sexta-feira, 20 de maio de 2016

24/05/2016




SEGUIR JESUS PARA FORMAR UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS


Terça-Feira Da VIII Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: 1Pd 1,10-16


Caríssimos, 10 esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles profetizaram a respeito da graça que vos estava destinada. 11 Procuraram saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória consequente. 12 Foi-lhes revelado que, não para si mesmos, mas para vós, estavam ministrando estas coisas, que agora são anunciadas a vós por aqueles que vos pregam o evangelho em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; revelações essas, que até os anjos desejam contemplar! 13 Por isso, aprontai a vossa mente; sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança na graça que vos será oferecida na revelação de Jesus Cristo. 14 Como filhos obedientes, não modeleis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo da vossa ignorância. 15 Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. 16 Pois está na Escritura: “Sede santos, porque eu sou santo”.


Evangelho: Mc 10,28-31


Naquele tempo, 28começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna. 31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”.
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Na Espera Da Vinda Do Senhor É Preciso Viver Na Santidade


No dia anterior, São Pedro falava da herança incorruptível e a esperança que nos concede Deus em sua misericórdia. No texto da Primeira Leitura de hoje, São Pedro pede que os cristão saibam se dominar (autocontrole), que viva na obediência, que não se modelem  aos desejos de antes e sim que vivam na santidade, imitando a mesma santidade de Deus: “Como filhos obedientes, não modeleis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo da vossa ignorância. Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está na Escritura: ´Sede santos, porque eu sou santo´”.


A vida cristã é uma vida pascal, pois é regenerada, graças à obediência de Jesus à vontade do Pai que o ressuscitou dos mortos. Por ser pascal, a vida do cristão se desenrola em torno da santidade proposta pelo próprio Deus: “Sede santos, porque eu sou santo”. Cada cristão deve se santificar para santificar os demais a fim de chegar à comunhão com o Deus santo.


O cristão vive entre a memória e a profecia, entre o ontem e o amanhã. E sobretudo, na vivência do presente, do hoje, o cristão deve estar atento aos valores fundamentais de sua salvação, a salvação que Deus nos oferece por Cristo. O cristão deve viver neste mundo visando à consumação: que tudo neste mundo tem seu fim. Mas a existência do cristão é orientada pela e para a graça de Deus. E essa orientação deve ser cotidiana, pois qualquer vacilação é perniciosa. Nada pode se esperar fora de Deus para nossa salvação.


Se tivermos consciência sobre de onde viemos e para onde vamos, viveremos o presente lucidamente e assumiremos decididamente o compromisso de viver vigilantes, com disponibilidade absoluta para ajudar o próximo guiados pelo Espirito de Jesus que veio não para ser servido e sim para servir (cf. Mc 10,45).


Cada Eucaristia nos faz exercitar esta atitude de memória do passado, de profecia aberta ao futuro e de celebração vivencial do presente: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice [HOJE] anunciais a morte do Senhor [ONTEM], até que Ele venha [AMANHÃ]” (1Cor 11,26). A Eucaristia é nosso melhor “viatico”, nosso alimento para o caminho.


A Fé Fecunda Nos Capacita A Abandonar Tudo Para O Bem De Todos


O texto do evangelho de hoje, como também o do dia anterior, se encontra na parte central do evangelho de Marcos (Mc 8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e termina com a mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os discípulos continuam com sua incompreensão diante da missão de Jesus.


No início e no fim desta seção, Marcos coloca o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus e faz entender o sentido da vida e de nossa presença neste mundo. Desde o começo da atividade pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos discípulos. Mas Jesus fará tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos discípulos. A visão clara que se tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas, aos poucos, com a ajuda de Jesus, vamos vendo com mais clareza e com maior nitidez quem é Jesus e o que significa seguir a este Jesus neste mundo. A fé também faz ver o caminho que Jesus trilhou e que devemos trilhar. Assim a seção começa e termina com a cura de um cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas curas têm uma função simbólica: para mostrar a cegueira dos discípulos. Elas também lembram o leitor de que é Jesus quem faz possível a fé daqueles que acreditam nele e O seguem no caminho.


No evangelho do dia anterior (Mc 10,17-27) o jovem rico recusou o convite de Jesus para que ele vendesse tudo que tinha para depois dar tudo aos pobres. Em vez de seguir a Jesus, Àquele que tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68b), o jovem rico foi embora triste porque tinha muitos bens e não quis partilhá-los nem com os necessitados (pobres). Depois que ele foi embora, Jesus pronunciou esta frase para os discípulos: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”.


Os discípulos ficaram espantados diante da afirmação de Jesus. Para os discípulos seguir a Jesus significa enriquecer-se de bens materiais. Por isso ficaram assustados com as palavras de Jesus: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc 10,26). Ao que Jesus respondeu: Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Para Jesus o caminho da vida consiste em enriquecer-se diante de Deus. só quem sabe perder a vida neste mundo por causa do evangelho vai recuperá-la na vida eterna. Salvar-se não está nas mãos do homem, mas é um dom gratuito de Deus e não pode merecer-se. Somente quando for acolhido o evangelho e viver-se na graça é que conduz a pessoa à vida eterna. Trata-se de uma vida sustentada pela força de Deus.


Ao ouvir a afirmação de Jesus, Pedro também perguntou a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. E o evangelista Mateus explicita ou acrescenta a seguinte frase: “O que é que vamos receber?” (Mt 19,27). Pedro já abandonou tudo, desapegou-se de tudo para se aderir a Jesus e quer saber de Jesus qual será a recompensa do seguimento.


O que é que tem no fundo ou por trás da frase de Pedro? Está seu conceito político e interesseiro do Messianismo. Os discípulos buscam postos de honra, recompensas humanas, soluções econômicas e políticas. Eles querem transformar Jesus em empresário para resolver sua carência econômica.


Jesus, com sua paciência, continua educando os discípulos e lhes garante: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. A afirmação de Jesus vale para qualquer pessoa que se adere a Jesus e que se dedica à propagação do evangelho de Jesus. Jesus assegura que no Reino ou na nova sociedade, na nova família não haverá miséria, pois vivem na partilha, na solidariedade, na compaixão, na fraternidade. Nessa nova família não haverá domínio, nem desigualdade nem superioridade nem poder. Por isso, na segunda afirmação de Jesus a palavra “pai” não se menciona que é símbolo do poder ou de autoridade. Em Mateus podemos entender o sentido dessa afirmação quando Jesus disse: “Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o celeste” (Mt 23,8-9). Chamar Deus de Pai leva a pessoa a viver a fraternidade na convivência com os demais, pois todos são filhos e filhas de Deus (cf. 1Jo 3,1-2).


Necessitamos dos bens materiais como meio na nossa vida, pois uma pessoa pode rezar ou meditar durante horas, mas no fim ela precisará dum pedaço de pão e dum copo de água. Mas reparamos que os bens materiais sempre são alheios a nós. Eles nunca serão nossos amigos. A vida feliz está na partilha, na solidariedade, na fraternidade, na compaixão, no amor mútuo, na caridade e assim por diante. A partilha é a alma do projeto de Jesus Cristo. Ele nos chama para segui-lo nessa direção. No evangelho de Marcos Jesus e seu Espírito vão ajudando os discípulos para que cheguem à maturidade de sua fé. Somente depois da ressurreição (Páscoa) eles vão se entregar também gratuito e generosamente ao serviço de Jesus Cristo e da comunidade até sua morte, pois eles captaram o sentido da mensagem de Jesus.


A resposta de Jesus diante da pergunta de Pedro é esperançosa e misteriosa, ao mesmo tempo: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Não se trata de quantidades aritméticas (cem vezes). A resposta se refere à nova família que se cria em torno de Jesus: deixamos um irmão e encontramos cem irmãos (irmãs). O laço desta nova família está na prática da vontade de Deus que consiste na prática do bem e na vivência do amor fraterno: “Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3,35).


Quantos irmãos e irmãs leigos, quantos pastores, quantos médicos e enfermeiros sem fronteiras e as demais pessoas de boa vontade que entregam sua melhor força e tempo para trabalhar pelo bem dos irmãos da comunidade e fora da comunidade e para ajudar os sofredores em todos os sentidos! Quantos sacerdotes, quantos religiosos e religiosas, quantas pessoas consagradas que não formaram a própria família, mas não por isso que deixaram de amar. Ao contrário, eles estão plenamente disponíveis para todos, movidos de um amor universal. Todos esses irmãos e irmãs são reflexos da generosidade de Jesus Cristo neste mundo. Jesus está presente nesses irmãos e irmãs, se quisermos perguntar onde está Jesus Cristo (cf. Mt 25,31-46). Jesus promete já desde agora uma grande satisfação e promete a vida eterna: “receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Mas o verdadeiro amor supõe sacrifício, cruz e perseguição, porém, vale a pena! A Páscoa salvadora passa pelo caminho da Cruz da Sexta-Feira Santa. A vida do cristão não termina na Sexta-Feira Santa. Ela termina na ressurreição. A força da ressurreição dá força e anima o cristão para encarar a cruz da Sexta-Feira Santa. Jesus nos mostrou isso.


P. Vitus Gustama,svd

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