segunda-feira, 16 de maio de 2016

19/05/2016

SER CRISTÃO DESPOJADO E AUTÊNTICO


Quinta-Feira da VII Semana Comum


Primeira Leitura: Tg 5,1-6


1 E agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós. 2 Vossa riqueza está apodrecendo, e vossas roupas estão carcomidas pelas traças. 3 Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes, como fogo! Amontoastes tesouros nos últimos dias. 4 Vede: o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso. 5 Vós vivestes luxuosamente na terra, entregues à boa vida, cevando os vossos corações para o dia da matança. 6 Condenastes o justo e o assassinastes; ele não resiste a vós.


Evangelho: Mc 9, 41-50


Naquele tempo, 41 disse Jesus aos seus discípulos: “Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42 E se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43 Se tua mão te leva a pecar, corta-a! 44 É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! 46 É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47 Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’. 49 Pois todos hão de ser salgados pelo fogo. 50 Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.
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Perigo Do Apego Aos Bens Materiais


Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes, como fogo!”.


Com o tom  e estilo proféticos, São Tiago, na Primeira Leitura, ameaça os ricos que se apegam excessivamente aos seus bens materiais a ponto de não pagar convenientemente seus empregados, além de oprimirem  e matarem os justos (cf. Is 5, 8-10; Jr 5, 26-30; Am 8, 4-8; Miq 2, 89).


Para os ricos desta categoria, São Tiago anuncia o castigo que já está presente. Por isso, ele emprega os verbos no tempo perfeito: o mal já começou. Por causa do apego excessivo e a injustiça social (não pagar salários dos empregados e matar os justos), a ferrugem que afeta o ouros e o apodrecimento das riquezas (Tg 5,2-3) atingirão seus próprios possuidores, como um fogo devorador: “Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, e a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós e devorar vossas carnes, como fogo!”


Era comum na época de os ricos não pagarem o salário para seus empregados apesar da exigência da lei (cf. Lv 19,13; Dt 24,15) e da denúncia dos profetas (cf. Ml 3,5; Eclo 31,4; 34,21-27). Na época, tal proceder era um dos meios para se enriquecer rapidamente. Além disso, havia fraudes processuais em proveito das grandes fortunas roubando os bens dos justos e inocentes (cf. 1Rs 21: a vinha de Nabot). Segundo São Tiago, o castigo será proporcional à falta (cf. Tg 5,3.5).


E os ricos de hoje? De que maneira obtiveram  suas riquezas: fruto de um trabalho duro ou resultado de uma de uma fraude e de corrupção?


Dignidade de Ser Discípulo de Jesus


Em Mc 9,38-41 encontramos algumas sentenças ligadas ao tema sobre “Em nome de Jesus” ou “por causa do nome de Jesus”.  Este tema foi preparado já em Mc 9,37 quando Jesus disse: “Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. Para Jesus se uma criança é acolhida “em meu nome” ou se alguém cura “em meu nome” é porque “é meu nome”. Se uma ação é feita “em meu nome” ou “por causa do meu nome”, então não pode ser proibida. Ao contrário, ele recebe sua recompensa.


Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. “Em meu nome” (“porque sois de Cristo”), isto é, porque movidas pelo anúncio dos discípulos as pessoas começam a amar Cristo e sentem simpatia por Ele e sentem que nasce nelas a fé que lhes faz pressentirem a recompensa da salvação. “Em meu nome” porque ao dar qualquer coisa, como um copo de água, aos discípulos, querem agradar Cristo, identificando-os com Cristo. Ao realizar um gesto de acolhimento/acolhida para os discípulos, as pessoas querem acolher o próprio Cristo. “Porque sois de Cristo” expressa a convicção profunda dos primeiros cristãos. Os primeiros cristãos sabiam que já não podiam viver para si mesmos porque seu verdadeiro viver era Cristo (veja Fl 1,21: “Para mim o viver é Cristo...”). Quantas vezes São Paulo recorda esta verdade: “Vós sois de Cristo...” (1Cor 3,23; Rm 8,9; 2 Cor 10,7; etc.). No entanto, Jesus não somente quer nos dizer que somos seus, mas também como devemos tratar os irmãos na fé. Jesus Cristo não esquecerá nem sequer o menor gesto de caridade como dar um copo de água. Mas “ser de Cristo” não significa necessariamente ser do grupo que segue Cristo de perto, mas também significa estar em sintonia com Cristo na prática de levar a Boa Nova aos demais homens, especialmente aos excluídos e marginalizados.


“Um copo de água”. ...  quase nada. É símbolo do menor serviço que pode ser prestado para alguém: tão somente um copo de água em razão de pertencer a Cristo. Jesus sublinha a dignidade extraordinária do “discípulo”: pertencer a Cristo. O menor dos crentes, o mais humilde discípulo de Jesus representa Jesus Cristo. Jesus se identifica com o menor dos cristãos na medida em que o próprio cristão se identifica com Cristo.


Não ficará sem receber a sua recompensa”, promete Jesus. É uma verdade surpreendente que Jesus repetirá e desenvolverá ao longo do discurso sobre o Juízo final (Mt 25,31-45). “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. E todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer” dirá o Senhor nesse discurso (Mt 25,40.45). Jesus leva a sério até os pequenos gestos que fazemos para o bem do outro. Nada é pequeno para Jesus. O menor gesto de acolhida ou da caridade não ficará escondido aos olhos de Deus. “Não ficará sem receber a sua recompensa”. “Recompensa” não é algo que alcançamos por nossos próprios esforços, mas é sempre o dom de um Deus generoso. Deus dá seu dom independentemente de nossos esforços. Deus está livre diante dos esforços humanos. O que fazemos é o mínimo que podemos e devemos fazer: “Somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc 17,10).


Ficamos pensando e perguntando: quantos gestos pequenos do dia a dia que deixamos de fazer para os outros! Quantas recompensas divinas que deixamos de receber por não termos prestado esses pequenos gestos fraternos! Um copo da água fresca oferecida ao irmão sedento não será esquecido por Deus.


Um Aviso Para Não Escandalizar


Depois do conselho positivo- “dar um copo de água” – Jesus nos dá um conselho de forma negativa: “E se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.


Na verdade é a mesma conduta: a atenção aos demais. Descobrimos aqui um novo aspecto de Jesus: sua capacidade de veemência. Ele usa palavras duríssimas para quem escandaliza os outros, isto é, aquele que leva os outros a pecar: “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”.


“Se alguém escandalizar...”. Escandalizar significa obstaculizar alguém na fé, impedir alguém de continuar a crer em Jesus. Quem atua assim, faz-se dano imenso para si mesmo: “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. Jesus enfatiza, assim, sobre o grande dano para quem escandaliza os outros. Ao escandalizar os outros, a pessoa se mata a si mesma no sentido de privar-se da salvação.


Para Jesus pior que morrer é causar danos aos pequeninos, aos que não têm ambição de honra, aos que adotam uma atitude de serviço que é a condição para ser seguidor de Jesus Cristo (Mc 9,35). Aqui Jesus considera como escândalo quem pretende ser maior, ou quem pretende se colocar acima dos outros, que pretende ser servido em vez de servir.


Um Autêntico Cristão Evita O Mal E Saber Podar o Desnecessário Para Ser Salvo


“Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” (leia os vv. 43-47).


Há que fazer opções, por dolorosas que sejam, pois são opções entre o êxito e o fracasso da existência: toda atividade (simbolizada pela mão), toda conduta (simbolizada pelo pé) ou toda aspiração (simbolizada pelo olho), que busca prestigio e superioridade, está viciada e por isso, há que suprimi-la, pois põe em perigo a fidelidade à mensagem salvadora de Cristo e bloqueia o desenvolvimento pessoal.


A palavra do Senhor nos exige para renunciarmos radicalmente às insinuações  do pecado e para cortarmos com rapidez, mesmo que seja muito doloroso (cortar mão e pé, arrancar olho), tudo que possa pôr em perigo a nossa salvação e a salvação dos demais (escândalo).


As imagens que Jesus usa são fortes: há que arrancar ou extirpar tudo que num homem, especialmente num cristão que se oponha à mensagem de Cristo e cause danos aos que querem ser fieis a Cristo. Somente esse tipo de decisão é que leva à vida, a opção contrária, à morte. “A vida” (Mc 9,43. 45) está em paralelo com “o Reino de Deus” (Mc 9,47). Por isso, trata-se de assegurar a plenitude de vida tanto no mundo presente como no futuro.


Portanto que saibamos levar em consideração nossos pequenos gestos de cada dia prestados aos outros não somente por motivos humanos e sim por ver no próximo o próprio Cristo. E que tenhamos sumo cuidado em não escandalizar, ou seja, em levar alguém a pecar, principalmente levar os inocentes e débeis a pecar, pois o próprio Cristo ficará também escandalizado. Para nos manter como autênticos cristãos nós necessitamos renunciar ao próprio egoísmo, à ambição de poder e à vontade desenfreada de domínio (superioridade). É preciso que haja o esquecimento de si para poder repartir com os outros tudo que temos e somos para que a fraternidade e a paz possam reinar a convivência. E que saibamos romper com toda a ocasião de pecado.


P. Vitus Gustama,svd

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