sábado, 29 de fevereiro de 2020


03/03/2020
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PAIZINHO NOSSO QUE ESTÁ NO CÉU É UMA ORAÇÃO QUE NOS CONVIDA PARA UMA INTIMIDADE PROFUNDA COM DEUS
Terça-Feira da I Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Is 55,10-11
Isto diz o Senhor: 10 assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, 11 assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la.


Evangelho: Mt 6,7-15
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, 13e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.
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A Primeira Leitura nos apresenta a imagem viva da eficácia da Palavra, da qual Deus diz: " A Palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”. A Palavra de Deus, intrinsecamente, é eficaz, isto é, tem a capacidade de ter efeitos favoráveis para quem a pratica. A sintonia com a vontade de Deus, vivendo conforme Sua Palavra, resulta na vida fértil e frutuosa. Quem se aproxima da Palavra de Deus torna-se generoso para com o próximo. O generoso acaba com o reinado dos egoístas. Onde o egoísmo não sobre vive, a abundância se torna realidade.


Vamos nos aproximar dessa imagem (palavra, chuva, neve) e descobrir seu sabor e sua força nutritiva. Neve e chuva "descem do céu". Elas pertencem ao âmbito do qual o homem não domina. Assim é também a Palavra de Deus. Chuva e neve "retornam" para o céu. Assim também a Palavra: vem a nós e de nós sai. Ela vem sozinha, mas não retorna sozinha, porque tornou possível o milagre do pão e da semente. A Palavra vem do céu como ensinamento e retorna ao céu como oração e como louvor. Em nossas súplicas de filhos e em nossa atitude de gratidão de redimidos a Palavra fala com a força de seus frutos.   Há que “encharcar” a terra para fecundá-la. Assim também a Palavra faz o seu trabalho nos "encharcando", isto é: enchendo-nos internamente, penetrando-nos, enchendo nosso vazio interior. Quando permitimos isso, a Palavra nos fecunda e nos faz dar frutos.


A Palavra De Deus É Poderosa e Eficaz Para Quem Está Aberto Diante Dela


Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”.

Para quem vivia no Oriente Médio tão seco a chuva ou a água era bem preciosa. O povo desse lugar sabia muito bem da eficácia e do poder da água ou da chuva.  O local seco ou deserto onde a chuva cai vira um lugar cheio de plantinhas. A água ou a chuva como se acordasse as sementes escondidas de baixo da terra para se tornarem plantinhas e plantas. O local que era seco e deserto passa a ser um lugar verde cheio de vida.

O Deutero-Isaias (Is 40-55: os capítulos escritos durante o exilio na Babilônia em torno de século VI) compara o poder da Palavra de Deus com a chuva que cai do céu sobre a terra que irriga e fecunda a terra. A Palavra de Deus que entra no homem transforma este numa pessoa cheia de vida. Isto supõe que o homem, como a terra aberta para a chuva, deve estar aberto para a Palavra de Deus para torná-la eficaz e frutífera em sua vida.

O profeta Isaias nos convida, através da primeira leitura (Is 55,10-11) a crermos firmemente na força salvadora da Palavra de Deus. Porque não somente fomos salvos pelo sangue e o sacrifício de Cristo na Cruz. É verdade que a maldade do homem levou Jesus Cristo para a ignomínia da Cruz. Mas a salvação nos veio pela Palavra de Deus, empenhada um dia e cumprida na plenitude dos tempos. Deus nos ama e nos perdoa em Seu Filho encarnado. A Palavra é poderosa e eficaz, mas também perigosa. Não podemos abusar da palavra para não nos destruir e destruir os outros. Ao contrário, temos que usar a palavra para o bem e a edificação da vida dos outros.

A Palavra de Deus é a Palavra do Pai, do amigo, do confidente, do animador, do despertador da consciência. Com a autoridade ela nos convoca, ilumina, anima, consola, fortalece amorosamente. Ela não quebra liberdades nem aniquila personalidades. Ela grita na nossa consciência. Ela é como alguém que está à porta de nossa casa: espera a abertura para poder entrar. E “a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”, assim diz Deus para nós.


Deus É Nosso Papaizinho, Nosso Abbá


E o texto do evangelho deste dia faz parte do Sermão da Montanha (Mt 5-7) onde podemos encontrar vários ensinamentos fundamentais de Jesus para nós, seus seguidores. No evangelho de hoje Jesus nos dá seu conselho sobre oração. Jesus nos dá seu modelo de oração: o Pai Nosso. É uma oração que pode ser considerada como o resumo da espiritualidade do AT e do NT, equilibrada e educativa por seguinte. Primeiro, o Pai Nosso nos faz pensarmos em Deus que é nosso Pai: Seu nome, Seu Reino, Sua vontade. Mostramos nosso desejo de sintonizar com Deus. Por isso, logo passa para nossas necessidades: o pão de cada dia, o perdão de nossas faltas, a força para não cair em tentação e vencer o mal.


A Igreja, neste tempo da Quaresma, insiste na urgência da oração e na escuta da Palavra de Deus. Conversar, dialogar com Deus é uma fonte de luz e de força. Estar à escuta da Palavra de Deus é vital, exigente e comprometido. Nós cristão sabemos que a Palavra que Deus Pai nos dirige e propõe tem um nome próprio: Jesus Cristo (cf. Jo 1,1-3.14). Dialogar com Jesus é abrir-nos à verdade, à esperança e ao amor: à vida.


Rezar é uma nova experiência na qual entramos em relação vital com Deus. Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.


Jesus, no seu ensinamento sobre a oração, quer nos evitar de uma noção mágica de Deus: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. ..., pois vosso Pai sabe do que precisais”. Deus é o melhor juiz de nossas necessidades do que nós mesmos, e Suas prioridades podem não ser iguais às nossas. Por isso, o que Jesus quer com o Pai Nosso é que confrontemos nossa vida pessoal e comunitária com seu projeto original: que com nosso proceder façamos que o Reino de Deus aconteça.


“Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”, diz nos Jesus. De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. O Pai-Nosso não é uma simples oração apesar de ser breve. O Pai-Nosso é uma síntese de tudo o que Jesus viveu e sentiu a propósito de Deus, do mundo e de seus discípulos.


Vós, portanto, orai assim: Pai Nosso...”. Em sua oração Jesus sempre se dirige a Deus chamando-O de Abbá. Para Jesus Abbá é o nome próprio de Deus. Esta expressão aramaica é um termo que era usado especialmente pelas crianças pequenas para dirigir-se ao seu pai carinhosamente. O termo Abbá tem como tradução literal “papai” ou “papaizinho”. É um tratamento de muita ternura. Ao chamar Deus de Abbá Jesus quer nos revelar sua relação íntima que ele vive com Deus. A atitude de Jesus diante de Deus é a atitude de uma criança cheia da confiança, do afeto e da ternura de uma criança. Diante do Abbá são eliminadas as preocupações.


Jesus quer que seus seguidores vivenciem a mesma experiência ao se dirigir a Deus na oração: “... orai assim: Pai nosso que estás nos céus...”. Jesus quer despertar em cada um de nós o espírito de filho, quer que cada um de nós fale com Deus com segurança, com afeto, com ternura e com confiança de filhos. Jesus quer que cada um de nós se abandone com alegria em Deus, nosso Papaizinho, pois ao chamar Deus assim todo medo desaparecerá e toda preocupação deixará de nos dominar. Deus é nosso Abbá, nosso Papaizinho que nos ama com amor incondicional e insondável e que “sabe de nossas necessidades antes mesmo de pedirmos” (Mt 6,8).


Mas devemos prestar bem atenção de que o Pai-Nosso, desde o começo até o fim, é rezado em plural: “Pai Nosso”, e não “Pai meu”. Deus é o Pai de todos nós. Ninguém deve ficar excluído. Não podemos nos apresentar diante de Deus só com os nossos problemas, alheios aos outros homens e mulheres. Rezar o Pai-Nosso é reconhecer a todos como irmãos e irmãs, é sentir-se em comunhão com todos os homens e mulheres, é ficar atentos para os problemas e necessidades dos outros, é não desprezar nenhum povo.

Mas ser filho deste Abbá não significa ser infantil. Jesus nunca foi débil e infantil. Não rezamos a Deus para que nos defenda da dureza da vida ou para que faça aquilo que devemos fazer ou para que resolva os problemas que nós mesmos devemos resolver. Pedimos, sim, ao nosso Papaizinho do céu para que saibamos atuar a partir de sua graça, de sua ternura, de sua bondade e de sua verdade e viver com responsabilidade na nossa liberdade de filhos e filhas.

Diante do mundo que prescinde de Deus, Jesus propõe como primeira petição, como ideal supremo do discípulo, o desejo da glória de Deus: “Santificado seja teu Nome”. Esta primeira petição está orientada na linha profética que situa Deus acima de tudo, exalta sua majestade e deseja que se proclame sua glória.

Diante do mundo onde predomina o ódio, a crueldade, a injustiça, Jesus pede que se instaure o Reino de Deus, o Reino da justiça, do amor e da paz. Recorre nesta petição o tema chave de sua mensagem, o Reino de Deus que se instaurará na terra como no céu.


Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus…”. A oração do Pai-Nosso é um convite para estabelecer uma relação de confiança e de intimidade de uma dimensão comunitária (Pai Nosso) e em uma disposição constante de perdão. A partir desta dimensão os cristãos são chamados a construir espaços de oração que refletem o compromisso de construir o Reino de Deus, onde Deus é Pai de todos nós e nós somos filhos e os filhos e irmãos que vivemos em comunidade e fraternidade. “Pai-Nosso” quer enfatizar uma nova relação dos cristãos com Deus que não é somente individual, mas também comunitária. São os filhos, ou cidadãos do reino, os que se dirigem ao Pai que é seu Rei.


Chamar Deus de “Pai” é algo insólito, inimaginável que expressa a máxima confiança, proximidade e ternura. Jesus quer nos dizer que Deus é o nosso Pai que está sempre ao nosso lado, cheio de cuidados e ternura para com cada um de seus filhos e filhas. Com a palavra “Pai” abre-se um mundo novo nas relações de Deus para com o homem. A vida cristã está banhada de alegria, pois sabemos que somos filhos e filhas de Deus independentemente de nossa situação e de nosso modo de viver. 


Além do mais, ao chamar Deus de Pai precisamos estar conscientes de que precisamos viver como irmãos e irmãs, como recorda Santo Tomás de Aquino: “Ao dizermos Pai, recordemos duas obrigações que temos para com os semelhantes: Primeiro, devemos amá-los porque são nossos irmãos, pelo fato de serem filhos de Deus (cf. 1Jo 4,20). Segundo, devemos reverenciá-los, tratando-os como filhos de Deus (cf. Ml 2,10; Rm 12,10; Hb 5,9) “.


Rezar o Pai-Nosso é seguir Jesus Cristo, aprendendo dele a maneira de viver, de escolher e também o modo de enfrentar a morte; quais são as razões profundas, as raízes da própria existência. Dizer “Pai” nos torna disponíveis, nos enche de confiança, facilita a nossa entrega, pois estamos certos de sermos ouvidos, e isto nos permite superar as barreiras do medo e da incerteza. Dizer “Pai” significa que eu devo me comportar como filho (a) diante dele e como irmão diante dos outros, pois eu sou irmão de muitos outros irmãos. Dizer “Pai” faz nascer a certeza de que somos amados, isto é, nos leva a um ato de inteiro abandono em Deus.


Vamos Meditar Mais Sobre Alguns Pensamentos do Papa Francisco sobre o Pai-Nosso do livro: PAI NOSSO (Editora Planeta, 2018)
  1. A sensação que experimento é de segurança. Começo a partir daqui: o Pai-nosso me dá segurança; não me sinto afastado de minhas raízes, não tenho a sensação de ser órfão. Tenho um pai, um pai que me recorda a história, revela minhas raízes, cuida de mim, que me leva para a frente, e até mesmo um pai diante do qual em me sinto sempre uma criança, porque Ele é grande, é Deus, e Jesus pediu isso, que nos sintamos como crianças (p.20).
  2. Dizer e ouvir o “nosso” do Pai-nosso significa entender que não sou filho único. Nós, cristãos, corremos o risco de nos sentirmos filhos únicos. Não, não: todos, até mesmo aqueles desprezados, são filhos do mesmo Pai (p.21).
  3. “Pai” é uma palavra conhecida por todos, uma palavra universal. Ela indica uma relação fundamental cuja realidade é tão antiga quanto a história da humanidade. Hoje, no entanto, chega-se a afirmar que estamos em uma “sociedade sem pais” …. O problema dos nossos dias não parece ser tanto a presença invasiva dos pais, mas sim a sua ausência, a sua inoperância. Às vezes os pais se veem tão concentrados em si mesmos, no seu trabalho e em suas realizações individuais que acabam até por esquecer a família (pp. 23-24).
P. Vitus Gustama,svd

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