sábado, 29 de fevereiro de 2020


03/03/2020
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PAIZINHO NOSSO QUE ESTÁ NO CÉU É UMA ORAÇÃO QUE NOS CONVIDA PARA UMA INTIMIDADE PROFUNDA COM DEUS
Terça-Feira da I Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Is 55,10-11
Isto diz o Senhor: 10 assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, 11 assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la.


Evangelho: Mt 6,7-15
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, 13e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.
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A Primeira Leitura nos apresenta a imagem viva da eficácia da Palavra, da qual Deus diz: " A Palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”. A Palavra de Deus, intrinsecamente, é eficaz, isto é, tem a capacidade de ter efeitos favoráveis para quem a pratica. A sintonia com a vontade de Deus, vivendo conforme Sua Palavra, resulta na vida fértil e frutuosa. Quem se aproxima da Palavra de Deus torna-se generoso para com o próximo. O generoso acaba com o reinado dos egoístas. Onde o egoísmo não sobre vive, a abundância se torna realidade.


Vamos nos aproximar dessa imagem (palavra, chuva, neve) e descobrir seu sabor e sua força nutritiva. Neve e chuva "descem do céu". Elas pertencem ao âmbito do qual o homem não domina. Assim é também a Palavra de Deus. Chuva e neve "retornam" para o céu. Assim também a Palavra: vem a nós e de nós sai. Ela vem sozinha, mas não retorna sozinha, porque tornou possível o milagre do pão e da semente. A Palavra vem do céu como ensinamento e retorna ao céu como oração e como louvor. Em nossas súplicas de filhos e em nossa atitude de gratidão de redimidos a Palavra fala com a força de seus frutos.   Há que “encharcar” a terra para fecundá-la. Assim também a Palavra faz o seu trabalho nos "encharcando", isto é: enchendo-nos internamente, penetrando-nos, enchendo nosso vazio interior. Quando permitimos isso, a Palavra nos fecunda e nos faz dar frutos.


A Palavra De Deus É Poderosa e Eficaz Para Quem Está Aberto Diante Dela


Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.

Para quem vivia no Oriente Médio tão seco a chuva ou a água era bem preciosa. O povo desse lugar sabia muito bem da eficácia e do poder da água ou da chuva.  O local seco ou deserto onde a chuva cai vira um lugar cheio de plantinhas. A água ou a chuva como se acordasse as sementes escondidas de baixo da terra para se tornarem plantinhas e plantas. O local que era seco e deserto passa a ser um lugar verde cheio de vida.

O Deutero-Isaias (Is 40-55: os capítulos escritos durante o exilio na Babilônia em torno de século VI) compara o poder da Palavra de Deus com a chuva que cai do céu sobre a terra que irriga e fecunda a terra. A Palavra de Deus que entra no homem transforma este numa pessoa cheia de vida. Isto supõe que o homem, como a terra aberta para a chuva, deve estar aberto para a Palavra de Deus para torná-la eficaz e frutífera em sua vida.

O profeta Isaias nos convida, através da primeira leitura (Is 55,10-11) a crermos firmemente na força salvadora da Palavra de Deus. Porque não somente fomos salvos pelo sangue e o sacrifício de Cristo na Cruz. É verdade que a maldade do homem levou Jesus Cristo para a ignomínia da Cruz. Mas a salvação nos veio pela Palavra de Deus, empenhada um dia e cumprida na plenitude dos tempos. Deus nos ama e nos perdoa em Seu Filho encarnado. A Palavra é poderosa e eficaz, mas também perigosa. Não podemos abusar da palavra para não nos destruir e destruir os outros. Ao contrário, temos que usar a palavra para o bem e a edificação da vida dos outros.

A Palavra de Deus é a Palavra do Pai, do amigo, do confidente, do animador, do despertador da consciência. Com a autoridade ela nos convoca, ilumina, anima, consola, fortalece amorosamente. Ela não quebra liberdades nem aniquila personalidades. Ela grita na nossa consciência. Ela é como alguém que está à porta de nossa casa: espera a abertura para poder entrar. E “a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”, assim diz Deus para nós.


Deus É Nosso Papaizinho, Nosso Abbá


E o texto do evangelho deste dia faz parte do Sermão da Montanha (Mt 5-7) onde podemos encontrar vários ensinamentos fundamentais de Jesus para nós, seus seguidores. No evangelho de hoje Jesus nos dá seu conselho sobre oração. Jesus nos dá seu modelo de oração: o Pai Nosso. É uma oração que pode ser considerada como o resumo da espiritualidade do AT e do NT, equilibrada e educativa por seguinte. Primeiro, o Pai Nosso nos faz pensarmos em Deus que é nosso Pai: Seu nome, Seu Reino, Sua vontade. Mostramos nosso desejo de sintonizar com Deus. Por isso, logo passa para nossas necessidades: o pão de cada dia, o perdão de nossas faltas, a força para não cair em tentação e vencer o mal.


A Igreja, neste tempo da Quaresma, insiste na urgência da oração e na escuta da Palavra de Deus. Conversar, dialogar com Deus é uma fonte de luz e de força. Estar à escuta da Palavra de Deus é vital, exigente e comprometido. Nós cristão sabemos que a Palavra que Deus Pai nos dirige e propõe tem um nome próprio: Jesus Cristo (cf. Jo 1,1-3.14). Dialogar com Jesus é abrir-nos à verdade, à esperança e ao amor: à vida.


Rezar é uma nova experiência na qual entramos em relação vital com Deus. Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.


Jesus, no seu ensinamento sobre a oração, quer nos evitar de uma noção mágica de Deus: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. ..., pois vosso Pai sabe do que precisais”. Deus é o melhor juiz de nossas necessidades do que nós mesmos, e Suas prioridades podem não ser iguais às nossas. Por isso, o que Jesus quer com o Pai Nosso é que confrontemos nossa vida pessoal e comunitária com seu projeto original: que com nosso proceder façamos que o Reino de Deus aconteça.


“Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”, diz nos Jesus. De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. O Pai-Nosso não é uma simples oração apesar de ser breve. O Pai-Nosso é uma síntese de tudo o que Jesus viveu e sentiu a propósito de Deus, do mundo e de seus discípulos.


Vós, portanto, orai assim: Pai Nosso...”. Em sua oração Jesus sempre se dirige a Deus chamando-O de Abbá. Para Jesus Abbá é o nome próprio de Deus. Esta expressão aramaica é um termo que era usado especialmente pelas crianças pequenas para dirigir-se ao seu pai carinhosamente. O termo Abbá tem como tradução literal “papai” ou “papaizinho”. É um tratamento de muita ternura. Ao chamar Deus de Abbá Jesus quer nos revelar sua relação íntima que ele vive com Deus. A atitude de Jesus diante de Deus é a atitude de uma criança cheia da confiança, do afeto e da ternura de uma criança. Diante do Abbá são eliminadas as preocupações.


Jesus quer que seus seguidores vivenciem a mesma experiência ao se dirigir a Deus na oração: “... orai assim: Pai nosso que estás nos céus...”. Jesus quer despertar em cada um de nós o espírito de filho, quer que cada um de nós fale com Deus com segurança, com afeto, com ternura e com confiança de filhos. Jesus quer que cada um de nós se abandone com alegria em Deus, nosso Papaizinho, pois ao chamar Deus assim todo medo desaparecerá e toda preocupação deixará de nos dominar. Deus é nosso Abbá, nosso Papaizinho que nos ama com amor incondicional e insondável e que “sabe de nossas necessidades antes mesmo de pedirmos” (Mt 6,8).


Mas devemos prestar bem atenção de que o Pai-Nosso, desde o começo até o fim, é rezado em plural: “Pai Nosso”, e não “Pai meu”. Deus é o Pai de todos nós. Ninguém deve ficar excluído. Não podemos nos apresentar diante de Deus só com os nossos problemas, alheios aos outros homens e mulheres. Rezar o Pai-Nosso é reconhecer a todos como irmãos e irmãs, é sentir-se em comunhão com todos os homens e mulheres, é ficar atentos para os problemas e necessidades dos outros, é não desprezar nenhum povo.

Mas ser filho deste Abbá não significa ser infantil. Jesus nunca foi débil e infantil. Não rezamos a Deus para que nos defenda da dureza da vida ou para que faça aquilo que devemos fazer ou para que resolva os problemas que nós mesmos devemos resolver. Pedimos, sim, ao nosso Papaizinho do céu para que saibamos atuar a partir de sua graça, de sua ternura, de sua bondade e de sua verdade e viver com responsabilidade na nossa liberdade de filhos e filhas.

Diante do mundo que prescinde de Deus, Jesus propõe como primeira petição, como ideal supremo do discípulo, o desejo da glória de Deus: “Santificado seja teu Nome”. Esta primeira petição está orientada na linha profética que situa Deus acima de tudo, exalta sua majestade e deseja que se proclame sua glória.

Diante do mundo onde predomina o ódio, a crueldade, a injustiça, Jesus pede que se instaure o Reino de Deus, o Reino da justiça, do amor e da paz. Recorre nesta petição o tema chave de sua mensagem, o Reino de Deus que se instaurará na terra como no céu.


Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”. A oração do Pai-Nosso é um convite para estabelecer uma relação de confiança e de intimidade de uma dimensão comunitária (Pai Nosso) e em uma disposição constante de perdão. A partir desta dimensão os cristãos são chamados a construir espaços de oração que refletem o compromisso de construir o Reino de Deus, onde Deus é Pai de todos nós e nós somos filhos e os filhos e irmãos que vivemos em comunidade e fraternidade. “Pai-Nosso” quer enfatizar uma nova relação dos cristãos com Deus que não é somente individual, mas também comunitária. São os filhos, ou cidadãos do reino, os que se dirigem ao Pai que é seu Rei.


Chamar Deus de “Pai” é algo insólito, inimaginável que expressa a máxima confiança, proximidade e ternura. Jesus quer nos dizer que Deus é o nosso Pai que está sempre ao nosso lado, cheio de cuidados e ternura para com cada um de seus filhos e filhas. Com a palavra “Pai” abre-se um mundo novo nas relações de Deus para com o homem. A vida cristã está banhada de alegria, pois sabemos que somos filhos e filhas de Deus independentemente de nossa situação e de nosso modo de viver. 


Além do mais, ao chamar Deus de Pai precisamos estar conscientes de que precisamos viver como irmãos e irmãs, como recorda Santo Tomás de Aquino: “Ao dizermos Pai, recordemos duas obrigações que temos para com os semelhantes: Primeiro, devemos amá-los porque são nossos irmãos, pelo fato de serem filhos de Deus (cf. 1Jo 4,20). Segundo, devemos reverenciá-los, tratando-os como filhos de Deus (cf. Ml 2,10; Rm 12,10; Hb 5,9) “.


Rezar o Pai-Nosso é seguir Jesus Cristo, aprendendo dele a maneira de viver, de escolher e também o modo de enfrentar a morte; quais são as razões profundas, as raízes da própria existência. Dizer “Pai” nos torna disponíveis, nos enche de confiança, facilita a nossa entrega, pois estamos certos de sermos ouvidos, e isto nos permite superar as barreiras do medo e da incerteza. Dizer “Pai” significa que eu devo me comportar como filho (a) diante dele e como irmão diante dos outros, pois eu sou irmão de muitos outros irmãos. Dizer “Pai” faz nascer a certeza de que somos amados, isto é, nos leva a um ato de inteiro abandono em Deus.


Vamos Meditar Mais Sobre Alguns Pensamentos do Papa Francisco sobre o Pai-Nosso do livro: PAI NOSSO (Editora Planeta, 2018)
  1. A sensação que experimento é de segurança. Começo a partir daqui: o Pai-nosso me dá segurança; não me sinto afastado de minhas raízes, não tenho a sensação de ser órfão. Tenho um pai, um pai que me recorda a história, revela minhas raízes, cuida de mim, que me leva para a frente, e até mesmo um pai diante do qual em me sinto sempre uma criança, porque Ele é grande, é Deus, e Jesus pediu isso, que nos sintamos como crianças (p.20).
  2. Dizer e ouvir o “nosso” do Pai-nosso significa entender que não sou filho único. Nós, cristãos, corremos o risco de nos sentirmos filhos únicos. Não, não: todos, até mesmo aqueles desprezados, são filhos do mesmo Pai (p.21).
  3. “Pai” é uma palavra conhecida por todos, uma palavra universal. Ela indica uma relação fundamental cuja realidade é tão antiga quanto a história da humanidade. Hoje, no entanto, chega-se a afirmar que estamos em uma “sociedade sem pais” …. O problema dos nossos dias não parece ser tanto a presença invasiva dos pais, mas sim a sua ausência, a sua inoperância. Às vezes os pais se veem tão concentrados em si mesmos, no seu trabalho e em suas realizações individuais que acabam até por esquecer a família (pp. 23-24).
P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

02/03/2020

Resultado de imagem para sede santos porque eu o senhor vosso deus sou santoResultado de imagem para cabritos e ovelhas no julgamento finalResultado de imagem para Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!


AMOR A DEUS QUE SE EXPRESSA NO AMOR AO PRÓXIMO É O CRITÉRIO PARA ENTRAR NA VIDA ETERNA 
Segunda-Feira da I Semana da Quaresma

Primeira Leitura: Lv 19,1-2.11-18
1 O Senhor falou a Moisés, dizendo: 2 “Fala a toda a Comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo.  11 Não furteis, não digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros. 12 Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor. 13 Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele. Não retenhas contigo a diária do assalariado até o dia seguinte. 14 Não amaldiçoes o surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. 15 Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigieis o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça. 16 Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. 17 Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. 18 Não procures vingança, nem guardes rancor aos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”.

Evangelho: Mt 25,31-46
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 31Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. 32Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; 36eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37Então os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Com sede e te demos de beber? 38Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?’ 40Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!’ 41Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar’. 44E responderão também eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?’ 45Então o Rei lhes responderá: ‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!’ 46Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.
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Ser Santo Como Deus e Ser Protetor Do Próximo

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, Sou santo”, assim diz o Senhor para o povo de Israel através do legislador Moisés que lemos na Primeira Leitura de hoje.

O capítulo 19 do Levítico faz parte de um conjunto homogêneo de leis, designado, com o título de “Código de Santidade” (Lv 19-26). Todo este código é como um texto constitutivo que contém os mais essenciais princípios que devem informar a vida cotidiana de Israel em sua relação com Deus e com o próximo. O capitulo 19, concretamente, contém uma série de leis sociais.

No livro de Levítico, Moisés apresenta ao povo de Israel um código de santidade para que o povo possa estar à altura de Deus que é o todo Santo. Há mandamentos que se referem a Deus: Não faça juramento falso. Mas, sobretudo, se insiste na caridade e na justiça com os demais. A enumeração é vasta e afeta até os aspectos da vida que não perde jamais sua atualidade: não furtar, não enganar, não oprimir, não cometer injustiças nos juízos ou no exercício de justiça (para os tribunais), não odiar, não guardar rancor. Há dois detalhes concretos muito significativos: não maldizer ao surdo (aproveitando que não pode ouvir) e não pôr tropeço diante do cego (que não pode ver).

A consignação final é bem positiva: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Tudo isso tem uma motivação: “Eu sou o Senhor”, frase que se repete no conjunto da lei da santidade. Deus quer que sejamos santos como Ele, que O honremos mais com as obras do que com os cantos e as palavras.

O Salmo Responsorial (Sl 18) nos faz aprofundarmos nesta chave: “Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração. O mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz”.

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, Sou santo”. A “lei de santidade, seção central e mais compacta do Levítico (Lv 17-26) se trata de modelar a ordem humana a partir da santidade de Deus. Santidade é aqui um conceito que não fala tanto de Deus em si, quanto de Deus como fundamento do mundo ou da humanidade. Daí que seja uma exigência radical para a própria humanidade para ser verdadeiramente o que é ou é chamada a ser. A lei se dirige ao povo de Deus no mundo para ensinar-lhe o caminho de acesso à santidade de Deus ou à plena realização de si mesmo. O caminho para a santidade é o homem-irmão, o próximo. Dentro deste código de santidade, o próximo se chama também parente, concidadão, irmão. É o homem da comunidade humana, na qual todos têm direitos e deveres. O cumprimento dos deveres faz que o próximo obtenha seus direitos. Dentro deste contexto é que podemos entender o mandamento do amor fraterno: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O homem não está nunca tão próximo da santidade de Deus como quando ama a seu próximo.

Por isso, depois do princípio da santidade de Deus, o legislador faz a enumeração dos preceitos morais. Em primeiro lugar, justiça com o próximo. O legislador proíbe o furto, cortando de raiz suas ocasiões ao proibir todo tipo de engano e falsidade com o próximo: “Não furteis, não digais mentiras, nem vos enganeis uns aos outros”. Também é condenada toda opressão violenta contra o próximo: “Não explores o teu próximo nem pratiques extorsão contra ele”. Em nome de Deus que sejam protegidos os pobres e débeis e por isso, é proibido maldizer o surdo e pôr obstáculos ao cego porque estes não podem contestar a sua conduta: “Não amaldiçoes o surdo, nem ponhas tropeço diante do cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor”. Nem pode profanar o Nome de Deus através de um juramento falso: “Não jureis falso por meu nome, profanando o nome do Senhor teu Deus. Eu sou o Senhor”.

Em segundo lugar, a retidão e a caridade para o próximo. Contra toda acepção de pessoas é ordenado que pode favorecer a ninguém nem ao pobre, nem ao rico: “Não cometas injustiças no exercício da justiça; não favoreças o pobre nem prestigieis o poderoso. Julga teu próximo conforme a justiça”. A justiça é a base da ordem social, e por isso é inculcada a objetividade nas causas judiciais. Quem ama pratica a justiça social. O legislador acrescenta que não se deve difamar ninguém com vistas ao derramamento de sangue: “Não sejas um maldizente entre o teu povo. Não conspires, caluniando-o, contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor”. E como base do sentido de justiça são proibidos os desejos adversos internos contra o próximo e é recomendada a correção fraterna: “Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele”. Os ódios reconcentrados no coração podem se transformar em explosões violentas contra o próximo. E por fim, o grande mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”. Mas aqui “próximo” se refere ao israelita ou compatriota. No comentário rabínico se diz que “o próximo não é o samaritano, nem o estrangeiro, nem o prosélito”. É a interpretação que davam os judeus no tempo de Jesus. Na mensagem evangélica, o amor ao próximo é uma consequência e projeção do amor ao Deus-Pai celeste que faz nascer o sol para os bons e maus e faz cair a chuva para os justos e injustos (Mt 5,43-48).

É interessante observar que se repete a frase como refrão: “Eu sou o Senhor”. Aqui Deus se faz como garantia, o Guardião, o Juiz da qualidade de nossas relações humanas. O fato de o homem explorar o outro homem, seu próximo, Deus fica indiferente, mas se encoleriza.

Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, Sou santo”. Entre homem e Deus há um certo laço. Deus não se desinteressa da conduta do homem. E Jesus dirá: “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito” (Mt 5,48).

“Roubo/Furto”, “Mentira”, “Exploração/Extorsão/Injustiça”, “Difamação/Calúnia”, “Maldição”, “Pedra de tropeço/Escândalo”, “Vingança/Guardar rancor”. Devo me deter em cada uma destas palavras. Qual é a minha forma de tratar o outro? Ajude-me, Senhor a amar sem cessar a todos.

O Amor Será o Critério De Deus Para Nos Julgar No Julgamento Final

O texto do evangelho lido neste dia se encontra no quinto e o último discurso de Jesus no evangelho de Mateus chamado o Julgamento final (Mt 23-25). O evangelista Mateus quer nos recordar que o homem jamais se esquece de que um dia sua vida na história terminará. Um poeta espanhol escreveu: “Partimos, quando nascemos, caminhamos enquanto vivemos, e chegamos no momento em que morremos”. São Paulo nos adverte: “Todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10; cf. Hb 9,27). Segundo São Paulo nós seremos julgados por Deus por aquilo que fizemos ou deixamos de fazer aqui neste mundo, durante a nossa história. E o critério de avaliação vai ser nosso amor para com os irmãos, para com todas as pessoas, principalmente para os necessitados (cf. 1Cor 13,1-13).

Sabendo do término de nossa caminhada um dia aqui neste mundo, o texto do evangelho deste dia é uma das páginas mais incômodas de todo o evangelho. Uma das páginas do Evangelho que sempre temos mais medo é a da parábola do “Juízo final”. Trata-se do momento supremo do homem, do momento em que deverá prestar contas ao seu Criador, porque todos Lhe pertencem e que Ele esteve presente na história de todos (cf. Mt 28,20; 25,40.45; 1Cor 3,16-17 etc.). Por isso, fala-se de condenação e de salvação, de bênção e maldição, de chamada e de repulsa: de eternidade.    Qualquer homem pode não encontrar Deus durante a vida, mas não tem como escapar do seu próximo com quem Jesus se identifica. O verdadeiro próximo é aquele em cujo caminho eu me coloco e não apenas aquele que eu encontro no meu caminho.  

No julgamento final, Jesus nos revela um Deus que não se pode medir com os nossos cálculos matemáticos, legais ou rituais, um Deus que, apesar de ser o mais próximo de nós, também é o mais afastado porque Ele é o “diferente”, o “diverso”, o “outro”.

O critério usado no julgamento final é o AMOR ao próximo, de modo especial o bem feito aos pobres e marginalizados, pois o cerne da religião bíblica é a prática ou a vivência do amor. Todo o mais, por mais belo e importante que ele seja, como o conhecimento e a fé em Deus parecem ter valores apenas “parciais”. Mesmo o testemunho do sangue não significa nada em comparação com o amor ao próximo (cf. 1 Cor 13,1-13). Mas não se trata do bem, feito para atrair sobre si a bênção de Deus, ou com a esperança duma recompensa, servindo-se do próximo como instrumento da benevolência divina, mas trata-se do bem, feito ao homem pelo homem: o amor pelo amor. O ateu pode percorrer as ruas do mundo sem encontrar Deus, mas não pode deixar de cruzar-se com o seu próximo e com o próximo mais pobre, menos livre, mais oprimido, mais só. Jesus se identifica com eles.

No evangelho de hoje Jesus nos recorda que no último dia seremos julgados sobre o amor: “Todas as vezes que não fizestes isso (caridade) a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!”, diz o Senhor (Mt 25,45). Entre o homem e Deusum certo laço. Deus não se desinteressa da conduta do homem.

As palavras do Senhor neste dia devem servir de exame de consciência sobre o estilo e a qualidade de nossas relações com todas as pessoas que tratamos: falta de caridade, mentira, agressão, falsidade, exploração, apatia, insensibilidade humana e assim por diante. Devemos nos deter em cada uma destas palavras e nas outras semelhantes. E cada um deve se perguntar: “Qual é o meu estilo ou meu modo de tratar os outros?”. Deus se faz juiz da qualidade de nossas relações com os outros, e não os comentários humanos.

Na Eucaristia, com os olhos da , não nos custa muito descobrir Cristo presente no sacramento do pão e do vinho. Mas nos custa muito descobrirmos Cristo fora da Eucaristia, no sacramento do irmão. Mas precisamente a partir deste ângulo é que será feita a pergunta final, se descobrimos Cristo no irmão ou não. O Cristo que escutamos e que recebemos na Eucaristia é o mesmo a quem devemos servir nas pessoas com as quais nos encontramos durante o dia.

Muitas vezes, e, sobretudo, em situações de crise perguntamos: “Onde está Deus?”. Hoje, através do texto de Mateus temos uma resposta clara: nos que sofrem, nos pobres, nos enfermos, ainda que não queiramos ver porque é incômodo, desagradável.  Mas comprometer-se, conviver, procurar qualidade de vida, calor, não é isso ser santo?

Se decidirmos realmente seguir a Jesus, teremos que escolher o caminho da vida. Optar pela vida é viver na solidariedade, na compaixão, na caridade, no perdão. Mas se escolhermos nossas ambições, o poder, a autossuficiência, etc., então estaremos escolher o caminho da morte eterna.

Portanto, viver não é simplesmente sorrir e sim fazer alguém sorrir. Viver não é medir ajuda e sim ajudar sem medida, pois Deus é o critério do bem. Viver não é somente ajudar que está próximo e sim estar sempre próximo para ajudar. Viver não é somente doar um pouco e sim doar sempre, pois nisto consiste a verdadeira vida. Viver não é somente compadecer-se e sim ajudar mesmo que por isso se torne incomodo. Quem ama não somente faz o que pode e sim faz até o impossível, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16) e “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).

A quaresma é o tempo oportuno para praticar a solidariedade pela solidariedade. Dividir o que se tem com quem não tema nada para viver é uma das maneiras de viver a quaresma. Não basta fazer jejum. É preciso saber partilhar com o necessitado com quem Jesus se identifica. O modo de amar, de abraçar, de aceitar o meu irmão mais pequeno e mais oprimido é uma participação evidente da intimidade mesma de Deus- Amor, um valor absoluto em si próprio. Tudo o que é amor já é de Deus. Um critério que servirá, então, para crentes e ateus será a lei do amor aos irmãos, escrito no interior de cada ser humano, impulso para o bem, a chamada à fraternidade. Porque alguém pode ter fé em Deus sem amar ao próximo e alguém pode se considerar ateu, mas sabe amar ao próximo

Que no último dia de nossa vida terrestre possamos tirar uma nota boa neste exame final de nossas relações e de nosso tratamento para com os outros. O decisivo será a atitude de amor ou de indiferença que fizemos com os irmãos mais pequenos: os famintos, sedentos, enfermos, encarcerados, imigrantes e assim por diante. Revisar com que consciência nós atuamos é o próprio da Quaresma.

Lembremo-nos que Deus não vai perguntar que tipo de carro você costumava dirigir, mas vai perguntar quantas pessoas que necessitavam de sua ajuda para transportá-las. Deus não vai perguntar qual o tamanho de sua casa, mas vai perguntar quantas pessoas você abrigou nela. Deus não vai fazer perguntas sobre as roupas do seu armário, mas vai perguntar quantas pessoas você ajudou a vestir. Deus não vai perguntar o montante de seus bens materiais, mas vai perguntar em que medida eles ditaram sua vida. Deus não vai perguntar qual foi o seu maior salário, mas vai perguntar se você comprometeu o seu caráter para obtê-lo. Deus não vai perguntar quantas promoções você recebeu, mas vai perguntar de que forma você promoveu outros para que pudessem crescer. Deus não vai perguntar qual foi o título do cargo que você ocupava, mas vai perguntar se você desempenhou o seu trabalho com o melhor de suas habilidades. Deus não vai perguntar quantos amigos você teve, mas vai perguntar para quantas pessoas você foi amigo. Deus não vai perguntar o que você fez para proteger seus direitos, mas vai perguntar o que você fez para garantir os direitos dos outros. Deus não vai perguntar em que bairro você morou, mas vai perguntar como você tratou seus vizinhos.
P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Domingo,01/03/2020

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QUEM ESTÁ E ANDA COM O SENHOR É TENTADO
I DOMINGO DA QUARESMA Ano A

I Leitura: Gn 2,7-9; 3,1-7
7O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. 9E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. 3,1A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’” 2E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim nós podemos comer. 3Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele, nem sequer o toqueis, do contrário, morrereis’”. 4A serpente disse à mulher: “Não, vós não morrereis. 5Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”. 6A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar o conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. 7Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira.

II Leitura: Rm 5,12.17-19
Irmãos: 12 Consideremos o seguinte: O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram...17 Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. 18 Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. 19 Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.

Evangelho: Mt 4,1-11
Naquele tempo, 1o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. 3Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” 4Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. 5Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, 6e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. 7Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’” 8Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, 9e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. 10Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto’”. 11Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.
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Neste Primeiro Domingo da Quaresma, a Igreja nos apresenta duas grandes figuras que centram toda a história humana: Adão e Jesus Cristo. Adão é o primeiro homem no plano do tempo, inclusive na realidade tanto para o varão como para a mulher. Jesus é o Filho de Deus em forma de homem varão, se associa também a sua missão uma mulher, Maria de Nazaré, Sua mãe.

Adão Na Encruzilhada

Nas leituras de hoje aparecem enfrentados e, ao mesmo tempo, relacionados entre si estes dois “homens” (Adão e Jesus). Na Primeira Leitura, o primeiro homem, Adão, é tentado, posto na encruzilhada de dois caminhos diferentes e opostos, que hoje poderíamos denominar como o princípio do prazer e o princípio do dever. Todavia, significam algo mais profundo: se o homem conhecesse e reconhecesse que não vem de si mesmo, e sim que é “doado”, agraciado, que vem de Alguém, ele escolheria os caminhos de Deus de Quem o criou.

Portanto, se o homem/se você vem de Alguém (Deus o criou) a questão fundamental de sua existência é esta: você tem total e absoluta confiança nos caminhos de Deus que o criou? Você se deixará guiar e conduzir por Ele? Você se jogará nos braços de Deus com confiança amorosa e abandono filial? Mas Adão, o homem e a mulher, não confia em Deus; eles duvidam e desconfiam de Seus projetos e caminhos; eles se decidem por conta própria. Perdida a comunhão com Deus e abandonados os caminhos de Deus, os únicos onde o homem poderia encontrar a vida, a alegria e a paz, o homem perdido encontra apenas caminhos de amargura, dor e morte.

Na Segunda Leitura (Rm 5,12.17-19), São Paulo constata esta triste experiência e esta herança de desgraça que os primeiros pais nos deixaram: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram...”. Todos nós caímos, tropeçamos, cedemos diante do princípio do prazer, diante do orgulho e da autossuficiência. Desde que existimos, temos a tendência de nos rebelar, de querer ser independente, de nos afastar de Deus e de Seus caminhos.

Jesus Na Encruzilhada

Jesus também está na encruzilhada entre seguir a vontade própria e obedecer à vontade de Deus. A mesma leitura de São Paulo (Segunda Leitura) e o Evangelho de são Mateus nos apresentam a figura do Homem Novo, do Novo Adão, Jesus de Nazaré. Ele é posto também na encruzilhada entre dois caminhos. Ele é o Filho de Deus; Ele é o Messias. Ele não saberia encontrar seus caminhos, e escolher esses caminhos por conta própria? E ele não teria o direito, na terra, para o sucesso, a honra, o poder e a riqueza?

E, no entanto, se o Pai permitiu que, no jogo das circunstâncias da história, Jesus há que escolher o caminho não apenas da humildade, mas também da humilhação; não apenas de esforço, mas da dor; não apenas a inevitável ambiguidade da encarnação, onde o divino deve se expressar nos limites do humano, mas o óbvio escândalo do fracasso; não apenas da responsabilidade e autonomia da condição humana, mas do abandono nos braços da morte, então Ele aceita com confiança e com amor o desígnio do Pai, o caminho do Pai, de Belém ao Calvário, e sempre diz ao tentador, seja para Satanás ou seja para Pedro: "Afaste-se de mim!". Ao longo de sua vida  diz ao Pai, e mais especialmente nos momentos cruciais como nas tentações do deserto, do Getsêmani ou da Cruz: "Pai, em tuas mãos encomendo meu espírito, minha vida, meu trabalho, minha esperança. Quero que meus caminhos sejam seus caminhos".

Quaresma: Renovação Batismal

Graças a essa entrega de Jesus aos caminhos de seu Pai, Jesus triunfou da morte e nos deu a vida, essa vida e esse triunfo que a Igreja nos aplica em sua pregação, sua oração, seus sacramentos, suas atenções ou cuidados pastorais.

Se no nascimento, como filhos de homens, fomos inseridos no velho Adão, o tronco do pecado e da morte, pelo batismo, fomos inseridos no novo Adão, para sermos filhos no Filho: filhos de Deus. A Igreja nos convida a nos preparar para renovar nosso batismo na próxima Páscoa, meta principal da Quaresma.

A quaresma é tempo de conversão, de renovação e de aprofundamento de nossa vida cristã. Tempo de intensificar nossa oração e de revisar nossos caminhos, para adaptá-los cada vez mais aos caminhos de Deus, ao seguimento de Jesus Cristo.

Em cada Eucaristia, o Senhor renova sua Aliança: uma Aliança Nova e Eterna. Jesus Cristo sempre foi fiel, tanto ao Pai como a nós, para nos salvar. Renovemos também neste tempo nossa entrega ao Pai, com Cristo e com a comunidade. Por meio da comunhão na Eucaristia, deixemo-nos penetrar e plenificar de Sua Presença, para que, com seu amor e com sua força, com sua sabedoria e com sua companhia, possamos caminhar pelos caminhos do Senhor.

Estendamos nossa reflexão a partir do texto do Evangelho deste Primeiro Domingo da Quaresma que fala das tentações de Jesus!

O Evangelho deste primeiro domingo da quaresma fala das tentações de Jesus. Toda a vida de Jesus foi uma luta formidável, uma tomada de posição decidida, no grande combate contra o adversário (o número “três” nas suas tentações indica o completo e o definitivo. A tríplice negação de Pedro significa, por exemplo, sua renúncia total a ser discípulo, cf. Mc 14,30).
         
O trabalho do Tentador às vezes é discreto, mas nenhum campo lhe escapa. A tentação sempre começa com uma falsa ideia de Deus que entra na mente do homem. O homem quer substituir o lugar de Deus na sua vida. Quando o homem se esquece que é uma criatura e quer se tornar como Deus, então, ele se destrói porque não sabe fazer as escolhas certas e ele se deixa guiar pelas suas paixões: pelo orgulho/arrogância, pela ira, pela inveja, pela luxúria e consequência disto, ele acaba chamando bem o que é mal e achando o amargo é doce e o que é doce é amargo. Esta tentação de se tornar independente de Deus é representada pela serpente (na primeira leitura). Serpente não faz barulho, ninguém a percebe, mas é muito perigosa porque provoca a morte.           

As tentações são pecado, não quando as sentimos (Jesus as sentiu também), mas somente quando voluntariamente as consentimos. As tentações só podem estimular a pecar, mas nunca obriga nossa vontade. Como dizia Santo Agostinho: “As tentações são como o cão acorrentado que pode latir muito, mas não morde ninguém”. Ele morde quem fica perto dele. Nenhuma força interna ou externa pode obrigar o homem a pecar.          

As consequências de substituir lugar de Deus são trágicas na vida do homem. Quando abre os olhos, o homem percebe que o recusar-se a depender de Deus o conduz muito para baixo, envergonha-se de si mesmo, sente-se nu, um não-homem. Viver nu é a condição dos animais (com muito respeito para o movimento nudista ou naturalista). Quando o homem não respeita o projeto de Deus, quando não respeita a sua lei e quer substitui-la por uma lei moral própria, então tudo fica estragado e desarrumado. Por isso, a negação do absoluto primado de Deus é a raiz profunda de uma cultura incapaz de defender os valores mais substanciais da honestidade e de promover a vida nos lugares onde ela está sendo ameaçada.           

A Bíblia diz que como consequência de tudo isto, o homem recebe a maldição de Deus. Não é que Deus castigue o homem. Deus não faz isto, ele somente salva, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16). Fomos criados para viver com tranquilidade, na intimidade com Deus, cuidando do mundo como se cuida de um jardim. Por isso, não é à toa que, depois de cada obra da criação, o texto bíblico repete como um refrão:” E Deus viu que tudo era bom”. Por isso, quando a Bíblia fala de maldição quer somente alertar a respeito das consequências do pecado. Não é Deus, é próprio homem que, praticando o mal, se castiga e cria sofrimento para si e para os outros: acaba com o seu casamento, com o seu emprego, com suas amizades, destrói a criação e acaba se tornar infeliz. Deus é Pai que quer o nosso bem. Desconfiar do seu amor é o início de nossa infelicidade.           

Ao contrário de Adão, Jesus Cristo reconhece sua própria dependência de Deus, sempre é fiel e obediente ao Pai e se torna Senhor da Vida. Lembre-se que no Batismo uma voz do céu declarou Jesus como Filho amado (Mt 3,17). E Jesus vive a identidade como Filho amado. Certamente as tentações de Jesus, principalmente as duas primeiras, partem da própria identidade de Jesus como Filho de Deus: “Se és Filho de Deus...” (vv.3.6). Pelo fato de ser amado, ele não precisa mais de outra segurança, pois Deus é a sua segurança, sua garantia. E todos os que o seguem e o imitam na obediência à lei de Deus, serão transformados em justos e solidários. Por isso, dentro deste contexto a tentação é um momento de verificação a respeito da solidez de nossa identidade e de nossas escolhas, como aconteceu com Jesus Cristo.          
As tentações de Jesus, que também são nossas, partem frequentemente das necessidades humanas fundamentais, como pão em abundância, o prestígio e o poder e apelam para o uso das capacidades que são também reais. Falemos um pouco de cada uma delas.

Diabo, Satanás, Demônio

Jesus foi levado ao deserto e lá ele é incomodado pelo tentador. O tentador, por excelência, nos é apresentado com vários nomes na Bíblia. Segundo Mateus e Lucas, Jesus foi tentado pelo Diabo (Mt 4,1-11; Lc 4,1-13). A palavra “diabo” vem do grego “diábolos”, uma forma substantiva do verbo “diabállo”, que significa jogar um obstáculo entre duas coisas para provocar a sua divisão. Portanto, Diabo é aquele que provoca divisão e desunião tanto dentro da pessoa como entre as pessoas. Qualquer um de nós pode ser diabo quando provoca a desunião e divisão dentro das pessoas e entre as pessoas.

O evangelista Marcos usa o termo “Satanás” para caracterizar o tentador de Jesus nas suas tentações (Mc 1,12-13). A palavra “satanás” vem do grego “satanás”, que, por sua vez, é uma tradução do hebraico “satan”, que deu o nosso “Satã”. A palavra “Satã” só aparece em três livros do AT: Jó, Zacarias e 1 Crônicas. O verbo hebraico “satan” significa “incomodar”. Como substantivo, “satan” é o nome de tudo aquilo que contraria alguma coisa, e por isso, é traduzido para o português por “adversário”, tanto o adversário geral, como a função jurídica do promotor público no tribunal com seu papel de acusar e contradizer o réu, tentando comprovar a sua culpabilidade (cf. Jó 1-2). Originariamente, “Satanás” ou “Satã” significa “estorvo”, “interferência”, “oposição”. Satã equivale a oponente, “adversário”, “inimigo” no campo de batalha.

“Satanás é, portanto, tudo aquilo que procura incomodar e contrariar uma determinada realidade ou disposição; pode ser uma pessoa adversária ou inimiga, ou uma estrutura, uma instituição etc.... Ao dar ao tentador de Jesus o nome “Satanás”, o evangelista Marcos quer nos dizer que Jesus teve que enfrentar muitos adversários para realizar seu projeto de anunciar e tornar próximo o Reino de Deus, o Reino de amor fraterno, de igualdade, de comunhão fraterna e assim por diante. Que são “Satanás” hoje em dia?

Na Bíblia edição Ave Maria (edição Claretiana 1993- 75ª Edição) usa-se o termo “Demônio” (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). O termo “demônio” aparece 19 vezes no AT em grego das quais nove vezes se encontram no livro de Tobias. No livro de Tobias, trata-se do demônio Asmodeu, que enamorado de Sara, vai matando sucessivamente os sete maridos dela nas sucessivas noites de núpcias. A chegada de Tobias acompanhado pelo anjo Rafael (Deus cura), proporcionará um final feliz.

Em outros seis textos, o termo “demônio” serve para designar os ídolos (Dt 32,17; Sl 96,5; 106,37; Is 65,3.11; Br 4,7; veja também Is 13,21; 34,14; Br 4,35; Sl 91,6). Nenhum desses textos dá margem para pensarmos que nos encontramos diante de um ser pessoal.

Portanto, o demônio, diabo, satanás são figuras míticas que simbolizam a rebeldia do mundo diante de Deus ou os poderes que escravizam o homem. Estas figuras nos servem para dar nome ao mal. Satanás, demônio, diabo não podem servir de desculpa para o mal que nós mesmos perpetramos ou produzimos. Satanás, demônio, diabo não são culpados pelas catástrofes naturais. Eles não servem de bode expiatório para a culpa humana. Quem se se desculpa dizendo que Satanás o tentou está na realidade fazendo uma autoacusação. “Não culpes o demônio por tudo que vai mal. Muitas vezes o homem é seu próprio demônio” (Santo Agostinho: Serm. Frangipane 5,5).

Precisamos Criar Deserto Para Nos Encontrarmos, Para Encontrarmos Deus e o Próximo
         
No deserto, Jesus começou a fazer um jejum de quarenta dias, que recordam a experiência de Moisés (Ex 34,28), a de Elias (2Rs1 19,8) e a marcha heroica, extenuante, do povo de Israel pelo deserto, que foi até o limite das próprias forças. O deserto é o lugar da solidão, da secura, da fome, como também do silêncio e da oração. O deserto também é o lugar das escolhas, porque o homem tem condições ideais para, nele, fazer a si mesmo as perguntas existenciais mais fundamentais e dramáticas. Deserto é o momento para ver o invisível. Somente quem é capaz de perceber o Invisível, pode fazer o impossível, a exemplo de Jesus. É momento para silenciar para começar a escutar com atenção. É o momento de retirar-se para se encontrar, para encontrar Deus e para encontrar o próximo. O momento de deserto me faz desistir das minhas fugas e procurar ser quem sou: meus desejos, minhas reais necessidades, meu caos interior, meus medos, e assim por diante, para saborear a misericórdia de Deus no momento. Deus mora também na nossa ferida. Nossa ferida é também o santuário de Deus. Esta ferida está em cada um de nós.
           
Jesus estava para começar sua vida pública e, aproveitando deste longo retiro no silêncio e na solidão, ele quer decidir-se sobre seu programa: ele não pensa em si, ele não preocupa com o próprio corpo, ele não tirará proveito do seu poder de fazer milagres, como mostram as tentações, mas será o Messias humilde, obediente, que escuta a Palavra de Deus.           

As Três Tentações de Jesus          

A 1ª Tentação: A Do Pão 

O alimento é muito importante, sem pão não se pode viver. Por mais altos que forem os voos do espírito e por mais profundos os mergulhos da mística, o ser humano sempre depende de um pouco de pão, de um copo de água, enfim de uma pequena porção de matéria. Ele é a base de tudo que se pensar, projetar e fizer. O pão sempre faz parte de preocupação de cada pessoa e de cada família. Até o próprio Jesus nos ensina a pedir o pão cotidiano ao Pai Celeste. Nós mesmos, disse Jesus, seremos julgados pelo pão distribuído ou negado a quem tinha fome (Mt 25,31-46).
          
Todavia, a vida do homem não depende somente do pão ou dos bens que possui. Alguém pode ser rico, possuir casas, carros, roupas, mas afinal, se não há a paz na família, se não sabe educar os filhos, se é tão corrupto a ponto de roubar o pão do irmão, beberrão, perguntamos: este conduz a vida realmente feliz? É claro que não.
          
O pão que comemos fruto da exploração do irmão, fruto de corrupção, resultado da desonestidade e da injustiça, fruto da roubalheira não é o pão abençoado por Deus, por isso não vale a pena comê-lo pois não tem nenhum sabor. É pão que apenas nutre mas não alimenta a vida humana que é somente humana enquanto vive na reta ordem da justiça e da fraternidade. O pão injusto não é nosso; ele pertence ao outro. O pão para ser nosso exige que transformemos o mundo e libertemos a sociedade de seus mecanismos de riqueza feita à custa do pão tirado da boca do outro.
           
O pão, por isso, nos convoca para a conversa coletiva e comunitária. Entra aqui a campanha da fraternidade, campanha de ser irmão para os outros que estão passando necessidade. A comunidade tem que unir as forças, pelo menos, para dar um pouco do pão que tem, formando cestas básicas para os irmãos que estão sem trabalho. Ser cristão é ser pessoa que vive em atitude de esmola: ser esmola, ser generoso, ser dom para o próximo, a exemplo de Deus criador e de Jesus Cristo dando sua vida por todos. A oração verdadeira e profunda transforma cada um de nós em pão que é repartido. Feito pão, somos distribuídos não uma vez, mas muitas vezes e sempre de novo.
      
A raiz desta fraternidade (irmandade) é o Pai celeste. A descoberta de Deus como Pai transforma cada um de nós em irmão(ã) e transforma nossa vida em compromisso, ajudando os irmãos que vivem sem pão.
           
A 2ª Tentação: A Do Prestígio

A 2ªtentação não parte mais de uma necessidade biológica, mas do messianismo espetacular: o prestígio. Em relação ao prestígio, não há quem que não goste de ser conhecido, famoso, elogiado e glorificado.   Esta tentação é um esforço de transformar a religião num exibicionismo de “milagres inúteis”. Seria brincar com o poder de Deus, transformando-o em magia teatral, numa espécie de consagração da vitória sem guerra, do triunfo sem luta, de ganhar dinheiro sem estudar e trabalhar, de ganhar diploma sem frequentar nenhuma escola.           

A confiança de Jesus no Pai não depende de “milagres”. Ele não precisa de provas para acreditar que o Pai o ama, porque o próprio Deus chama Jesus de o Filho amado no batismo (Mt 3,17), e que está permanentemente ao seu lado. Por isso, Jesus diz ao diabo: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.          

Tenta Deus hoje em dia quem espera que ele faça aquilo que nos compete fazer, quem se omite e deixa tudo por conta de Deus. Não podemos pedir a Deus que nos livre (na base de milagre) de todas as dificuldades. Temos que pedir-lhe, isto sim, que em qualquer situação, agradável ou triste, nos conceda a luz e a força para sairmos sempre vencedores e mais amadurecidos, mais homens.           

A 3ª Tentação: A Do Poder  

Infelizmente tem sido muito comum em toda a história humana a saber, que a felicidade está mesmo no poder, na glória, nos prazeres e nas riquezas. Jesus recusa a proposta do tentador, pois é contrária ao projeto do Pai. Na sua fidelidade ao Deus – Amor, que não se impõe pela força nem por qualquer tipo de dominação, ele confirma a vocação de serviço. Por isso, é diabólica qualquer forma de autoridade que se traduz em domínio, opressão, imposição das próprias ideias.          

Tanto nossa comunidade, quanto nós pessoalmente sempre estamos sujeitos de escolher o deus poderoso, o deus que concede o domínio sobre os demais, o deus que nos dá muita fama, muitos títulos, muitos que nos beijem a mão, muitos que nos reverenciam. O Pai de Jesus oferece aos seus filhos somente serviço a prestar, com humildade, aos irmãos. Este é o caminho verdadeiramente cristão.          

Jesus venceu as tentações por nós. E logo depois “os anjos o serviram” (v.11). É uma afirmação que enfatiza a plenitude de comunicação entre o céu e a terra, e no centro está a pessoa de Jesus. Ele é servido pelos anjos como aquele que é reconhecido como o Filho amado de Deus. Ele restabelece a harmonia no cosmos e por causa disto os anjos o servem.           

Nesta situação, Jesus é o símbolo de toda pessoa que, depois de ter atravessado as provações fortes, é reconhecida como filho e readquire o domínio sobre si, sobre as forças obscuras da própria psique, sobre as forças destrutivas que se agitam nela, e passa a conviver harmoniosamente com elas, em familiaridade com Deus, com as outras pessoas e com os anjos.
         
Se Jesus, nosso Senhor, venceu as tentações por nós, venceremos também as mesmas se estivermos sempre unidos a Ele. Porque sem ele nada podemos fazer (Jo 15,5). Mas com Cristo não há nada que possa nos separar do seu amor por nós (cf. Rm 8,31-39).       

As tentações nos fazem mais próximos de Jesus. Elas são paradigmáticas para o nosso discernimento e a nossa conduta. Não estamos a sós nas nossas tentações. Se Jesus, nosso Senhor, venceu as tentações por nós, venceremos também as mesmas se estivermos sempre unidos com ele. Porque sem ele nada podemos fazer (Jo 15,5).

Prova-se alguém para se saber se está pronto para praticar o bem... Se estiveres pronto para o bem, há indício de que é grande tua virtude..... Deus prova alguém, não porque se Lhe esteja oculta sua virtude, mas para que todos a conheçam e que sirva de exemplo... Deus tenta incitando ao bem... e prova-se alguém incitando-se ao mal. Quem resistir bem à tentação, a ela não consentindo, dará um bom indício de virtude; se a ela sucumbir, mostra que ainda é fraco” (Sto. Tomás de Aquino: Comentário ao Pai Nosso, “Pater Noster” Expositio).
P. Vitus Gustama,svd

V Domingo Da Páscoa, 28/04/2024

PERMANECER EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTO, POIS ELE É A VERDADEIRA VIDEIRA V DOMINGO DA PÁSCOA ANO “B” Primeira Leitura: At 9,26-31...