terça-feira, 17 de maio de 2016

20/05/2016




VIVER NA TRANSPARÊNCIA E NO AMOR


Sexta-Feira da VII Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: Tg 5,9-12


9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. 10 Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor. 11 Reparai que consideramos como bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes falar da perseverança de Jó e conheceis o êxito que o Senhor lhe deu, pois o Senhor é rico em misericórdia e compassivo. 12 Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outra forma de juramento. Antes, que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento.


Evangelho: Mc 10,1-12


Naquele tempo, 1 Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2 Alguns fari­seus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4 Os fari­seus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”.
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Ser Perseverante


Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor. Reparai que consideramos como bem-aventurados os que perseveraram”.


Depois que se dirigiu aos ricos sobre o perigo do apego e da injustiça social no texto do dia anterior (Tg 5,1-6), agora São Tiago se dirige aos pobres e pede-lhes que tenham perseverança ou paciência em tudo, inclusive com os irmãos da comunidade. Segundo São Tiago os que perseveram são pessoas bem-aventuradas.


Perseverar significa a capacidade de resistir diante de cada dificuldade, porque acreditamos que Deus nos sustenta e nos levanta em qualquer situação. Quando você somente acredita na sua própria força, em pouco tempo você vai cair no desespero, pois sua força tem seu limite. Mas se você se apoiar em Deus, a sua força nunca vai ter o fim, pois Deus o abastece com sua graça: “Quando me sinto fraco, na verdade sou forte pois a graça de Deus me sustenta e me levanta”, dizia São Paulo (cf. 2Cor 12,10). Aquele que estiver aberto à graça de Deus para ter a capacidade de resistir e rezar com perseverança para a alcançar, poderá dizer com o Apóstolo Paulo: “Tudo posso n´Aquele que  me dá força” (Fl 4,13). Com esta fé Deus nos convida a remetermos para nossas forças interiores, como dizia o filósofo romano, Epicteto (55 d.C-135 d.C.): “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças. As pessoas prudentes enxergam além do incidente em si e procuram criar o hábito de utilizá-lo da maneira mais saudável. Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que necessita nesse momento. Use-a”(cf. A Arte de Viver, Editora Sextante).


A capacidade de resistir precisa ser sempre renovada na oração. Como cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar/converter-se, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações.


Ser Transparente


Não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outra forma de juramento. Antes, que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento”.


São Tiago aqui fala da regra sobre a palavra dada: transparência, que se apresenta como a antítese dos desvios da língua como falsidade, mentira etc. ou chamado pecado da língua (cf. Tg 3,1-13) e das seduções da linguagem (Tg 4,1-3).


A palavra e a linguagem são os meios pelos quais o homem entra em relacionamento intelectual com o seu ambiente, principalmente com o seu próximo. Para os antigos (especialmente para o mundo oriental), mais do que mero símbolo, uma palavra ou conceito é um meio de ordenar fenômenos e ideias, e simultaneamente, uma ponte para a comunicação e um meio de obter o domínio ou a influência, especialmente nas formas de maldição e de bênção.


Em outras palavras, a palavra não é apenas a manifestação do pensamento ou da vontade, mas uma coisa concreta que opera e é como que carregada com a força da pessoa que a pronuncia. Neste sentido, uma palavra não é apenas como portadora e mediadora do conteúdo significante, mas sim como poder eficaz, especialmente nas bênçãos (cf. Gn 27,35-37 em que a bênção derramada sobre Jacó não pode mais ser abolida) e nas maldições (cf. a maldição proferida por Josué em Js 6,26, dois séculos mais tarde ainda pesava sobre aquele que queria reconstruir Jericó, como lemos em 1Rs 16,34. A maldição, uma vez pronunciada, só pode ser desfeita por uma bênção contrária, como lemos em Jz 17,2; 1Sam 21,3).


Por isso, São Tiago pede que sejamos transparentes nas nossas palavras para que não sejamos julgados por Deus:Que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento” (Tg 5,12b; cf. Mt 5,33-37).


Beleza Do Matrimônio


O texto do evangelho deste dia nos apresenta a discussão sobre o matrimônio entre Jesus e os fariseus. O foco da discussão é o divórcio. A doutrina do evangelista Marcos é bem clara: o casamento não é somente um contrato entre o homem (marido) e a mulher (esposa), mas ele engaja a vontade de Deus. A vontade dos esposos (em contrair o matrimônio) não é suficiente para explicar o casamento e sua unidade, mas a vontade de Deus é parte integrante: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”.  Consequentemente, o divórcio não é apenas uma injustiça em relação ao cônjuge humano abandonado, mas também uma injustiça em relação ao próprio Deus que quer sempre a comunhão.


“É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher?”. É a pergunta de alguns fariseus a Jesus com o intuito de apanhá-lo. Jesus seria acusado de traidor às exigências da Lei, se respondesse “não”, e poderia estar em contradição com sua pregação e com suas obras de caridade caso respondesse “sim”. O resultado seria o mesmo: desacreditar Jesus.


Jesus percebeu a maldade dos fariseus, mas não reagiu de maneira violenta. Jesus não discutiu. Ao contrário, Jesus se argumentou ao retroceder até as origens: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”


Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”. Como consequência de um coração duro e insensível é a desobediência contínua às diretivas divinas. Um coração duro e insensível provoca a desordem nas relações humanas. 


O que Deus uniu, o homem não separe!”. Ater-se somente à lei e às regras é esquecer o impulso da vida. Jesus quer que o ser humano se aproxime da ambição de Deus: o amor é mais exigente do que qualquer lei.


Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne”. Para conhecer a grande intuição de Deus é preciso retroceder aos começos, às origens, ao princípio, quando, por ternura, Deus tirou da terra o homem e a mulher e soprou neles Seu hálito para que eles correspondessem ao Seu amor. Para Deus, amar foi em primeiro lugar falar nossa linguagem. Para Deus amar é manter a única palavra que nós podemos entender. Todos entendem a linguagem de amor. Amor é a única palavra que Deus quer manter para o homem e a mulher e quer, ao mesmo tempo, que o homem e a mulher permaneçam no amor. Quando há amor, tudo tem jeito. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a descobrir que necessitamos falar a linguagem do Outro: de Deus. E a linguagem que Deus usa é amor.


Para Deus amar também significa fazer-se vulnerável. Ele não permaneceu no céu de Sua indiferença. Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Regressar às nossas origens para voltar a descobrirmos a regra ou o princípio de nossa vida é fazer-nos vulneráveis. Quem ama, aceita desejar, esperar, pedir e sofrer.


Para Deus, amar foi também crer e esperar. Deus nos deixou livres e não se arrependeu pela liberdade que nos foi dada. Regressar às nossas origens para descobrir a regra ou o princípio de nossa vida é voltar a aprendermos a viver na esperança. O amor é fecundo, suscita e ressuscita, perdoa e reconcilia. O amor espera com o outro na esperança, pois Deus nos espera no amor e por amor.


Não separe o homem o que Deus uniu”, diz Jesus. Romper um vínculo selado por Deus é ir contra Deus. deus chama à comunhão. Toda ruptura de comunhão significa estar contra o Deus-Comunhão. Os discípulos, os cristãos devem buscar sempre uma vida que reflete esta comunhão com Cristo e com o Pai, e por este mistério de comunhão é inconcebível falar de desunião, de divórcios, de divisão entre os cristãos. Todos os cristãos devem ser testemunhas de comunhão e não de ruptura.


O matrimônio é sacramento por ser imagem mais perfeita do que Deus é e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom, participação e amor. O casal humano é chamado por Deus a tornar-se o primeiro lugar de encarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É dom de Deus (cf. 1Jo 4,19). Quando os homens recusarem este dom, impedirão Deus de imprimir neles a sua imagem.


As pessoas se casam para formar uma família onde cada membro é preparado para entrar na sociedade maior. A família é o ambiente em que cada um aprende a dar e a receber o amor, a sacrificar pelo outro, a ser solidário com o outro, a carregar juntos o fardo que se encontra na caminhada, a perdoar mutuamente pelas ofensas que muitas vezes são frutos não da maldade, mas das limitações naquele momento em que elas ocorreram. A linguagem da fé de cada cristão se aprende no lar. A fé e a ética cristã se aprendem no lar que vão marcar a vida de cada membro para o resto da vida. Nenhum de nós adquiriu por si só os conhecimentos básicos para a vida senão através da família. No início da vida cada um recebe da família, a vida e as verdades básicas para viver uma vida sadia pessoal, social e comunitariamente.


Que em cada Eucaristia ou em cada celebração litúrgica seja fortalecido o amor dos casais presentes, o amor que eles consagraram um para o outro no dia de seu casamento. O casamento indissolúvel é um grito para todas as pessoas ao redor que existe o amor. É o mesmo que dizer: Deus existe, pois ele é Amor (1Jo 4,8.16).


P. Vitus Gustama,svd

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