domingo, 15 de maio de 2016

17/05/2016




VIVER NA CONCÔRDIA E SERVIR A DEUS NO IRMÃO COM HUMILDADE


Terça-Feira da VII Semana Comum


Primeira Leitura: Tg 4,1-10


Caríssimos, 1 de onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? 2 Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir. E a razão está em que não pedis. 3 Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres. 4 Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Assim, todo aquele que pretende ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus. 5 Ou julgais ser em vão que a Escritura diz: “Com ciúme anela o espírito que nos habita”? 6 Mas ele nos dá uma graça maior. Por isso, a Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes”. 7 Obedecei pois a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8 Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós. Purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios. 9 Ficai tristes, vesti o luto e chorai. Transforme-se em luto o vosso riso, e a vossa alegria em desalento. 10 Humilhai-vos diante do Senhor, e ele vos exaltará.


Evangelho: Mc 9,30-37


Naquele tempo, 30 Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. 32 Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 33 Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis pelo caminho?” 34 Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. 35 Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” 36 Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 37“Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
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Fazer Passagem Da Discórdia Para a Concórdia


Obedecei pois a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós. Purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios”.


São Tiago, a quem atribui o autor da Carta de São Tiago, é um grande observador da comunidade cristã. Ele percebe que no seio da comunidade há muitos conflitos. Tudo isso preocupa São Tiago e tenta descobrir as razões dos conflitos.


Normalmente os conflitos acontecem quando há uma tensão que envolve pessoas ou grupos quando existem tendências ou interesses incompatíveis. Conflito sempre reflete o sentido de divergência, desacordo, desaprovação, desentendimento.


Há conflitos interpessoais como também há conflito intergrupal. O conflito interpessoal é a situação na qual duas ou mais pessoas divergem na percepção, proposta de ação sobre algum ponto em comum. O conflito interpessoal é resultado de ausência de concordância no sistema de interação entre as pessoas. Conflito intergrupal é um conflito entre as pessoas que compõem um grupo. No conflito intergrupal há o lado negativo, pois as pessoas ou grupos vivem na tensão e na insatisfação durante determinado período. Mas há também o lado positivo, pois o conflito intergrupal é o gerador de mudança, que é o fundamento da evolução e do desenvolvimento social.


Para São Tiago, uma das causas da discórdia entre os cristãos é o gosto do prazer, isto é o desejo dos bens materiais: dinheiro ou influência (Tg 4,1; cf. 1,14-15).


Além disso, a inveja é uma das causas da discórdia (Tg 4,2-3). A inveja nasce da sensação ou da crença de que uma pessoa nunca vai ter o que a outra pessoa tem. A inveja é uma profunda raiva produzida pela conquista dos outros. É um desejo de vingança, de destruição, de ódio. As mortes, as violações, os calotes, os enganos, os maus-tratos nascem da inveja, por ambicionar o que o outro tem. O invejoso tenta destruir o outro através da perseguição aberta, da desqualificação, da calúnia e assim por diante.


A terceira causa das discórdias é o amor do mundo (Tg 4,4-6). “Quando Deus nos dá as coisas deste mundo quer que O amemos nelas. Mas se as amamos, se amamos o mundo sem referência a Deus, nosso amor se torna um amor adultero”, dizia Santo Agostinho (In epist. Joan. 2,11). O amor do mundo torna o homem “adúltero”, pois ele leva o homem a romper a união que o liga a Deus (cf. Mt 12,39; 16,4). Em vez de viver com Deus que o liberta, o home fica preso com as coisas terrenas. O amor do homem pelos bens materiais é tão grande a ponto de ele é contado entre as coisas; ele se torna coisa entre as coisas. Neste sentido, se o cristão tiver este tipo de espirito, ele jamais pode servir dois senhores ao mesmo tempo: Deus e o dinheiro (cf. Mt 6,24).


A quarta causa das discórdias é o orgulho ou a arrogância (Tg 4,7-10). O orgulhoso é aquele que tem um excesso de confiança em si mesmo, no que diz, no que faz, nas decisões que toma. Para o orgulhoso, tudo que ele faz é perfeito. Por isso, ninguém pode falar algo contra. Um orgulhoso tem má reputação, pois ele é soberbo, vaidoso, arrogante, presunçoso, endeusado, imodesto, pedante, petulante, narcisista, autossuficiente, envaidecido e assim por diante.


A única solução para todas as causas das discórdias é esta: “Obedecei pois a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós. Purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios”. Em outras palavras, quanto mais o cristão for distante de Deus, mais ele será causador das discórdias. É preciso estar diante de Deus, estar com Deus e estar em Deus.




Somos Chamados a Servir a Deus No Irmão Com Humildade


Pela segunda vez Jesus revela aos seus discípulos sua próxima Paixão (Mc 8,31-33; 10,31-34). Ao mesmo tempo ele abandona deliberadamente a pregação à multidão (Mc 9,30) incapaz de compreendê-Lo para se dedicar exclusivamente à formação definitiva dos discípulos: “Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos”.


Ensinar é uma das preocupações de Jesus nos evangelhos, especialmente no evangelho de Marcos (Mc 1,22; 4,2; 6,2; 9,31 etc..). Jesus Cristo é a Palavra divina (Jo 1,1). Jesus é a Palavra inesgotável de Deus para se comunicar com os seres humanos. Como a Palavra divina, as palavras de Jesus são sempre promessa e expressão de vida. Através de seu ato e atividade de ensinar Jesus quer que os seus ouvintes cresçam na liberdade e dignidade tendo consciência crítica sobre a realidade ao seu redor (cf. Mc 1,22).


Cada cristão é chamado a ser educador-profeta. Os profetas falam em nome de Deus, são Seus porta-vozes que sacudam as consciências, levantem as vidas de mediocridade, de desesperança, do tédio e de insensibilidade. Todo profeta é educador e todo educador cristão é chamado a ser um profeta. A educação é, portanto, uma vocação de serviço. Cada cristão, cada educador cristão é chamado a transformar cada lugar, cada escola em lugares de vida nos quais se aprende a viver e conviver, a desfrutar a vida e a dignidade, a defender a vida, a combater tudo o que ameace a vida.


Em seguida, Marcos nos relatou sobre o anúncio da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao anunciar pela segunda vez aos seus discípulos sua paixão e morte Jesus quer educá-los sobre o que significa seguir a Jesus Cristo. Mas os seus não estão dispostos a atender o que seu Mestre quer dizer ou ensinando. O que lhes preocupa é “quem será o mais importante”. Cada educador, cada mestre precisa ter paciência em ensinar ou educar. É um trabalho de serviço. Um servo está sempre disposto e disponível para atender a seu senhor.


Para acabar com a ambição dos discípulos de quererem ocupar primeiros lugares Jesus dá algumas lições (ensinar) sobre o estilo de vida para quem quiser ser seu discípulo. Jesus marca as linhas fundamentais da espiritualidade que se deve respirar qualquer comunidade cristã. A idéia-mestra é esta: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. Isto é, ser o servidor de todos.


Para acentuar a lição dada aos discípulos Jesus põe uma criança (um menino) no meio deles:Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’”. Jesus utiliza uma estratégia pedagógica: coloca um menino no meio e o abraça. Um menino! Uma criança! Quantas coisas diz a imagem deste menino abraçado por Jesus! É um abraço com que Deus abriga, anima e fortalece o novo começo (menino/ criança). É o abraço que envolve toda a confiança, toda a ternura, toda a proximidade do Senhor para quem quiser ser verdadeiro discípulo, e não prematuro mestre.


A figura bíblica do “menino” ou “criança” é símbolo de marginalização e indefesa. No tempo de Jesus, um menino era símbolo de ignorância, imaturidade e insignificância. Um menino era equiparava com os escravos. No entanto, por seu grau de dependência o menino se converte em preocupação permanente para seus progenitores sem os quais o menino não sobreviveria ou não receberia uma boa educação. Assim, o menor se converte no mais importante porque requer a atenção e o cuidado dos maiores. É uma lição viva de pequenez e de humildade. Ser simples é ser modesto, singelo, puro, desprovido de elementos acessórios, isento de significações secundárias, sem luxo nem ostentação. Ser humilde consiste em manifestar a virtude de conhecer suas próprias limitações. É reconhecer ser pó, mas é pó vivente, pois Deus soprou seu espírito nele que o capacita a viver na espera divina.


Por isso, a grandeza do homem está na humildade. “Quanto mais humildes, maiores” dizia Santo Agostinho. Mas “simular humildade é a maior das soberbas”, acrescentou Santo Agostinho. A paz florescerá em qualquer comunidade cristã se seus membros fazem seu o espírito evangélico de humildade e de simplicidade. O próprio Jesus serve de exemplo, pois sua vida está na sua atitude de entrega para a salvação de todos.


Depois que colocou a criança ou o menino no meio dos discípulos, Jesus pronunciou a seguinte frase: ““Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. Esta sentença nos recorda a parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e o final do discurso missionário (Mt 10,42). Assim a criança aqui assume um sentido novo. Não é mais a criança em sentido próprio e sim o símbolo do necessitado. É o sedento, o faminto, desnudo, o prisioneiro, o marginalizado.


Também podemos ter dificuldades em querer entender a lição que Jesus deu aos discípulos. Tendemos a ocupar os primeiros lugares, a buscar nossos interesses, a desprezar as pessoas que contam pouco na sociedade e das pessoas que não podemos esperar grandes coisas.


Se quisermos colaborar com Jesus Cristo e fazer algo válido na vida, temos que contar em nosso programa de vida com a renúncia e a entrega, com a humildade e a simplicidade. O desejo de poder e a busca dos próprios interesses fazem impossíveis a renúncia, a entrega e impossibilita o cristão a servir aos demais. Um cristão que não serve não serve como cristão. Uma Igreja que não serve, não serve para nada. Servir pela salvação dos demais é o centro do cristianismo. Para sermos felizes temos que fazer os outros felizes. A competitividade faz desaparecer a solidariedade, a compaixão, a igualdade e a colaboração. A competitividade sempre torce para que a vida do outro não dê certo para que ele possa estar em destaque solitariamente para ser adorado pelos demais.


Servir é adorar a Deus em ação. Servir é a oração e a adoração colocadas na prática do amor fraterno. Servir é fazer algo de bom sem esperar nada de troca ou de reconhecimento. Renunciar a ser o servidor, a ser o pequeno significa renunciar Jesus, porque somente quem acolhe sua vocação de serviço como se acolhe um pequeno (criança), acolherá Jesus e o próprio Deus que o enviou. O poder e o serviço se excluem. A ambição de poder é o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas coisas, mas não serve para tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes produzem os maus funcionários. Um coração corrompido é ninho de discórdia. Uma mente obcecada nunca ilumina bem os caminhos.


P. Vitus Gustama,svd

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