terça-feira, 31 de maio de 2016

02/06/2016




AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO DE CORAÇÃO


Quinta-Feira da IX Semana Comum


Primeira Leitura: 2Tm 2,8-15


Caríssimo, 8 lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho. 9 Por ele eu estou sofrendo até às algemas, como se eu fosse um malfeitor; mas a palavra de Deus não está algemada. 10 Por isso suporto qualquer coisa pelos eleitos, para que eles também alcancem a salvação, que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. 11 Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. 12 Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. 13 Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.  14 Lembra-lhes tais coisas e conjura-os por Deus a evitarem discussões vãs, que de nada servem a não ser para a perdição dos ouvintes. 15 Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, como operário que não tem de que se envergonhar, mas expõe corretamente a palavra da verdade.


Evangelho: Mc 12, 28-34


Naquele tempo, 28b um mestre da Lei aproximou-se de Jesus e perguntou-lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” 29 Jesus respondeu: “O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendi­mento e com toda a tua força! 31 O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro man­damento maior do que estes”. 32 O mestre da Lei disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. 33 Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios”. 34 Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência, e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.
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Jesus Cristo, Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem


Caríssimo, lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho”, escreveu São Paulo ao Timóteo (2Tm 2,8).


“Cristo ressuscitou! Cristo, Filho de Davi!” Este hino que São Paulo considera como “meu evangelho” resume nossa fé. A ressurreição dos mortos testemunha o caráter divino de Jesus. Jesus é o Senhor, pois foi ressuscitado. A ressurreição de Jesus é o ponto de partida e o ponto de chegada de toda a teologia paulina. São Paulo não teve a experiência do Jesus histórico como os apóstolos de Jesus, mas teve o encontro com o ressuscitado no caminho de Damasco (At 9,1-18). “Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos”. A ressurreição é a fonte e o ápice da fé cristã. Por causa da fé na ressurreição, suportamos, como São Paulo, todos os tipos de sofrimento, pois eles são passageiros. Para São Paulo, o evangelho é o evangelho de Jesus vivo (ressuscitado), presente e redentor.


A filiação davídica testemunha que Jesus é um verdadeiro homem. Jesus Cristo não é somente um ser celeste e sim é um homem completo enraizado numa linhagem familiar. Jesus é “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”, assim rezamos no Símbolo Niceno-Constantinopolitano. Jesus nos mostra que o caminho para ser divino é o caminho humano. Deus entrou no tempo para nos tornar eternos. Deus se fez homem para nos tornar divinos. Toda pessoa com a atitude humana e o espirito humano é uma pessoa de caráter celestial. O caminho de subida para o Céu passa pelo caminho de descida para a humanidade. Pela participação na Filiação divina de Jesus somos cidadãos do céu. Logo, nossa vida deve ser um céu aqui na Terra.


Ser Perseverante Até Nos Sofrimentos


Por ele eu estou sofrendo até às algemas, como se eu fosse um malfeitor; mas a palavra de Deus não está algemada. Por isso suporto qualquer coisa pelos eleitos, para que eles também alcancem a salvação, que está em Cristo Jesus, com a glória eterna” (2Tm 2,9-10).


Perseverar significa a capacidade de resistir diante de cada dificuldade, porque acreditamos que Deus nos sustenta e nos levanta em qualquer situação: “A Palavra de Deus não está algemada. Por isso suporto qualquer coisa...”, escreveu São Paulo. Quando você somente acredita na sua própria força, em pouco tempo você vai cair no desespero, pois sua força tem seu limite. Mas se você se apoiar em Deus, a sua força nunca vai ter o fim, pois Deus o abastece com sua graça: “Quando me sinto fraco, na verdade sou forte pois a graça de Deus me sustenta e me levanta”, dizia São Paulo (cf. 2Cor 12,10).


 A capacidade de resistir precisa ser sempre renovada na oração. Como cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar/ se converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações: “Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, como operário que não tem de que se envergonhar, mas expõe corretamente a palavra da verdade”.


Amar Para Se Tornar Divino, Pois Deus é Amor


Encontramos no evangelho de hoje um escriba sincero que se aproxima de Jesus não para criticá-lo, mas para dialogar com ele a respeito do maior de todos os mandamentos: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”, ele pergunta a Jesus. Nas escolas rabínicas se distinguiam entre mandamentos “graves” e “leves”. Tinha 248 preceitos positivos e 365 proibições legais. Por causa de sua grande quantidade, os rabinos investigaram qual de todos estes mandamentos era realmente importante, qual era o primeiro e principal como resumo de todos.


Jesus responde citando ao pé da letra a passagem do Dt 6,4-5 onde se encontra a seguinte afirmação: “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração , de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. Ao mesmo tempo Jesus cita a passagem do Lv 19,8, também ao pé da letra, onde se encontra o seguinte mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. E para Jesus ambos os mandamentos são como um só inseparavelmente: “Não existe outro mandamento maior do que estes”. É um só porque não se pode amar a Deus sem amar ao próximo. Por isso, na sua primeira Carta são João nos diz: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). Então, entre o mandamento do amor a Deus e o preceito de amar ao próximo existe uma conexão necessária. Inclusive os rabinos entendiam que o amor ao próximo era como um resumo da lei. Por exemplo, se atribui ao Rabino Hillel esta sentença: “Não faças ao outro o que não desejas para ti. Esta é toda a lei. O resto é interpretação”. Neste mandamento de amor se funda a única piedade verdadeira.


Amar! Este é o mandamento do Senhor. A acumulação dos termos: “coração, alma, mente, força” quer significar uma plenitude de amor que compreende todas as nossas faculdades de amar. É preciso que o amor arda em nossos pés à cabeça, em nosso espírito ao corpo, em nossa manhã até a noite, em nossa infância à velhice.


Amor é a essência para qualquer relacionamento com suas três direções: a Deus, ao próximo e a mim mesmo. Amor é relação, comunicação, encontro. Para eu poder valorizar o outro eu preciso saber me valorizar. Para eu poder amar o outro, eu preciso saber me amar. Para eu poder compreender o outro, eu preciso me compreender. Para eu poder fazer o encontro com o outro, eu preciso fazer o encontro comigo mesmo, reconhecendo tantos minhas capacidades e virtudes como também meus defeitos e limitações. Não basta amar a Deus, alguém tem que amar também o próximo. Não basta amar o outro, mas tem que saber se amar: “Amar a Deus com toda força e o próximo como a ti mesmo”. Não faça do outro como objeto de sua carência de amor. Isto não é amor. É exploração. Para amar tem que ser livre. O amor liberta, dá segurança e possibilita o crescimento. Quando uma pessoa começar a sufocar a outra pessoa é porque está faltando amor.


Por isso é que Jesus não fala de qualquer amor. Ele fala do amor ágape. Ágape é uma palavra grega que significa o amor que se dirige unicamente para o outro, incondicional, e que não espera nada em troca. É uma doação pura de si mesmo. Por isso, Jesus chegou a fazer uma afirmação muito extrema: “Amai vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,43-44). A única coisa que se espera dos inimigos é o bem deles. Este é o amor-ágape. É o amor que salva e liberta. Com efeito, a atitude de fé é procurar descobrir o projeto de amor de Deus e corresponder a ele. Amar a Deus significa escutá-Lo, adorá-Lo, encontrar-nos com ele na oração e na vida e amar o que ele ama. Amar o próximo não apenas significa deixar de fazer o mal, e sim estar pronto para ajudá-lo, acolhê-lo e perdoá-lo. Amor é o único meio que em si tem capacidade de convencer o outro, até os ateus de que somos cristãos.


Amor é capacidade de sair de si mesmo, de transferir-se para outro ser, de participar de outro ser e de entregar-se por um outro ser. Aquele que ama está totalmente no outro, conservando sua identidade. O amor não pode realizar-se na esfera de um sujeito isolado. O verdadeiro amor é sempre como uma experiência de derrota que se transforma em vitória; uma experiência de entrega que se transforma em enriquecimento; uma experiência de sair de si que se transforma no mais profundo encontro consigo mesmo; uma experiência de morte que se transforma em vida. O ponto final do amor é a vitória sobre a morte. O ponto final do egoísmo é a morte, e a ausência do amor é a ausência de Deus.


Portanto, hoje Jesus nos oferece a chave fundamental para cumprir a vontade de Deus: o amor íntegro a Deus como único Senhor e o amor ativo e efetivo e desinteressado para próximo. São Paulo nos relembra através da Carta aos romanos: “Não fiqueis devendo nada a ninguém… a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não matarás’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: ‘Amarás o próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,8-10).


P.Vitus Gustama,svd

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