
Estamos no último dia deste ano. Isto nos indica
que a vida
é realmente uma peregrinação
ou uma viagem.
E a Igreja nos
recorda que somos peregrinos.
Ela mesma
está “presente no mundo
e é peregrina” (SC 2). Na peregrinação da vida
dentro do tempo
não há volta.
Não há a marcha
a ré. Por
mais que
as pessoas digam: “Se pudesse começar tudo de novo...”, mas nada disso acontece. Numa peregrinação
tudo é para frente. Não tem
volta: nem
para as pessoas,
nem para as coisas, nem para a história do mundo e da humanidade.
O nosso nascimento já
é um bilhete
dessa peregrinação. Daí para
frente tudo
depende de nós. Tudo
é nossa responsabilidade.
Não dá para nascer novamente.
Estamos em permanente
peregrinação no tempo.
Não há parada
do ponto de vista
temporal, nem
quando dormimos, pois
o tempo não
pára. Mesmo que
fiquemos sentados ou deitados, o tempo continua fluindo, nada
pára. Fora e dentro
de nós tudo
continua em movimento.
Não temos poder
para acelerar o momento nem para segurar o tempo. Simplesmente
vivemos conforme o ritmo
do tempo. A grande
questão é como
aproveitamos cada momento
para nossa própria edificação
e para o bem do próximo. Nisto está o sentido
de nossa presença
neste mundo. Nisto está a nossa responsabilidade.
E para sentir a liberdade de
caminhar nesta peregrinação
temos que experimentar
a alegria do desapego.
As maiores dificuldades
no progresso, tanto
material como
espiritual, estão em
nosso arraigado apego
às coisas passadas,
caducas e superficiais. Para
caminharmos para a frente
e para o alto
sempre devemos renunciar.
A falta de renúncia
atrasa a vida
e mata a esperança
e a pessoa se infantiliza. Quem
deseja andar
deve deixar muita
carga, muito
peso para trás de si mesmo. O homem que não se
renova, que não
renuncia às coisas superficiais
e às coisas passadas
perde-se, degrada-se e infantiliza-se. Quem
tem consciência de que
nasceu para o alto
e para a frente,
tudo vence, tudo
supera para alcançar a sua meta: a comunhão plena com Deus.
Abraão Lincoln dizia: “Podemos caminhar devagar, mas nunca para trás”.
Jesus vive essa forma
de vida mostrando o seu
significado pleno:
“O Verbo se fez carne
e habitou entre nós”. Em Cristo, o próprio Deus se fez peregrino
para vir ao encontro do homem
nos seus
caminhos. E ele
próprio se faz como
caminho para
os homens: “Eu
sou o Caminho, a Verdade
e a Vida. Ninguém
vai ao Pai senão
por mim”
(Jo 14,6). E o fato de ele não ter “uma pedra onde repousa a cabeça” (Lc 9,58) e sua vida
apostólica itinerante revelam a sua identidade
de peregrino por
excelência.
Por isso,
devemos fazer sempre
de Jesus o centro de nossa vida e ser moldados num instrumento
da graça de Deus.
Precisamos confiar na profundidade de Deus
em nós
e viver dessa confiança. Esse é o caminho
para continuar andando rumo à total comunhão com Deus na eternidade.
Em poucas horas este ano vai virar o passado. O passado
é observável, mas não
é modificável. O futuro é modificável, mas não é
observável. Mesmo assim
os eventos passados
contribuem para o nosso
agora. Nunca
nos divorciamos de nosso
passado. Estamos em
companhia dele para
sempre e ele
nos introduz no presente.
E nossa reações
de hoje refletem nossas experiências de ontem
e suas raízes estão no passado. Uma pessoa
enfrenta o futuro, certamente,
com o seu
passado. E cada
dia nos
oferece preparação para
o futuro, para
as lições que
virão, sem as quais
não daríamos nossa
plena contribuição
para o projeto
que contém a evolução
de todos nós.
Por outro
lado, reconhecemos que
o passado e o futuro
estão fora de nosso
alcance. Não
temos poder para voltar ao passado a não ser através de nossa
memória. Nem
temos uma bola de cristal
para saber o que vai acontecer no próximo instante. A única realidade que temos é o presente. Não conversamos amanhã;
não comemos amanhã;
não morremos amanhã.
Tudo acontece hoje.
Este instante
é tudo que
temos. Só podemos agir
no momento presente
ou nunca
mais. É possível
que tenhamos tido tempos
no passado que
foram especiais ou
ruins para nós; pode ser que o futuro nos reserve momentos
preciosos. Porém,
o único tempo
realmente “nosso”
é este instante
em que
estamos agora. Cabe a nós decidirmos o que
fazer com este momento, este presente. Cada momento é meu para torná-lo belo ou doloroso de acordo
com a minha
escolha. A vida
real tem lugar
aqui e agora.
Deus é presente.
“Eu sou Aquele
que é”, disse ele.
Deus está presente
neste momento, quer
alegre ou triste. Quando
Jesus falou de Deus, falou sempre de Deus presente onde nós estamos e quando
lá estamos. Deus
não é alguém
que foi ou
que será, mas
Aquele-que-é; e que é para
mim no momento
presente. Eis
porque Jesus veio
para tirar de nós o peso do passado e as preocupações
pelo futuro.
Jesus nos diz: “Não
fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas
preocupações. Basta
a cada dia
a própria dificuldade.
Pelo contrário,
busquem primeiro o Reino
de Deus e a sua
justiça, e o resto
será acrescentado por Deus“ ( Mt 6,25-34 )?
Este
último dia do
ano é uma boa ocasião
para fazermos um
balanço do ano
que passou e fixarmos propósitos para o ano que começa. É uma boa oportunidade
para pedirmos perdão
pelo bem que não
fizemos, pelo amor
que nos
faltou, pelo perdão
que não
oferecemos; também é uma oportunidade para
agradecermos a Deus de todos os benefícios
que nos
concedeu.
Que
as luzes do Ano
Novo que está
para chegar nos mostrem a verdade de que ninguém chega antes ou depois,
tirando menos ou
levando mais da vida.
Que neste ano
novo possamos olhar para trás sem ferir os olhos de ninguém
no que fizemos, sem
perder no coração
a fé do que
nos resta
a fazer. Precisamos começar
o ano sem
pisar em ninguém; começar o ano novo com o amor
correndo por todas as veias, em todas
as palavras, em
todos os passos,
em todos
os encontros e diálogos;
começar o ano
novo com a maravilhosa promessa de fazer o bem. Que
nos doze meses do ano
que principiará, a fé,
o amor e a esperança
sejam uma riqueza constante
em nossos
lares, em
nossos trabalhos
e em qualquer
lugar onde
nos encontrarmos. Precisamos cortar o que precisa ser cortado;
deixemos que nossa
vida sangre um
pouco para o nosso crescimento
ao bem. Não nos deixemos arrastar por coisas passageiras.
Abandonemos tudo o que
nos entristeceu no passado.
Esqueçamos as amarguras, as contrariedades.
Não levemos para
o ano novo ganâncias, nem mentiras. Leve somente soluções, respostas, aberturas,
liberdade, justiça,
amor e luz.
Entremos no ano novo
com a vontade
de perdoar os erros
dos outros. Não
deixemos que o poder
e o orgulho nos
dominem.
Se começarmos o ano novo cheios de espírito
de Deus, com
o coração e a mente
livres do ódio
e da arrogância, conservando a alma
livre de amarras,
sem apegos
aos ídolos do poder
e da posse, então
o ano novo
será dos melhores. Deus
nos conceda tudo
isto! Assim
seja!
P.
Vitus Gustama,svd
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