MATRIMÔNIO NA SUA BELEZA E PROFUNDIDADE
Sexta-Feira da VII Semana Comum
Primeira
Leitura: Eclo 6,5-17
5 Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações. 6 Sejam numerosos os que te saúdam, mas teus conselheiros, um entre mil. 7 Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; e não te apresses em confiar nele. 8 Porque há amigo de ocasião, que não persevera no dia da aflição. 9 Há amigo que passa para a inimizade, e que revela as desavenças para te envergonhar. 10 Há amigo que é companheiro de mesa e que não persevera no dia da necessidade. 11 Quando fores bem-sucedido, ele será como teu igual e, sem cerimônia, dará ordens a teus criados. 12 Mas, se fores humilhado, ele estará contra ti e se esconderá da tua presença. 13 Afasta-te dos teus inimigos e toma cuidado com os amigos. 14 Um amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. 15 Ao amigo fiel não há nada que se compare, é um bem inestimável. 16 Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. 17 Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo.
Evangelho: Mc 10,1-12
Naquele tempo, 1
Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do Jordão. As multidões se
reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2 Alguns
fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era
permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: “O que
Moisés vos ordenou?” 4 Os fariseus responderam: “Moisés permitiu
escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse:
“Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este
mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e
mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão
uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto,
o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os discípulos fizeram,
novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se
divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a
primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro,
cometerá adultério”.
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Ser Amigo É Ser Pessoa Virtuosa
“Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações”.
Ben Sirac trata com predileção do tema da amizade. Sem dúvida, sua cultura e riqueza ajudaram Bem Sirac a conhecer muitos amigos, sejam amigos interesseiros (colegas), sejam amigos fieis (verdadeiros amigos). O anseio por amizade atravessa toda a história da humanidade.
Hoje na Primeira Leitura lemos um pequeno tratado sobre a amizade: como se conseguem amigos, quem é o verdadeiro amigo, como devemos tratar nossos amigos. A amizade é como todos os títulos honoríficos: quanto mais velha, mais preciosa (Goethe). A amizade é um amor que nunca morre (Mario Quintana). A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro (Platão). A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas (Francis Bacon). A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz George Eliot.
Ben Sirac sabe pela experiência que a riqueza atrai os “amigos” (a experiência é a mãe da ciência, diz o ditado. A experiência é a mãe da sabedoria, diz o Eclesiastico): “Há amigo que é companheiro de mesa e que não persevera no dia da necessidade”, diz Bem Sirca. É um tipo de “amizade de churrasco” na linguagem brasileiro. Este tipo de “amizade” dura enquanto houver churrasco. Por isso, Bem Sirac aprendeu a selecioná-los e afastar os interesseiros (Eclo 6,5-13; 8,18-19; 37,1-5).
Para ele há dois critérios da verdadeira amizade: o primeiro critério é a fidelidade na prova: “Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; e não te apresses em confiar nele” (Eclo 6,7; cf. 9,10; 22,23-26). Por isso é que Cícero produziu a seguinte frase célebre: “Amicus certus in re incerta cernitur”, “Conhece-se o verdadeiro amigo na adversidade”. O amigo é o melhor terapeuta nas experiências de abandono e humilhação. Nossa fraquezas que expomos a nossos amigos não debilitam nossa vida, mas nos tornam mais vivos e animados para seguir adiante. Onde há amigos, sentimos em em casa.
O segundo critério da verdadeira amizade é, sobretudo, o amor comum a Deus: “Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo” (Eclo 6,16-17). Santo Agostinho dizia: “No céu nosso coração não estará apenas com Deus, mas na comunidade de todos aqueles que, como nós, procuraram a Deus”. Para Santo Agostinho, a amizade entre as pessoas se aprofunda quando elas ultrapassam a si mesmas e aspiram a Deus como verdadeiro objetivo de suas vidas: “Ama verdadeiramente seu amigo aquele que ama a Deus no amigo, seja porque ele está nele, seja para que ele esteja nele”.
O próprio Jesus nos revela que não existe amizade, quando não é capaz de morrer para si mesmo e para a vida em benefício dos amigos: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando”, disse Jesus a seus discípulos (Jo 15,13-14).
Para os filósofos gregos a amizade era sempre expressão da virtude. A virtude (disposição para o bem) é a base da amizade. Dois amigos, por exemplo, são duas pessoas virtuosas. Por isso, o Platão diz que somente pode ser amigo do outro quem é amigo de si mesmo, isto é, ser pessoa virtuosa consigo mesma. Um amigo é uma pessoa que me ajuda a viver para o bem. Não posso ter amigo se eu mesmo não sou virtuoso comigo mesmo. Pessoas más não podem realmente se tornar amigas de outras pessoas. A amizade pressupõe a existência da bondade na pessoa. A verdadeira amizade sempre oferece segurança e por ser companheiro (aquele que partilha o pão), o medo fica afastado.
Por isso, os psicólogos afirmam que pessoas sem amigos sofrem muito mais de fatalidade e crise do que as que têm amigos. Não é por acaso que santo Agostinho dizia: “Sine amico nihil amicum”, “Sem amigo nada é amigável”.
Matrimônio Que Deus Quer
“Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”
O texto do evangelho deste dia nos apresenta a discussão sobre o matrimônio entre Jesus e os fariseus. O foco da discussão é o divórcio. A doutrina do evangelista Marcos é bem clara: o casamento não é somente um contrato entre o homem (marido) e a mulher (esposa), mas ele engaja a vontade de Deus. A vontade dos esposos (em contrair o matrimônio) não é suficiente para explicar o casamento e sua unidade, mas a vontade de Deus é parte integrante: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”. Consequentemente, o divorcio não é apenas uma injustiça em relação ao cônjuge humano abandonado, mas também uma injustiça em relação ao próprio Deus que quer sempre a comunhão.
“É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher?”. É a pergunta de alguns fariseus a Jesus com o intuito de apanhá-lo. Jesus seria acusado de traidor às exigências da Lei, se respondesse “não”, e poderia estar em contradição com sua pregação e com suas obras de caridade caso respondesse “sim”. O resultado seria o mesmo: desacreditar Jesus.
Jesus percebeu a maldade dos fariseus, mas não reagiu de maneira violenta. Jesus não discutiu. Ao contrário, Jesus se argumentou ao retroceder até as origens: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”
“Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”. Como conseqüência de um coração duro e insensível é a desobediência contínua às diretivas divinas. Um coração duro e insensível provoca a desordem nas relações humanas.
“O que Deus uniu, o homem não separe!”. Ater-se somente à lei e às regras é esquecer o impulso da vida. Jesus quer que o ser humano se aproxime da ambição de Deus: o amor é mais exigente do que qualquer lei.
“Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne”. Para conhecer a grande intuição de Deus é preciso retroceder aos começos, às origens, ao princípio, quando, por ternura, Deus tirou da terra o homem e a mulher e soprou neles Seu hálito para que eles correspondessem ao Seu amor. Para Deus, amar foi em primeiro lugar falar nossa linguagem. Para Deus amar é manter a única palavra que nós podemos entender. Todos entendem a linguagem de amor. Amor é a única palavra que Deus quer manter para o homem e a mulher e quer, ao mesmo tempo, que o homem e a mulher permaneçam no amor. Quando há amor, tudo tem jeito. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a descobrir que necessitamos falar a linguagem do Outro: de Deus. E a linguagem que Deus usa é amor.
Para Deus amar também significa fazer-se vulnerável. Ele não permaneceu no céu de Sua indiferença. Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Regressar às nossas origens para voltar a descobrirmos a regra ou o princípio de nossa vida é fazer-nos vulneráveis. Quem ama, aceita desejar, esperar, pedir e sofrer.
Para Deus, amar foi também crer e esperar. Deus nos deixou livres e não se arrependeu pela liberdade que nos foi dada. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a aprendermos a viver na esperança. O amor é fecundo, suscita e ressuscita, perdoa e reconcilia. O amor espera com o outro na esperança, pois Deus nos espera no amor e por amor.
“Não separe o homem o que Deus uniu”, diz Jesus. Romper um vínculo selado por Deus é ir contra Deus. Deus chama à comunhão. Toda ruptura de comunhão significa estar contra o Deus-Comunhão. Os discípulos, os cristãos devem buscar sempre uma vida que reflete esta comunhão com Cristo e com o Pai, e por este mistério de comunhão é inconcebível falar de desunião, de divórcios, de divisão entre os cristãos. Todos os cristãos devem ser testemunhas de comunhão e não de ruptura.
MATRIMÔNIO:Amoris Laetitia do Papa Francisco
1. Matrimônio
como um projeto a construir juntos, com paciência, compreensão, tolerância e
generosidade (AL n. 218).
2. Daqui
passa-se ao gosto da pertença mútua, seguido pela compreensão da vida inteira
como um projeto de ambos, pela capacidade de colocar a felicidade do outro
acima das necessidades próprias, e pela alegria de ver o próprio matrimónio
como um bem para a sociedade. O amadurecimento do amor implica também aprender
a «negociar».
Em cada nova etapa da vida matrimonial, é preciso sentar-se e
negociar novamente os acordos, de modo que não haja vencedores nem vencidos,
mas ganhem ambos.
(Al n 220).
3. Não
se vive juntos para ser cada vez menos feliz, mas para aprender a ser feliz de
maneira nova, a partir das possibilidades que abre uma nova etapa. Cada crise
implica uma aprendizagem, que permite incrementar a intensidade da vida comum
ou, pelo menos, encontrar um novo sentido para a experiência matrimonial. É
preciso não se resignar de modo algum a uma curva descendente, a uma inevitável
deterioração, a uma mediocridade que se tem de suportar (AL n.232).
4. Quando
se assume o matrimónio como uma tarefa que implica também superar obstáculos,
cada crise é sentida como uma ocasião para chegar a beber, juntos, o vinho
melhor. É bom acompanhar os cônjuges, para que sejam capazes de aceitar as
crises que lhes sobrevêm, aceitar o desafio e atribuir-lhes um lugar na vida
familiar. Os casais experientes e formados devem estar dispostos a acompanhar
outros nesta descoberta, para que as crises não os assustem nem os levem a
tomar decisões precipitadas. Cada crise esconde uma boa notícia, que é preciso
saber escutar, afinando os ouvidos do coração (AL
n.232).
O matrimônio é sacramento por ser imagem mais perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom, participação e amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus (cf. 1Jo 4,19). Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a sua imagem.
As pessoas se casam para formar uma família onde cada membro é preparado para entrar na sociedade maior. A família é o ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida senão através da família. No inicio da vida cada um recebe da família, a vida e as verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente.
Que em cada Eucaristia ou em cada celebração
litúrgica seja fortalecido o amor dos casais presentes, o amor que eles
consagraram um para o outro no dia de seu casamento. O casamento indissolúvel é
um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer:
Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16).
P.
Vitus Gustama,svd
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