20/02/2020
QUEM É JESUS PARA MIM E QUEM SOU EU PARA JESUS?
Quinta-Feira Da VI Semana Comum
1 Meus irmãos, a fé que tendes em nosso
Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas.
2 Pois bem, imaginai que na vossa reunião entra uma pessoa com anel de ouro no
dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada, 3 e vós dedicais
atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: “Vem sentar-te aqui, à vontade”,
enquanto dizeis ao pobre: “Fica aí, de pé”, ou então: “Senta-te aqui no chão,
aos meus pés”, 4 não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos
tornastes juízes com critérios injustos? 5 Meus queridos irmãos, escutai: não
escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino
que prometeu aos que o amam? 6 Mas vós desprezais o pobre! 7 Ora, não são os
ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? Não são eles que blasfemam
contra o nome sublime invocado sobre vós? 8 Entretanto, se cumpris a lei régia,
conforme a Escritura: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, estais agindo
bem. 9 Mas se fazeis acepção de pessoas,
cometeis pecado e a Lei vos acusa como transgressores.
Evangelho: Mc 8,27-33
Naquele tempo, 27Jesus partiu com
seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho perguntou
aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” 28Eles
responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros,
ainda, que és um dos profetas”. 29Então ele perguntou: “E vós,
quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”.30Jesus
proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31Em
seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito,
ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia
ser morto, e ressuscitar depois de três dias. 32Ele dizia isso
abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33Jesus
voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para
longe de mim, Satanás!” Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”.
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A Verdadeiro Fé Não Discrimina
“Meus
irmãos, a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve
admitir acepção de pessoas”. Escreveu São Tiago na sua Carta que lemos na
Primeira Leitura de hoe.
O início do capítulo dois desta Carta retoma
o final do capíitulo primeiro onde se enfatiza que a religião pura e
irrepreensível se realiza ou se expressa através dos cuidados para os
marginalizados e desamparados (Tg 1,27). Para São Tiago, a verdadeira fé em
Jesus Cristo se manifesta na opção pelos pobres e necessitados (Tg 2,1).
Por isso, São Tiago continua nos exortando ao
falar sobre o favoritismo. Para isso ele dá um exemplo através de uma situação
concreta da vida que sempre acontece na vida diária: as pessoas, na sua
maioria, dão a atenção preferencial aos ricos, aos que têm poder e influência e
menosprezam os pobres e os que não têm nenhuma influência na sociedade. São
Tiago chama nossa atenção que a acepção das pessoas em virtude de sua riqueza,
de seu poder ou de sua influência é incompatível com a verdadeira fé em Jesus
Cristo.
Essa exortação tem seu fundamento teológico:
“Meus queridos irmãos, escutai: não
escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino
que prometeu aos que o amam? Mas vós desprezais o pobre! Ora, não são os ricos
que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? Não são eles que blasfemam contra
o nome sublime invocado sobre vós?” (Tg 2,5-7).
O favoritismo é pecado porque vai contra o
mandamento principal do amor ao próximo: “Quem
despreza seu próximo comete um pecado; feliz aquele que tem compaixão dos
desgraçados” (Provérbio 14,21). E portanto, constitui uma transgressão à
lei de Deus. Conforme a Lei de Deus, nesta Carta, a misericórdia será o
critério último da valoriação da conduta cristã (Tg 2,13).
O Senhor Jesus, feito um de nós (Jo 1,14)
rebaixou até o mais profundo de nossa miséria para nos libertar. O Senhor não
trbalhou com favoritismo e sim que o único que a Ele interessa é que todos nós
sejamos salvos e cheguem ao pleno conhecimento da Verdade, pois Ele nos criou
porque nos ama e nos quer com Ele eternamente. Deus não criou ninguém para sua
perdição, pois Deus é amor (1Jo 4,8.16). Deus nos amou antes de nos criar, nos
chamou à vida e nós sabemos que aquele que ama de verdade não faz mal ao ser
amado.
Se quisermos ser leais à nossa fé, não
podemos fazer dela uma religião de castas, de classes, de grupinhos. Não
podemos trabalhar unicamente com determinados grupos de pessoas. Temos que
trabalhar pelo bem comum e reconhecer o bem e a bondade onde estiverem.
Temos que confessar que não faltarão homens
inícuos que fazem alianças com os
poderosos em função dos bens materiais ou de cargos influentes. “Comprado”
assim, o homem que é de Deus, que é a imagem de Deus ficará, finalmente, a
mercê dos poderosos e taratará de justificar suas ações imorais e o próprio
homem se converterá em um opressor e excluem os que nada têm, pois deles nada
pode esperar conforme suas expectativas econômicas.
Deus ama a todos, e por isso, Ele nos pede
que amemos a todos sem distinção, pois se atuarmos com favoritismo, estaremos
cometendo pecado contra o amor que é o nome do próprio Deus (1Jo 4,8.16).
Em nossas vidas, temos muitas ocasiões em que
caímos na armadilha do significado das pessoas, ou seja, para mostrar
preferências por alguns por causa de sua simpatia, qualidade ou riqueza. E,
consequentemente, menosprezar os outros. A lição de São Tiago serve muito bem
para nós.
O Documento do Concilio Vaticano II sobre a
liturgia nos diz: “Na Liturgia, à
excepção da distinção que deriva da função litúrgica e da sagrada Ordem e das
honras devidas às autoridades civis segundo as leis litúrgicas, não deve
fazer-se qualquer acepção de pessoas ou classes sociais, quer nas cerimónias,
quer nas solenidades externas” (Sacrosanctum
Concilium n.32).
É bom estarmos conscientes permanentemente de
que Deus quer a todos, faz nascer o sol sobre bons e maus e faz cair a chuva
para justos e injustos. Cristo se entregou por todos e continua se oferecendo a
todos. Todos nós somos imagem de Deus. todos somos irmãos, cujo Pai Comum é o
próprio Deus. Uma pessoa, por mais rica ou simpática que seja, não é mais que
outra pessoa.
Anter de comungar, cada um dá a mão como gesto
de paz com os que temos ao lado, conhecidos ou desconhecidos, da mesma idade e
condição social ou não, é um exercício de universalidade e de fraternidade. Ao dar
a mão indistintamente a pessoas simpáticas ou não, próximas ou não, o fazemos pensando
que Cristo se entregou por nós tanto como pelos demais.
Quem É Jesus Para Mim,
e Quem Sou Eu Para Jesus?
“Quem
dizem os homens que eu sou?”. “E vós,
quem dizeis que eu sou?”.
Com o texto do Evangelho de hoje termina a primeira
parte do Evangelho de Marcos que começou com seu programa: “Princípio do Evangelho
de Jesus, Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). Agora (Mc 8,29)
escutamos, finalmente, por boca de Pedro, representante dos apóstolos, a confissão
de fé: “Tu és o Messias (Cristo)”. A confissão de Cesareia é uma página decisiva
em Marcos.
Quem é Jesus? É uma pergunta chave, que estava
pendurada desde o início do evangelho: quem é realmente Jesus? Pedro responde
com sua característica prontidão e amor. Mas essa fé dos discípulos ainda não
está madura, longe disso. É por isso que ele os proíbe novamente de contar a
alguém.
“Quem
dizem os homens que eu sou?”. “E vós,
quem dizeis que eu sou?”.
“Não faça de seu cérebro um arquivo para
pensamentos alheios, mas o laboratório de suas próprias convicções”, diz o
psicólogo argentino, René Juan Trossero. O verdadeiro sentido da vida consiste
em se interrogar, em interrogar e em ser interrogado. Temos que nos interrogar
tempo todo sobre nossa maneira de viver, de optar na vida, de escolher certas
decisões, de tratar os outros e assim por diante. Não temos todos os
conhecimentos sobre muitas coisas e, por isso, temos que ter humildade de
perguntar aos que têm conhecimento sobre aquilo que perguntamos. Já que
convivemos com os outros, eles também nos questionam. E temos que também ter
humildade em aceitar a verdade contida nas interrogações que os outros fazem
sobre nós. A partir disso é que podemos viver e conviver prudentemente.
Perguntar é o início do caminho de sabedoria.
Não há nenhum dia que não tenha nenhuma pergunta que fazemos para nós mesmos em
silêncio ou dirigida para os outros em busca das informações ou respostas
exatas ou precisas. Um ditado oriental diz que quem perguntar, ficará bobo
durante cinco minutos, mas quem não perguntar, ficará bobo para sempre. É claro
que nem todas as perguntas têm suas respostas. Creio que para muitas perguntas
essenciais só teremos respostas em Deus e que nem sempre temos condições de
receber respostas de maneira imediata. Quando temos respostas? Só Deus que
conhece todos os caminhos e todos os mistérios sabe do quando da resposta. Como
uma criança nem sempre temos condições para entender a verdadeira resposta para
nossa pergunta. “Somos viajantes em busca da pátria; é preciso fixar os olhos
no alto para reconhecer o caminho” (Ernest Hello).
Hoje Jesus nos faz duas perguntas para saber
se nós verdadeiramente conhecemos Jesus e se os outros, ao nosso redor, sabem
ou conhecem quem é Jesus.
A cena do evangelho deste dia acontece no
território pagão: em Cesareia de Filipe, relativamente longe de Nazaré. É um lugar
onde havia o culto dos pagãos. Até hoje ainda existe uma das grutas onde se faziam
os sacrifícios para os deuses. O afastamento do centro do poder (político e
religioso) para estar nesse território faz com que os discípulos de Jesus
estejam mais livres da pressão ideológica de sua sociedade, especialmente dos
fariseus. Nessa região é que Jesus lança duas perguntas para os discípulos
sobre Sua identidade (cf. Mc 4,41; 6,14-16): “Quem dizem os homens que eu
sou?” e “E vós, quem dizeis que eu sou?”. As duas perguntas que Jesus faz aos
discípulos correspondem aos dois momentos da cura do cego para significar a
cegueira dos discípulos (Mc 8, 24.27). Agora são interrogados para saber se
eles enxergaram algo mais profundo em Jesus.
Já faz tempo os discípulos têm estado com
Jesus. Mesmo assim, não conhecem verdadeiramente quem Ele é. Depois de longas
vacilações e incompreensões Pedro, em nome do grupo dos Doze, “reconhece” a Jesus
quem Ele é. Para os discípulos, como para o cego de Betsaida (Mc 8,22-26), seus
olhos vão se abrindo progressivamente para conhecer quem é Jesus de verdade.
O povo continua tendo as mesmas opiniões do
sistema judaico sobre a identidade de Jesus depois do envio dos discípulos. O
povo identifica Jesus com figuras do passado: João Batista, Elias, um profeta
(cf. Mc 6, 14-16), com personagens reformistas, mas cuja mensagem não realiza a
expectativa que o povo tem acumulado ao longo de sua história. Para o povo
Jesus tem uma força de um profeta. Logo no início deste evangelho o povo se
admira ao dizer: “Jesus fala como quem tem autoridade” (cf. Mc 1,22). A
pregação de Jesus faz o povo voltar para o passado, para os profetas os quais
não se encontram contemporaneamente, a não ser na atuação de Jesus. O povo
julga positivamente, mas o que aprendeu sobre o Messias lhe impede de
identificá-lo com Jesus. Em outras palavras, o povo é doutrinado pela
instituição judaica e por isso, sua opinião permanece imutável ou imóvel. Os
sinais messiânicos que Jesus deu nos episódios da multiplicação dos pães não
tiveram repercussão nele.
Será que sabemos e conhecemos verdadeiramente
quem é Jesus ou apenas um Jesus fruto da descoberta dos outros, um Jesus de
catecismo?
Jesus espera uma resposta distinta da gente
comum. Por isso, ele lança a segunda pergunta para os próprios discípulos:
“E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Pela iniciativa própria, Pedro se faz porta-voz do grupo (cf. Mc 1,36).
Sua resposta é clara: “Tu és o Messias”. É o título que Mc colocou logo no
início do seu Evangelho (Mc 1,1). Trata-se, pois, do reconhecimento da
identidade profunda de Jesus: Jesus não é somente “um dos profetas” pelos quais
Deus conduzia a história ao seu término. Agora Jesus é o término, o fim mesmo,
“aquele que os profetas anunciavam”, o Messias, o Ungido, o Cristo.
Mas este Messias é diferente, até daquilo que
Pedro imagina que seja: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado
pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e,
depois de três dias, ressuscitar” (Mc 8,31). “Morto e ressuscitado” foi o
primeiro “Credo primitivo” das comunidades cristãs. Não é por acaso que o
anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus é repetido três vezes neste
evangelho.
Pedro, apesar de sua profissão, não tem ainda
a suficiente maturidade. A reação dele diante do anúncio é forte. Pedro chega a
recriminar/censurar Jesus. Pedro, que ama a Jesus até suas entranhas, tenta
convencer Jesus para que não tome o caminho da cruz. Pedro queria dizer: “Será
que não tem outros caminhos de levar a cabo o plano de Deus, como o caminho de
poder?”. Será que não pensamos também desta maneira?
Mas Jesus recrimina Pedro com palavras duras:
“Afasta-te de mim, Satanás, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos
homens!” (Mc 8,33). Em outras palavras, Jesus convida Pedro a segui-Lo. As
palavras em grego “hipage hopíso” significam “caminhar de trás”.
Em outros palavras, “seja meu seguidor e por isso ande atrás de mim! Não seja
como aqueles que põem obstáculos no caminho da evangelização!”. Jesus quer nos
relembrar através de Pedro que nossos caminhos nãos são os caminhos do Senhor,
como diz a própria Palavra de Deus (cf. Is 55,8). Por isso, precisamos rezar
sempre com o salmista: “Ensina-me, Senhor, o teu Caminho!” (Sl 27,11).
De Pedro aprendemos que muitas vezes julgamos
tudo sob aparências falsas, mas o Espírito Santo sabe tudo e penetra em tudo.
Se não queremos ser dos que obstaculizam o caminho da evangelização, devemos
ter um contato muito estreito com o Espírito Santo a fim de julgarmos com
critérios de Deus. Se realmente somos cristãos, é preciso que demos à vontade
de Deus o lugar que lhe corresponde: o primeiro lugar (cf. Mt 6,33).
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Esta pergunta é dirigida a cada um de nós. Na
verdade é uma pergunta sobre nossa própria identidade que muitas vezes não tem
uma definição pela maneira que vivemos. A identidade de Cristo está definida:
Ele é o Cristo, o Messias (Ungido), Ele é o Filho de Deus (Mc 1,1) cuja
substância com Deus é igual (consubstancial). Cada resposta dada para esta
pergunta vai definir nosso modo de viver e de conviver. Se confessarmos que
Jesus é a Luz (Jo 8,12), então sejamos nós luz para os outros, transmitindo
apenas palavras que iluminem a vida dos outros (Mt 5,14). Se Jesus é a Força
para nós, então sejamos força para quem se encontra sob o peso da vida e para
os desanimados e decepcionados. Se Jesus é o Bom Pastor (Jo 10) então sejamos
fonte de união que rebanha e dá vida para que os outros vivam. Se Jesus é
misericordioso, então, não julguemos nem condenemos nem maltratemos os outros,
mas sejamos também nós misericordiosos, prontos para perdoar e para pedir o
perdão. E assim por diante!
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Como se Jesus quisesse dizer a cada um de
nós: “Diga-me de que maneira você vive e convive para saber quem sou Eu para
você?”. É uma pergunta para verificar nosso modo de viver e de conviver e para
fazer um exame profundo sobre nossa verdadeira identidade se realmente somos de
Cristo ou não somos dele. Será que os outros percebem na nossa maneira de viver
que somos de Cristo? Lembremo-nos o alerta que São Paulo nos escreveu: "Somos uma
carta de Cristo, escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não
em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações" (2Cor 3,3). Que os
outros possam ler alguma coisa de Cristo em cada um de nós! E São Paulo
acrescentou: “Somos para Deus o
perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem” (2Cor
2,15). Ser perfume é ser agradável tanto para Deus como para os homens. Mas “Que vossa
caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem,
amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns
aos outros”
(Rm
12,9-10), pois “Vós
sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo
Jesus” (Ef 2,19-20). “Um homem que nunca se
entregou a uma causa superior não atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).
P. Vitus Gustama,svd
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