NOSSA SENHORA DE GUADALUPE
PADROEIRA DA AMÉRICA LATINA
12 de Dezembro
Primeira Leitura: Gl 4,4-7
Irmãos, 4 quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, 5 a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. 6 E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá – ó Pai! 7 Assim, já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus.
Evangelho: Lc 1,39-47
39 Naqueles dias,
Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma
cidade da Judeia. 40 Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel
ficou cheia do Espírito Santo. 42 Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43 Como posso merecer que
a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44 Logo que a tua saudação chegou aos
meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45 Bem-aventurada
aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. 46
Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47 e o meu espírito se
alegra em Deus, meu Salvador”.
________________________
No dia 12 de dezembro celebramos a festa de Nossa Senhora de Guadalupe. Segundo sólida tradição, a imagem da Virgem de Guadalupe apareceu impressa na manta do índio Juan Diego, em 1531, na cidade de México. A igreja, construído no local onde aconteceu a aparição de Nossa Senhora, foi elevada à categoria de basílica pelo Papa Pio X em 1904. Em 1910 este mesmo Papa proclamou Nossa Senhora de Guadalupe Padroeira da América Latina.
A
Conforme a lenda e tradição, no Sábado, 9 de dezembro de 1531, pelas seis horas da manhã, quando o índio Juan Diego se dirigia de sua aldeia para a de Tolpetlac para assistir uma função religiosa na missão franciscana de Tratetolco, ao chegar ao monte Tepeyac, às margens do lago Texcoco, Juan Diego viu uma jovem de uns 15 anos, que lhe ordenou ir falar com o Bispo a fim de pedir-lhe que construísse um templo no vale próximo. Ela chamava Juan Diego carinhosamente: “Juanito, Juan Dieguito”. Nossa Senhor convidou Juan Diego a aproximar-se. Ela se apresenta com a “sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus. Ela apresenta a Juan Diego o motivo de sua presença: “Desejo ardentemente que aqui seja construído para mim um templo, onde eu possa mostrar e oferecer todo o meu amor, a minha compaixão, o meu auxílio e a minha proteção, a ti, a todos os habitantes desta terra e aos outros devotos que me invocam com confiança” (Corrado Maggioni: Maria Na Igreja Em Oração, Ed. Paulus 1998 p.116).
No mesmo
dia, à tarde por volta das 17:00 horas, Juan Diego vê novamente a jovem, e lhe relata
a incredulidade do bispo e pede que escolha outro mensageiro. Porém a jovem
insiste em sua missão de ir ter novamente com o bispo e pedir a construção do
templo.
No dia
seguinte, Domingo 10 de dezembro, às 15 horas, Juan Diego fala novamente com o bispo. O bispo ainda não acredita e pede algum
sinal. Pela terceira vez a jovem lhe "aparece" e ordena a Juan Diego que
volte ao monte no dia seguinte para receber o sinal pedido pelo bispo.
Entretanto, no dia seguinte, Juan Diego não vai ao monte devido a doença de seu
tio Juan Bernardino.
Na madrugada do dia 12 de dezembro, terça-feira, devido a gravidade da doença de seu tio, Juan Diego sai de sua aldeia para buscar um sacerdote, e rodeia o monte para não encontrar a Virgem. Mesmo assim ela lhe "aparece" e fala que seu tio ficará curado, e pede que vá ao monte buscar rosas que seria o sinal. Ao seu regresso, a Virgem diz: “Estas diferentes flores são a prova, o sinal que levarás ao bispo. Diga-lhe que veja nelas meu desejo, e com isso, execute minha vontade”.
Ao mesmo tempo que Juan Diego encontra a jovem,
ela
"aparece" também a seu tio doente e cura instantaneamente suas
enfermidades e manifesta seu nome: "Sempre Virgem Santa Maria de
Guadalupe".
No dia 12 de dezembro,
após a quarta "aparição", Juan Diego leva em seu poncho, como prova, rosas frescas
de Toledo (e isto em pleno inverno mexicano). Já na casa do bispo, por volta do meio dia,
na hora que abriu o poncho (ayate) onde estavam embrulhadas as flores, estava
estampada a imagem de Nossa Senhora: "A Virgem de Tequatlaxopeuh". A mesma que hoje se venera
na Basílica de Guadalupe, México. A imagem estampada é de 143 cm de altura. Durante 116
anos, de 1531 a 1647, a pintura esteve desprotegida e exibida em várias
procissões solenes. A pintura
resistiu à umidade e ao salitre, muito abundante e muito corrosivo naquela
região, antes de ter sido secado o lago Texcoco. O tecido da tela é de tão
má qualidade que deveria ter se desintegrado em questão de 20 anos, mas
resistiu até hoje. A veneração popular levou piedosos e doentes a que beijassem
as mãos e a face da pintura ou que fosse tocada com objetos cujo material
deveria ter deteriorado ou destruído o tecido e a pintura. Só Deus pode
explicar a razão de tudo isso. Somos obrigados e capazes de dizer: é um
milagre.
_________________
Em circunstâncias históricas em que o reino de Davi é ameaçado pela invasão de outros reis estrangeiros, Deus quer intervir, mas o rei Acaz (763-727 a.C) prefere renunciar a essa ajuda (cf. Isaías 7,10-14) . Então, o próprio Deus toma a iniciativa e, por meio do profeta Isaías, anuncia um sinal de esperança: uma criança, que nascerá de uma jovem mulher, herdará e salvará a dinastia davídica.
Paulo vê cumprida em Maria e Jesus a promessa feita a Acaz no tempo de Isaías. A vinda de Jesus ao mundo marcou a plenitude dos tempos e cumpriu as antigas promessas. Deus tomou a iniciativa de enviar seu Filho, nascido de uma mulher, e assim a humanidade foi elevada novamente à dignidade de filhos.
Paulo, por meio das figuras domésticas de uma família e sua servidão, revela-nos o verdadeiro sentido da vida e a possibilidade que temos de nos tornarmos filhos adotivos do próprio Pai. Não servos, mas livres, com a liberdade dos filhos de Deus. Além disso, com a confiança inspirada pelo Espírito Santo para poder chamar a Deus de “Pai”. E a mulher escolhida como instrumento privilegiado para todo esse plano divino foi Maria.
“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva”, assim lemos na Primeira Leitura de hoje (Gl 4,4-5).
Gl 4,4-7 constitui uma das altas teologias da Carta aos Gálatas. Estes versículos devem ser lidos em conexão com Rm 8. Aqui fala-se do “Filho” aplicado principalmente a Cristo (embora possa ser aplicado aos cristãos). O mistério de Deus que se faz presente em Jesus Cristo, o Filho, inclui também ao Pai e ao Espírito.
O “Pai” aqui (Deus) é chamado “Abba”, “Paizinho”, palavra carinhosa que São Paulo utiliza tanto na Carta aos Gálatas como aos Romanos. “Abba” é a palavra que Jesus adotou com toda a espontaneidade para expressar a sua confiança filial e sua intimidade profunda com Deus e expressa sua entrega total pela sua causa.
No texto é mencionado também o Espírito para enfatizar que nossa filiação, como a de Cristo, não é de índole jurídica e sim afeta ao mais profundo de nosso ser: de certo modo nos diviniza.
O Verbo de Deus se fez carne para nos divinizar no Espírito Santo. Deus, em Jesus Cristo, entrou no tempo humano para elevá-lo à eternidade. Jesus morreu e ressuscitou para que, seguindo a Ele e vivendo conforme seus ensinamentos, possamos experimentar a vida eterna.
“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva”. O tempo da Lei foi um tempo de espera da chegada do Messias, do Ungido. Consequentemente, na ausência do Messias, d´Aquele que salvará, o tempo da Lei se tornou incompleto. Com a chegada de Cristo o tempo se tornou completo ou pleno (plenitude). Com a chegada de Cristo nosso tempo se tornou cheio de graça de Deus. Com Cristo vivemos no tempo da própria graça de Deus. A palavra “completo” (se completou”) aqui tem o sentido de plenificar ou levar à perfeição algo incompleto tanto no campo material e antropológico como no campo espiritual.
O tempo de que se trata é determinado ou estabelecido pelo Pai. No cristianismo há uma grande revelação em que entre Deus e nós não há mais distância, pois Ele é o Pai nosso (Mt 6,9). Chamar Deus de Pai é entrar na intimidade profunda em que as preocupações devem desaparecer, pois estamos “em casa” com nosso Deus que é nosso Pai. Assim a frase “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva” é uma expressão de amor profundo por nós da parte de Deus. Nosso Deus Pai jamais nos abandona por triste ou pior que seja nossa situação. É preciso saber esperar o tempo de Deus, pois somente Ele é capaz de estabelecer o quando deste tempo para nossa vida em particular, pois Ele nos conhece completamente. É preciso manter nossa fé neste Deus Pai, pois o tempo de Deus para nós vai chegar conforme a vontade do Pai. Deus é como o sol que não se preocupa com aqueles que estão dormindo ou andando na escuridão, pois ele vai nascer de qualquer forma. Ninguém pode acelerar a chegada do sol. Basta esperar, e o tempo vai passando e o sol aparecerá.
O texto do Evangelho lido neste dia nos fala que Maria atravessando Palestina de norte a sul com o Filho de Deus em suas entranhas, e chegando à casa de Zacarias e provocando ali cenas de entusiasmo é uma imagem muito sugestiva. A distância entre Nazaré, onde Maria mora, e Ain-Karim, onde mora Isabel está em torno de 144 quilómetros.
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43 Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44 Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45 Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”, assim exclamou Isabel. O elogio de Isabel a Maria nos convida a refletirmos sobre nossa fé. A fé de Maria se caracteriza por sua adesão ao plano de Deus. Ela deseja o que Deus deseja. O mistério de Deus está oculto naquela criança da promessa (Jesus). Ao confiar, ela começou a perceber como Deus é fiel em cumprir sua promessa. Isso também se aplica a nós: se não crermos, jamais experimentaremos como o dom de Deus pode misteriosamente tomar forma dentro de nós.
A fé de Maria também se manifesta em sua visita a Isabel; não tanto por precisar de ajuda com a gravidez, mas sobretudo para contemplar o que Deus está fazendo nos outros. Quanto devemos aprender com essa atitude! Devemos abrir mais os olhos e olhar profundamente para os outros, a fim de ver e reconhecer o que Deus está fazendo em suas vidas. Se formos a Tepeyac, que não seja por mera curiosidade, mas para contemplar a bondade de Deus manifestada no encontro entre Juan Diego e a Senhora do Céu. Maria e sua prima Isabel têm isso em comum: sabem falar sobre o que Deus está fazendo nelas. Nenhuma delas fala de si mesma, mas do que Deus fez na outra. Esse reconhecimento as conduz ao magnífico hino do Magnificat. A fé de Maria nos impele a mergulharmos na atmosfera dos pobres de Javé (anawim), isto é, das pessoas humildes e simples que confiam totalmente em Deus, aceitam a sua vontade e guardam a sua Palavra.
Ao dizer sim a Deus, Maria aceitou ser fecundada pelo Espírito de Deus (cf. Lc 1,38). Por isso, Maria é portadora da salvação e é fonte de alegria por causa do Senhor que habita no seu coração. Maria se deixa totalmente “invadir” por Deus: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra!”. Maria se deixa levar pelo Salvador até a casa de sua parenta, Isabel. Maria se deixa levar pelo Senhor a fim de levar a alegria para todos.
A maternidade de Maria perdura incessantemente na economia da graça, desde o momento em que deu o seu fiel consentimento na Anunciação e o manteve inabalável aos pés da cruz, até a perfeita consumação de todos os eleitos. Pois, uma vez recebida no céu, ela não renunciou à sua função salvífica, mas continua a obter para nós, por sua multiforme intercessão, os dons da salvação eterna.
O sim de Maria para a entrada de Deus na sua vida é radical. Quanto maior for a radicalidade de nosso sim a Deus, maior será nossa fecundidade e numerosos terão filhos espirituais. Eu sou chamado a ser “Pai” para ter “filhos espirituais” que salvam o mundo.
Além disso, para que sejamos fonte de alegria para os outros temos que dizer sim ao plano de Deus e deixar que o Espírito de Deus nos fecunde. Para que nossa presença se torne uma presença alegre temos que deixar Jesus ocupar nosso coração, como Maria que se deixa para que seu ventre seja habitado pelo Salvador do mundo, Jesus Cristo.
Na Anunciação o Anjo do Senhor “entrou” na casa de Maria e a “saudou”. Nessa visita Maria fez a mesma coisa: ela “entrou” na casa de Zacarias e saudou a Isabel. É a saudação da Mãe do Senhor para a mãe do Precursor do Senhor. A saudação de Maria comunica o Espírito a Isabel e ao menino. A presença do Espírito Santo em Isabel se traduz em um grito poderoso e profético: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,42-45). Aqui Isabel fala como profetisa: se sente pequena e indigna diante da visita daquela que leva em seu seio o Senhor do universo. Sobram as palavras e explicações quando alguém entra na sintonia com o Espírito. Maria leva no seu seio o Filho de Deus concebido pela obra do Espírito Santo. E a presença do Espírito Santo em Isabel faz com que Isabel glorifique a Deus. Por isso, o encontro entre Maria e sua prima Isabel é uma espécie de “pequeno Pentecostes”. Onde entra o Espírito Santo, ai entra também paz, alegria e vida divina.
A Mãe de Senhor que leva Jesus em seu seio é a causa de alegria. Ou podemos dizer de outra maneira: o Senhor no seio de Maria “empurra” Maria ao encontro dos outros. Quando estivermos cheios de Jesus Cristo em nosso coração, a nossa presença traz alegria e a paz para a convivência. A ausência de Cristo em nosso coração produz problemas e inquietação na convivência.
A mulher de fé, Isabel, felicita Maria porque crê, e Maria responde com uma nova e solene afirmação de fé, proclamada em forma de hino de alegria: o Magnificat. Podemos nos perguntar se nossa fé fica longe da fé de Maria tanto em consistência como em conteúdo. Isabel felicita Maria porque crê que Deus é capaz de atuar e salvar ainda que possa parecer impossível (cf. Lc 1,37). Temos esta fé que Isabel felicita? Somos capazes de acreditar em Deus até nas coisas impossíveis?
Pela fé, que se traduz na vivência do amor fraterno, é que entramos em comunhão com Jesus e com seu Pai que o enviou para nos salvar (cf. Jo 14,23-24). A fé, como foi dito, é o reconhecimento do próprio desamparo, de um lado, e, a aceitação do poder salvador de Deus na nossa vida, do outro lado.
O canto de Maria, o Magnificat, é algo mais que uma proclamação social. Ele nos revela que somente Deus é a riqueza verdadeira. Por isso, quem se encontra cheio de si e de suas coisas, na verdade está vazio do essencial. Somente abrindo-se à profundidade de Deus e de seu amor, ao receber a graça do perdão e ao estendê-lo para os outros, o homem chegará a converter-se verdadeiramente em rico. O exemplo máximo é a figura de Maria.
“QUE FIZESTE, MARIA
Para valer tanto diante de Deus?
Foi tua beleza, ou tua inteligência ou tua
bondade
Que venceu o Criador e Pai, a ponto de te
tornares participante direta e pessoal
De todos os mistérios divinos?
Quem não conhece a resposta cantada no
Magnificat?
O Pai viu que ninguém seria tão simples
Continuaria tão humilde,
Sendo Cheio de Graça e Mãe de Deus”
(Dom Helder Câmara: Nossa Senhora No Meu Caminho)
P. Vitus Gustama,svd
---------------------------
Do “Nicán Mopohua”, Relato Do Escritor
Indígena Do Século Dezesseis Dom Antônio Valeriano
(“Nican
Mopohua”, 12ª edición, Buena Prensa, México, D.F., 1971, p. 3-19.21)
(Séc. XVI)
A voz da rola se escuta em nossa terra
Num sábado de mil e quinhentos e trinta e um, perto do mês de dezembro, um índio de nome Juan Diego, mal raiava a madrugada, ia do seu povoado a Tlatelolco, para participar do culto divino e escutar os mandamentos de Deus. Já amanhecia, quando chegou ao cerrito chamado Tepeyac e escutou que do alto o chamavam:
– Juanito! Juan Dieguito!
Subiu até o cimo e viu uma senhora de sobre-humana grandeza, cujo vestido brilhava como o sol, e que, com voz muito branda e suave, lhe disse:
– Juanito, menor dos meus filhos, fica sabendo que sou Maria sempre Virgem, Mãe do verdadeiro Deus, por quem vivemos. Desejo muito que se erga aqui um templo para mim, onde mostrarei e prodigalizarei todo o meu amor, compaixão, auxílio e proteção a todos os moradores desta terra e também a outros devotos que me invoquem confiantes. Vai ao Bispo do México e manifesta-lhe o que tanto desejo. Vai e põe nisto todo o teu empenho.
Chegando Juan Diego à presença do Bispo Dom Frei Juan de Zumárraga, frade de São Francisco, este pareceu não dar crédito e respondeu:
– Vem outro dia, e te ouvirei com mais calma.
Juan Diego voltou ao
cimo do cerro, onde a Senhora do céu o esperava, e lhe disse:
– Senhora, menorzinha de minhas filhas, minha menina, expus a tua mensagem ao Bispo, mas parece que não acreditou. Assim, rogo-te que encarregues alguém mais importante de levar tua mensagem com mais crédito, porque não passo de um joão-ninguém.
Ela respondeu-lhe:
– Menor dos meus filhos, rogo-te encarecidamente que tornes a procurar o Bispo Amanhã dizendo-lhe que eu própria, Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, é que te envio.
Porém no dia seguinte, domingo, o Bispo de novo não lhe deu crédito e disse ser Indispensável algum sinal para poder-se acreditar que era Nossa Senhora mesma que o enviara. E o despediu sem mais aquela.
Segunda-feira, Juan Diego não voltou. Seu tio Juan Bernardino adoecera gravemente e à noite pediu-lhe que fosse a Tlatelolco de madrugada, para chamar um sacerdote que o ouvisse em confissão.
Juan Diego saiu na terça-feira, contornando o cerro e passando pelo outro lado, em direção ao Oriente, para chegar logo à Cidade do México, a fim de que Nossa Senhora não o detivesse. Porém ela veio a seu encontro e lhe disse:
– Ouve e entende bem uma coisa, tu que és o menorzinho dos meus filhos: o que agora te assusta e aflige não é nada. Não se perturbe o teu coração nem te inquiete coisa alguma. Não estou aqui, eu, tua mãe? Não estás sob a minha sombra? Não estás porventura sob a minha proteção? Não te aflija a doença do teu tio. Fica sabendo que ele já sarou. Sobe agora, meu filho, ao cimo do cerro, onde acharás um punhado de flores que deves colher e trazer-mo.
Quando Juan Diego chegou ao cimo, ficou assombrado com a quantidade de belas rosas de Castela que ali haviam brotado em pleno inverno; envolvendo-as em sua manta, levou-as para Nossa Senhora. Ela lhe disse:
– Meu filho, eis a prova, o sinal que apresentarás ao Bispo, para que nele veja a minha vontade. Tu é o meu embaixador, digno de toda a confiança.
Juan Diego pôs-se a caminho, agora contente e confiante em sair-se bem de sua missão. Ao chegar à presença do Bispo, lhe disse:
– Senhor, fiz o que me ordenaste. Nossa senhora consentiu em atender o teu pedido. Despachou-me ao cimo do cerro, para colher ali várias rosas de Castela, trazê-las a ti, entregando-as pessoalmente. Assim o faço, para que reconheças o sinal que pediste e assim cumpras a sua vontade. Ei-las aqui: recebe-as.
Desdobrou em seguida a sua branca manta. À medida em que as várias rosas de Castela espalhavam-se pelo chão desenhava-se no pano e aparecia de repente a preciosa imagem de Maria sempre Virgem, Mãe de Deus, como até hoje se conserva no seu templo de Tepeyac.
A cidade inteira, em tumulto, vinha ver e admirar a sua santa imagem e dirigir-lhe suas preces. Obedecendo à ordem que a própria Nossa Senhora dera ao tio Juan Bernardino, quando devolveu-lhe a saúde, ficou sendo chamada como ela queria: “Santa Maria sempre Virgem de Guadalupe”.
Fonte: Liturgia Das Horas: Ofício Das Laituras de Nossa
Senhora de Guadalupe
Nenhum comentário:
Postar um comentário