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. 6 Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, 7 porque tudo isso se faz em virtude do preceito. 8 O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo. 9 A oblação do justo é aceitável, e sua memória não cairá no esquecimento. 10 Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. 11 Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo. 12 Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; 13 porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais. 14 Não tentes corrompê-lo com presentes: ele não os aceita; 15 nem confies em sacrifício injusto, porque o Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas.

Evangelho: Mc 10,28-31

Naquele tempo, 28começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições e, no mundo futuro, a vida eterna.31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”.

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Viver Na Justiça e Na Gratidão

“O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do preceito. Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais”, escreveu Ben Sirac que lemos na Primeira Leitura.

Ben Sirac, o autor do Eclesiástico é também um entusiasta da liturgia e um fiel observante da lei. O texto de hoje (Primeira Leitura) unifica essas duas tendências (liturgia e vida moral) do pensamento do Ben Sirac.

A questão essencial é: O que é mais importante, os sacrifícios rituais do Templo ou uma vida segundo a vontade de Deus? A comparação entre a “liturgia” e a “caridade”, muitas vezes, é muito enfatizada tanto no AT como no NT. Aqui Ben Sirac trata de conseguir um equilíbrio entre as duas dimensões na vida do crente.

Os sacrifícios no Templo têm, sim, sentido. O sábio enumera diversos tipos de sacrifícios: os de comunhão, os de flor de farinha, os de louvor, os de expiação.

Recomenda que se façam as oferendas que manda a Lei: “Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do preceito”, “O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo”. .

Estas ofertas não têm que ser mesquinhas e, além disso, valem o dobro se forem feitas de bom grado: “Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo”. Porque Deus é generoso. “Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais”.

Porém, Ben Sirac afirma que o principal não são os sacrifícios rituais, externos, e sim a oferenda (sacrifício) interna, total do crente. Deus não pede os resultados agradáveis dos ritos externos e sim Ele pede que guardemos seus mandamentos: ação de graças, dar esmola, fazer favores aos demais, especialmente aos necessitados (praticar a justiça), afastar-se do mal e da injustiça. Se crermos que com umas oferendas podemos comprar Deus, estaremos equivocados: “Não tentes corrompê-lo com presentes”.

Aqui aparece a CARIDADE como pedra de toque para saber se os sacrifícios são somente aparência ou eles saem do mais profundo de nosso coração, isto é, a liturgia e a caridade fraterna, vida e oração são inseparáveis. Quem reza deve levar uma vida ética na convivência com os demais homens.

Podemos pensar equivocadamente que com umas orações ou umas esmolas ou ofertas nos Templo já agradamos a Deus e achamos que sejamos bons cristãos com tudo isso. Mas tudo isso é insuficiente; deve ser acompanhado daquilo que o sábio afirma como a verdadeira religião: cumprir a vontade de Deus (seus mandamentos), fazer favores ao próximo, especialmente, aos necessitados, dar esmola aos pobres, afastar-se do mal, fazer o bem, ser justo. É bom que ofereçamos coisas. Mas, sobretudo, devemos nos oferecer a nós mesmos. Como fez Jesus, que não oferecia no Templo dinheiro ou cordeiros e sim que se entregou a si mesmo no altar da cruz.

Ir e partipar da missa, sim! Rezar muito, sim! Mas, ao mesmo tempo, ter bom coração com o próximo. É viver em atitude de humilde louvor a Deus.  Os sacrifícios “rituais” inseparáveis do sacrifício “vital” de nossa pessoa.

Recordemos os conselhos de Jesus no Sermão da Montanha quando nos dizia que tanto a oração, como a esmola e o jejum devemos realizar sem buscar os aplausos dos homens e sim com simplicidade e autenticidade interior: o Pai que vê no escondido, nos premiará. Este conselho ouviremos no Evangelho da Quarta-feira de Cinzas.

Seguis a Jesus Com Generosidade

O texto do evangelho de hoje, como também o do dia anterior, se encontra na parte central do evangelho de Marcos (Mc 8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e termina com a mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os discípulos continuam com sua incompreensão diante da missão de Jesus.

No início e no fim desta seção, Marcos coloca o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus e faz entender o sentido da vida e de nossa presença neste mundo. Desde o começo da atividade pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos discípulos. Mas Jesus fará tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos discípulos. A visão clara que se tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas, aos poucos, com a ajuda de Jesus, vamos vendo com mais clareza e com maior nitidez quem é Jesus e o que significa seguir a este Jesus neste mundo. A fé também faz ver o caminho que Jesus trilhou e que devemos trilhar. Assim a seção começa e termina com a cura de um cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas curas têm uma função simbólica: para mostrar a cegueira dos discípulos. Elas também lembram o leitor de que é Jesus quem faz possível a fé daqueles que acreditam nele e O seguem no caminho.

No evangelho do dia anterior (Mc 10,17-27) o jovem rico recusou o convite de Jesus para que ele vendesse tudo que tinha para depois dar tudo aos pobres. Em vez de seguir a Jesus, Àquele que tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68b), o jovem rico foi embora triste porque tinha muitos bens e não quis partilhá-los nem com os necessitados (pobres). Depois que ele foi embora, Jesus pronunciou esta frase para os discípulos: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”.

Os discípulos ficaram espantados diante da afirmação de Jesus. Para os discípulos seguir a Jesus significa enriquecer-se de bens materiais. Por isso ficaram assustados com as palavras de Jesus: “Então, quem pode ser salvo?(Mc 10,26). Ao que Jesus respondeu: Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível(Mc 10,27). Para Jesus o caminho da vida consiste em enriquecer-se diante de Deus. Só quem sabe perder a vida neste mundo por causa do evangelho vai recuperá-la na vida eterna. Salvar-se não está nas mãos do homem, mas é um dom gratuito de Deus e não pode merecer-se. Somente quando for acolhido o evangelho e viver-se na graça é que conduz a pessoa à vida eterna. Trata-se de uma vida sustentada pela força de Deus.

Ao ouvir a afirmação de Jesus, Pedro também perguntou a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. E o evangelista Mateus explicita ou acrescenta a seguinte frase: “O que é que vamos receber?” (Mt 19,27). Pedro já abandonou tudo, desapegou-se de tudo para se aderir a Jesus e quer saber de Jesus qual será a recompensa do seguimento.

O que é que tem no fundo ou por trás da frase de Pedro? Está seu conceito político e interesseiro do Messianismo. Os discípulos buscam postos de honra, recompensas humanas, soluções econômicas e políticas. Eles querem transformar Jesus em empresário para resolver sua carência econômica.

Jesus, com sua paciência, continua educando os discípulos e lhes garante: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. A afirmação de Jesus vale para qualquer pessoa que se adere a Jesus e que se dedica à propagação do evangelho de Jesus. Jesus assegura que no Reino ou na nova sociedade, na nova família não haverá miséria, pois vivem na partilha, na solidariedade, na compaixão, na fraternidade. Nessa nova família não haverá domínio, nem desigualdade nem superioridade nem poder. Por isso, na segunda afirmação de Jesus a palavra “pai” não se menciona que é símbolo do poder ou de autoridade. Em Mateus podemos entender o sentido dessa afirmação quando Jesus disse: “Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o celeste(Mt 23,8-9). Chamar Deus de Pai leva a pessoa a viver a fraternidade na convivência com os demais, pois todos são filhos e filhas de Deus (cf. 1Jo 3,1-2).

Necessitamos dos bens materiais como meio na nossa vida, pois uma pessoa pode rezar ou meditar durante horas, mas no fim ela precisará dum pedaço de pão e dum copo de água. Mas reparamos que os bens materiais sempre são alheios a nós. Eles nunca serão nossos amigos. A vida feliz está na partilha, na solidariedade, na fraternidade, na compaixão, no amor mútuo, na caridade e assim por diante. A partilha é a alma do projeto de Jesus Cristo. Ele nos chama para segui-lo nessa direção. No evangelho de Marcos Jesus e seu Espírito vão ajudando os discípulos para que cheguem à maturidade de sua fé. Somente depois da ressurreição (Páscoa) eles vão se entregar também gratuito e generosamente ao serviço de Jesus Cristo e da comunidade até sua morte, pois eles captaram o sentido da mensagem de Jesus.

A resposta de Jesus diante da pergunta de Pedro é esperançosa e misteriosa, ao mesmo tempo: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Não se trata de quantidades aritméticas (cem vezes). A resposta se refere à nova família que se cria em torno de Jesus: deixamos um irmão e encontramos cem irmãos (irmãs). O laço desta nova família está na prática da vontade de Deus que consiste na prática do bem e na vivência do amor fraterno: “Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3,35).

Quantos irmãos e irmãs leigos, quantos pastores, quantos médicos e enfermeiros sem fronteiras e as demais pessoas de boa vontade que entregam sua melhor força e tempo para trabalhar pelo bem dos irmãos da comunidade e fora da comunidade e para ajudar os sofredores em todos os sentidos! Quantos sacerdotes, quantos religiosos e religiosas, quantas pessoas consagradas que não formaram a própria família, mas não por isso que deixaram de amar. Ao contrário, eles estão plenamente disponíveis para todos, movidos de um amor universal. Todos esses irmãos e irmãs são reflexos da generosidade de Jesus Cristo neste mundo. Jesus está presente nesses irmãos e irmãs, se quisermos perguntar onde está Jesus Cristo (cf. Mt 25,31-46). Jesus promete já desde agora uma grande satisfação e promete a vida eterna: “receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Mas o verdadeiro amor supõe sacrifício, cruz e perseguição, porém, vale a pena! A Páscoa salvadora passa pelo caminho da Cruz da Sexta-Feira Santa. A vida do cristão não termina na Sexta-Feira Santa. Ela termina na ressurreição. A força da ressurreição dá força e anima o cristão para encarar a cruz da Sexta-Feira Santa. Jesus nos mostrou isso.

P. Vitus Gustama,svd

03/03/2025-Segundaf Da VIII Semana Comum

USAR E PARTILHAR OS BENS MATERIAIS COM OS NECESSITADOS, SEM SER POSSUIDO POR ELES, SIGNIFICA VOLTAR PARA DEUS

Segunda-Feira da VIII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 17,20-28

20 Aos arrependidos Deus concede o caminho de regresso, e conforta aqueles que perderam a esperança, e lhes dá a alegria da verdade. 21 Volta ao Senhor e deixa os teus pecados, 22 suplica em sua presença e diminui as tuas ofensas. 23 Volta ao Altíssimo, desvia-te da injustiça e detesta firmemente a iniquidade. 24 Conhece a justiça e os juízos de Deus e permanece constante no estado em que ele te colocou, e na oração ao Deus altíssimo. 25 Anda na companhia do povo santo, com aqueles que vivem e proclamam a glória de Deus. 26 Não te demores no erro dos ímpios, louva a Deus antes da morte; o morto, como quem não existe, já não louva. 27 Louva a Deus enquanto vives; glorifica-o enquanto tens vida e saúde, louva a Deus e glorifica-o nas suas misericórdias. 28 Quão grande é a misericórdia do Senhor, e o seu perdão para com todos aqueles que a ele se convertem!

Evangelho: Mc 10,17-27

Naquele tempo, 17Ao retomar seu caminho, alguém correu e ajoelhou-se diante de Jesus, perguntando: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 18Jesus respondeu: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus.19Tu conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!” 20Entao, ele replicou: “Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde minha juventude”. 21Fitando-o, Jesus o amou e disse: “Uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22Ele, porém, contristado com essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens. 23Entao Jesus, olhando em torno, disse a seus discípulos: “Como é difícil a quem tem riquezas entrar no Reino de Deus!” 24Os discípulos ficaram admirados com essas palavras. Jesus, porém, continuou a dizer: “Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” 26Eles ficaram muito espantados e disseram uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?” 27Jesus, fitando-os, disse: “Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível”.

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Somos Chamados a Voltar Para Deus (Conversão)

“Volta ao Senhor e deixa os teus pecados, suplica em sua presença e diminui as tuas ofensas. Volta ao Altíssimo, desvia-te da injustiça e detesta firmemente a iniquidade”. É uma exortação a converter-se a Deus.

O sábio, Ben Sirac, neste breve texto, que lemos na Primeira Leitura, cheio de ternura, nos convida a nos converter a Deus, enquanto tiver tempo: segundo Ben Sirac, depois da morte já não poderemos louvar a Deus nem dar-Lhe graças nem nos converter: “Não te demores no erro dos ímpios, louva a Deus antes da morte; o morto, como quem não existe, já não louva. Louva a Deus enquanto vives; glorifica-o enquanto tens vida e saúde, louva a Deus e glorifica-o nas suas misericórdias” (Eclo 17,26-27). Convém recordar que no Antigo Testamento não tinha ideia clara da outra vida: tudo se resolve nesta vida.

“Volta ao Senhor e deixa os teus pecados, suplica em sua presença e diminui as tuas ofensas. Volta ao Altíssimo, desvia-te da injustiça e detesta firmemente a iniquidade”.

Em Hebraico como em Latim, converter-se significa voltar-se, voltar: o homem volta para Deus, porque Deus o chama. É uma voz que salva a distância e supera os obstáculos para voltar a criar presença e intimidade. A conversão é um retorno. Jesus ilustra de maneira inolvidável (inesquecível) essa imagem do retorno com a maravilhosa parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). Converter-se significa mudar de direção, voltar para a face de Deus, não cair na mideicridade, narotina do pecado e na decadência espiritual. Volta-te! Deixa de viver por ti e para ti!

O pecado é sempre um isolamento. O pecado estabelece distâncias; abandona-se a casa paterna. Por Jesus podemos saber, através da parábola do filho pródigo, que o Pai fica na espera de nossa volta.

A conversão implica um duplo movimento. O movimento do pecador que se “volta” para Deus. Isso se chama a liberdade. O movimento de Deus que “abre o caminho do retorno”. Isso se chama a Graça.

Na próximo Quarta-feira começaremos a Quaresma, a preparação para a Páscoa. Essa vida ressuscitada, livre do pecado e do egoísmo, é que Deus quer nos comunicar mediante seu Espirito.

Nenhum cristão é totalmente convertido e o esforço para chegar a ser convertido constitui, junto com a fé, um esforço constante da vida cristã. ninguém fica aposentado da fé e por isso, ninguém é convertido definitivamente.

O motivo fundamental com o qual Ben Sirac quer animar os pecadores a se converterem é a bondade de Deus: "Aos arrependidos Deus concede o caminho de regresso, e conforta aqueles que perderam a esperança, e lhes dá a alegria da verdade. Quão grande é a misericórdia do Senhor, e o seu perdão para com todos aqueles que a ele se convertem!. A partir da reflexão do sábio Bem Sirac a conversão é um caminho prazeroso, pois Deus que quer nos salvar espera nossa chegada. A alegria divina é maior do que o prazer de um pecado. Manter no pecado significa viver na alegria mínima e passageira.

Também hoje Jesus nos olha com carinho, a cada um de nós, e nos diz o mesmo: “Siga-me!”. Uma coisa te falta porque uma coisa é que te impede, te estorva, te dificulta, te embraça: vendê-la, abandoná-la.

Portanto, nossa atitude mais sábia é “retornar a Deus”, “abandonar o pecado”, “afastar-se da injustiça e da idolatria”.

A celebração da Eucaristia sempre começa com um breve ato penitencial, reconhecendo diante de Deus nossa debilidade e pedindo-Lhe que nos purifique interiormente.

Mas temos outro sacramento, o da Reconciliação, especificamente destinado a celebrara esta conversão e este perdão: por parte de Deus é o perdão; por nossa parte é a conversão, para que continuamente trilhemos uma vida nova que vai amadurecendo nossa comunhão com Deus.

Uma Só Coisa Te Falta Ainda!

Lemos no evangelho deste dia que “alguém” (sem nome, que pode ser qualquer um de nós) correu ao encontro de Jesus para fazer a seguinte pergunta: “Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna?” É uma pergunta que jovens faziam aos rabis, quando se apresentavam para iniciarem a formação acadêmica nas escolas hebraicas: que devo fazer? No evangelho de Mateus o jovem rico diz: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?” (Mt 19,16).       

Antes de responder à pergunta desse rico, Jesus se cautela diante do apelativo “bom”: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Essa precisão servirá para se compreender a resposta que Jesus fará a esse rico. Esta observação de Jesus corresponde perfeitamente à concepção bíblica e judaica segundo a qual só Deus é chamado bom, porque ele usa de misericórdia, socorre os pobres e defende os fracos (cf. Dt 10,18). Por isso, a única condição para entrar na vida eterna é imitar o único bom, Deus. A fidelidade a Deus é exercida no amor ao próximo, síntese dos mandamentos (cf. Rm 13,8-10).        

Jesus prossegue, indicando ao seu interlocutor o caminho para “herdar” a vida definitiva junto a Deus, e citou só os mandamentos que se referem aos deveres para com o próximo (v.19). Jesus omite os mandamentos referentes a Deus. Em vez disso, ele recorda os éticos, os que se referem ao próximos, que são independentes de todo contexto religioso: Tu conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!”.  O rico responde: “Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde a minha juventude” (v.20).      

O texto prossegue: “Fitando-o, Jesus o amou e disse: ’uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’” (v.21).

Fitaré o mesmo que cravar, admirar, fixar a atenção e o pensamento, ficar imóvel. O sinal distintivo da identidade do discípulo é seguir a Jesus, isto é, ficar envolvido em seu destino, seu modo de amar e de ser fiel ao outro homem até o testemunho supremo da cruz (cf. Jo 13,1). A diferença entre a renúncia aos bens como estilo de vida e o seguimento evangélico está nessas duas palavras de Jesus: “dá-os aos pobres”. Se nos detivermos na primeira: “vai e vende tudo o que tens”, ainda nós estaremos no limiar do evangelho que para termos liberdade interior, devemos nos afastar (longe de cobiça ou ganância) de todas as coisas e preocupações materiais. 

A novidade evangélica é o convite: “dá aos pobres, porque assim tu imitas o único bom, Deus; depois vem e segue-me”. Trata-se de seguir aquele que, pelos pobres, deixou não só sua atividade, a segurança social e os laços de parentesco, mas também entrega sua própria existência como dom de amor pelos muitos, pela libertação deles (cf. Mc 10,45).               

O homem rico, pelo seu apego à riqueza, não aceita o convite de Jesus. Seu amor aos outros é relativo, não chega ao nível necessário para um cristão. Não está disposto a trabalhar por uma mudança social, por uma sociedade justa; a antiga lhe basta. Prefere o dinheiro ao bem do homem. 

A cena do evangelho de hoje é simpática: uma pessoa (jovem) inquieta que busca caminhos e quer dar um sentido mais pleno para sua vida. Mas o diálogo, que prometeu muito, acaba em fracasso. Tampouco Jesus consegue tudo o que quer em sua pregação, pois ele respeita, com delicadeza, a liberdade das pessoas. Alguns lhe seguem, deixando tudo para trás, como os apóstolos. Outros, como o homem rico no evangelho de hoje, ficam para trás, pois seus bens estão na sua frente que acabam não vendo mais nada senão os bens. 

O jovem rico se converteu em símbolo de qualquer cristão que quando chegou o momento não quis aceitar a mensagem de Jesus. Jesus não pede “coisas” e sim a entrega total. Não se trata de “ter”, mas trata-se de “ser” e de “seguir” vitalmente a Jesus: “Quem quer me seguir, carregue sua cruz de cada dia e me siga. Quem quer guardar sua vida, vai perdê-la”. Para todos nós custa muito renunciar ao que estamos apegados: as riquezas ou ideias ou a família, ou os projetos individuais ou a mentalidade. Quando estamos cheios de coisas, menos agilidade para avançarmos pelo caminho de vida e de Deus. Um atleta que quer correr, mas com uma mala às costas, será difícil conseguir medalha. 

Jamais esqueçamos a seguinte verdade: O dinheiro é um deus que tem altar em quase todos os corações, tanto num adulto realista como num jovem idealista, tanto no rico como no pobre, tanto no leigo como no religioso/sacerdote. Muitas vezes as brigas numa comunidade, seja familiar, seja civil, seja eclesial, surgem ou partem desse deus que se chama dinheiro. Por isso, Martinho Lutero observou astutamente: “Três conversões são necessárias: a conversão do coração, a da mente e a da bolsa”.             

Jesus pede a todos os seus seguidores que tenham o desprendimento que sabe se conformar com o necessário e compartilhar com os outros o que se tem, sem entesourar nem incorrer na idolatria do dinheiro como bem supremo. Um dia seremos obrigados a largar tudo quando chegar nosso momento para partir deste mundo. De fato, temos apenas o usufruto das coisas criadas por Deus para nossa felicidade neste mundo e não para possuí-las. Podemos possuir as coisas materiais, mas jamais podemos no deixar possuir por elas. Somos chamados por Deus, Criador de todas as coisas a nos converter diariamente

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

VIII Domingo Do Tempo Comum, Ano "C", 02/03/2025

SOMOS CHAMADOS A RENOVAR E A PROGREDIR NO CAMINHO DO SENHOR PARA PRODUZIR BONS FRUTOS

VIII DOMINGO COMUM DO “C”

Primeira Leitura: Eclo 27,5-8

5 Quando a gente sacode a peneira, ficam nela só os refugos; assim os defeitos de um homem, aparecem no seu falar. 6 Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa. 7 O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. 8 Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar; pois é no falar que o homem se revela.

Segunda Leitura: 1Cor 15,54-58

Irmãos: 54 Quando este ser corruptível estiver vestido de incorruptibilidade e este ser mortal estiver vestido de imortalidade, então estará cumprida a palavra da Escritura: “A morte foi tragada pela vitória; 55 Ó morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?” 56 O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado e a força do pecado é a Lei.57 Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo.58 Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor.

Evangelho: Lc 6,39-45

Naquele tempo, 39 Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? 40 Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. 41 Por que vês o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? 42 Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando não percebes a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. 43 Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons.44 Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas. 45 O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”.

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Hoje termina a Primeira Parte do Tempo Comum na nossa liturgia, porque na próxima Quarta-feira (de Cinzas) começamos a Quaresma. Portanto, toda a liturgia de hoje nos convida a encerrar um período, uma etapa do ano litúrgico, durante a qual seguimos os começos do ministério de Jesus, para começar outra semana seguinte: a Quaresma, um tempo forte, com tudo o que isso implica.

É Preciso Aprender Sempre Para Progredir Sempre E Limpar Sempre o Coração Para Enxergar Melhor....

Continuamos a acompanhar o Sermão (Discurso) da Planice de Jesus no Evangelho de Lucas. O texto do evangelho proclamado neste domingo é a terceira e última parte deste Sermão (Discurso). Nesta última parte do Sermão, Jesus apresenta três comparações destinadas para todos os segudores de Jesus Cristo.

A primeira comparação (Lc 6,39-40) é sobre um cego que guia outro cego: Pode um cego guiar outro cego?. E a pergunta de Jesus é: “Não cairão os dois num buraco?”. Lucas usa essa comparação para advertir diretamente os discípulos  de todos os tempos e em qualquer lugar deste mundo que nenhum discípulo é mais do que o mestre, mas que todo o discípulo deve ser como o mestre (Lc 6,40). Cada discípulo precisa ter consciência de que ele está sempre em processo de ser discípulo. Para ter maturidade como discípulo do Senhor é preciso progredir sempre para que cada dia ele possa parecer-se com Jesus Cristo: “Não vivo eu, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?”, perguntou Jesus retoricamente. Jesus pede uma autocrítica para qualquer liderança. Na ausência da autocrítica qualquer líder é incapaz de reconhecer suas fraquezas e limitações e ainda se arrogam o direito de ser juízes sobre os demais. Um bom líder tem um agudo senso de autocrítica.

Em outras palavras, pode-se dizer que a palavra-chave para a primeira comparação é “Progredir sempre”, pois não nascemos prontos. Assim, o discípulo é aquele que se encontra permanentemente em processo. Ele, por se saber sempre em processo de construção, não se contenta em ser mediano. É preciso fazer um passo adiante com Cristo diariamente.

Como discípulo para poder progredir é preciso aprender sempre. A etimologia revela que o substantivo aprendizagem deriva do latim “apprehendere”, que significa apanhar, apropriar, adquirir conhecimento. O verbo aprender deriva de preensão, do latim “prehensio-onis”, que designa o ato de segurar, agarrar e apanhar, prender, fazer entrar, apossar-se de.

Na segunda comparação põe-e em destaque a cena sobre a trave no próprio olho e o cisco no olho do vizinho (Lc 6,41-42): “Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando não percebes a trave no teu próprio olho?”. E logo em seguida há denúncia sobre os nossos juízos quotidianos, levianos e rápidos acerca dos outros: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”. Estamos sempre prontos para ver o cisco que está nos olhos do próximo e não enxergamos a trave que se atravessa nos nossos olhos. “Temos diante dos olhos os defeitos dos outros, enquanto os nossos ficam atrás”, dizia o filósofo romano Séneca (4 a.C-65 d.C). Estamos sempre prontos a criticar os defeitos e os erros/falahs dos outros e sem enxergarmos nada nossos próprios defeitos e erros. Este tipo de comportamente é chamado por Jesus de hipocrisia. (Lc 6,42). A “hipocrisia” é um termo de origem grega e designa aquele que, no teatro, representa um papel que não corresponde à sua própria vida. Veste-se de santo, mas é um delinquente na vida diária.

Fica para nós uma grande lição da segunda comparação sobre o que devemos fazer sempre: proceder à limpeza da nossa vida, adequando-a ao Evangelho. É preciso limpar sempre nosso coração para vivermos de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo. “Não penses mal do teu irmão. Sê tu com humildde o que queres que ele seja, e não pensarás que ele é o que tu não és” (Santo Agostinho: Enarrationes in psalmos, 30,2,7).

Na terceira comparação fala-se simultaneamente da árvore boa e da árvore má (Lc 6,43-45).

A palavra chave que dá unidade para a terceira comparação é “fruto”. Os frutos denunciam a árvore se é sã ou doente, boa ou má. Do mesmo modo o fruto do coração, o que dele transborda na boca. É de dentro, do interior, do coração, que provém as obras, boas ou más. Na cultura semítica e bíblica, o coração é comparado a um depósito de onde se retiram os pensamentos, as palavras e as ações. Por isso, em Lc 6,45 Jesus conclui que o homem bom, do seu bom coração tira coisas boas; o mau, do seu mau coração tira coisas más;  boca fala da abundância do coração.

A palavra e atos denunciam nosso coração. A palavra revela a bondade ou a maldade do coração. O que é bom, da bondade que junta no seu coração tira o bem; e o que é mau, da maldade tira o mal, porque a boca fala daquilo que trasborda do coração: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”, diz-nos o Senhor (Lc 6,45). A vida moral se verifica em seus frutos.

Quando as palavras são amargas, é porque há uma amargura dentro de coração. Quando as palavras são amáveis, é porque o coração está cheio de bondade, e isso é que aparece para fora. Tudo que falamos e fazemos revelam quem somos nós. Aquilo que fazemos e falamos manifesta que classe de pessoa somos. Aquele que fala mal do outro é porque seu coração está cheio de maldade. Essa pessoa está destruída por dentro praticamente. E ela quer, infelizmente, destruir os outros através de sua vontade de semear a maldade ou em envenenar o ambiente. Mas felizmente, diante de Deus a bondade vencerá e a verdade revelará tudo diante de Deus. Por isso, jamais tenhamos medo de ser verdadeiros, de ser pessoas do bem. O mal aparentemente avança, mas ele não tem futuro. Somente o bem e a bondade tem futuro. Sejamos bons para que tenhamos desde já o nosso futuro bom.

Portanto é necessário manter o coração puro e limpo para enchê-lo de bondade, pois somenet um coração bom pe e sabe amar até os inimigos, perdoar os irmãos, indicar aos errantes o caminho certo. “A bondade não é uma qualidade da vida e sim, a própria vida, e que ser bom significa viver”, dizia o teólogo alemão Dietrich Bohoeffer, pastor luterano (1906-1945:morto  nos campos de concentração nazis).

Na Eucaristia da qual participamos neste domingo queremos enraizar nossa vida em Deus, de tal forma que Sua vida divina corra por todo nosso ser, e entrando em uma verdadeira comunhão de vida com o Senhor, possamos produzir frutos abundantes de bondade. O cristão é aquele que vive na terra antecipando o céu. E o céu é o próprio Deus. E Deus é o supremo Bem. Aquele que pratica o bem é porque ele é de Deus. Mas aquele que semeia a maldade, não é de Deus, mesmo que freqüente qualquer tipo de culto religioso.

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Vamos estender mais nossa reflexão!

Nossa Fala Revela Nosso Coração

A primeira Leitura de hoje é tirada do livro do Eclesiástico e é o texto típico da literatura sapiencial com um sabor poético. A partir de várias imagens (a peneira, o forno, o fruto da árvore) nos é dito que a bondade do homem é autenticamente manifestada depois de ter sido provada, depois de ter sido examinada. Só então se verifica se é algo apenas superficial ou se é algo que flui das profundezas do coração: “Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa. O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar; pois é no falar que o homem se revela” (Eclo 27,6-8).

Com efeito, a Palavra revela o íntimo do coração e descobre naquilo mesmo que se pretende ocultar (cf. Eclo 27,4-6). É o próprio do sábio poder dominar sua palavra para não se revelar senão quando o entender, e para deixar falar o interlocutor tempo suficiente para poder julgar o seu coração: “O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem”.

O texto da PrimeiraLeitura é apenas um breve eco de uma doutrina de Ben Sirac sobre os pecados da língua: as querelas que a fala provoca (Eclo 8,1-19; 28,8-12), os juramentos demasiados precipitados (Eclo 23,7-15), as mentiras e duplicidades (Eclo 20,24-26; 19,4-12) e acima de tudo a hipocrisia (Eclo 5,14; 6,1; 28,13-16).

Portanto, a palavra pertence ao que de mais íntimo há no homem. Sua palavra revela sua força e sua vitalidade, seu espirito e seus planos, sua bondade e sua malícia, sua verdade e sua mentira, e assim por diante. Se a palavra que se emite sem engajar o fundo mesmo da pessoa, então, é coisa que não só é pecado, mas constitui uma dicotomia profunda e um desequilíbrio. Não é por acaso que, mais tarde, Jesus dirá, no Sermão da Montanha: “Seja o vosso ‘sim’, sim, e o vosso ‘não’, não. O que passa disso vem do Maligno” (Mt 5,37).

Cada Palavra de Deus, cada passagem da Bíblia confronta o homem com uma nova maneira de pensar e de viver; leva-o a adquirir um novo olhar, a enxergar em outras direções diferentes daquela que havia escolhido. A Palavra de Deus nos apresenta uma visão mais profunda da realidade e nos ajuda a descobrir a mão de Deus que atua no esplendor da criação, na beleza da vida humana e nas comunidades que lutam pela justiça, pela paz e pela fraternidade. A Palavra de Deus nos permite olharmos nossa realidade e nossas esperanças com olhos novos, enquanto que a realidade nos fornece novas lentes para ler e interpretar a Bíblia. Na escuta e na prática da Palavra de Deus, o olhar e o entendimento se modificarão e abandonaremos “nossa sabedoria” para acolher a sabedoria de Deus.

É Preciso Cultivar a Dimensão Interior De Nosso Ser

Também a mensagem do fragmento do Evangelho de Lucas que lemos hoje está em sintonia com a Primeira leitura. O núcleo desta mensagem consiste em valorizar o interior, o coração bom e reto; a não ficar-se com a imagem exterior que não reflete nada do que tem no coração.

Na primeira parte do Evangelho há uma chamada à humildade, à simplicidade, quando se trata de valorizar a nós mesmos e aos outros. A partir das imagens do cego que não pode ser guia de outro cego e do discípulo que não está tão instruido quanto a seu mestre, Jesus faz uma chamada para estarmos conscientes de nossa própria limitação, e da capacidade de autocrítica. Esse pensamento culmina com o exemplo da trave no próprio olho e o cisco no olho do vizinho: “Por que vês o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?”.

E a partir da falsa situação da qual pretende ensinar cego ou um simples discípulos, e da qual pretende corrigir os demais quando ele está ainda mais carregado de faltas, Jesus convida, na segunda parte do Evangelho, a descobrirmos o homem em sua própria realidade. É uma realidade que fala de seu aspecto mais autentico no qual há no fundo do coração. O que vale em cada pessoa não é o que diz e sim o que há em seu coração. E o que há no fundo do coração se expressa depois em suas palavras a em seus atos.

Com tudo isso, Jesus nos convida a cultivarmos a dimensão interior de nossa pessoa, aquela que constitui a parte mais profunda e autêntica de nosso ser. É umma dimensão interior que Jesus v~e positivamente ao dizer: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração”. Mas este tesouro de bondade que cada qual guarda em seu coração, cada um precisa cultivar para que dê seus frutos bons. Por isso, é tão importante trabalhar a vida interior das pessoas, sua capacidade de reflexão, de escuta, de meditação, de silêncio.

Concretamente, o cristão há de continuar modelando seu coração segundo Deus e seguindo o estilo de Jesus. A mensagem do Evangelho pede interiorização, exige poder arraigar no coração do cristão para poder vive-lo de verdade.

O Salmo Responsorial (Sl 91) de hoje nos recorda precisamente que, quando as raízes são profundas e mantidas no Senhor “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão Mesmo no tempo da velhice darão frutos, cheios de seiva e de folhas verdejantes”.

E na Segunda Leitura (1Cor 15,54-58), são Paulo nos recorda onde se encontra o fundamento de nossa esperança: na vitória de Cristo que derrotou a morte. Se enraizarmos profundamente nossos corações nesta convicção, nossa vida será um testemunho verdadeiro da fé que professamos. “Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor”.

Portanto, trata-se, definitivamente, de tudo isso, de buscar a renovação do coração permanentemente.

Uma Árvore Se Conhece Pelos Seus Frutos: Somos Chamados a Ser Árvore Frutífera

Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas”.

Segundo o Evangelho de hoje, os frutos denunciam a árvore se é sã ou doente. Do mesmo modo o fruto do coração, o que dele trasborda na boca. A palavra denuncia nosso coração. A palavra revela a bondade ou a maldade do coração. O que é bom, da bondade que junta no seu coração tira o bem; e o que é mau, da maldade tira o mal, porque a boca fala daquilo que trasborda do coração: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”, diz-nos o Senhor (Lc 6,45).

A vida moral e ética se verifica em seus frutos. O justo produz bons frutos porque é irrigado pelas águas divinas. Os frutos serão particularmente abundantes na era escatológica (cf. Ez 47,1-12). Evidentemente, o cristão enxertado na árvore da vida que é Jesus, o verdadeiro tronco (Jo 15,1-5) produz os frutos do Espírito (cf. Gl 5,5-26; 6,7-16). Sem Cristo, o cristão se torna um árvore estéril (cf. Mt 3,8-10; 21,18-19). Para Lucas, os frutos são, sobretudo, as atitudes da caridade fraterna.

“A boca fala do que o coração está cheio”. Quando as palavras são amargas, porque há uma amargura dentro de coração. Quando as palavras são amáveis, é porque o coração está cheio de bondade e isso é que aparece para fora. Tudo que falamos revela quem somos nós. Aquilo que fazemos e falamos manifesta que classe de pessoas nós somos. Aquele que fala mal do outro é porque seu coração está cheio de maldade. Essa pessoa está se destruíndo por dentro praticamente. E ela quer, infelizmente, destruir os outros através de sua vontade de semear a maldade ou em envenenar o ambiente. Mas felizmente, diante de Deus a bondade vencerá e a verdade revelará tudo diante de Deus. Por isso, jamais tenhamos medo de ser verdadeiros, de ser pessoas do bem. O mal aparentemente onipotente e onipresente, mas ele não tem futuro. Somente o bem e a bondade têm futuro. Por isso, a bondade e o bem são investimento que nunca falham. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. A bondade significa também a capacidade que possui um ser de dar ao outro a perfeição que lhe falta. Sejamos bons e bondosos para que tenhamos desde já o nosso futuro.

Nesta Eucaristia queremos enraizar nossa vida em Deus, de tal forma que Sua vida divina corra por todo nosso ser, e entrando em uma verdadeira comunhão de vida com o Senhor, possamos produzir frutos abundantes de bondade.

O cristão é aquele que vive na terra antecipando o céu. E o céu é o próprio Deus. E Deus é o supremo Bem. Aquele que pratica o bem é porque ele é de Deus. Mas aquele que semeia a maldade, não é de Deus, mesmo que freqüente qualquer tipo de culto religioso.

O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”, diz-nos o Senhor (Lc 6,45). Precisamos refletir seriamente sobre estas palavras do Senhor.

Guias Cegos

“Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?”

Em maior ou menor medida, todos nós necessitamos na vida de um ponto de referência, um guia que nos permita caminhar para onde devemos nos dirigir. O importante é encontrar o guia adequado. É importante nos diversos aspectos da vida civil, eclesial, religiosa, familiar. Importante quando intentamos escolher a carreira profissional que desejamos e que nos assegura a subsistência de modo digno; importante é o guia para a equipe deportiva se sabe levar a equipe para o triunfo; importante o economista que guia a marcha da empresa para que não quebre e sim que produza os benefícios adequados para criar riquezas e reparti-las. É importante, evidentemente, um bom guia em diversos aspectos da vida.

O homem não somente come, bebe e se diverte. Há algo a mais em sua essência que o faz buscar um guia, um guia que, por outra parte, pode orientar todos os movimentos de sua existência, até os mais pequenos e insignificantes. Estamos em um momento no qual, pela diversidade de meios de comunicação e pela rapidez dos mesmos, necessitamos de guias, de líderes para nos dirigir.

Há um GUIA impecável a quem nós cristãos devemos dirigir nosso olhar diariamente. Ele é Jesus Cristo. É um GUIA cujos frutos são incontestáveis:  generosidade, desprendimento, simplicidade, compaixão, tolerância, amor para aqueles que Ele guia, um amor que o leva a entregar, sem um gesto de protesto, a própria vida. É um guia difícil de seguir, porém é um GUIA absolutamente seguro. Com Ele jamais cairemos no buraco do egoísmo, da indiferença, do desprezo dos outros, do esquecimento de Deus que se traduz no esquecimento do homem.

Nosso GUIA, Jesus Cristo, é bom ponto de referência para qualificar e catalogar os numerosos guias que, generosamente, se nos oferecem para nos levar diretamente à felicidade.

Se quisermos ser guia para os outros devemos nos deixar guiar pelo nosso GUIA maior: Jesus Cristo. Caso contrário, levaremos os outros para a perdição.

P. Vitus Gustama,SVD

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

01/03/2025-Sábado Da VII Semana Comum

A TERNURA DIVINA DEVE NOS FAZER MAIS HUMANOS E IRMÃOS

Sábado da VII Semana Comum

Primeira Leitura: Eclo 17,1-13

1 Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. 2 E à terra o faz voltar novamente, embora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu. 3 Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado, deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra. 4 Em todo ser vivo infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros. 5 Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria. 6 Deu-lhes ainda a ciência do espírito, encheu o seu coração de bom senso e mostrou-lhes o bem e o mal. 7 Infundiu o seu temor em seus corações, mostrando-lhes as grandezas de suas obras. 8 Concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu Nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras. 9 Concedeu-lhes ainda a instrução e entregou-lhes por herança a lei da vida. 10 Firmou com eles uma aliança eterna e mostrou-lhes sua justiça e seus julgamentos. 11 Seus olhos viram as grandezas da sua glória e seus ouvidos ouviram a glória da sua voz. Ele lhes disse: “Tomai cuidado com tudo o que é injusto!” 12 E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo. 13 Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos.

Evangelho: Mc 10,13-16

Naquele tempo, 13 traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.

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A primeira leitura e o evangelho enfatizam, praticamente, o valor do homem. O autor sagrado quer apresentar o homem, não tanto em geral, mas na sua relação com Deus. Na Primeira Leitura se enfatiza a relação dependente do homem em relação a Deus, pois Deus é o Criador do homem e consequentemente, o homem é a criatura de Deus. Sem o Criador não haveria a criatura e toda a criação. O Evangelho quer sublinhar o valor do homem independentemente  de sua posição social, de sua inteligência, de sua riqueza. Na linguagem de são Paulo, o homem e cada homem é o templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 3,16-17), ou na linguagem do livro de Gênesis, o homem é o hálito de Deus (cf. Gn 2,7). Tudo o que o homem é, tudo o que o homem tem, é dom do amor generoso e gratuito de Deus: a inteligência, língua e olhos, os ouvidos e o coração para pensar, a ciência e assim por diante.

O Papel Do Homem Sobre a Natureza

Continuamos a acompanhar a leitura do Eclesiástico. O texto da Primeira Leitura de hoje é a meditação de Ben Sirac sobre os primeiros capítulos do Gênesis. Ele é o primeiro entre os autores bíblicos a pôr em destaque este tema. Ben Sirac que medita os primeiros capítulos do Gênesis põe em evidencia o papel do homem na criação.

Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. E à terra o faz voltar novamente, embora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu. Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado, deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra. Em todo ser vivo infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros”. Na primeira fase o autor quer enfatizar que há uma infinita diferença entre Deus e o homem. Deus é o Criador; o homem é criatura: “Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. E à terra o faz voltar novamente. A existência do homem é passageira neste mundo, pois o homem é feito do pó e para o pó ele vai voltar. Através desta afirmação o autor quer nos relembrar, implicitamente, que naturalmente (a partir de sua natureza) o homem deve ser humilde (humus = pó) e não arrogante. A arrogância revela o esquecimento do homem sobre sua origem que é da terra.

Apesar disso (apesar de ser pó), a ideia principal de Ben Sirac está em torno da unidade do cosmos em torno do homem. Para Bem Sirac o homem tem seu papel sobre a natureza em três níveis.

Em primeiro lugar, o homem é o organizador da natureza sobre a qual tem todo o poder, pois ele é a imagem de Deus (Eclo 17,3). O homem foi encarregado por Deus de transformar a natureza mediante a ciência.Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria” (Eclo 17,5). Assim, a companhia do homem sobre a natureza, a técnica que permite ao homem dominar as coisas, é como uma presença de Deus que está terminando sua criação. Em outras palavras, o homem deve preservar a natureza de sua destruição.

Em segundo lugar, o papel do homem na criação é também de ordem ética. Não basta dominar a natureza e ter avanços técnicos. Não basta encurtar as distâncias materiais, se o homem continua sendo separado de seus irmãos, se a violência domina seu coração e guia sua mão para praticar a violência, se não há o respeito mútuo. É preciso civilizar o amor fraterno. Tomai cuidado com tudo o que é injusto! E a cada um deu mandamentos em relação a seu próximo. Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos” (Eclo 17,12-13).

Em terceiro lugar, Ben Sirac afirma que o homem tem o papel da religião. A função do homem é “religar” a criação a Deus pelo louvor e pela ação de graças: “Deus concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu Nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras” (Eclo 17,8).

Quando o homem se concentrar apenas na primeira função ou papel, esquecendo outros dois papeis, ele acaba destruindo a natureza e o próprio homem. Nos últimos anos, o segundo e o terceiro papel estão em plena crise.

Por isso, a ciência e a tecnologia por si só não são suficientes para promover o bem da humanidade e da criação. Os problemas da "poluição da natureza", a "rarefação das matérias-primas", mostram que a ciência também pode contribuir para a destruição. Não basta chegar à Lua, domesticar o átomo, distribuir eletricidade ao mundo inteiro ... é também necessário ao homem distinguir o "bem do mal", dominar sua violência e seus instintos, abrir-se ao amor do próximo.

A vitória sobre a natureza pode trazer consigo novas e temíveis alienações, se não for acompanhada da vitória do homem sobre si mesmo. O universo técnico carece de um suplemento espiritual, isto é, uma "alma". Sem ética, a ciência pode se tornar mortal. A inteligência sem amor pode ser mais prejudicial do que falta de inteligência.

Viver e Conviver Na Ternura

No texto do evangelho de hoje Jesus é apresentado cheio de ternura: “Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”. Ternura é um sentimento de afeto doce e delicado, de atenção carinhosa. É suave comoção. A ternura é sinal de maturidade e vigor interior. A característica de uma ternura é desejar amar e saber que é amado. Por isso, a ternura supõe a capacidade de participar na vida de si e dos outros, tanto nas suas alegrias como nas suas dores, vivendo uma relação de cordialidade (Latim: cor/cordis: coração). Deixar escapar a ternura é deixar escapar a vida. A ternura impede à caridade de reduzir-se a uma moral do dever fornecendo um coração palpitante, acolhedor capaz de afeto compassivo.

Mais uma vez Jesus insiste na importância de ter a ternura e de acolher ternamente na comunidade os que não contam, representados, desta vez pelas crianças, símbolo da total indefesa. As crianças eram sinônimas dos últimos, dos que não contam.

Antes Jesus nos convidou a acolhermos as crianças (Mc 9,37). No evangelho de hoje Jesus nos convida a fazermos como elas para acolher o Reino de Deus (Mc 10,15), isto é, a vontade de Deus no mundo.

Por que Jesus valoriza tanto as crianças?

 

1.    Por causa de sua humildade. Nenhuma criança é exibicionista. Ela ainda não aprendeu a ser orgulhoso e a ter privilégio. Ela também ainda não aprendeu a colocar a importância em si mesma.

2.    Por causa da sua obediência. Paradoxalmente a criança tem instinto natural para obedecer. Ela ainda não aprendeu o orgulho e a falsa independência que separa o homem do seu próximo.

3.    Por causa da sua confiança. É bastante claro ver que uma criança aceita a autoridade. Ela pensa que seu pai sabe de tudo e por isso, acha que o Pai está certo. A criança confia nas outras pessoas. Ela não pensa que outros sejam ruins, pois ela é pura de coração.

4.    Por causa de sua memória curta. Ela ainda não aprendeu a guardar rancor ou ressentimento. Ela é capaz de brincar novamente logo depois de uma briga. Embora ela tenha sido tratada injustamente, uma criança esquece logo tudo.

Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”.

Esta afirmação tem uma grande profundidade. É um convite para pormo-nos em relação a Deus em uma total “dependência” d’Ele. O verdadeiro discípulo não tem e não deve ter malícia no coração, e deve confiar totalmente em Deus e se entrega à vontade de Deus, como as crianças fazem com seus pais.  Os principais beneficiários do Reino são os que sabem desapegar-se de si mesmos (Mc 10,23-31). Aqui a criança é símbolo da disponibilidade, da dependência, da obediência. A criança não calcula (não é calculista), não faz comentários nem discutir como os adultos. Ela depende vitalmente do amor de seus pais que para ela é uma questão de vida ou de morte.

Quando os discípulos repreendiam as crianças de se aproximarem de Jesus, pronunciou Jesus a seguinte frase: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas... Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos”.

Jesus não quer uma comunidade na qual haja uns que contam e outros não; onde haja dominadores e dominados, senhores e escravos; patrão e empregado. Seus discípulos, no entanto, não estavam na linha da vida de Jesus. Jesus se indignou pela atitude discriminatória dos discípulos. O gesto de Jesus de tomar as crianças em seus braços, abençoá-las e impor-lhes as mãos é um gesto profético: Jesus quebra as estruturas rígidas da sociedade de sua época em que reina a desigualdade. Acolher e abraças as crianças significa que todos são iguais diante de Deus e recebam a mesma ternura de Deus.

Através do símbolo de crianças Marcos quer nos transmitir também a ternura de Deus para todos os homens, seus filhos. Somos todos filhinhos e filhinhas de Deus independentemente de nosso modo de viver (cf. 1 Jo 3,1; Rm 8,16 ). Como um pai sente ternura por seus filhos, assim sente o Senhor ternura por seus fieis, todos nós. Deus fala, através do Livro do profeta Isaías, as palavras de muita ternura: “Pode a mãe esquecer-se do seu filhinho, pode ela deixar de ter amor pelo filho das suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, Eu não Me esquecerei de ti. Eis que Eu te gravei nas palmas das minhas mãos; as tuas muralhas estão sempre diante de Mim(Is 49,15-16). Estas palavras, com certeza, devolvem nossas confiança em Deus e nosso amor por Deus. De fato, somos amados. Somos crianças de Deus. Como tais precisamos manter nossa inocência e nossa infância espiritual: cheia de fé e de entrega total a fim de que possamos entrar no Reino de Deus. Se nao, Jesus terá que repetir as mesmas palavras para nós: : “Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”.

Para Meditar:

  • Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido” (Charles Chaplin).
  • O amor é uma atividade, não um afeto passivo; é um ato de firmeza, não de fraqueza... é propriamente dar, e não receber” (Erich Fromm).
  • "As feridas da alma são curadas com carinho, atenção e paz" (Machado de Assis).
  • As palavras sem afeto nunca chegarão aos ouvidos de Deus (William Shakespeare).

P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 18/05/2025

AMAR COMO JESUS NOS AMOU É A SUBSTÂNCIA DA IGREJA V DOMINGO DA PÁSCOA DO ANO “C” I Leitura: At 14,21b-27 Naqueles dias, Paulo e Barnab...